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2.4 Seleção de materiais de construção a partir da sustentabilidade ambiental

2.4.2 Materiais ambientalmente preferíveis

A seleção por materiais ambientalmente preferíveis é a conceituação de que alguns materiais possuem bônus ambientais em relação a outros, em função de alguma característica que confere a eles menor impacto. Para atribuir preferências a certos materiais, é recomendável que sejam criados quesitos a serem avaliados. JOHN e OLIVEIRA (2007) propõem como critérios de avaliação:

 O uso de recursos naturais: análise do estoque do material disponível. Não é por si só um dado confiável, pois desconsideram-se os materiais provenientes de processo de reciclagem;

 O impacto na extração dos recursos: este é um critério qualitativo quanto ao uso dos recursos naturais, pois avalia-se qual o “rastro” deixado na extração do recurso e não somente a quantidade retirada. Destaca-se o impacto deixado no abandono de uma jazida de mineração;

 A desmaterialização: redução dos fluxos de entrada e saída de material. É considerada, portanto, estratégia que pode acontecer pelo aumento da eficiência do uso do material de construção no sistema construtivo, pelo reaproveitamento de materiais, pela reciclagem, pelo compartilhamento por parte dos consumidores e, ainda, pela substituição de materiais;

 O uso de materiais locais, pois permite a redução do consumo de combustíveis no transporte e, consequentemente, as emissões de poluentes;

 O uso de materiais renováveis, com destaque para a madeira, a qual deve ser considerada com ressalvas. Ela apresenta vantagens na retenção de CO2, pois

possui um potencial de reciclagem e de renovação das florestas. A retenção de CO2 só ocorre onde há reflorestamento da origem da madeira. Sua

reciclabilidade pode ser impossibilitada por conta dos materiais utilizados para seu tratamento. Um desses materiais, o “Chromated Copper Arsenate” (CCA) é constituído de cobre, arsênio (que oferece riscos à saúde humana) e cromo, um metal pesado;

 A análise do conteúdo energético, onde são utilizados dados de energia incorporada. A importância destes dados, como já foi dito, depende da fonte

energética do país e da quantidade de material utilizado;

 O conteúdo de material reaproveitado e o potencial de reaproveitamento;  As emissões e os resíduos ao longo do ciclo de vida do material;

 A presença de substâncias tóxicas que possam ser liberadas no ambiente, como materiais existentes em tintas, carpetes, papéis de parede e substâncias de tratamento de madeira;

 A qualidade do ambiente interno, o que pode alterar a saúde dos usuários provocando a chamada “Síndrome do Edifício Doente”.

De uma maneira geral, os sistemas de certificação de sustentabilidade utilizam o critério de materiais ambientalmente preferíveis para pontuar a seleção dos materiais no edifício. Os sistemas utilizados atualmente no Brasil são o BREEAM, o LEED, o AQUA e o Selo Casa Azul, conforme definições na introdução deste trabalho.

O BREEAM considera aspectos da extração responsável dos materiais, o que bonifica a reutilização e a reciclagem; materiais de isolamento térmico e acústico de baixa toxidade; a utilização de produtos com baixa emissão de COV; o uso de madeiras certificadas para construção; e trata também da gestão de resíduos de construção. Para serem atendidos nestes quesitos, os materiais devem possuir certificações de órgãos reconhecidos da Grã-Bretanha.

O LEED aborda quesitos como materiais e recursos, onde o reuso é estimulado, com uma pontuação para aplicação de 5 a 10% de materiais reutilizados. A incorporação de materiais reciclados também é um critério, bem como o uso de materiais locais (considerando-se uma distância de até 300 km), de materiais de rápida renovação e de madeira certificada. No grupo qualidade ambiental de interiores, considera-se a baixa emissão de Compostos Orgânicos Voláteis (COV), substâncias que, ao reagirem com o nitrogênio do ar, contribuem para o aumento da poluição atmosférica e afetam a saúde humana. Esses compostos estão presentes em materiais estofados. É importante ressaltar que este é um critério utilizado também no Brasil, através da certificação LEED Brasil.

desmaterialização, tais como: estrutura eficiente com destinação final dos resíduos, existência de detalhamento construtivo, lista de cortes detalhadas e pré-fabricação.

