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A presença dos portugueses no Maranhão nos primeiros duzentos e cinquenta anos não garantiu grande prosperidade econômica à capitania, ainda que ao longo do final do século XVII e início do XVIII tenha melhorado significativamente.

Apesar da extração de drogas do sertão e das plantações de açúcar e algodão, as dificuldades eram referentes à exportação desses produtos e da compra de escravos que pudessem substituir os índios protegidos pelos jesuítas. As reclamações dos plantadores e negociantes eram muitas, fazendo com que a coroa permitisse a criação, em 1682, de uma companhia de comércio que resolvesse esses problemas. A Companhia de Comércio do Maranhão teria que comprar os gêneros produzidos por preço justo, abastecer a população com produtos de sua necessidade e fornecer escravos aos lavradores, porém descumpriu o contrato, comprando a produção por preços baixos, não fornecendo os escravos na quantidade combinada e não aportando o número de navios por ano que deveria. O resultado foi a Revolta de Beckman, em 1884, quando comerciantes se rebelaram contra o abandono da capitania pelo governo português. A revolta acabou com a execução dos irmãos Beckman, líderes do movimento e o fim da Companhia.

Apesar desse quadro marcado pelos reclames dos moradores, é possível vislumbrar um cenário que extrapola a ideia de extrema pobreza nesse período, descrita por parte da historiografia. Regina Faria (2003: 17) afirma que o Governador do Maranhão e Grão-Pará, Mendonça Furtado, já na gestão pombalina «mencionava em uma carta que a região do rio Mearim produzia açúcar que era exportado para Portugal, na primeira metade do século XVII». Ainda segundo a autora, na administração de Pombal, quando foi criada a Companhia de Comércio do Grão-Pará e Maranhão, alguns colonos do Maranhão se tornaram acionistas do empreendimento, demonstrando que moradores conseguiram acumular recursos com a lavoura ou o comércio. Já Carlos Ximendes (1995: 23-29) identificou nos Livros da Câmara de São Luís até seis navios saindo carregados do porto de São Luís antes de 1876, assim como «Corporações de Ofícios (alfaiates, tecelões, sapateiros, serralheiros, ferreiros, pedreiros e carpinteiros) e trabalhadores forros indígenas e negros».

Já Rafael Chambouleyron (2011) afirma que tanto o Maranhão quanto o Pará foram objeto de decisões políticas bem definidas pela coroa portuguesa, controlando não somente o povoamento, mas também as atividades econômicas, como o comércio. Isso faz sentido, pois quando a primeira companhia é desarticulada, o governo imperial decide a partir do início da

década de 1690 enviar gêneros para serem vendidos na capitania. O lucro financiaria o custo das fortalezas. O negócio parecia ser bastante lucrativo, pois o governador Antônio Albuquerque Coelho, em 1692, relatava o sucesso do empreendimento e aconselhava o envio de escravos para dinamizar a economia local e obviamente a arrecadação do governo.

O problema da mão de obra também começava a ser solucionado naqueles anos, pois em 1692 passou-se a vender escravos aos interessados no Maranhão visando fomentar a agricultura, mas também aumentar as rendas de Portugal. Para Rafael Chambouleyron (2011: 76) «Estava aí a matriz de uma primeira rota do tráfico para o Maranhão, que se desenvolveu a partir do final do século XVII e primeira metade do século XVIII, e que tinha como característica a intervenção direta da Coroa».

Apesar dos avanços, a grande virada econômica e administrativa se dá com a criação da Companhia Geral de Comércio do Grão-Pará e Maranhão, no século XVIII, quando o Marques de Pombal cria condições para o desenvolvimento da capitania daquele lugar. Naturalmente que os benefícios não atingiam a todos, mas a um pequeno grupo de funcionários a serviço do governo e comerciantes portugueses instalados em Portugal e no Maranhão.

Terminada a companhia ainda no século XVIII, o Maranhão parece ter conseguido prosperar por algum tempo, aumentando a produção de algodão e açúcar, relativizando a ideia difundida de crise. Autores como Regina Faria (s/d) têm demostrado que essas carências realmente existiram, mas não foram contínuas, dividindo momentos com certa prosperidade, contradizendo uma historiografia tradicional que atribuía à tensão contínua a falta de escravos. As dificuldades na grande lavoura, que dependia do mercado externo – que vinha sendo na maior parte do tempo desfavorável, obrigou fazendeiros a se desfazerem de parte dos seus escravos, sendo vendidos aos proprietários de terras produtoras de café do sul do país.

