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III Big Data: A Comunicação Criada com Base em Dados Estatísticos

3.5 O Big Data no Mundo Corporativo e no Dia a Dia das Pessoas

3.5.1 Marco Civil: É possível não estar sendo controlado?

É indiscutível que nos tempos atuais geramos milhares de dados por dia e, queiramos ou não, nossas ações estão sendo monitoradas constantemente. Seja quando usamos nossos cartões de crédito, nossos celulares, seja quando fazemos buscas na web ou mesmo ao acessar um site.

Os dados e toda essa tecnologia são neutros por si, o uso que fazemos deles é que pode ser positivo ou negativo. Conforme vimos ao longo deste estudo, as aplicações e o emprego dos dados são inúmeros. O Big Data, as mídias sociais e os algoritmos preditivos abrem um novo campo de discussão a respeito dos direitos e responsabilidades do acesso à internet.

Para neutralizar e regularizar as responsabilidades e direitos dos usuários, dos provedores e do Estado, foi sancionado o Marco Civil brasileiro, uma espécie de constituição do universo digital. O Marco Civil tem o propósito de determinar de forma clara os direitos e responsabilidades relativas à utilização dos meios digitais, estabelecendo uma legislação que garanta direitos e deveres no uso da internet.

A lei define regras claras a respeito dos direitos e princípios para o uso da rede no Brasil. Reconhece, para o ambiente virtual, princípios constitucionais, como a liberdade de expressão e os direitos humanos, além de definir responsabilidades dos provedores de serviços e orientar a atuação do Estado no desenvolvimento e uso da rede. O Marco Civil está baseado em três princípios: neutralidade da rede, liberdade de expressão e privacidade dos usuários.

A lei garante a neutralidade da rede, segundo a qual todo o conteúdo que trafega pela internet é tratado de forma igual. Em uma comparação simples, o marco garantirá que a internet funcione como a rede elétrica (não interessa se a energia será usada para geladeira, micro-ondas ou televisão). Empresas de telecomunicações que fornecem acesso à internet devem tratar os dados de forma igual. Tráfego de vídeo,

por exemplo, não pode custar mais caro que o acesso a redes sociais.

Outro princípio é a garantia da liberdade de expressão. Hoje, redes sociais, como Facebook e YouTube, podem tirar do ar fotos ou vídeos que usem imagens de obras protegidas por direito autoral ou que contrariam regras das empresas. Por exemplo, vídeos que mostram partes de telejornais das emissoras já foram retirados do ar sem que os criadores desses conteúdos opinassem sobre restrição à veiculação do material. Com o Marco Civil da internet, essas empresas deixam de ser responsáveis pelos conteúdos gerados por terceiros e não poderão retirá-los do ar sem determinação judicial, afora em casos de nudez ou de atos sexuais de caráter privado. O objetivo é assegurar a liberdade de expressão e impedir a censura dentro da web.

Para esta pesquisa, a abordagem de interesse sobre o Marco Civil está em investigar como ele irá interferir na utilização dos dados por instituições. Para isso, o tema privacidade abordado no projeto merece destaque. Segundo o Art. 7o, o Marco Civil garante aos usuários:

• A inviolabilidade da intimidade e da vida privada, assegurado o direito à sua proteção e à indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;

• A inviolabilidade e o sigilo do fluxo de suas comunicações pela internet, salvo por ordem judicial, na forma da lei;

• A inviolabilidade e o sigilo de suas comunicações privadas armazenadas, salvo por ordem judicial;

• O não fornecimento a terceiros de seus dados pessoais, inclusive registros de conexão e de acesso a aplicações de internet, salvo mediante consentimento livre, expresso e informado ou nas hipóteses previstas em lei;

• As informações claras e completas sobre a coleta, uso, armazenamento, tratamento e proteção de seus dados pessoais, que somente poderão ser utilizados para finalidades que:

a) justificaram sua coleta;

b) não sejam vedadas pela legislação; e

c) estejam especificadas nos contratos de prestação de serviços ou em termos de uso de aplicações de internet.

• O consentimento expresso sobre a coleta, uso, armazenamento e tratamento de dados pessoais, que deverá ocorrer de forma destacada das demais cláusulas contratuais.

Segundo o texto aprovado, empresas que possuem acesso às informações dos usuários não poderão usar seus dados com fins comerciais. O projeto garante o sigilo e a inviolabilidade no fluxo de comunicações e em conversas armazenadas.

O interessante aqui é perceber que, mesmo antes do Marco Civil, as empresas que possuem acesso aos dados de usuários já pediam autorização para utilizar as informações. Ao fazer um cadastro em uma rede social, como, por exemplo, no Facebook, o usuário é obrigado a aceitar as políticas de uso para poder fazer parte. O próprio Facebook modifica sua política de privacidade constantemente. Atualmente, os termos não são mais chamados de “Política de privacidade” e sim de “Política de uso de dados”.

A política de uso do Facebook deixa claro que ele pode usar as informações que recebe para alimentar e manter seus produtos e serviços; ou seja, para o usuário fazer parte da rede, deve permitir que sejam utilizados e comercializados os seus dados e informações.

Além disso, a rede personaliza o conteúdo de visualização dos usuários, divulgando anúncios e filtrando o feed de notícias de acordo com o perfil de cada um. O Facebook armazena e permite o acesso aos dados pelo tempo que acha necessário. Essa política vai em direção oposta àquela estipulada pelo Marco Civil, mas, como possui o aval do usuário, não há como ser contestada. O longo contrato fornecido pelo Facebook, em letras miúdas, garante todos os direitos, não dos usuários, mas sim da maior rede de relacionamentos do mundo. O processo apenas ganhou outra forma: em vez de não acessar e disponibilizar os dados como um elemento comercial favorável, faz um contrato para que o usuário aceite o acesso e a manipulação de suas informações. E como o Big Data é controlado por poucas e centralizadas empresas, ajustar esse fluxo pode ser mais fácil do que parece. Em vez de descentralizar o poder, como previram alguns dos primeiros entusiastas da internet, a rede, de certa forma, o concentra.

É importante que os usuários fiquem atentos a suas atividades, buscando respeito à privacidade de sua sombra de dados no intuito de manter sua segurança e preservação.

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