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Prevalências de comportamento sexual de risco

2. REVISÃO DA LITERATURA

2.4. Prevalências de comportamento sexual de risco

Em função da variabilidade na forma de mensurar o comportamento sexual de risco, devido aos diversos instrumentos, e dos diferentes períodos de recordatório utilizados nos estudos, encontrou-se certa dificuldade em realizar uma síntese dos achados.

Quanto aos adolescentes, verificou-se grande variação na prevalência de atividade sexual, com estudos que apontaram desde aproximadamente 20% dos escolares até quase 60% como já tendo mantido relações sexuais pelo menos uma vez ao longo da vida (ARAÚJO; COSTA, 2009; DE SOUZA et al., 1998; MARTINS et al., 2006; MOLA et al., 2016; OLIVEIRA-CAMPOS et al., 2013; TRAJMAN, 2003). De maneira geral, em um estudo que avaliou todo o território brasileiro, a prevalência de adolescentes escolares no país que frequentavam o 9º ano do ensino fundamental e que já havia iniciado atividade sexual foi de 25% (OLIVEIRA-CAMPOS et al., 2013). Em um estudo que avaliou alunos de escolas públicas e privadas de São Paulo, os alunos das escolas públicas iniciam antes dos alunos de escolas privadas, sendo esses últimos os que apresentaram maior prevalência de uso de preservativos (MARTINS et al., 2006).

Quanto ao uso de preservativos, um trabalho com adolescentes brasileiros do Rio de Janeiro mostrou que, apesar de 94% ter conhecimento sobre a proteção e a importância do uso da camisinha, apenas 34% de fato relatou utilizá-la sempre (TRAJMAN, 2003). Em outro trabalho realizado com adolescentes que frequentavam escolas públicas de Pernambuco, 77% dos estudantes do sexo masculino relatou não ter utilizado preservativo na última relação, apesar de 60% deles reportarem ter tido três ou mais parceiros sexuais ao longo da vida. Esse número foi também importante entre as estudantes do sexo feminino, das quais 36% reportou não ter utilizado preservativo na última relação e 23% relatou três parceiros ou mais ao longo da vida (ARAÚJO; COSTA, 2009).

Esses achados foram corroborados por um trabalho que avaliou alunos do ensino médio de todo o território Brasileiro, no qual cerca de 43% dos estudantes relatou não ter utilizado camisinha em suas relações sexuais ocorridas no mês anterior ao estudo (SANCHEZ et al., 2013).

relataram manter relações sexuais com parceiro casual, apenas 63,7% dos meninos e 49,8% das meninas reportaram uso consistente de preservativo, em comparação a 60,4% e 42,7% entre os estudantes que declararam ter parceiro fixo, mostrando que a variável possuir um parceiro fixo ou um parceiro casual não resultou em diferenças significativas em termos de uso de preservativos. Nesse mesmo trabalho, verificaram que 4,1% dos escolares só tiveram sua última relação sexual porque estavam sob efeito de bebidas alcoólicas (BERTONI et al., 2009).

Quanto à idade de início das relações, verificou-se que 30% dos alunos de ensino médio em 2013 no Brasil haviam iniciado a atividade sexual com 12 anos ou menos e 21% não utilizou preservativo na última relação (OLIVEIRA-CAMPOS et al., 2013), enquanto que um estudo de 2016 conduzido em uma cidade do interior de Pernambuco identificou que a maioria dos estudantes teve sua primeira relação sexual entre os 14 e os 16 anos (55,7%) e 65,6% relatou uso de preservativo na última relação (MOLA et al., 2016).

Apesar dos estudos com adolescentes serem importantes para a construção do conhecimento a respeito dessa faixa etária e auxiliarem no desenvolvimento de políticas públicas de conscientização, sabe-se que há diferenças importantes entre adolescentes que frequentam o ensino médio e adolescentes que frequentam o ensino superior (DE SOUZA et al., 1998; VELHO; MORAES; TONIAL, 2010).