De modo geral não se pode negar a deficiência da economia maranhense, como demostraremos, mas isso não acontecia somente com o Maranhão, a região Norte sofria com a mudança do eixo econômico, que passou a ser o Sul, produzindo e vendendo café.

É possível perceber a baixa nas rendas da província e da região, dos reclames dos presidentes de província em relação à falta de recursos, ainda que houvesse momentos de alta e consequentemente de maior arrecadação. A crise econômica dessas províncias parece ter sido agravada também pelo maior sacrifício determinado pelo governo imperial, que cobrava mais impostos das províncias que menos arrecadavam, beneficiando assim os distritos mais prósperos do Sul.

Toda essa dificuldade econômica do Maranhão não impediu a tentativa de se modernizar e sair da crise. Apesar de o comércio e a lavoura estarem prejudicados, os capitais foram direcionados a outros setores da economia, como os serviços públicos, que eram precários e motivo de reclamações constantes. Bancos, companhias de seguro, de transportes fluviais e fábricas foram alguns dos investimentos feitos pelo capital local, contando inclusive com o dinheiro dos portugueses ricos ligados ao comércio.

Mas se os nascidos em Portugal tiveram algumas vantagens, enriquecendo no comércio e mais tarde em outros setores da economia na segunda metade do século XIX, nas décadas anteriores a situação para estes não foi fácil. Assim como aconteceu em outros lugares do Brasil, a exemplo do Rio de Janeiro, foram alvo de ataques de toda natureza, seja moral ou física. Representações negativas foram construídas em relação a esses estrangeiros, no caso do Maranhão foram constantemente chamados de “inimigos do imperador” e a principal queixa dos nacionais na província era a ocupação de cargos públicos depois da independência. É preciso esclarece que os chamados “portugueses” não eram necessariamente os nascidos em Portugal, mas sim aqueles que se posicionavam contra a independência do Brasil, ou seja, não havia relação com o lugar de nascimento. Essa diferenciação foi sendo construída aos poucos, a partir de uma série de questões, como a legislação, que discutiremos em seguida.

A solução para muitos foi a naturalização, que garantia direitos semelhantes aos nascidos no Brasil. Como veremos ao longo do texto, a legislação mudou algumas vezes, mas sempre beneficiando os portugueses em relação aos outros estrangeiros, a exceção da grande naturalização do final do século XIX que atingia a todos, transformando-os em brasileiros compulsoriamente, caso não se pronunciassem contrariamente.

Mas nem tudo era vantagem, no pós-independência houve perseguições políticas, violência física e moral e a oportunidade oferecida pelo governo português para os que quisessem ir para Angola, na década de 1830, para trabalharem na lavoura, o que gerou interesse de muitos dos nascidos em Portugal vivendo no Maranhão. O MNE registrou diversos pedidos de mudança, mas não parece ter havido transferência em grande quantidade, já que os que se propunham a ir não tinham o perfil desejado pelo governo Português.

Mas é possível notar uma mudança em relação aos portugueses a partir da segunda metade do século XIX, mesmo quando se assistia em outras partes do Brasil ataques a estes, como aconteceram no Pará, Bahia, Pernambuco ou Rio de Janeiro. É verdade que a literatura naturalista de Aluísio Azevedo e Nascimento de Morais, produzida no final do século XIX e

início do XX, ainda os tratassem com desprezo, como veremos ainda neste capítulo, mas mesmo assim percebe-se uma mudança gradual na imagem do português no Maranhão.

Se antes podemos notar uma representação negativa em relação a esses estrangeiros, depois de 1850 diminuem os ataques morais e vai sendo lentamente construída uma representação positiva, onde chegam a ser chamados de “irmãos” e considerados trabalhadores ideais.

Essa mudança pode estar relacionada a vários fatores, como a diminuição do contingente diante do aumento da população total da província. Se o número de portugueses continuou semelhante a primeira metade do século XIX, cerca de 2.000 indivíduos, a população aumentou, diminuindo assim sua representatividade. Consequentemente, a concorrência dos nacionais com estes estrangeiros também diminuiu. O próprio comércio, lugar privilegiado dos portugueses, foi aos poucos sendo ocupado pelo capital nacional. Temos que considerar também que estes estrangeiros, ao longo da segunda metade do século XIX e início do XX, tomaram uma série de iniciativas, não somente investindo em serviços tão requisitados pela população, mas em instituições de natureza diversa, como Hospital, biblioteca, assistencialismo a seus pares e clubes, contribuindo assim para uma mudança na sua imagem.

