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III. Vocação e identidade na orientação da política externa portuguesa

III.2. A marcha do europeísmo

O desenho da política externa em 1976 é também tributário da obra do VI Governo Provisório. Melo Antunes, titular dos Negócios Estrangeiros nesse Executivo, procura um caminho de consenso entre a Europa e África, mas desconfia dos benefícios da CEE, afirmando que “os portugueses terão de convencer-se […] que a economia do País só poderá relançar-se com o esforço dos próprios portugueses”304 e que o “papel de Portugal nunca poderá ser desligado do espaço europeu a que pertence”. O elemento africanista, fundado na experiência da descolonização, faz “tomar consciência do papel de mediação que poderíamos desempenhar no diálogo entre a Europa, tradicional beneficiária de situações coloniais, e a África”305. Todavia, o I Governo Constitucional marca uma viragem mais assertiva para a Europa como grande desígnio da sua política externa.

Subordinando à “opção europeia” a conduta externa de “independência nacional” e de “relações de cooperação e amizade com todos os povos do mundo”, Mário Soares defende, no debate do I Executivo, a aposta na CEE como opção de valência económica e política através da “abertura e intensificação das relações com a Europa”306 como “consequência da instauração da democracia em Portugal e ao mesmo tempo em

303 IDEM – Ibidem, p. 677.

304 RAMOS, Maria Manuela de Sousa; PLANTIER, Carlos – Melo Antunes – Tempo de ser firme. Lisboa:

Líber, 1976, p. 79.

305 IDEM – Ibidem, p. 276.

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consequência da descolonização”307. De facto, a Europa é o mote da campanha socialista nas Legislativas e o PM já tinha advogado a necessidade de “repensar a Europa e o seu futuro” procurando a integração “não só por motivos geográficos, mas também por ambiente cultural e evolução ideológica”. A imprescindibilidade europeia é narrada como o “contraponto absolutamente essencial para a descolonização que se revelara inevitável e grandemente traumática”. A abertura destes “novos horizontes nacionais de esperança” cria condições “para uma nova forma de presença em África, não colonial, mas em termos de cooperação cultural, económica e, mesmo, militar”308.

Soares anuncia a viagem às capitais de países membros da CEE para garantir uma “plena adesão” e excluir “qualquer outra forma intermediária” de integração309. Porém, esta “busca de uma nova identidade nacional, que a descolonização tornara urgente” não “pode ser entendida como um novo expediente – como uma nova Índia, um novo Brasil ou como uma nova África – a dar-nos riqueza sem trabalho persistente, na improvisação e na aventura”. A Europa é a “abertura de Portugal à modernidade”310 e “única chance” para Portugal, um “pequeno país desde o momento em que terminou o facto colonial”311. O Governo nega as virtudes da “política chamada […] de diversificação de relações diplomáticas” como catalisador de dependências “muito mais temerosas e muito mais graves” que ameaçam a Democracia. A adesão da Guiné à Convenção de Lomé é outro motivo para o Governo temer a eventual “situação de inferioridade em relação aos países europeus” no acesso a África312. Soares insiste em querer “encontrar uma nova identidade para o nosso país, não podendo ser outra que não a integração europeia”313. Sendo “convicto defensor da política de alinhamento com a Europa e com o Ocidente”, Soares recordo o seu MNE, Medeiros Ferreira, pela afronta às “tentações neutralistas de Melo Antunes” enquanto secretário de Estado no VI Governo Provisório314.

O novo inquilino das Necessidades discute a adesão ao CE315 como inclusão na “expressão da Europa democrática”. O “anti-europeísmo” é citado como lembrança “de

307 DAR, I, 1.ª Sessão, 3 de Agosto de 1976, p. 419. 308 AVILEZ, Maria João – Op. Cit., p. 19.

309 DAR, I, 1.ª Sessão, 12 de Fevereiro de 1977, p. 2518. 310 DAR, I, 1.ª Sessão, 19 de Março de 1977, pp. 3013-3015. 311 DAR, I, 1.ª Sessão, 19 de Março de 1977, p. 3022.

