• Nenhum resultado encontrado

Matérias do jornal O Estado de São Paulo – Estadão

4. Análise do discurso de Jair Bolsonaro na eleição presidencial de 2018

4.6. Resultados

4.6.1. Resultados da Análise do Discurso

4.6.1.2. Matérias do jornal O Estado de São Paulo – Estadão

1 Matéria Estadão 22_08

“No que depender de mim, qualquer invasor vai ser recebido a bala. O MST gera uma insegurança muito grande no campo. O proprietário tem a fazenda invadida e alguns governos favoráveis à ideologia deles fazem corpo mole na hora de cumprir a reintegração. Qualquer invasão, seja rural ou urbana, tem de ser repedida com força.”

“Vamos dar aos cidadãos de bem o direito de posse à arma de fogo. Não é armar

a população, é garantir a posse de uma arma para o cidadão defender sua vida.”

Nesta fala, mais uma vez verificamos a incitação ao ódio e à violência indicada por Jair Bolsonaro. Evidentemente notamos que o então candidato busca distorcer a ideia de armamento e violência para um sinônimo de segurança. Segundo Löwy (2015), populistas tendem a um discurso no combate a insegurança com medidas de viés autoritário, como já vimos na análise da matéria 1 Matéria G1 22_08, citada no presente estudo.

2 Matéria Estadão 23_08

“Estamos formando uma geração de fracos”, disse. “Botar um marmanjo peladão deitado para uma criança tocar pode. Imagina se ele arma o pau de barraca dele. É tudo legal, isso pode. Vamos mudar essa cultura”, afirmou, lembrando o episódio que envolveu um artista nu tocado por uma criança no MAM de São Paulo.

Aqui Bolsonaro utiliza termos medíocres e vulgares, como “marmanjo”, “peladão”, “pau de barraca”. Mensagens contendo expressões dessa categoria são comuns nos discursos

de Jair Bolsonaro. Galito (2017, p. 8), afirma que populistas recorrem a mensagens simples e diretas, que são facilmente percebidas e absorvidas pelo cidadão comum. 3 Matéria Estadão 23_08 1

“Você sabe atirar? Sabe dar tiro?” A pergunta foi feita nesta quarta-feira, 23, pelo candidato Jair Bolsonaro (PSL) para uma criança.

Para Ianni (1989), a incitação ao ódio é uma das características de um discurso populista. Nesta fala de Jair Bolsonaro, em que se dirige a uma criança, o ódio e a violência estão evidentemente presentes. Outra característica presente nesta mensagem é a necessidade de visibilidade. É notório que proferir uma frase dessa a uma criança teria repercussão midiática, visto que é um ato assombroso e de nada carrega propostas ou fundamento político. Para Mudde (2017), “o populismo alude ao comportamento político amadorístico e não-profissional que visa maximizar a atenção da mídia”, (Mudde, 2017, p. 4).

4 Matéria Estadão 28_08

“Alguém já viu um japonês pedindo esmola por aí? Porque é uma raça que tem vergonha na cara. Não é igual essa raça que tá aí embaixo ou como uma minoria tá ruminando aqui do lado.” Na ocasião, o parlamentar também afirmou que visitou um quilombola em El Dourado Paulista, onde “o afrodescendente mais

leve lá pesava sete arrobas. Não fazem nada! Eu acho que nem para procriador

eles servem mais. Mais de um bilhão de reais por ano gastado com eles.”

O desrespeito e racismo contido nas mensagens de Jair Bolsonaro são identificados em vários trechos selecionados de matérias analisadas neste trabalho. Arroba é uma antiga unidade de massa usada para pesar animais e nesta mensagem Bolsonaro atribui para um humano negro, o que caracteriza evidentemente um ato de racismo. Além disso, desqualifica as minorias, neste caso os quilombolas, com a afirmação de que não servem para nada “nem para procriador”.

5 Matéria Estadão 29_08

A corrupção é um problema que assombra o Brasil há décadas, contudo, desde 2005, a partir do escândalo do Mensalão, esse problema ficou mais em evidência, visto o envolvimento de numerosos políticos e empresários denunciados por lavagem de dinheiro. Uma matéria publicada em 2018 pelo site Congresso em Foco apontou que a cada três deputados, um era acusado de envolvimento em crimes.35 Uma matéria

publicada pela revista Veja em 201736 mostrou um estudo da Federação das Indústrias

do Estado de São Paulo (Fiesp) que apontou que nos últimos dez anos (2007-2017) o custo da corrupção no Brasil era de R$ 82 bilhões por ano — ou 2,3% do PIB da época, fazendo do Brasil um dos países mais corruptos no que diz respeito ao poder público. Esses fatos proporcionaram um aumento do descrédito na classe política por parte da sociedade. Atualmente se fala muito em anti-corrupção e o político que não se envolveu em escândalos acaba por engrandecer-se a si próprio, como se fosse algo admirável, e não imprescindível. Essa contextualização se fez necessária para analisar a frase proferida por Jair Bolsonaro diante da visão do autor Mattos (2017),

Esta proeminência da corrupção no discurso político nacional é importante, mas desvia a atenção de outros debates essenciais. Enquanto partidários e políticos de cada partido concentram se em provar que o adversário é mais corrupto e o seu candidato é a pessoa mais honesta que existe numa batalha sem fim de acusações e denúncias, ninguém se lembra de discutir as políticas públicas, as propostas para a economia, as reformas necessárias ou os planos de longo prazo para o Estado (Mattos, 2017, p. 78).

