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Mapa I – Área aproximada do Termo de Mariana no final do Século XVIII

2- Aspectos demográficos da diferenciação social 2.1 População e região no Termo de Mariana

2.2 Mariana: Uma nova vocação econômica

A condição jurídica dos núcleos urbanos constituídos em Minas Gerais trazia consigo diverso e complexo aparelho administrativo que gradativamente se instalou com o objetivo de tributar a atividade econômica principal e interiorizar os interesses e valores do Império Português.

Nos últimos anos da colonização, além de sediar a câmara de um município com cerca de 27.000 (considerando somente os distritos relacionados nas listas de habitantes de 1819-

os clérigos locais, tinham importante participação na vida social e até mesmo econômica da cidade.

As atividades econômicas das áreas urbanas em Minas Gerais, desde o século XVIII, estiveram concentradas na extração do ouro, no comércio e nos ofícios mecânicos. A emergência da agropecuária como centro dinâmico da economia pôde, em um primeiro momento, ter redirecionado os recursos para o campo, mas, à medida que o mercado interno

de alimentos, animais, tecidos, derivado entava

significativamente a importância das cidades como centro comercial e político.

Sérgio da Mata considera que a visão das Minas ruralizadas no século XIX é questionável. Para ele

O surto urbano não só não declinara, mas na verdade seguira de perto a evolução demográfica mineira (...). O fenômeno urbano oitocentista reflete este novo momento. Sua formação acompanha agora o ritmo lento da vida das fazendas, e não a atividade febril que fora a marca das vilas do ouro (Da Mata, 2002. p. 22).

1821) habitantes, moravam na Paróquia da Sé, muitos escrivães, advogados, tabeliães, tesoureiros, cobradores, meirinhos, dizimeiros e alcaides. Na grande maioria dos casos, esses homens eram brancos com significativo prestígio social e muitos deles não se furtaram em possuir escravos. Como centro religioso, a cidade também reunia muitas autoridades da igreja que, somadas a

Depois de ter passado por um m earticulação econômica Mariana parece

ter e

habitan e

di população l pa de p 97 ndo o in mento de livres foi de 61,9% e o de escravos foi de 9,8%27. sej esc do n opu l e libe o veremos, sobrev

prestação de serviços.

odificações na dis ição da ocupação entre as duas ge e

referem grande a ausência de infor

de 1819 é possível notar que desse ano para 1831 h e um men c um a

e olvidos com a transformação doméstica de

28 .

omento de r

assumido ao longo da primeira metade do século XIX, um novo perfil. As listas d tes de 1819 e 1831 oferecem alguns elementos que sinalizam para esse processo d namização. A tota rtira 2084 ara 2 2, se que cre

Ou a, cr imento basea a p lação ivre rta que, com ivia em geral do artesanato doméstico, do comércio e da

As principais m tribu lista ns s

ao setor de artesanato. Mesmo sendo tão mações para o ano ouv au to da importân ia n éric proporcional dos chefes de domicílios env

mercadorias

27

Ver em anexo a tabela com a população total de livres e escravos em Mariana em 1831 (Anexo capítulo2 - Tabela I)

28

Tabela 2.5

Ocupação dos chefes de domicílios segundo o tamanho da propriedade de escravos.

Setor/Ocupação 0 % 01-05 % 06-10 11-20 27-43 Total % Mariana. 1831.* Agricultura 06 02 10 05 03 04 01 24 04 Artesanato 231 61 71 40 02 -- -- 304 51 Comércio 23 06 35 19 06 02 -- 66 11 Jornaleiro 18 05 -- 00 -- -- -- 18 03 Prof. Autônomos e 21 06 40 22 04 02 -- 67 Transporte 06 02 04 02 -- -- -- 10 02 eclesiásticos 11 Mineração Total 373 100 184 100 22 11 04 594 100 25 07 10 05 02 -- 02 39 07 Outros 37** 09 06 03 02 01 01*** 47 08 Sem informação 06 02 08 04 03 02 -- 19 03

Fonte: Listas nominativas de habitantes: Distrito da cidade de Mariana, 1831. Arquivo Público Mineiro. Banco de dados CEDEPLAR/UFMG.