312 Dos países africanos que “gozam” deste Estatuto: Guiné, Cabo Verde e S. Tomé e Príncipe, só o primeiro

beneficia de “medidas especiais”. MARTINS, Maria Ângela N. Rocha – A Convenção de Lomé I. Lisboa: Secretaria de Estado da Comunicação Social, 1980, p. 23.

313 DAR, I, 1.ª Sessão, 19 de Março de 1977, p. 3023. 314 AVILEZ, Maria João - Op. Cit., p. 39.

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uma direita estéril, que cavava a sua própria sepultura com os olhos cravados no chão, sem saber o futuro e o grande dinamismo que a Europa poderá ainda ter”316. Esta não é alternativa viável pois Portugal “só concentrando energias na Europa poderá ter um papel no mundo”. O sucesso de uma política de aproximação africana poderia ser atingido através da consolidação europeia, pois “o movimento dos não alinhados acabará por olhar para a Europa democrática como uma alternativa real”. O papel de Portugal como ponte entre a Europa e o Terceiro Mundo sustenta-se na “construção transcontinental” de resposta aos problemas dos países em vias de desenvolvimento”. Não obstante, o Ministro afirma que a opção europeia “está longe de significar um fechar de portas ao contacto com outros continentes”317. Ainda que a demissão de Medeiros Ferreira se encerre no conflito com a política internacional partidária do PS, quanto aos contactos africanos318, alguma imprensa elogia-lhe a capacidade de “destravar este projecto europeu sem destravar a intimidade com África”319.

A necessidade de financiamento externo da economia portuguesa acrescenta à caminhada europeia um semblante pragmático, expresso no apoio internacional320. A urgência em formalizar um pedido de empréstimo ao Fonds de Rétablissement do CE321 leva o Secretário de Estado do Tesouro, Palmeiro Ribeiro, a esclarecer a AR quanto à necessidade do uso imediato da primeira parcela do montante322. Também o pedido de empréstimo ao BEI é feito em moldes de celeridade procedimental323. Na mesma medida, Medeiros Ferreira anuncia ao Parlamento um protocolo financeiro que “permite um crédito no valor de 200 milhões de unidades de conta”, assumindo na imprensa que “a Europa não deve regatear ajuda efectiva a Portugal”324. Em resposta a Sá Carneiro, Mário Soares secunda o seu Ministro ao confessar que a participação na “atribuição dos fundos comunitários” é “um dos aspectos que mais interessa ao nosso país”325.

O Gabinete PS-CDS mantém uma linha política muito semelhante. O II Governo Constitucional prossegue a “integração plena de Portugal nas instituições europeias” como principal objectivo de política externa, uma opção pelo continente “da liberdade,

316 DAR, I, 1.ª Sessão, 24 de Novembro de 1976, p. 1355. 317 DN, 27 de Novembro de 1976, p. 3.

318 AVILEZ, Maria João – Op. Cit., p. 64. 319 DN, 12 de Agosto de 1977, p. 17.

320 DAR, I, 1.ª Sessão, 24 de Novembro de 1976, p. 1356. 321 DAR, I, 1.ª Sessão, 25 de Novembro de 1976, p. 1399. 322 DAR, I, 1.ª Sessão, 25 de Novembro de 1976, p. 1401. 323 DAR, I, 1.ª Sessão, 11 de Dezembro de 1976, pp. 1634-1637. 324 DN, 7 de Agosto de 1976, p. 2.

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da cooperação e da paz” sendo a “Europa a que pertencemos e a que regressamos” um “factor de reencontro connosco mesmos e a nossa própria identidade”326. Ainda assim, a intervenção política do novo titular dos Negócios Estrangeiros, Sá Machado, ensaia alguns elementos cambiantes na posição portuguesa quanto ao relacionamento com os novos Estados de língua portuguesa327. Esta inflexão, objecto de crescente atenção presidencial, merece o elogio de Melo Antunes na imprensa angolana328.