Apesar de investirem em imóveis, como veremos no capítulo 4, não era representativa sua participação no setor de aluguéis. Não parece ter havido um movimento que acusasse os portugueses pelo aumento do custo de vida no final do século XIX e nas primeiras décadas do XX, como se assistiu na capital federal. Outro fator que talvez tenha contribuído foi a chegada dos sírios e libaneses que rapidamente dominaram parte do comércio, criando uma perseguição e xenofobia por parte de muitos moradores do Maranhão.

Condições materiais da província/estado do Maranhão

Falar das condições materiais do Maranhão no século XIX e início do XX remete quase sempre, segundo boa parte da historiografia, a longos períodos de penúria e poucos momentos de desenvolvimento. A ideia de crise contamina a historiografia até o início do século XXI, ainda que alguns investigadores tenham feito ensaios no sentido de relativizá-la.

O ponto de partida é sempre a criação da Companhia Geral de Comércio do Grão- Pará e Maranhão, que representaria o auge, o momento em que a agricultura e a economia se projetaram e possibilitaram a riqueza do Maranhão e de muitos dos seus moradores, seus

contrapontos são a crise que abate a província a partir da década de 1820 e seu terceiro momento é a busca pelo retorno da idade de ouro, revela Alfredo Almeida (2008).

Esse autor não concorda com a dicotomia evolução x crise e como ele, Regina Faria (s/d: 2) afirma que «a dinâmica do sistema agroexportador escravista é marcado por diferentes momentos de expansão e crise, da segunda metade do século XVIII até o final do século XIX, quando ocorre a crise „terminal‟ (por volta de 1870-1900)», logo é difícil caracterizar o século XIX como um momento de crise permanente, de “decadência”, expressão utilizada corriqueiramente.

A autora supracitada demonstra o crescimento da exportação do açúcar ao longo das décadas de 1860, 1870 e 1880 e que a lavoura algodoeira continuou estável durante os anos de 1851 e 1895, ainda que não no mesmo patamar de outrora, mas com acréscimo notável no quinquênio posterior à Guerra da Secessão, devido à desarticulação da pantação americana, apontando assim para uma transferência interna de recursos do cultivo algodoeiro para a açucareira e questionando a ideia de crise: «Esses dados parecem confirmar a hipótese de que houve uma transferência interna de recursos produtivos entre as lavouras do algodão e do açúcar. Porém, não autorizam a priori a ideia de uma crise do sistema agroexportador enquanto tal, com o que é preciso ter certa cautela e levar em consideração outras variáveis do processo» (s/d: 7).

Tabela 1 - Exportação quinquenal de algodão no Maranhão (1851-1908)

QUINQUÊNIOS MÉDIA ANUAL

(sacas de 95 Kg) 1851/1855 49.091 1856/1860 39.812,2 1861/1865 40.200,8 1866/1870 57.070,8 1871/1875 52.786,8 1876/1880 42.318,6 1881/1885 49.403,5 1886/1890 44.363,8 1891/1995 43.999,2 1896/1900 23.439,8 1901/1905 32.126 1906/1908 33.031,6

Tabela 2 - Exportação quinquenal de açúcar do Maranhão

QUIQUÊNIO MÉDIA ANUAL (sacas de 60 kg)

1860/1865 24.942 1866/1870 35.800 1871/1875 90.000 1876/1880 142.200 1881/1885 220.636 1886/1890 210.892

Fonte: Regina Faria (s/d: 7).

O representante consular de Portugal em 1864, em um dos poucos momentos que apresentava uma visão otimista sobre a economia do Maranhão, considerava a elevação dos preços dos imóveis por conta da grande quantidade de lavradores em São Luís que vinham gastar seus lucros com a Guerra americana da Secessão, evento que proporcionou uma reinserção mais forte do Maranhão no mercado internacional com a venda de algodão para a Inglaterra.

[...] as casas regulares, alem de estarem aqui por um preço elevadíssimo, há muita difficuldade de encontra-las desocupadas, em razão de terem affluido a esta cidade [São Luís] muitos lavradores, que com suas famílias tem vindo gosar o optimo produto que lhes tem dado as colheitas dos seus algodões.

O commercio aqui, em consequência da guerra dos Estados Unidos, tem estado muito animado [...] (AHMNE, Correspondências dos consulados portugueses no Maranhão, caixa 519, 20/05/1864, Joze Corrêa Loreiro).

