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3.1. Expressão da sexualidade

A sexualidade é um aspecto natural da existência humana, relacionada primordialmente à perpetuação da espécie, porém, hoje, abrange muito mais que isso, desde práticas relacionadas à satisfação pessoal, ao prazer, aos sentimentos e, principalmente, ao exercício da liberdade individual. Envolta por uma série de estigmas e tabus, a expressão da sexualidade e o comportamento sexual são variáveis de difícil análise, até mesmo em uma sociedade como a que nos encontramos hoje no século XXI, a qual é resultante de diversas quebras de paradigmas, especialmente no século passado.

Por muito tempo, graças a fortes imposições eclesiásticas e a uma cultura predominantemente patriarcal, o comportamento sexual foi tido como algo obsceno, vergonhoso, passível de repressão, especialmente nas mulheres. O ato sexual deveria ocorrer apenas após a união matrimonial de dois indivíduos de sexos opostos, com o único propósito de gerar filhos e dar continuidade à espécie, às dinastias e aos reinados legítimos. Uma noção tão enraizada na mentalidade coletiva que até mesmo nos dias atuais é comum deparar-se com dificuldades na abordagem do tema, frente a uma série de preconceitos, pressuposições e da cumulativa repressão histórica.

Outro fator importante que colabora para a perpetuação de certos estigmas sociais e preconceitos é a desigualdade entre os gêneros. A sociedade ocidental é marcada por um histórico de repressão ao feminino, à sexualidade da mulher, além de imposições sociais estigmatizadas, como obrigação de formar uma família, resultando em menor escolaridade, exclusão do mercado de trabalho, submissão ao homem e forte atribuição social ao papel exercido na maternidade como compulsório. O homem, por sua vez, por muito tempo, teve o aval da sociedade para não exercer o seu papel de pai em casos de gravidez não planejada, recaindo sempre a culpa e a responsabilidade sobre a mulher.

Essa sociedade patriarcal e preconceituosa que se consolidou através dos anos e até hoje retém certa hegemonia e influência, vem recebendo ataques diretos de alguns grupos que buscam revolucionar as construções sociais padrões, objetivando

do empoderamento feminino, especialmente nas novas gerações. O feminismo é o principal movimento que representa essa luta e, além de ser tema de produções acadêmicas, tem impactado a vida de mulheres no seu cotidiano, principalmente as mais jovens.

Além dos movimentos sociais, a tecnologia também facilitou o início da trajetória para equivalência de direitos entre os sexos. A disponibilidade de anticoncepcional oral viabilizou a desvinculação da sexualidade feminina da reprodução, auxiliando a mulher a ingressar no mercado de trabalho, a dar continuidade aos estudos e a ocupar posições de destaque no cenário da política, do comércio e da produção artística que, até antes da metade do século XX, eram restritos ao sexo masculino.

Além da luta pela igualdade de direitos entres os gêneros, o século XX também marcou o início da luta LGBT, movimento que reivindica o respeito, a aceitação, o fim do preconceito e alguns direitos civis como o matrimônio para indivíduos homossexuais (lésbicas e gays), bissexuais e transgêneros.

Frente a isso, sabe-se que as faixas etárias mais jovens, adolescentes e jovens adultos, os quais integram essa geração que é diariamente impactada pelas lutas sociais e quebras de paradigmas, iniciam as atividades sexuais cada vez mais precocemente. No entanto, muitas vezes a família não reconhece isto e as políticas de saúde, com frequência, não possuem a população mais jovem como seu público alvo, a qual acaba se prejudicando com a falta de diálogo e de informação. Isto pode resultar em práticas sexuais inseguras, caracterizadas, sobretudo, pelo não uso do preservativo e pela multiplicidade de parceiros, aumentando a possibilidade de contrair uma infecção sexualmente transmissível ou de experienciar uma gravidez indesejada.

3.2. Determinantes do comportamento sexual de risco

Para compreender o comportamento sexual de risco é preciso responder a seguinte questão: quais os determinantes do comportamento sexual de risco atualmente? Este desfecho apresenta uma determinação complexa e requer a avaliação de aspectos sociais, familiares, individuais e comportamentais.

Na era pós-moderna, com apoio dos movimentos sociais, questões como liberdade de expressão, autonomia, empoderamento em relação ao próprio corpo e acessibilidade de recursos e de informações foram reforçadas. No entanto, a cultura

patriarcal que predomina na sociedade ainda influencia de forma relevante as escolhas individuais. Na esfera mais distal, o contexto social, engloba questões como estigmas sociais, tabus e o favorecimento do sexo masculino. A religião tem um papel importante e impõe à sociedade um conjunto de regras e valores, uma moral sexual que diferencia o que deve ser aceito, o que é digno e certo, do que é considerado socialmente vergonhoso, desprezível e, portanto, é desencorajado.

Integrando o contexto social também, é possível salientar o papel dos ambientes de aprendizagem formal, as escolas e universidades. No geral, a escola é o primeiro espaço institucional de ensino que proporciona o contato com indivíduos que não compartilham laços de sangue e que, portanto, não necessariamente estão ligados ao mesmo conjunto de valores. Essas conexões interpessoais são relevantes pois colaboram para a formação do caráter e da mentalidade individual.

Além do conhecimento passado pela família, no geral é na escola que se recebe instruções a respeito da saúde sexual e reprodutiva, aspectos biológicos e sociais, bem como as principais doenças que podem ser contraídas e as formas de prevenção. Já na fase universitária, há um processo que marca o início da transição para um estado mais independente, no qual muitos deixam a casa da família para estudar, especialmente nas instituições públicas federais do país. Essa liberdade atribuída aos jovens adultos iniciando sua transição para a maturidade é característica de um período especialmente vulnerável quando falamos de comportamento sexual.

Em uma esfera um pouco mais próxima do indivíduo, encontra-se o contexto familiar, o qual abrange aspectos socioeconômicos, étnicos, religiosos e acadêmicos. O papel da família, seu posicionamento frente ao assunto sexualidade e aos estigmas é muito dependente dessas questões, e altamente relacionado ao nível de escolaridade familiar e a sua condição socioeconômica. A escolaridade da família implica no nível de informação que eles tiveram acesso e que será repassada aos filhos, repercutindo nas suas perspectivas, seus comportamentos e suas atitudes futuras.

No entanto, muito ainda depende das características individuais de cada ser, conferindo a esse aspecto uma posição proximal ao desfecho. A idade, o sexo, a orientação sexual e a identidade de gênero, características psicossociais que determinam a forma como o indivíduo se sente e se reconhece, são aspectos essenciais que impactam no comportamento. Além disso, o estado de saúde no geral,

para outras doenças, as quais têm um efeito sobre a autopercepção da imagem corporal, são variáveis que podem estar relacionadas ao desfecho.

Por fim, em última esfera, aspectos comportamentais como a ingesta de bebidas alcoólicas, o uso de cigarro ou drogas ilícitas, personalidade, capacidade de lidar com adversidades ou com cobranças familiares e expectativas de parceiros sexuais, também estão associadas aos comportamentos sexuais de risco.

3.3. Construção do modelo conceitual

A partir do que foi abordado no marco teórico, a cadeia de determinantes distais e proximais foi elaborada e apresentada na Figura 4.

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