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Maria Lina Magalhães Teles

No documento Download/Open (páginas 86-92)

CAPÍTULO 1 FOTOS QUE REVELAM A CIDADE E SEUS PERSONAGENS

1.4 O Trabalho das Primeiras Damas em Bela Vista de Goiás

1.4.3 Maria Lina Magalhães Teles

Maria Lina Magalhães Teles, em 1974 casou-se com José Francisco Teles e tiveram quatro filhos. Tornou-se primeira-dama por dois mandatos intercalados. O primeiro foi de

1977 a 1983, e o segundo de 1989 a 1992. Segundo Lebrun, tanto o prefeito quanto a

primeira-dama “... a quem o poder é confiado pelo corpo eleitoral por um período determinado, tem o encargo de cuidar dos negócios da Nação e de zelar pela observância da lei” (19891, p. 6). Foi com esse objetivo que José Francisco e Maria Lina assumiram o poder executivo da cidade.

Com empreendedorismo e disposição, Maria Lina25 acompanhou as empreitadas

corajosas do prefeito. Preocupada com a situação do idoso em Bela Vista, Maria Lina liderou um grupo de voluntárias para realizar projetos na 3ª idade. Eram “... 12 voluntárias e realizávamos trabalhos grandes e muito bons. Elas me ajudavam sem receber nada, com a maior boa vontade, nós fazíamos coisa que hoje eu não daria conta, não teria a mesma disposição” (MARIA LINA, 06.10.12).

Essas voluntárias eram senhoras da sociedade local, elas buscaram apoio nos diversos comércios e com a realização de eventos e amparo da prefeitura construíram o “Lar dos Velhinhos”. Com essa iniciativa Maria Lina edificou um lar para os desamparados. Edificou dignidade às pessoas. De acordo com a Constituição Federal (1988), todos têm direito a uma casa. Assim, Maria Lina relata:

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Quando nós criamos esse grupo de voluntárias era pra enfrentar todas as barreiras. Fazia parte dele a doutora Marlene, a dona Divina, a Iolanda do Zé Pinto, a Didi do Redondo, a Marina, a Marisia eu me lembro de que eram umas dez. Então a gente fazia cada coisa, tanto é que na primeira festa de pecuária, nós fizemos uma barraca muito grande que servia almoço e jantar todos os dias. Foram 15 dias de festa. Nós pegamos um patrocinador para cada dia, então nós ficamos responsáveis pelos ingressos e os patrocinadores assumiam o restante das despesas. Nessa barraca a gente recebia o governador e muita gente importante. Eu fui a Goiânia e falei com a Maria Valadão, primeira-dama da época, pedi uns braseiros, pra colocar na barraca para que a comida não ficasse fria. O pessoal da Granja Saito trouxe de São Paulo um caminhão de crisântemo e enfeitamos a barraca, ficou linda e maravilhosa. Com o dinheiro deste evento nós construímos a primeira etapa do abrigo (Lar dos Velhinhos). Antes era lá onde é a Pestalozi. Então na época da Juliana ele fez a outra parte do abrigo. Era assim Neide, o trabalho era constante.(06.10.12)

Nas imagens abaixo, podemos ver alguns momentos vividos pelos moradores do Lar dos Velhinhos, juntamente com a presença da primeira-dama.

Através da análise das imagens fotográficas visualizamos épocas, desvendamos e compreendemos as práticas sociais e culturais do povo belavistense.

A fotografia permite-nos a reavaliação da realidade, a recuperação dos significados perdidos, na invisibilidade do cotidiano, em que estas pessoas estão inseridas. É por meio do olhar do fotógrafo que a historicidade do tempo e do lugar tornam-se memória.

Mesmo que a fotografia seja uma representação de um momento vivido e que nem sempre os idosos estão tão felizes assim, sabemos que “as fotografias podem comunicar uma atmosfera e exprimir sentimentos” (LEITE, 2000, p. 46). E mais “o significado mais profundo da imagem não se encontra necessariamente explícito” (KOSSOY, 2001, p. 117). Dessa forma, a análise comporta-se, a partir daquele momento, e em consonância com a visão do fotografo, do modo como se comprometeu no instante em que congelava a imagem.

