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CAPÍTULO 03 – FAZER-SE VISTO COMO REPRESENTANTE: CONSTRUÇÃO DA

3.1 Fazendo-se visto como representante

3.1.3 Maria Mendonça: “quem é de Itabaiana sabe e conhece bem”

“Quem é de Itabaiana sabe e conhece bem”, assim canta um jingle postado nas redes sociais de Maria Mendonça durante o período eleitoral de 2018. Política experiente, Maria Mendonça buscava, neste pleito, mais uma reeleição ao cargo de deputada estadual. Eleita, obteve sua sexta legislatura – a terceira consecutiva desde que retornou a ALESE em 2010, após ter sido prefeita de Itabaiana entre 2004 e 2008. Nascida em uma família de políticos itabaianenses, seu pai é o “líder político”7 Francisco Teles de Mendonça, mais conhecido como

Chico de Miguel, que fora também deputado estadual e vereador por Itabaiana. Seus irmãos também foram políticos: José Teles de Mendonça foi deputado federal por Sergipe e deputado estadual; Antônio Teles de Mendonça é ex-prefeito da “princesa da Serra”.

Itabaiana e seus municípios vizinhos são o palco da vida política da família Teles de Mendonça há bastante tempo. A história dessa família na política remonta a década de 1960, quando seu pai se candidata a deputado estadual em decorrência do assassinato de duas lideranças políticas itabaianense ligadas a antiga UDN, em 1963. Chico de Miguel, conforme declarou em uma entrevista, “era eleitor deles” e após o crime, a UDN itabaianense “estava morta, acabada, sem ninguém querer tomar a frente”. Assim, em 1966 Francisco Teles de Mendonça elege-se deputado estadual e, no decorrer das próximas décadas, se estabelece como uma liderança extremamente influente naquela região (SANTOS, 2002: 268). Foi lá que o Chico de Miguel fez seu nome e transmitiu seu legado a seus filhos.

Assim, é para essa região, o agreste sergipano8, que Maria Mendonça direciona suas

postagens nas redes sociais: ela usa as redes para reforçar sua imagem de representante do agreste na assembleia estadual. Isso se dá por meio de três tipos de publicações: a divulgação das realizações de seu mandato; a divulgação e registro de ações de campanha; e a publicização da religiosidade da candidata. Além disso, o culto a memória de seu pai também tem lugar nas redes sociais de deputada, ainda que pequeno em comparação aos outros tipos de usos das redes. É através dele que Maria Mendonça liga sua história de representante de Itabaiana a história do “trabalho” de sua família pela cidade e pela região. Seu pai irá ser apresentado como sua “base”, seu grande modelo de político, cujo o trabalho dela é apenas um prolongamento do dele. De seu pai, Maria Mendonça diz, em suas páginas, ter herdado não só o eleitorado, mas “o jeito de fazer política”.

O relato dos feitos de seus mandatos é uma das postagens mais recorrentes nas redes sociais de Maria Mendonça. A candidata usa suas redes para publicizar suas “iniciativas” e suas realizações. A primeira categoria refere-se as proposituras da candidata em seus mandatos pretéritos, entre as quais se incluem projetos de leis, monções de apelo e indicações. A segunda, consiste naquilo que efetivamente “Maria (...) faz pelo povo”: obras de infraestrutura; repasse de recursos; pagamento de salário em dia (quando prefeita); centros médicos e programas de saúde; incentivos a “cultura, esporte e lazer” e demais “conquistas” que a deputada obteve para sua região – frequentemente referida como “nossa região”.

Encontra-se aqui muitos feitos ligados à dimensão simbólica, como o projeto de lei que tornou a “a festa do caminhoneiro, em Itabaiana, como Patrimônio Cultural e Imaterial do Estado de Sergipe”. O caminhão é um símbolo da cidade de Itabaiana, que recebe, dentre outras, a alcunha de “capital do caminhão”. A festa do caminhoneiro é um dos grandes eventos do calendário da cidade e a “cultura do caminhão” está fortemente ligada a identidade dos itabaianenses. Como pode-se perceber pelas proposituras postadas por Maria Mendonça, a valorização dessa identidade regional é uma preocupação dos mandatos da candidata, afinal de contas valorizar o local é uma forma de reforçar a construção daquilo que ela pretende representar: é preciso que haja uma forte ideia de Itabaiana e de agreste para que haja uma representante dessa Itabaiana e desse Agreste.