Um estudo realizado com universitários do curso de medicina de universidades da cidade de São José do Rio Preto em São Paulo mostrou que 81% dos graduandos já havia iniciado a atividade sexual, tendo aproximadamente 54% deles declarado utilizar camisinha “algumas vezes” ou “nunca”. Entre os principais motivos levados em consideração pelos estudantes que declararam não utilizar preservativo identificou-se a confiança no parceiro e a indisponibilidade da camisinha no momento da relação (BARBOSA et al., 2006). Em um levantamento com alunos da Universidade de São Paulo (USP), os achados de Barbosa et al, 2006 foram corroborados. As principais razões apontadas pelos alunos para negligenciar a camisinha foram a confiança no parceiro (28,6%), seguida do uso de outro método contraceptivo (21,6%), da diminuição da sensibilidade (12,6%), de não possuir preservativo no momento da relação (10,7%) e de se sentir desconfortável com o uso (8,5%). Nesse mesmo estudo, verificou-se que o preservativo é mais frequentemente utilizado em penetrações vaginais (80% dos homens e 74% das mulheres) do que em anais (47,8%

dos homens e 30% das mulheres), e quase nunca utilizado durante a prática de sexo oral (CAETANO et al., 2010).

Quanto ao início da atividade sexual, um estudo com acadêmicos de cursos da saúde realizado em universidades do Paraná mostrou que 62% dos universitários iniciaram aos 17 anos ou antes, sendo que 25,4% deles declarou ter tido relações sexuais somente após o ingresso no ensino superior (COSTA; ROSA; BATTISTI, 2009). Sabe-se também que estudantes do sexo masculino possuem média de idade de início da atividade sexual significativamente inferior às estudantes do sexo feminino, aproximadamente 13 e 17 anos, respectivamente (CAETANO et al., 2010).

A respeito do consumo de bebidas alcoólicas ou drogas antes das relações sexuais, a prevalência em universitários brasileiros encontra-se em cerca de 15% (COSTA; ROSA; BATTISTI, 2009). Aliado a isso, um estudo conduzido na Espanha estimou que 56,3% dos universitários ingeriu bebidas alcoólicas antes da última relação e cerca de 9,4% utilizou drogas (CASTRO, 2016).

A média de parceiros ao longo da vida é de, aproximadamente, 3 indivíduos (DESSUNTI; REIS, 2012) e a grande maioria (mais de 90%) dos universitários entrevistados reportou ser heterossexual (ARAGÃO; LOPES; BASTOS, 2011; RODOLFO SILVA BERTOLI, CARLOS EDSON SCHEIDMANTEL, 2016; SALES W. et al., 2016).

Segundo diversos estudos com universitários brasileiros, as prevalências de estudantes que já iniciaram atividade sexual variaram entre 70 e 80% da população universitária (ARAGÃO; LOPES; BASTOS, 2011; DESSUNTI; REIS, 2012; FIRMEZA et al., 2016; RODOLFO SILVA BERTOLI, CARLOS EDSON SCHEIDMANTEL, 2016). Países como a Colômbia, os Estados Unidos, Portugal e Espanha tiveram prevalências similares ao Brasil a respeito da proporção de universitários sexualmente ativos (CARLOS et al., 2016; CASTRO, 2016; REIS et al., 2012; SCOTT-SHELDON; CAREY; CAREY, 2010). Essas prevalências são muito diferentes das encontradas em outros países de culturas orientais como a Coréia do Sul, a Turquia, a China e a Malásia, nos quais as prevalências de início da atividade sexual nos universitários, as quais variaram em torno de 20%, são significativamente menores do que as encontradas entre adolescentes e jovens adultos no Brasil (FOLASAYO et al., 2017; LEE et al., 2005; SUN et al., 2013; TANRIVERDI; ERSAY, 2010). Essas diferenças entre as nações do mundo ocidental e oriental podem ser explicadas por questões

socioculturais características dessas regiões do globo, as quais serão melhor abordadas no desenvolver do marco teórico do presente trabalho.

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