De fato podemos realizar este trabalho de forma minuciosa. Ao olharmos para as duas imagens de número 18 e 19, percebemos que são fotografias produzidas num mesmo dia, e

IMAGEM 19: Foto Faria – 1981- Refeitório do Lar dos Velhinhos

IMAGEM 18: Foto Faria – 1981- Pátio do Lar dos Velhinhos

em momentos diferentes. Notamos isso pelo fato de a imagem de número 18 ter sido feita fora do refeitório. E, na foto de número 19 as pessoas estarem dentro do refeitório. Também, pelas roupas, que são as mesmas, nas figuras das duas imagens. As pessoas fotografadas são as mesmas. No entanto, algumas foram selecionadas para repetir a fotografia dentro do refeitório.

Possivelmente, a foto de número 18 foi realizada primeiro. Podemos identificar a maioria dos retratados ali, presentes também na foto de número 19. No meio do grupo há idosos sem destrezas para se posicionar e, estão em maior número. Provavelmente, era o mês de junho ou julho, período em que se realizam as festas juninas na cidade. Essa leitura se deve à decoração do pátio e refeitório. Por outro lado, poderiam estar comemorando o aniversário das pessoas que estão na imagem 19. Estão separados, batendo palmas e com uma expressão sorridente e feliz. Segundo Maria Lina “... tinha muitos idosos que faziam festas pra nós. Comemorávamos os aniversários. Teve um que comprou um aparelho de som e nos dias de festas ele vestia até terno, era uma graça...” (06.10.12)

Na imagem número 18, identificamos a primeira-dama Maria Lina. Ela está entre a senhora e a criança que se apóia numa das cadeiras de roda. Ela está centralizada na foto, veste uma blusa branca e está com os cabelos soltos. Acreditamos que aquele era realmente um evento de comemoração. Todos os retratados estão muito bem vestidos, usam roupas alegres. A tiara que uma das senhoras está usando e o cinto do senhor próximo a ela, mostram que se arrumaram para participar de uma festa. Os cadeirantes não foram excluídos do evento, estão tão pomposos quanto os demais.

Na imagem 19, notamos que a casa era bem equipada para a época. Havia uma televisão, uma mesa grande ao lado das crianças, um quadro e um cartaz transmitindo alguma mensagem. Acreditamos que, o que se mostra por detrás das pessoas, possa ser um aparelho de som. Possivelmente, era uma festa para a comemoração de aniversários. Em cima da mesa na mesma imagem há alguns pratinhos. E, a presença de crianças, perto da mesa, geralmente nos permite inferir que ali havia bolo e doces de aniversário. Essas crianças talvez fossem filhas de funcionários. Segundo Maria Lina “... os idosos era uma verdadeira carência e não tinha parentes, ninguém sabia de onde eles vinham” (06.10.12). Nesse sentido a responsabilidade e compromisso social de Maria Lina eram muito importantes para o bem estar do idoso (a). É, a própria Maria Lina que nos relata a seguinte passagem:

Quando os velhinhos morriam eu que tinha que cuidar, eu vestia roupas neles, botava dentro do caixão. Até perdi o medo de defunto. Vou te contar uma história. A Maria Gaga, uma das moradoras da casa, me chamou e me disse que quando ela morresse ela queria vestir de noiva, então eu ouvi aquilo e concordei, é claro, mas havia me esquecido. E não é que ela morreu um ano depois da nossa conversa. Quando

mandaram me chamar ela ainda estava na cama, quando olhei ela na cama eu lembrei do pedido que havia me feito. Quando a dona Joanica chegou atrás de mim ela tinha o costume de visitar a casa. Eu contei à promessa que eu tinha feito para a Maria Gaga e disse que não sabia o que fazer. Então ela me disse: “Eu tenho o vestido, o véu até meia eu tenho, vamos lá em casa que eu te dou”. Eu fui lá com ela e buscamos tudo e vestimos ela de noiva e colocamos ela no caixão. (06.10.12)

A primeira-dama teve que enfrentar diversas atividades naquele período. Ela nos disse: “... eu dei tudo que eu tinha de melhor para o povo, porque eu tava tendo os meus filhos, era uma vida bem complicada, porque quando você tem filhos pequenos é difícil” (06.10.12). Nas atuações em vida pública Maria Lina tomava iniciativas e decisões, que antes eram de responsabilidade masculina. Tanto a primeira-dama quanto suas companheiras procuraram fazer o bem e amparar os necessitados. Seus feitos serviram de lume para aquelas que ainda se sentiam excluídas da vida pública e política. Mesmo sendo uma responsabilidade política ela os fazia.

