• Nenhum resultado encontrado

5 EMERGÊNCIA DA PPP DE ESGOTO DO RECIFE NA AGENDA

5.1 O FLUXO DE PROBLEMAS

5.1.4 Marco Regulatório no Setor de Saneamento

Após a extinção do PLANASA em 1992, o setor de saneamento careceu de um marco regulatório que clarificasse questões fundamentais na prestação dos serviços de saneamento: titularidade e competências. O modelo institucional implementado pelo PLANASA legou um padrão de gestão centralizador na esfera estadual, ausente de canais para a participação social e ancorado nas empresas públicas estaduais. No entanto, os novos rumos tomados no cenário nacional apontavam para a maior participação municipal nas decisões políticas nacionais e locais70, incluindo os serviços de interesses locais como é o caso do saneamento.

No âmbito legislativo, na década de 1990, houve a tentativa de estabelecer um marco regulatório para o setor através do Projeto de Lei (PL) – 199/199371. Em

dezembro de 1994, o PL – 199 foi aprovado na íntegra pelo Senado Federal, no entanto, em Janeiro de 1995, o recém empossado presidente FHC, em seu quarto dia útil de mandato, vetou na íntegra o PL 199 sob alegação de burocratizar e onerar o erário público (SAMPAIO, 2011).

70 Segundo Souza (1999), no Brasil é possível afirmar a existência de um triplo federalismo visto que estados e

municípios possuem esferas de governo com autonomia e outras prerrogativas constitucionais que caracterizam a condição de entes federados não só aos estados, mas também aos municípios.

71 O PL – 199, segundo Sampaio (2011), foi fruto do consenso entre as diversas entidades da área, ASSEMAE,

ABES, empresas privadas e sindicato de trabalhadores que propunham a integração das ações em saneamento com os setores de saúde e meio ambiente, definia diretrizes gerais para o setor e uma estrutura de funcionamento; propunha um Conselho Nacional de Saneamento de caráter consultivo e deliberativo e um Fundo Nacional de Saneamento.

Em um contexto de crise fiscal crônica, o governo federal na década de 1990, em particular os governo do presidente FHC (1995-1998/1999-2002) atuou no setor sob a perspectiva de reduzir o papel do Estado no setor de saneamento, incentivando a busca de recursos no setor privado ou em agências internacionais. Uma das expressões dessa orientação foi a criação do Programa de Modernização do Setor Saneamento (PMSS) com o propósito de otimizar a eficiência na prestação dos serviços e aumentar a capacidade de financiamento do setor72.

Nos anos finais do governo de FHC, em 2001, houve uma segunda tentativa em resolver a situação institucional do setor de saneamento. Foi lançado o PL 4147/2001 que representou o esforço no sentido de solucionar questões ainda latentes, como a questão da titularidade e a regulamentação na divisão de responsabilidades na prestação, regulação e delegação dos serviços. Sem sucesso, o PL 4147/2001 foi arquivado.

Como avanço paralelo, em 2005, houve a promulgação da Lei dos Consórcios Públicos, Lei federal n° 11.107/2005, dispondo das normas gerais para que União, estados, distrito federal e municípios celebrem a contratação de consórcios para a gestão de serviços públicos de interesse comum, representando um avanço no setor de saneamento (fiscalização, regulação, planejamento e prestação). Esta Lei também regulamentou o associativismo dos municípios entre si, com ou sem participação dos estados e da União, favorecendo a construção de parcerias interfederativas. No cenário local, foi com base na Lei dos Consórcios Públicos que a Prefeitura do Recife firmou uma relação de parceria com a Compesa para estruturar o setor de saneamento local a partir da experiência do saneamento integrado (apenas no projeto piloto). No caso, foi celebrado um Contrato de Programa (2005) que clarificou questões importantes quanto a regulação e a fiscalização dos serviços que ficou a cargo da Agência Reguladora de Pernambuco (ARPE).

Somente em 2007, com a promulgação da Lei federal 11.445/2007, conhecida como a Lei do Saneamento, parte da lacuna existente desde o fim do Planasa foi suprida. Essa Lei teve o caráter de ressaltar o papel do poder público na área, além

72 No cenário local, em 1995, a PCR estabeleceu um protocolo de intenções junto ao PMSS tentar garantir

financiamento para obras de grande porte junto a agentes financeiros nacionais (CEF e BNDES) e internacionais (BID), no entanto, sem sucesso em conseguir os recursos (COSTA e PONTES, 1997).

de ter uma visão abrangente do conceito de saneamento73, assegurou uma

abordagem sistêmica de gestão com intersecção de diferentes níveis de governo e um modelo institucional bem definido, separando os papéis do titular, do prestador e do regulador dos serviços (REZENDE e HELLER, 2008). No que tange aos seus princípios, a universalização, a equidade na prestação do serviço, o controle social e a qualidade se apresentam como diretrizes a serem perseguidas pela Lei do Saneamento74.

Com a criação do Marco Regulatório do setor, também foi produzido um efeito de segurança jurídica assegurando maior controle sobre as diferentes formas de contratações e relações referentes aos serviços de saneamento básico.

Em síntese, as evidências identificadas no fluxo de problemas estão relacionadas à eventos de crise na saúde pública, baixo desempenho na expansão do serviço de esgotamento sanitário, baixo fluxo de investimentos, polarizações partidárias, experiências de políticas públicas locais insuficientes na redução do déficit do serviço e ausência de marco regulatório no setor. No quadro 8, apresenta- se, de forma sistematizada, os eventos identificados como problemas nas décadas de 1990 e 2000.

Quadro 8 – Fluxo de Problemas

Década de 1990 • Implatação do sistema condominial em áreas ZEIS • Redemocratização e demanda social pelos

serviços

• Crise sanitária – Filariose bancroftiana • Alta taxa de mortalidade infantil

• Baixo índice de acesso ao serviço • Ausência de marco regulatório

• Baixo apoio da concessionária do serviço – Compesa

• Modelo de gestão integralmente público Década de 2000 • Implantação do saneamento integrado

73 Diferente do PLANASA, a nova Lei incluía os segmentos de água, esgoto, drenagem, controle de vetores e

doenças, resíduos sólidos e meio ambiente (REZENDE e HELLER, 2008).

74 Apesar dos avanços que a Lei do Saneamento representou para o setor, a questão da titularidade permaneceu

• Baixos investimentos para expansão do serviço • Baixo índice de acesso ao serviço

• Permanência de problemas sanitários

• Baixo apoio da concessionária do serviço – Compesa

• Modelo de gestão integralmente público • Criação do marco regulatório no setor