O novo Ministro procura sublinhar a “abordagem crítica” do Programa em política externa que exclui “facilidades, porque geradoras de potenciais perigos para a nossa independência nacional”, mas também “dificuldades” por “impeditivas do cumprimento de uma política nacionalmente relevante”. A Europa mantém-se como “um imperativo histórico, cultural e moral da nação portuguesa”. Assim, a coligação é relevante na conjugação de “solidariedades europeias” das “forças representadas nas internacionais socialista e democrata-cristã”, símbolos das “opções largamente maioritárias do eleitorado europeu”. Na relação com África, Sá Machado rejeita um modelo “que se caracteriza pela valorização de um sistema único de referência ideológica” como ensaiado no “percurso acidentado da nossa Revolução”. Acrescenta que esta fórmula “em nome do anticolonialismo, mantém e prolonga indisfarçáveis conotações paternalistas e neocolonialistas”. O novo Executivo sublinha a política de “não ingerência nos assuntos internos de cada Estado” para evitar “anacrónicas e grotescas tentações neocolonialistas” e para viabilizar a “resolução do extenso contencioso resultante da descolonização”, em quadro preferencial de “pragmatismo” e “espírito de igualdade, reciprocidade e confiança”. Só o “património comum a Portugal e aos novos países africanos” levará a “idênticos sentimentos de convivialidade e tolerância”329.

A fragilidade da situação económica do país reforça a necessidade de endividamento externo do Estado. Para Freitas do Amaral, a benesse do apoio centrista a um novo Governo de base PS advém primordialmente da urgência das negociações com o FMI330. Soares considera o acordo um “êxito para Portugal”331. Por motivo similar, o Hemiciclo aprova um pedido de empréstimo ao BIRD no valor de 40 milhões de

326 DAR, I, 2.ª Sessão, 11 de Fevereiro de 1978, p. 1339.

327 MAGALHÃES, Manuel Campos Robalo Leite de – Op. Cit., p. 5. 328 DN, 30 de Maio de 1978, p. 3.

329 DAR, I, 2.ª Sessão, 11 de Fevereiro de 1978, pp. 1339-1340. 330 AMARAL, Diogo Freitas do – Op. Cit., pp. 158-159. 331 DN, 8 de Maio de 1978, p. 3.

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dólares332, sendo igualmente discutida uma proposta que concede ao Governo autorização para contrair empréstimos externos até ao limite de 500 milhões de dólares, durante o ano de 1978”333. A queda do II Governo e o começo da governação de iniciativa presidencial implicará uma mutação no perfil da política externa. A acção crescente de Eanes no domínio da política externa, envolvida em contactos directos com os seus homólogos africanos, define uma linha qualificada como “terceiro mundismo mitigado”334, que tenta um consenso diverso entre as opções europeia e africana. Sob acusações de “diplomacia paralela” por parte dos partidos na AR, esta orientação atinge o ponto nevrálgico a partir de Agosto de 1978.

No debate da questão europeia, “o papel dos Parlamentos nacionais é incontornável e irreversível”335 e a Mesa da AR manifesta-se institucionalmente contagiada pelo horizonte de inserção europeia. António Arnault336, dá notícia de um convite à delegação parlamentar do CE para visitar Portugal. No plano da defesa dos direitos humanitários insiste-se na aprovação e ratificação da CEDH337, aprovada por unanimidade338. A visita a Portugal do Presidente do Parlamento Europeu, Emílio Colombo, é animada pela participação deste convidado nos trabalhos parlamentares, discursando sobre o pedido português de adesão ao Mercado Comum. No discurso de recepção, Gama Fernandes refere que “inseridos na Europa, é com ela que temos de contar e é dentro dela que se tem de processar a maior parte das nossas problemáticas”, sentido o projecto como “contínua mutação” na “harmonia do seu destino”. Colombo lembra que Portugal, “tal como outros povos europeus durante séculos, voltou-se para o mar”, retornando ao “seu próprio continente como nova aventura capaz de mobilizar as suas energias e o seu entusiasmo”339. O PAR também faz alusão à reunião da Primavera da União Interparlamentar em Lisboa como sintoma de prestígio para a AR340.

