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Mullin, Hardy e Sutton (2004, p. 18), afirmam que “o marketing esportivo consiste em todas as atividades designadas a satisfazer as necessidades e desejos dos consumidores esportivos através de processos de troca”. Os autores apontam a existência de dois eixos: (a) o marketing de produtos e serviços esportivos diretamente para os consumidores; e (b) o marketing de outros produtos e serviços, utilizando-se de promoções esportivas – patrocínios relacionados ao esporte.

Para Pitts e Stotlar (2002, p. 90), “marketing esportivo é o processo de elaborar e implementar atividades de produção, formação de preço, promoção e distribuição de um produto esportivo para satisfazer as necessidades ou desejos de consumidores e realizar os objetivos da empresa”. Os autores consideram que o crescimento da indústria do esporte gerou o aumento da concorrência, o que implica a necessidade de elaborar novas estratégias para atrair, satisfazer e conquistar a lealdade dos consumidores. Assim, eles concluem que as organizações esportivas devem investir nas atividades tradicionais de marketing, como: pesquisa de marketing, segmentação de mercado, definição de mercado-alvo, desenvolvimento do plano de marketing e definição do composto mercadológico.

Em relação ao mix de marketing esportivo (Figura 1), Morgan e Summers (2008) e Melo Neto (2003) expõem os principais componentes de cada elemento, destacando que, excetuando-se a promoção, todos os demais se diferem do mix de outros serviços.

Segundo Pitts e Stotlar (2002, p. 5), alguns exemplos dos tipos de produtos oferecidos pela indústria do esporte são:

 esportes oferecidos como produto de participação, como uma liga de basquete recreativo para mulheres;

 esportes oferecidos como produto para espectadores (entretenimento), tais como um jogo de futebol ou disputa de vale-tudo;

 equipamentos e acessórios necessários ou desejados na prática de atividades esportivas e de

 brindes promocionais usados para promover esportes, eventos esportivos ou atividades de

fitness, como bonés e camisetas com símbolos de clubes e toalhas de academias;

 instalações necessárias ou desejadas para se praticar um esporte, como um novo estádio ou reforma de quadras de tênis;

 serviços, como encordoamento de raquetes ou limpeza de tacos de golfe;

atividades recreativas, como ciclismo radical, montanhismo e camping;

 administração e marketing para um evento, equipe, liga ou atleta;

 oferta de um profissional para tratar dos assuntos financeiros, legais, contratuais e promocionais de um atleta profissional; e

 revistas sobre esportes específicos e outras atividades oferecidas por editoras.

Figura 1 – O mix do marketing esportivo

Fonte: Adaptado de Morgan e Summers (2008) e Melo Neto (2003).

Ao considerar as fontes de receita no setor esportivo, Pozzi (1998) aponta como as principais: receitas de bilheteria; concessões e merchandising; direito de imagem dos atletas; e direitos de transmissão pela TV.

A indústria do esporte oferece a seus consumidores tanto produtos como serviços. Todavia, o esporte apresenta alguns diferenciais em relação a outros negócios, conforme apresentado no Quadro 2.

Ressalta-se que as características apontadas no Quadro 2 consideram como produto esportivo a prática do esporte ou a audiência do esporte in loco ou ao vivo pela mídia. Assim, algumas dessas características não ponderam outras formas de assistir aos eventos esportivos,

O cliente do serviço de esporte torcedores, simpatizantes, corporações, jogadores e investidores Promoção esportiva

Patrocínio, publicidade, promoções de vendas, merchandising, relações publicas e investimento corporativo

Distribuição esportiva (Ponto de venda)

Cobertura de mídia, estádios, ticketing, viagem e outros canais de

distribuição para o público (lojas próprias, f ranquia, etc)

Produto esportivo

Jogos, eventos, competições, regras merchandising, uniformes, atleta,

clube e marca

Preço do esporte

Ticketing (emissão de ingressos), tempo gasto, receita de mídia, receita

como reprises televisivas ou a venda de DVD com o evento, o que possibilitaria a distribuição do produto e a sua produção e consumo não simultaneamente.

Quadro 2 – Distinções do esporte em relação a outros negócios

Categoria Diferenças

O mercado de produtos e serviços esportivos

 As organizações esportivas, ao mesmo tempo, competem e cooperam.

 Os consumidores esportivos consideram-se especialistas, devido à sua identificação pessoal com o esporte e dedicação.

O produto esportivo

 Há uma grande oscilação na demanda dos consumidores pelo esporte.

 É intangível, efêmero, perecível, subjetivo, inseparável e tende a ser experiencial.  São produzidos e consumidos simultaneamente.

 São consumidos publicamente e a satisfação é afetada pelo convívio social.  Não há controle sobre a composição do produto principal.

 Podem ser classificados como produtos tanto de consumo quanto industriais.  Carrega em si um apelo universal e atinge todos os elementos da vida das pessoas.

O custo do esporte

 O custo dos produtos esportivos é geralmente baixo em comparação ao custo total pago pelo consumidor na sua aquisição.

 As receitas indiretas são, com frequência, maiores que as receitas operacionais diretas.  Em algumas situações específicas operam sem fins lucrativos.

A promoção de esporte

 Uma exposição muito grande à mídia tem resultado em uma ênfase crescente no patrocínio como elemento principal do marketing esportivo.