8 Em termos geográficos, os municípios que compõe a base eleitoral de Maria Mendonça estão situados no agreste, mas também na parte sul do sertão sergipano. Este trabalho chama de “agreste”, por economia de linguagem, a região de Itabaiana, principal base eleitoral da candidata, e adjacências.

Figura 7 – Propositura dos mandatos de Maria Mendonça. Fonte: @mariamendonca.se

Mas, há também realizações palpáveis e de grande impacto social, como a implantação de um campus da Universidade Federal de Sergipe e outro do Instituto Federal de Sergipe em Itabaiana – “conquista” que visa comprovar, ao eleitorado, que Maria Mendonça luta pelo futuro da região agreste, incorporado no “jovem [que] tem voz e vez” junto aos seus mandatos.

A imensa maioria dessas ações estão relacionadas aos municípios do agreste sergipano em uma diversidade de aspectos: da cultura à infraestrutura, da saúde à educação. Realizações que servem para demonstrar o “compromisso” da deputada com a “nossa gente”, o “povo” de Itabaiana e municípios vizinhos, que são os beneficiários quase exclusivos de suas proposição e realizações e os destinatário da representação que ela via construir nas redes sociais – a despeito do mapa de Sergipe estampado no plano de fundo de seu santinho, das menções ao “povo sergipano” ou ao “povo” de forma genérica.

Tendo isso em mente, não é de se entranhar que todas as suas postagens relativas a ações de campanha tenham lugar nessa região. A deputada usa suas redes para comunicar os eventos de sua campanha ao seu eleitorado: convocando para carreatas e comícios, relembrando o evento quando de sua proximidade temporal, agendando “visitas” a bairro, povoados e feiras livres, que são feitas a pé para que ela possa “olhar no olho” do eleitor – aliás, é nessa situação que Maria Mendonça é retratada nas fotos desse tipo de postagem (FIGURA 8).

Figura 8 – Maria Mendonça "olhando nos olhos" do eleitor. Fonte: @mariamendonca.se

Faz-se notar, em especial, as “notas de esclarecimentos” publicadas por Maria Mendonça. Nelas, a deputada cancela visitas agendadas a alguma comunidade, justificando nas redes seus motivos. Tais cancelamentos ocorrem “em solidariedade” ou “em respeito” as necessidades das famílias moradoras da região, as quais a candidata prontamente atende (FIGURA 9). Na medida em que publiciza esses “contratempos” de campanha em suas redes sociais, a candidata os converte em uma oportunidade de expressar sua sensibilidade da em relação as necessidades das comunidades e dizer ao seu eleitorado que o bem-estar deles é mais importante que sua campanha.

As postagens relativas à presença da candidata em eventos religiosos têm lugar de destaque na construção de sua imagem de representante do agreste. No período eleitoral, Maria Mendonça publica diversas vezes sua participação em eventos da Igreja Católica, como missas de ação de graça, procissões e novenas. Nessas postagens não há alusões a campanha: são fotos nas quais a deputada aparece sem adesivos colados no peito e nem há referência a seu número na urna. Apenas fotos da candidata participando compenetrada das cerimônias religiosas, recebendo a hóstia na comunhão ou caminhando ao lado de “amigos” (lideranças locais e estaduais, prefeitos, senadores, vereadores) (FIGURA 10).

Figura 10 – Maria Mendonça participa de procissão. Fonte:@mariamendonca.se:

Contudo, estes eventos católicos estão, em sua maioria, relacionados a comemoração de santos padroeiros das diversas localidades que Maria Mendonça visita. Desse modo, prestar homenagem a esses santos é, também, uma maneira de reforçar os vínculos com as localidades através do culto de seus protetores e, assim, fazer-se vista como representante daqueles que ela pretende e diz representar. Além disso, na única postagem na qual a candidata relaciona sua religiosidade diretamente a sua atuação política, Maria Mendonça busca fazer dela uma fonte de sua legitimidade quando afirma que o “cuidar” do povo é uma “missão” dada por Deus “para sua vida”.