No plano relacional parlamentar, o PS é algo insuspeito durante a governação do seu partido, insistindo na construção identitária do país europeu. António Guterres faz uma intervenção plenária a realçar a importância dos contactos diplomáticos

332 DAR, I, 2.ª Sessão, 12 de Maio de 1978, pp. 2683-2686. 333 DAR, I, 2.ª Sessão, 14 de Junho de 1978, pp. 3204-3207.

334 MAGALHÃES, Manuel Campos Robalo Leite de – Op. Cit., p. 27. 335 CUNHA, Alice – Op. Cit., p. 19.

336 Vice-Presidente da AR, Presidente em exercício em DAR, I, 1.ª Sessão, 28 de Janeiro de 1977, p. 2214. 337 DAR, I, 2.ª Sessão, 29 de Outubro de 1977, p. 51.

338 DAR, I, 2.ª Sessão, 12 de Junho de 1978, p. 3134.

339 DAR, I, 2.ª Sessão, 28 de Fevereiro de 1978, pp. 1613-1618. 340 DAR, I, 2.ª Sessão, 29 de Março de 1978, p. 1943.

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empreendidos pelo Executivo como “elemento fundamental para assegurar o clima geral de aceitação das pretensões portuguesas”341. Manuel Moura apela aos trabalhadores socialistas para as virtudes do projecto económico socialista assente na “integração europeia”, em “moldes de concorrência com os países do Mercado Comum”342. Rodolfo Crespo aplaude a decisão favorável do Conselho de Ministros da CEE quanto à adesão e louva a “vontade política do povo português de reforçar as instituições da democracia representativa” regressando ao continente a que ligavam “laços históricos e culturais velhos, de oito séculos”. A solidariedade europeia regista, no entanto, “dificuldades de integração” e “ajudas substancias das comunidades ao financiamento do nosso deficit externo e à reestruturação das nossas estruturas económicas e sociais”. O orador admite que, quanto às relações externas com as antigas colónias, a entrada na CEE é um “reforço da Posição de Portugal visto que alguns dos jovens países estão associados ao Mercado Comum no quadro da Convenção de Lomé”343. Um voto de congratulação apresentado por Crespo sobre a decisão desta instância comunitária é aprovado pelos três maiores partidos no Parlamento344.

O PS assinala que a adesão ao Conselho da Europa “foi calorosamente saudada pela esmagadora maioria deste hemiciclo”345. Emília de Mello concebe, a propósito, o “encontro de Portugal consigo próprio no espaço geopolítico que sempre deveria ter sido o seu”. O “sonho europeu” deriva da contextualização geopolítica portuguesa no velho continente, facto que afasta as teses ideológicas de proximidade com o Terceiro Mundo346. Jaime Gama, por seu turno, encara a opção europeia com “confiança no alargamento e consolidação à escala europeia dos ideais do socialismo democrático”, em função de “deveres especiais de cooperação que neste momento cabem aos países da Europa em relação à África”347. No mesmo sentido, José Luís Nunes assevera que Portugal no CE tem “o dever de servir de ponto de contacto” entre África e Europa348, objectivo caro à política externa do I Governo.

341 DAR, I, 1.ª Sessão, 19 de Fevereiro de 1977, pp. 2615-2616. 342 DAR, I, 1.ª Sessão, 19 de Fevereiro de 1977, pp. 2625-2627. 343 DAR, I, 2.ª Sessão, 8 de Junho de 1978, pp. 3030-3031. 344 DAR, I, 2.ª Sessão, 9 de Junho de 1978, pp. 3081-82. 345 DAR, I, 1.ª Sessão, 24 de Novembro de 1976, p. 1342. 346 DAR, I, 1.ª Sessão, 24 de Novembro de 1976, p. 1345. 347 DAR, I, 1.ª Sessão, 24 de Novembro de 1976, p. 1355. 348 DAR, I, 1.ª Sessão, 24 de Novembro de 1976, p. 1395.

