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MATERIAIS E MÉTODOS

No documento SIMONE SOARES MARQUES PAIVA (páginas 82-131)

O material examinado foi coletado de pacientes encaminhados para

tratamento endodôntico no Departamento de Endodontia da Universidade

Estácio de Sá. Foram incluídos neste estudo 17 dentes unirradiculares de 14

pacientes, sendo 12 do sexo masculino e 2 do feminino, com idades variando

de 22 a 74 anos, que apresentavam tecido pulpar necrosado confirmado por

teste de vitalidade pulpar ao frio (Endo-Ice, Maquira, São Paulo, SP, Brasil),

com paredes intactas da câmara pulpar (com coroa hígida ou lesão cariosa ou

restauração coronária que não tivessem atingido a câmara pulpar) e que,

radiograficamente, apresentavam evidência de reabsorção óssea perirradicular.

Os dentes selecionados não apresentavam bolsa periodontal maior que 4mm e

os pacientes não haviam sido submetidos à antibioticoterapia sistêmica nos

últimos 3 meses. O protocolo de pesquisa foi aprovado junto ao Comitê de

Ética da Universidade Estácio de Sá.

As amostras foram coletadas por meio de medidas estritas de assepsia.

Procedeu-se a raspagem de cálculo e polimento coronário com pedra-pomes e

escova de Robson, antes do isolamento absoluto. O acesso coronário foi

realizado somente após a colocação do isolamento absoluto. Para esta etapa

foram utilizadas brocas esféricas carbide e broca Endo Z (Dentsply, Maillefer,

Ballaigues, Suíça) em alta rotação sob refrigeração. Antes e após o acesso

coronário, o dente e o campo operatório ao seu redor foram limpos com

solução de peróxido de hidrogênio a 3% - água oxigenada 10 volumes (Rio

Química, Barreto, SP, Brasil) utilizando-se mechas de algodão esterilizada até

descontaminados com solução de hipoclorito de sódio a 2,5%, a qual foi

inativada com uma solução de tiossulfato de sódio a 5%.

Após o acesso coronário e a descontaminação do campo operatório, foi

coletada uma amostra da coroa dentária para controle da descontaminação.

Dois cones de papel estéreis (Endopoints, Paraíba do Sul, RJ, Brasil) foram

esfregados na coroa do dente, na região do ângulo cavo-superficial da

cavidade de acesso. Os cones foram inseridos em tubos contendo caldo de

cultura tioglicolato (Merck, Darmstadt, Alemanha) e incubados por 48 horas a

37oC.

Uma quantidade de 1ml de solução de tiossulfato de sódio a 5% foi

gotejada na câmara pulpar, sem deixar extravasar. O excesso de tiossulfato de

sódio da câmara pulpar foi removido com bolinha de algodão estéril. Um

instrumento endodôntico de calibre compatível com o canal radicular foi

introduzido cerca de 1mm aquém do ápice radiográfico. Dessa forma, o

tiossulfato de sódio foi carregado em direção apical, ao mesmo tempo em que

as células bacterianas foram emulsionadas. Foi realizada uma discreta

limagem das paredes.

Com uma pinça para algodão estéril e flambada na ponta antes de cada

uso, foram levados, seqüencialmente, para o interior do canal radicular 3 cones

de papel absorventes (Endopoints, Paraíba do Sul, RJ, Brasil), previamente

esterilizados, de calibre compatível com o canal. Foram introduzidos em toda a

extensão do canal até 1mm aquém do ápice radiográfico. Cada cone de papel

cones de papel foram transferidos para um tubo contendo fluido de transporte

reduzido (RTF).

Os tubos foram imediatamente transportados para o laboratório de

Microbiologia também localizado na Universidade Estácio de Sá. Estes foram

agitados em vórtex por 30 segundos. Posteriormente, foram feitas diluições

seriadas de 10X, em solução salina tamponada pré-reduzida e esterilizada em

anaerobiose, até 10-3. Alíquotas de 0,1ml da solução pura (não-diluída – figura

1) e da última diluição (figura 2) foram semeadas em placas de ágar-sangue de

carneiro com base de meio Brucella (MicroMed, Rio de Janeiro, RJ, Brasil),

suplementado com hemina (5 mg/l) e menadiona (1 mg/l), e em placas de ágar

Mitis-salivarius (Difco, Detroit, MI, EUA). As placas foram incubadas no interior de uma jarra em ambiente de anaerobiose gerado por envelopes do sistema

GasPak Plus (BBL Microbiology Systems, Cockeysville, MD, EUA) durante 14

dias a 37oC.

Nesta mesma sessão, o canal radicular foi instrumentado totalmente.

Para o preparo químico-mecânico foi utilizada a técnica dos Movimentos

Contínuos de Rotação Alternada (SIQUEIRA, 1997). Limas Nitiflex (Maillefer,

Ballaigues, Suíça), confeccionadas a partir de uma liga de níquel-titânio com

secção transversal triangular e ponta guia não-cortante, foram utilizadas. O

princípio de instrumentação planejada foi obedecido, a fim de favorecer limpeza

e modelagem adequadas. Baseado neste princípio, o preparo apical foi

realizado até a lima 50 ou 55. Procedeu-se à irrigação com 1ml de solução de

digluconato de clorexidina a 0,12% (Mil Fórmulas, Rio de Janeiro, RJ, Brasil)

SP, Brasil) a cada troca de instrumento, associada à aspiração concomitante

durante todo o preparo do canal radicular.