Segundo o autor, os brasileiros, atualmente, estavam no aguardo de um “salvador da pátria” que desse fim ao sistema de corrupção instaurado no Brasil. Jair Bolsonaro soube aproveitar esse momento e enxergou a fragilidade da população se apresentando como o candidato anti-corrupção, com sete mandatos de deputado federal sem envolvimento em escândalos de corrupção - o presidente Jair Bolsonaro esteve envolvido recentemente, de forma indireta, em alguns casos polêmicos como: Caso Queiroz

35Informações retirados da matéria: https://bit.ly/3dHJKzn / Acessado em: 20/01/2020 às 17h21min. 36 https://bit.ly/3lP8tV5 Acessado em: 20/01/2020 às 17h26min.

(motorista e assessor do deputado Flávio Bolsonaro - filho de Jair Bolsonaro, foi convocado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro para prestar depoimento sobre movimentações bancárias suspeitas no valor de R$ 1,2 milhão que envolvem Flávio e sua esposa); A contratação de laranjas e Caixa 2 pelo PSL - antigo partido de Bolsonaro (o partido está sendo investigado desde o início de 2019 por candidaturas laranjas em dois estados: Pernambuco e Minas Gerais), entre outras.

Porém, no período eleitoral, Bolsonaro utilizava de sua “honestidade” nos anos de vida pública e da bandeira anti-corrupção, como se isso fosse suficiente para acabar com a corrupção política no Brasil.

6 Matéria Estadão 03_09

“Quer um Museu bem administrado? Podemos visitar. É o Museu Aeroespacial, lá no campus da aeronáutica.” (se referindo à boa administração dos militares)

Jair Bolsonaro é um militar da reserva que em sua carreira chegou ao posto de capitão. Em seu discurso, posicionamento e inclusive a linha política de seu então partido PSL o trabalho militar e a categoria bélica foram amplamente defendidos e exaltados. O militarismo é uma característica expoente do eixo político de direita.

7 Matéria Estadão 04_09

“Você tem cara de ter pintado a unha.” O jornalista rebateu e Bolsonaro responde: “Eu não posso o que, rapaz? Você pergunta o que quer e eu respondo o que eu quero”.

Aqui, nesta fala de Bolsonaro retratada pelo Jornal Estadão, é visível o enfrentamento de Jair Bolsonaro para com a imprensa. De acordo com Mattos (2017), a imprensa é um órgão livre que faz parte de governos democráticos, pois cumpre um papel de fundamental importância garantindo o fluxo de informação, além de prover denúncias sobre “problemas e abusos de governos e políticos” (2017, p. 75). Bolsonaro enxerga a imprensa como ameaça, visto que seus discursos são repercutidos, justamente, pela forma como é proferido e pelas mensagens contidas. Agora, como atual presidente,

Bolsonaro segue atacando a imprensa37 como forma de desmoralizá-la e a fazer parecer

tendenciosa. Segundo Levitsky & Ziblatt (2018), “quando populistas ganham eleições, é frequente investirem contra as instituições democráticas” (2018, p. 33), mais um fato que aponta Bolsonaro como um político populista.

Ademais, esta fala de Jair Bolsonaro ainda carrega um tom homofóbico sobre o repórter, outro fator que aponta a desmoralização das minorias, nunca defendidas por Bolsonaro.

8 Matéria Estadão 05_09

“Já está feito, já pegou fogo, quer que eu faça o que? O meu nome é Messias mas eu não tenho como fazer milagre” (se referindo ao incêndio no Museu Nacional do Brasil, ocorrido em 02 de setembro de 2018).

Jair Bolsonaro se utiliza de mensagens simples e perceptíveis, além de brincadeiras e trocadilhos, em uma tentativa de se aproximar do povo. Nesta mensagem quando brinca com o seu próprio sobrenome entendemos a relação mais informal que Bolsonaro busca atingir com seus eleitores. Ao mesmo tempo em que tenta passar uma ideia de igual para igual diante do povo, Bolsonaro remete nas entrelinhas e no tom do discurso um ar de superioridade. “Embora apareça como super-homem, o líder precisa, ao mesmo tempo, operar o milagre de aparecer como uma pessoa mediana, tal como Hitler posava como uma união de King Kong e barbeiro suburbano” (Adorno, 2015, p. 169 como citado em Carone, 2002, p. 107).

9 Matéria Estadão 15_09

“Nos últimos anos, o PT doou bilhões para ditaduras amigas, via BNDES. Seu dinheiro que deveria ser utilizado de forma responsável para o nosso crescimento, serviu para alimentar governos autoritários e antidemocráticos, como Cuba e Venezuela, sem nos dar retorno algum. Isso vai acabar.”

37 https://bit.ly/37f4gWD acessado em: 20/01/2019 às 14h52min; https://bit.ly/3lUYldB

Um dos pontos mais abordados por Jair Bolsonaro em seus discursos durante o período eleitoral foi o famoso “anti-petismo”. Para consolidar ainda mais esse discurso, que traçava uma relação entre PT (Partido dos Trabalhadores) e corrupção, era utilizada a principal figura do PT, o ex-presidente do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva, preso por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Esse fato passou a fortalecer o discurso de Bolsonaro, que tinha argumentos contundentes (que podem vir a ser/são questionados), que foram capazes de unir a extrema-direita, direita ‘clássica’ e, até mesmo, a esquerda neo-liberal (Löwy, 2015, p. 653).

Mesmo com os atos de corrupção nocivos à democracia, é inegável que o Partido dos Trabalhadores é um partido sólido em sua história e atuação. Contudo, uma das estratégias utilizadas por Jair Bolsonaro, como já foi apresentado neste trabalho, é desacreditar a esquerda como um todo. Levitsky & Ziblatt (2018) afirmam que “populistas tendem a negar a legitimidade dos partidos estabelecidos, atacando-os como antidemocráticos e mesmo antipatrióticos” (2018, p. 33).