 Uma boa visibilidade do esporte é atrativa para os negócios em termos de associação por meio do patrocínio.

 A ênfase na promoção pode ser aplicada apenas às ramificações do produto, e não ao produto principal.

A distribuição do esporte

 O esporte não distribui fisicamente o seu produto.  O esporte é produzido e consumido simultaneamente. Fonte: Adaptado de Masteralexis, Barr e Hums (1998) e Morgan e Summers (2008).

Considerando a perspectiva da prestação de serviços da indústria esportiva, segundo Morgan e Summers (2008), seus stakeholders são: (a) jogadores, participantes e torcedores; (b) espectadores, fãs e associados; (c) investidores empresariais e mídia; (d) outros clubes e organizações esportivas; (e) serviços e mercadorias de apoio; (f) governo; e (g) órgãos governamentais esportivos.

Ainda no contexto dessa indústria, podem-se dividir as atividades e processos dos serviços oferecidos aos consumidores de eventos esportivos em três partes: (i) “parte da frente”; (ii) “parte de trás”; e (iii) “circunstanciais” (TOMLINSON et al., 1995 apud TREIN; BARCELLOS, 2006). No primeiro caso, estão classificados os fatores que influenciam os consumidores no momento em que os serviços são prestados, como: disponibilidade e acesso a bebidas e alimentos; limpeza e organização da arena esportiva; atmosfera do evento; disponibilidade, conforto e limpeza das cadeiras; entre outros. Na “parte de trás”, estão os fatores que antecedem o evento em si, mas que influenciam a experiência vivida pelo espectador, como: acesso à arena esportiva; preços e acesso aos ingressos; disponibilidade,

conforto e segurança do estacionamento; horário do evento; meios de transporte disponíveis para a arena esportiva; entre outros. Já os fatores “circunstanciais” envolvem os itens que são incontroláveis, mas influenciam a frequência dos consumidores nos eventos esportivos, sendo alguns exemplos: posição na tabela do time para o qual o consumidor torce, rivalidade entre os times que disputarão a partida e qualidade técnica das equipes.

Ponderando a divisão de atividades e processos dos serviços ofertados aos consumidores em eventos esportivos, apresentam-se as relações entre os agentes interessados (TEITELBAUM; LUCE, 1995): o investidor e/ou patrocinador; o esporte e seus atores; e o consumidor de esporte, sendo que, normalmente, todos interagem entre si. Os autores afirmam que esses agentes mantêm uma relação de interdependência, demonstrando a importância de cada um para o sucesso de todos.

Para Pozzi (1998), é fundamental que as organizações esportivas desenvolvam estratégias voltadas para conquistar mais espectadores, pois isso tende a aumentar o valor das da receita do setor. Pitts e Stotlar (2002) e Morgan e Summers (2008) corroboram esse pensamento, destacando que no atual nível de crescimento do setor a tendência é que a concorrência aumente, o que gera a necessidade de adoção de estratégias inovadoras para atrair, satisfazer e conquistar a lealdade dos consumidores esportivos. Dessa forma, os autores apontam para a necessidade de que as organizações e os promotores esportivos invistam tanto em inovação como nas atividades tradicionais de marketing – segmentação de mercado, definição do composto mercadológico, pesquisa de marketing, definição de mercado-alvo e desenvolvimento do plano de marketing.

Neste contexto, é importante resgatar os conceitos do artigo Miopia em Marketing, de Levitt (1960), para melhor compreender os diferenciais do marketing esportivo. Mulin, Hardy e Sutton (2004) analisam as implicações contidas no texto de Levitt para a indústria do esporte. Os autores consideram que alguns profissionais de marketing de organizações do setor apresentam comportamento míope, como:

 foco excessivo na produção e venda de bens e serviços, estabelecendo modelos de negócio que são replicados por outras organizações sem a preocupação de compreender a necessidade dos consumidores esportivos, deixando de considerar o que eles realmente sentem e desejam;

 crença de que os resultados esportivos positivos acobertam qualquer falha na administração da organização ou do evento esportivo, o que desconsidera que o consumidor está cada vez mais exigente e em busca de experiências verdadeiramente prazerosas e positivas;

 demasiada importância para a promoção e comunicação, deixando de considerar outras estratégias e atividades de marketing que são essenciais para se conhecer melhor o consumidor, como a realização periódica de pesquisas e o estabelecimento de um sistema de informação de marketing; e

 busca exclusiva de investimentos que tragam resultados de curto prazo, como os patrocínios, deixando de planejar ações de longo prazo que busquem fidelizar e gerar um relacionamento de longo prazo com o consumidor esportivo.

Mulin, Hardy e Sutton (2004) ainda apontam três principais consequências dessa miopia no marketing esportivo: o lento crescimento da profissionalização do marketing em organizações esportivas; a falta de pesquisa de marketing no setor; e a utilização de técnicas de venda fracas e antiquadas. Eles discorrem sobre a importância de se utilizar estratégias e atividades de marketing individualizadas para o setor esportivo, uma vez que este apresenta características distintas de outras áreas da economia.

Após conceituar e discutir os aspectos relativos ao marketing esportivo, busca-se no próximo tópico analisar o comportamento do consumidor esportivo e seus desdobramentos.

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