Havia sentido na observação do cônsul, pois como podemos observar na tabela a seguir, há um aumento nas exportações durante a guerra interna nos Estados Unidos da América (EUA) e nos anos posteriores. Para Jerônimo Viveiros (1992b), deve-se acrescentar vinte mil sacas anuais, resultado do consumo interno.

Tabela 3 - Exportação anual de algodão (1859-1865)

Ano Sacas de 95 kg 1859 35.356 1860 36.580 1861 34.201 1862 38.290 1863 40.250 1864 39.545 1865 48.718

Mas todo esse movimento de alta e baixa da grande lavoura voltado ao mercado externo tem em si outro elemento indissociável, o trabalhador escravo africano, que cresceu expressivamente junto ao desenvolvimento dessa agricultura e sua diminuição, segundo parte da historiografia, seria responsável pela decadência e estagnação da província. Se no passado o Maranhão absorveu grande quantidade dessa mão de obra para movimentar a agroexportação, passou posteriormente a se desfazer desta com as crises de exportação que se abateram sobre a lavoura, contribuindo assim para o aumento dos efetivos de escravos na região produtora de café, o Sudeste brasileiro.

Entre 1756 e 1820, 93.433 escravos entraram no Maranhão e em 1811 estes representavam 77,7% da população da província (Mesquita, 1987). Dez anos depois, em 1821 eram 55,3% (Lago, 2001) e em 1872 constituíam 20,8% (Recenseamento de 1872), havendo um decréscimo não somente em relação à participação no conjunto populacional, como em números absolutos, quando passou de 84.534 em 1821 para 74.939 em 1872, enquanto a população livre subiu no mesmo período de 68.359 para 284.101 habitantes.

Tabela 4 - População livre e escrava do Maranhão (1821-1872)

Ano/Pop. Pop. livre Pop. escrava Total da População % de escravos no total

da população

1811 26.651 92.843 119.494 77,7

1821 68.359 84.534 152.892 55,3

1872 284.101 74.939 359.040 20

Fonte: Francisco Mesquita (1987), Antonio Lago (2001) e Recenseamento Geral do Brasil (Brazil, 1872)

Esses escravos viviam em sua grande maioria nas unidades produtoras de algodão e arroz, mais tarde também de açúcar, às margens de importantes rios que cortam o Maranhão, como o Itapecuru, Mearim e Pindare, onde alguns proprietários no início do século XIX chegaram a possuir mais de 1.500 indivíduos nessa condição, a exemplo do negociante português José Gonçalves da Silva (Viveiros, 1992a). A relação dessa mão de obra com a lavoura e com a terra pode ser mensurada pela desvalorização das propriedades sem escravos, onde a venda e o valor daquela antiga unidade produtora voltada para a exportação era condicionada pelo número de escravos existentes ali e não somente pela sua dimensão, qualidade da terra e proximidade de vias de escoamento da produção (Mesquita, 1987). Nas cidades, especialmente nos dois maiores mercados, Caxias e São Luís, muitos desses homens e mulheres circulavam por suas ruas e becos vendendo mercadorias ou praticando seus

ofícios. Em São Luís, 40% da população em 1855 era composta de escravos, segundo o censo elaborado pelo engenheiro João Nunes de Campos. Já o censo nacional do Império de 1872 registrou 22% na capital, somando as quatro paróquias e na cidade de Caxias 19% de escravos entre seus moradores (Brazil, 1872).

Essa diminuição deve-se inicialmente à proibição do tráfico em 1850 e posteriormente à transferência interprovincial17. Apesar da promulgação de uma lei em 1831 que já proibia o tráfico internacional, este continuou existindo, inclusive para o Maranhão, como podemos atestar na correspondência consular, onde aparecem denúncias dos cônsules sobre a participação de indivíduos e/ou embarcações portuguesas nesse negócio, tema que abordaremos no capítulo III. O seu fim se daria somente com a Lei Euzébio de Queiroz em 1850, que diferentemente da anterior foi implantada imediatamente e punia com rigor os traficantes, apesar de praticamente anistiar os fazendeiros envolvendo diversas instâncias do poder.

Mas a ação seria severa em relação aos traficantes, tanto em alto mar como no desembarque. Seriam julgados pela auditoria da Marinha, com recurso para o Conselho de Estado. Vários deles foram presos e alguns, quase todos portugueses, foram deportados. Os presidentes de província e chefes de polícia foram envolvidos na ação repressiva. A luta prolongou-se até 1855, quando houve, em Pernambuco, a última tentativa de desembarque de escravos, severamente reprimida pelo governo. (Carvalho, 1988: 55).