Brabo referindo-se a Araújo nos relata que o estudo das “... experiências coletivas das mulheres expandiram o olhar acerca do papel da cultura, dos valores e da ideologia na construção das posições e trajetórias políticas dos atores, além de evidenciar a diversidade das formas de engajamento político” (2008, p.39). Muitas mulheres passaram a ocupar cargos públicos, no decorrer dos anos, por iniciativas próprias, outras pela necessidade de fazer determinada obra para atender as dificuldades sociais de Bela Vista de Goiás. Maria Lina acabou por assumir responsabilidades que não esperava, a saber:

Lá na prefeitura tinha um cômodo que direto tinha arroz, feijão, leite e até balinha pra dar pra meninada, porque em Bela Vista tudo era muito difícil, não tinha emprego, a Granja tinha acabado de chegar, mas ainda era pouco. Então muitas vezes as pessoas chegavam e me dizia que não tinha nem arroz pra fazer pros filhos, aí eu ia lá e fazia a cesta, não tinha outro jeito. Quando morria uma pessoa carente me chamavam até pra providenciar o enterro.(06.10.12)

Ao lado do prefeito, Maria Lina liderou muitas outras realizações e iniciativas de natureza social. Foi uma primeira-dama ativa. Em relação à construção de obras, idealizou e concretizou tanto a Casa dos Velhinhos quanto a Creche Menino Jesus de Praga.

As construções: Lar dos Velhinhos e a Creche Menino Jesus de Praga ao lado dos rotarianos, não deixaram de ser obras assistencialistas, mas foram obras com caráter inovador. A partir de então, as primeiras-damas não se limitavam a pedir bens alimentícios para as festas de Natal, mas a realizar eventos de grande porte, para, junto com a prefeitura conseguirem angariar recursos para tais benefícios.

Observamos “... que a participação política sempre foi privilégio dos homens... nem as mulheres nem outros grupos populares eram vistos com bons olhos quando tentavam adentrar

a arena política” (BRABO, 2008, p. 51). Penetrar esse universo não era uma tarefa fácil. A primeira-dama, ao propor projetos que envolvessem arrecadação de dinheiro, assumia um papel de decisão frente aos problemas sociais, e, por isso, tinha a incumbência de resolvê-los.

A imagem abaixo se refere ao interior de uma das salas de aula da Creche Menino Jesus de Praga. Fora construída em 1981, pela iniciativa da primeira-dama Maria Lina, que também fazia parte do Rotary. A informante relata que: “... na verdade a creche leva o nome de Creche Menino Jesus de Praga, que é do Rotary, só que nós éramos rotarianos e estávamos na segunda gestão do Rotary e como a gente estava na presidência do Rotary conseguimos parcerias” (06.10.12).

IMAGEM 20: Foto Faria – 1981- Sala de aula na Creche Menino Jesus de Praga

A construção desta creche em Bela Vista não é um caso isolado. “A partir de 1975 a reivindicação por creches está presente em quase todo ato público feminista, publicação ou evento” (ROSEMBERG, 1984, p. 76). Segundo a mesma autora, “... no inicio da década de 80 (...) o Movimento da Luta por Creches cresce e se desenvolve...” (1984, p. 77). Porém a construção de creches era muito cara. Em São Paulo, por exemplo, no ano de 1983 houve um incentivo da “... participação de setores privados (Igreja, associações filantrópicas, grupos comunitários), o Estado deve contribuir apenas indiretamente através de convênios...” (ROSEMBERG, 1984, p. 77). Assim ocorreu em Bela Vista também.