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Se inicialmente o PPD/PSD pondera várias formas de ligação à Comunidade349, considera a reunião do Conselho de Ministros das Comunidades “um marco fundamental” para a integração. Dele faz eco Sá Carneiro350, apoiando a “declarada vontade política de abertura do Mercado Comum a Portugal” que traduz um “predomínio da concepção política da Comunidade sobre a concepção económica”. Esta “concepção justa da Europa” no “reencontro da evolução europeia com o desejo dos seus fundadores” traduz a “expressão de uma solidariedade internacional” de que Portugal e todas as Nações poderão beneficiar. Sá Carneiro chamará ainda a atenção para a importância da participação nos fundos europeus, aproximando-se do I Governo. A União dos “povos da Europa” é encarada como o “caminho certo para a consolidação da democracia portuguesa”, como “missão histórica”. A redução de Portugal às “fronteiras do século XV” é um encontro “connosco próprios, com o nosso território europeu”. O “consenso maioritário de todo um povo” reforça a iniquidade da expansão atlântica e colonial, reforçando a crença “na integração europeia como via histórica de um Portugal democrático e progressivo”351. O destino comunitário é associado ao destino democrático, visto que, sem Democracia, “Portugal carece do verdadeiro sentido histórico”. O PS, através de António Reis, regista “com agrado o apoio” dado pelo PPD/PSD, apelando à concessão de condições essenciais para a estabilidade do I Governo.

Sá Carneiro defende a Europa dos regimes que conciliam o “sistema económico com a liberdade e a democracia” evitando “soluções de capitalismo liberal ou de capitalismo de Estado” e preferindo uma visão “reformista” com base na participação dos trabalhadores. O orador considera que “não há contradição entre esta visão supranacional ou comunitária e a independência nacional e os interesses do nosso povo”, sendo a CEE factor de garantia do regime democrático e catalisador de garantias de respeito pelos direitos humanos352. Ângelo Correia rejeita, todavia, uma “concepção economicista” desta integração, apostando sobretudo na “ordem de valores de natureza cultural” e no “transfundo cultural europeu”. Salienta ainda que Portugal, “não sendo uma nação exclusivamente europeia, tem também uma vocação europeia”, em consonância com Soares. Alerta, ainda assim, para que os portugueses não “retenham da Europa uma noção redentora e messiânica” ou “um guarda-chuva que vem resolver os problemas”.

349 DAR, I, 1.ª Sessão, 12 de Agosto de 1976, p. 636.

350 DAR, I, 1.ª Sessão, 11 de Fevereiro de 1977, pp. 2456-2460. 351 DAR, I, 1.ª Sessão, 29 de Janeiro de 1977, p. 2257.

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O CDS acompanha o I Governo quanto às benesses da opção europeia353. Lucas Pires manifesta uma clara rejeição pelo “terceiro mundismo e a indeterminação absoluta” da política externa que antecede este Executivo, defendendo a aproximação europeia354. Amaro da Costa manifesta que “o nosso destino histórico deve estar doravante ligado à Europa”355. Lucas Pires, no entanto, desconfia dos procedimentos do I Governo e expressa a “impressão de que a viagem para a Europa vai ser um tanto mais longa do que a viagem para a Índia”356. No que toca ao CE, o mesmo orador “congratula-se com a adesão de Portugal”, sintoma “da nossa própria evolução democrática”, elogiando “o único império que se constrói sem imperialismos”357. Já em período de exercício do poder, no II Governo, Carlos Robalo afirma que o seu partido, “desde a primeira hora”, sempre confiou na Europa, elogiando Soares “pelo esforço permanente e denodado” nesse sentido. Não obstante, “o CDS não pode deixar de reivindicar orgulhosamente o facto de ser uma das «locomotivas» deste processo358”.