Além da nova legislação proibitiva, o tráfico interprovincial realizado com as províncias mais produtivas localizadas no Sudeste, plantadoras de café, voltado para o mercado externo e que necessitavam cada vez mais de mão de obra tornou a região Nordeste com suas constantes crises na lavoura um grande fornecedor. Viveiros (1992a) identifica a década de 1840 como o início deste comércio no Maranhão, que perduraria até o fim da escravidão em 1888 em crescente movimento18. Em 1860, o presidente de província calculava em mais de cinco mil escravos vendidos a outras províncias entre 1853 e aquele ano (Souza, 1860). O número era certamente maior, pois não havia controle rigoroso sobre esse comércio.

Essa mão de obra tão necessária para movimentar a grande plantação de algodão e mais tarde de açúcar no Maranhão foi alvo de intensos debates no sentido de promover sua substituição devido à sua diminuição, sendo a mão de obra livre a alternativa, considerando- se, inicialmente, os estrangeiros e, posteriormente, os trabalhadores nacionais fugitivos das secas que assolaram o Nordeste a partir do final da década de 1870, temas que discutiremos oportunamente no capítulo III.

17 Podemos acrescentar como outros motivos, as manumissões, o movimento abolicionista e a Balaiada (1838-

1841), que desorganizou a lavoura e teve a participação de escravos.

18 A exceção foi o período da Guerra da Secessão, quando o algodão alcançou novamente preço atrativo aos

Esse significativo decréscimo da população escrava na província, segundo autoridades e uma historiografia tradicional, era um dos principais vetores da decadência, por outro lado, Regina Faria (2001: 35) observa que:

não houve êxodo populacional e o número de habitantes continuou crescendo; novas áreas foram conquistadas aos índios, avançando as fronteiras agrícolas e pecuárias; e outras atividades econômicas foram implementadas. Em suma, a economia do Maranhão como um todo não estava em uma involução progressiva por todo o século XIX, como defendem os contemporâneos, fazendo acreditar que a abolição foi o ápice desse processo.

Como a mesma autora coloca, não é uma questão de negar a defasagem econômica do Maranhão, já que o Nordeste estava à margem do processo de acumulação se comparado às províncias do Sudeste desde o final da primeira metade do século XIX, mas de reafirmar que não existia uma decadência ou crise permanente, e sim crises ao longo do século XIX (Faria, 2001). A inexistência de estudos que apontam o PIB, por habitante das províncias no período, nos impede de fazer uma comparação no âmbito dessa questão.

Se nos concentramos na agricultura, veremos que as terras que foram sendo desocupadas pela grande lavoura voltada ao mercado exterior, durante as crises ganhavam nova função, voltando-se à pequena produção vinculada ao mercado interno, abastecendo a província com gêneros diversos, inclusive o algodão. Essas terras desocupadas ou mesmo dadas em garantia ao financiamento da lavoura pelo comércio foram repartidas e reativadas como pequenas unidades produtoras, arrendadas por seus proprietários a moradores e retirantes das secas que assolaram o Nordeste entre 1875 e 1878 (Mesquita, 1987).

Em outra frente, terras então ocupadas pelos índios passam a despertar o interesse do Estado no final da primeira metade do século XIX, dilatando a fronteira agrícola da província e controlando o nativo na tentativa de fazê-lo produtivo por meios coercitivos.

Em meio a lutas e conflitos pela conquista do território da então província do Maranhão, o Estado avança sobre o território indígena, deslocando fronteiras e instituindo outras práticas sociais do espaço, mediante à instalação de Diretorias Parciais e Colônias voltadas para a disciplina e incorporação do indígena como possível mão de obra num projeto de civilização envolvendo leigos e religiosos (Ferreira, 2015: 47).

Esses espaços ocupados pelos indígenas passaram de suas mãos para fazendeiros em busca de terras produtivas, como esclarece o presidente de província Eduardo Olympio Machado em 1853:

O alto Mearim era, há quinze anos, desconhecido, ou antes, era propriedade de ferozes tribos de índios selvagens, os quais, cedendo passo à civilização, emigraram para as margens do Grajaú e para os sertões da Chapada e Pastos Bons. De então para cá, tem sua lavoura tomado rápido e extraordinário incremento. A fertilidade do território do Alto Mearim, todo coberto de matas virgens, tem atraído boa

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