E, foi juntamente com apoio da prefeitura que rotarianos e voluntárias realizam diversos eventos para a arrecadação de verbas para a concretização da obra. Pessoas perceberam e se comoveram da necessidade da entidade na cidade. Segundo Maria Lina: “... antes não tinha onde as mães deixarem seus filhos para irem trabalhar” (06.10.12). Além disso, havia a dificuldade em conseguir trabalho. Não havia locais para acomodar as crianças

enquanto os pais trabalhavam. Diante disso, a ideia foi lançada e muito trabalho veio pela frente. Maria Lina diz que:

a prefeitura assumiu. Praticamente fez toda a obra, toda a construção, quem equipou foi eu. Eu ia pra Goiânia e pedia, como eu pedia Neide. Equipamos tudo e ficou linda, depois a ex-primeira-dama Eliane aumentou. A creche continua no mesmo lugar de antes. Eu cuidava praticamente sozinha tinha as funcionárias, mas não tinha diretora e nem coordenadora. (06.10.12)

A construção da creche significou mais do que uma acomodação para as crianças enquanto seus pais trabalhavam. Foi um local onde as crianças eram recebidas com carinho e cuidados, não só dos funcionários, mas da própria primeira-dama “... que acompanhava tudo, tanto a creche quanto o Lar dos Velhinhos” (06.10.12).

Dessa forma, os pais teriam um local de segurança onde poderiam deixar seus filhos para irem trabalhar mais despreocupados. De acordo com Oliveira (1992), a história das creches no Brasil, liga-se às modificações do papel da mulher na sociedade e suas repercussões no âmbito da família, em especial no que diz respeito à educação dos filhos.

Em Bela Vista, essa necessidade já era percebida, pois em muitos trabalhos, as mães até poderiam levar seus filhos juntos. Exemplo disso, é no caso da produção de fumo. Com a decadência do fumo, a falta de emprego e crescimento populacional, as mulheres de forma geral saíram de casa em busca de trabalho e também local de um local onde poderiam deixar os filhos o dia todo. Maria Lina explica: “... na época tinha muitas varredeiras que tinha crianças pequenas e não tinha com quem deixar...” (06.10.12). Com objetivo de resolver tal problema a creche foi construída.

Na imagem número 20, notamos que havia várias crianças na sala. Provavelmente, todos tinham a mesma faixa etária. A sala estava bem equipada com mesas e cadeiras e, na altura adequada para as crianças. Havia filtros próximos da professora, uma decoração com motivos infantis na parede e o quadro-negro. Admite-se que havia horário para a dedicação das atividades dirigidas. Percebemos que as crianças estão envolvidas pela atividade proposta pela professora. Não se tem conhecimento de ali realizarem atividades por escrito. Não vemos nenhum tipo de material em que as crianças pudessem usar para escrever. Na foto, notamos uma janela que deixa o local claro e arejado. Mas, podemos visualizar também que a luz elétrica estava ligada. Os braços das crianças estão fazendo sombra sobre a mesa.

As obras da creche e do Lar dos Velhinhos foram iniciativa a partir de um laborioso trabalho das mulheres. Em Bela Vista de Goiás outras ações foram realizadas nesse mesmo período. Destacamos a construção de várias escolas no meio rural. A vinda da Granja Saito

que se tornou um meio de trabalho para grande parte de homens e mulheres. Construíram estradas asfaltadas. A cidade realizou festas beneficentes para cuidar da comunidade carente, com distribuição de agasalhos e uniformes estudantis. Enfim, neste período houve uma administração fértil. Fonseca diz que:

Os desacertos políticos anteriores devem ter alertado o povo belavistense, ajudando-o a escolher um prefeito jovem, de ideias renovadas e capaz de realçar o nome da cidade, no cenário goiano. Esta escolha recaiu na pessoa do Sr. José Francisco Teles, meu ex-aluno. Hoje, José Francisco Teles fala através de suas obras. Auxiliado pela Primeira Dama do município, Maria Lina Magalhães Teles, deu continuidade aos trabalhos benéficos de seu antecessor sem comprometer-se com maldade de políticos obsoletos. Ativo e inteligente traçou e cumpriu seus planos administrativos num tempo recorde e fez pela cidade o que muitos não conseguiram em quase meio século. (1981, p. 154)

De acordo com a autora acima, José Francisco juntamente com Maria Lina conseguiram deixar marcas de uma administração próspera e produtiva. Contribuíram para a construção de uma cidade em que os cidadãos tiveram seus direitos respeitados. Houve o retorno da confiança depositada nos eleitos. Realizaram obras que puderam beneficiar a todos. Nesse mesmo intuito, mas com metas diferenciadas Vanderlan e Juliana também angariaram recursos e continuaram o processo de crescimento da cidade. E assim, Faria ia registrando e construindo história.

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