O “objectivo de plena integração na CEE, está, porém, longe de ser pacífico”359 e o PCP assume-se como oposição ao projecto europeu. Carlos Brito duvida das possibilidades de defender Portugal de uma desastrosa concorrência no mercado interno e internacional”360, considerando “indispensável a negociação de acordos com o Mercado Comum”, mas não a integração. Álvaro Cunhal demarca-se também da intenção de “integração no Mercado Comum” assim como da “admissão ao Conselho da Europa”, condenando a “aceitação de instâncias supranacionais” que condicionem uma política de “relações realmente diversificadas”361. Carlos Carvalhas reafirmará a oposição ao CE pela sua “actividade anticomunista e de […] suporte do modo de produção capitalista”362. Aboim Inglês condena a Europa “dos monopólios” a um “esgotamento histórico” ainda que esta ameace “a defesa e consolidação das liberdades e das outras conquistas da Revolução” e “o reforço da independência nacional, com vista à defesa da libertada”. Em última instância, os comunistas defendem a prossecução da política de não alinhamento

353 DAR, I, 1.ª Sessão, 10 de Agosto de 1976, pp. 499-503. 354 Manifesto Eleitoral - Alternativa 76. Lisboa: CDS, 1976, p. 11. 355 DAR, I, 1.ª Sessão, 19 de Março de 1977, p. 3023.

356 DAR, I, 1.ª Sessão, 19 de Março de 1977, p. 3026. 357 DAR, I, 1.ª Sessão, 24 de Novembro de 1976, p. 1352. 358 DAR, I, 2.ª Sessão, 9 de Junho de 1978, p. 3086.

359 FERREIRA, José Medeiros – Portugal em Transe…, p. 148. 360 DAR, I, 1.ª Sessão, 3 de Agosto de 1976, p. 426.

361 DAR, I, 1.ª Sessão, 6 de Agosto de 1976, p. 446. 362 DAR, I, 1.ª Sessão, 24 de Novembro de 1976, p. 1346.

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em blocos políticos consagrada na Constituição363 e acusam o PS e PPD/PSD de disputar o estatuto de “partido português mais europeu”364.

Carlos Brito e Vital Moreira contestam as condições que o Governo apresenta à Câmara para apreciação do diploma de pedido de empréstimo ao CE365. Já Sousa Marques renova as angústias quanto ao “grande atraso relativo da economia nacional em relação aos países da CEE” e o condicionamento da política externa portuguesa, “nomeadamente, com os países socialistas e com os novos países africanos”. Este acto é, assim, “altamente lesivo do nosso interesse nacional”366. Veiga de Oliveira retoma esta temática367, assim como Octávio Pato368. Na bancada comunista fala-se de “submissão e dependência do Estado Soberano” a uma estrutura supranacional dominada pelos “principais países capitalistas”369, louvando Álvaro Cunhal a “marca da indestrutível amizade e da confiança mútua existentes entre o nosso partido e os partidos e movimentos revolucionários dos países independentes libertados do colonialismo português”370.

A UDP também se manifesta agreste quanto à integração comunitária desafiando o Governo a promover um “amplo debate” sobre a questão europeia371. Acácio Barreiros considera o CE um instrumento da política de blocos, contrariando uma “política de subordinação e de submissão ao imperialismo europeu e norte-americano” expressa pelo Mercado Comum. A UDP secunda algumas críticas dos comunistas, temendo “uma completa integração económica” numa Europa de Democracia burguesa. À oposição ao CE segue-se a exigência de saída de Portugal da NATO, opondo-se também à “aproximação com o Pacto de Varsóvia”. Prefere Barreiros “a aliança com os povos do Terceiro Mundo”, conjunto “aliás em que estamos em situação de facilmente nos integrarmos, na medida em que somos um país mediterrânico”372. Acácio Barreiros afirma que “nunca defendeu o isolamento de Portugal em relação aos países que fazem parte do Mercado Comum, mas sempre se opôs à entrada de Portugal para a CEE”. Os