No HQE, e na sua versão brasileira AQUA, existem recomendações para a escolha integrada de produtos, sistemas e processos de construção a partir dos seguintes critérios:

 Avaliação da contribuição do produto na durabilidade e na adaptabilidade do edifício;

 Avaliação da facilidade de manutenção;

 Avaliação dos impactos ambientais e sanitário-ambientais;  Redução da emissão de gases de efeito estufa;

 Redução dos resíduos no ambiente;

 Aumento do aproveitamento por reuso e reciclagem;  Aumento do uso de recursos renováveis;

 Escolhas que evitem o esgotamento de recursos naturais;  Produtos disponíveis localmente (cimento CPIII e CPIV);

 Produtos fabricados a pelo menos 300 km da obra (considerando no mínimo 30% do total de produtos);

 Uso de produtos, sistema e processos construtivos que permitam a desconstrução. Mínimo de 50% dos elementos para estrutura e fachada;

 Formalidade fiscal e trabalhista do fornecedor;  Produtos que neutralizem CO2;

 Produtos certificados pela Rotulagem Ambiental (família ISO 14020);

 Seleção de fabricantes cujos produtos possuam menor consumo energético e esgotamento dos recursos naturais;

 Minimização dos efeitos negativos do transporte;

 Materiais renováveis, madeiras certificadas com baixa emissão de COVs; chapas compensadas com baixas taxas de emissão de formaldeído;

 Durabilidade do edifício em função das vidas úteis dos produtos da obra bruta (estruturas e fachadas);

 Produtos de fácil conservação, em especial fachadas, telhados, revestimentos internos, janelas, esquadrias, vidraças, proteções solares, divisórias interiores e forros;

 Não utilizar amianto; tintas e adesivos com alto conteúdo de compostos orgânicos voláteis (COVs);

 Conhecer e evitar emissões de COVs, formaldeídos dos produtos de piso, parede e teto.

Quanto ao Selo Casa Azul, este aborda o conceito de desmaterialização ao apostar na coordenação modular para reduzir as perdas de materiais, aumentando a produtividade e reduzindo o volume de Resíduos de Demolição e Construção (RDC). Dessa forma, exige-se a seleção de fornecedores que apresentem produtos adequados ao projeto e especificação das tolerâncias dimensionais. Além disso, pontua-se:

 Fôrmas e escoras reutilizáveis;  Concretos com dosagem otimizada;

 Cimento de alto forno (CP III) e pozolânico (CP IV);

 Pavimentação com RDC; utilizados como agregados reciclados;  Madeira plantada ou certificada;

 Facilidade de manutenção da fachada com durabilidade mínima de 15 anos.

O Selo Casa Azul, no que diz respeito aos materiais, apresenta indicações de soluções padrão, sem considerar as diferentes possibilidades de sistemas construtivos existentes. Isso ocorre ao definir as características do concreto a ser utilizado e o tipo de cimento, o que pode levar a uma dedução de que somente soluções com esses materiais serão valorizadas. Como qualidade, verifica-se uma preocupação com critérios de desmaterialização e geração de resíduos nos canteiros de obra. O incentivo ao uso de sistemas industrializados é um indicativo disso. Os critérios apresentados por este selo se restringem ao impacto no canteiro de obras, onde requisitos de qualidade garantem a durabilidade, que irá impactar no fim da vida do edifício e seu sistema.

construtivos a partir dos aspectos de custos, durabilidade, qualidade e proximidade dos fornecedores, quantidade e periculosidade dos resíduos gerados e modularidade. Este guia vai de encontro ao Selo Casa Azul e ao AQUA ao utilizar os PSQs do PBQP-H como garantia de qualidade do produto e ao abordar a questão da modularidade como estratégia de desmaterialização.

O documento intitulado “Teoria e práticas em construções sustentáveis no Brasil”, gerado pela Secretaria do Estado de Ambiente do Rio de Janeiro, recomenda:

1. Usar materiais locais em obras públicas;

2. Utilizar cores claras para reduzir o efeito de “ilhas de calor” na pavimentação de ruas e áreas públicas, e de cobertura dos edifícios, com obrigatoriedade para os públicos;

3. Eliminar a utilização de tijolo cozido e reduzir a utilização do cimento; 4. Reutilizar o vidro antes de reciclá-lo e reaproveitar telhas cerâmicas; 5. Utilizar madeira certificada.

Além dessas iniciativas, a ferramenta denominada “Seis Passos” do Conselho Brasileiro da Construção Sustentável (CBCS) auxilia na seleção de fornecedores. Nela são listados quesitos a serem atendidos pelos fabricantes e pelos seus materiais. Esta seleção é baseada nas seguintes informações:

 Verificação da formalidade da empresa fornecedora (CNPJ);  Verificação da licença ambiental da unidade fabril;

 Respeito às normas técnicas que garantem a qualidade do produto;  Consulta do perfil de responsabilidade socioambiental da empresa;

 Identificação da existência de verniz verde (‘greenwash’) ou seja, fabrica-se um produto eco-eficiente e usa-se deste título para vendê-lo mais caro;  Análise da durabilidade e do ciclo de vida do material.

Materiais considerados ambientalmente amigáveis não implicam, necessariamente, em um uso sustentável. Um material para janelas, por exemplo, pode ser sustentável, mas

seu uso impede a iluminação natural, o que o torna insustentável (EDWARDS e BENNETT, 2003).