**20

*Porcentagem dos não proprietários de escravos e da faixa de 1 – 5 na vertical. *** vive do jornal de seus escravos alugados

Em geral, as pessoas ais p

são lavadeiras

Em 1831 a paróquia da Sé tinha, somente entre os chefes de domicílios, 116 costureiras, 80 fiandeiras, 20 alfaiates, 18 sapateiros, 15 carpinteiros, 13 ferreiros e 11 saboeiros. Todas essas atividades unidas a outras do mesmo setor equivaliam à 51% dos chefes de domicílios. O aumento da circulação de riqueza, e conseqüentemente da demanda, advinda do comércio interno pode explicar a proliferação desses ofícios.

m obres viam nessas tarefas uma oportunidade de sobrevivência e de ascensão econômica e social, demonstrada pelo fato de 40% dos chefes de domicílios que possuíam até 5 escravos estarem incluídos no setor de artesanato.

É evidente que o dinamismo gerado pela produção agropecuária e pelo comércio não pode ser identificado através daqueles que se ocupavam com a agricultura. Isto porque, como

vê n

adores de duas lavras que empregavam 33 e 43

to de iferenciação social e de destaque perante a sociedade. Vale destacar o papel dos clérigos na icos, escrivães, lavrado

iros e negociantes. De acordo

significou a ampliação das oportunidades de acumulação. Entre os vendeiros, 19 não possuíam se a tabela 2.5, o setor representava somente 4% dos chefes de domicílios, o que corrobora a idéia de que a produção estava mesmo presente nos distritos rurais do termo de Mariana. Em Mariana, moravam donos de chácaras localizadas na periferia da cidade que forneciam alimentos para as vendas e armazéns, mas também antigos e atuais mineradores que realocaram seus recursos para fazendas em outras paragens. A maior parte deles possuía escravos, o que sugere a prosperidade do setor, mesmo para os habitantes da cidade.

O esgotamento dos veios auríferos provocou uma forte queda dos investimentos em mineração. Em 1831 existiam apenas dois grandes proprietários mineradores. Maximiano e Antônio Fernandes Barroso eram os administr

escravos respectivamente. Dos 39 chefes de domicílios do setor de mineração 20 eram faiscadores que não possuíam escravos. A mineração escravista ainda estava presente em Mariana, mas diminuía de importância a cada ano.

Muitos clérigos e profissionais autônomos ligados à burocracia possuíam escravos. Isto reflete a manutenção, ainda no século XIX, da propriedade de cativos como elemen d

vida social e econômica, pois, muitos deles também se ocupavam como méd

res, mineiros e comerciantes. O seminário de Mariana possuía 7 escravos, além dos 11 cativos listados em nome do bispo D. Frei José da Santíssima Trindade.

O setor do comércio abarcava quitandeiras, taverneiros, vende

com a tabela 2.5, dos 66 chefes de domicílios identificados no setor 43 tinham escravos. Mesmo para os donos de vendas mais simples a dinamização do mercado interno

escravos e 17 possuíam. Já entre os chefes de domicílios listados como negociantes, apenas 2 não possuíam escravos e 17 possuíam.

to, não era ape

na) com a região agrícola (Furquim).

listas do início da década de 1820 e também nas relações da década seguinte. Porém, os O desenvolvimento de um intenso mercado local possibilitou a difusão da propriedade de escravos entre as várias categorias ocupacionais. Assim, em Mariana, não havia apenas um setor econômico definidor da concentração dos bens e da estratificação social, o comércio, a mineração e até mesmo a agricultura, talvez abarcassem os homens mais abastados da cidade. Não se pode ignorar o acesso de sapateiros, alfaiates, pintores, costureiras e fiandeiras à pequena propriedade de cativos, o que lhes conferia certo posicionamento social. Portan

nas a atividade econômica exercida pelos indivíduos que definia o seu lugar social, mas a forma como eles se introduziram nas redes de relacionamentos, de prestígio e no acesso ao aparelho administrativo e religioso da região.

O gênero, a cor, o estado conjugal e o perfil dos escravos são elementos importantes no objetivo de traçar o perfil da diferenciação social, porém, é necessário compreender que dependendo dos espaços em que ocorrem, tais características podem ter significado diverso. A seguir, traçaremos o perfil dos chefes de domicílios, proprietários ou não de escravos, ressaltando a comparação do espaço urbano (Maria