Após a instrumentação, uma nova amostra foi coletada conforme

descrito anteriormente. Antes da coleta, o canal foi irrigado com 5ml de solução

de tiossulfato de sódio a 5%, Tween 80 a 0.5% e lecitina a 0.07% para

neutralizar a clorexidina utilizada durante o preparo químico-mecânico. A

amostra foi transportada para o laboratório imediatamente e processada da

mesma forma descrita para a amostra inicial. Desta vez, a diluição foi realizada

até 10-2 e foram semeadas a amostra original (não-diluída) e a última diluição

(10-2).

Ao término da instrumentação, procedeu-se a remoção da smear-layer

por meio de EDTA a 17% (Biodinâmica, Ibiporã, PR, Brasil) durante 3 minutos

e irrigação final com hipoclorito de sódio a 2,5%. O canal radicular foi, então,

medicado com a pasta contendo hidróxido de cálcio PA (Biodinâmica, Ibiporã,

PR, Brasil), digluconato de clorexidina a 0,12% em estado de gel (Mil Fórmulas,

Rio de Janeiro, RJ, Brasil) e óxido de zinco como radiopacificador

(Biodinâmica, Ibiporã, PR, Brasil), com medidores específicos para cada

substância. As medidas foram transferidas para uma placa de vidro estéril,

formando uma pasta de consistência cremosa. Esta pasta foi levada para o

interior do canal radicular através de espirais de Lentulo número 35 (Dentsply,

Maillefer, Ballaigues, Suíça), preenchendo toda a extensão do canal. Foi

realizada uma radiografia periapical para avaliar o adequado preenchimento do

canal radicular com a medicação. A coroa dentária foi devidamente selada com

Figura 1 - Placa de ágar-sangue semeada com uma amostra original não-

diluída.

Figura 2 - Placa de ágar-sangue semeada com uma amostra original diluída

Após uma semana, a medicação intracanal foi removida pela irrigação

com 3ml de solução salina estéril com seringa de 3ml e agulha descartáveis e

recapitulação com a lima de memória. O material no interior do canal radicular

foi então coletado, transportado para o laboratório e processado da mesma

forma descrita para a amostra pós-instrumentação. O canal radicular foi

obturado através da técnica de compactação lateral da guta-percha com

cimento endodôntico à base de óxido de zinco e eugenol – Endofill (Dentsply,

Petrópolis, RJ, Brasil) e selado coronariamente com cimento provisório coltosol.

As amostras foram designadas como: TSa (1ª coleta), TSb (2ª coleta) e

TSc (3ª coleta), precedida pelo número do caso, exemplo: 4TSa equivale à

amostra inicial do quarto caso.

Após a incubação, procedeu-se à contagem do número de unidades

formadoras de colônias (UFCs) por amostra e os dados obtidos foram

analisados através da mediana e porcentagens de redução ou eliminação total,

e pelo teste estatístico de Mann-Whitney para comparar TSa com TSb, TSa

com TSc e TSb com TSc, utilizando os valores absolutos de contagem de

UFCs, no intuito de verificar a eficácia de cada etapa na eliminação microbiana

do canal radicular. O nível de significância foi estabelecido em 5% (p<0,05).

Uma ou duas colônias de cada tipo diferente foram isoladas e

armazenadas a -20°C em criotubos contendo tampão TE (10mM Tris-HCl, 1mM

EDTA, pH 8) para ulterior identificação através da análise da seqüência do

gene do 16S rRNA.

O DNA genômico foi extraído aquecendo a suspensão com o auxílio de

armazenados em gelo por 5 minutos, centrifugados e alíquotas de 5 µl do

sobrenadante foram utilizadas posteriormente no ensaio de PCR.

A amplificação do gene do 16S rRNA através do método PCR foi

utilizada para a identificação bacteriana. O par de primers universais do gene

do 16S rRNA utilizados foram 5’-GAT TAG ATA CCC TGG TAG TCC AC-3’ e

5’-CCC GGG AAC GTA TTC ACC G-3’, correspondentes às posições 786-808

e 1369-1387, respectivamente, da seqüência do gene do 16S rRNA da espécie

Escherichia coli. Este par de primers universais delimita as regiões variáveis V5, V6, V7 e V8 do gene do 16S rRNA.

A amplificação através da PCR foi executada em um volume de reação

de 50 µl, contendo 5 µl de tampão 10X para PCR, 2 mM de MgCl2, 1.25 U da

DNA polimerase Tth e 0.2 mM de cada desoxirribonucleosídeo trifosfatado

(todos os reagentes da Biotools, Madri, Espanha), 5 µl de DNA extraído de

cada amostra e 0.8 µM de cada primer. O perfil de temperatura dos ciclos para

PCR consistiu em uma etapa de desnaturação inicial a 95ºC por 2 minutos,

seguida de 36 ciclos de desnaturação a 95ºC por 30 segundos, anelamento

dos primers a 60ºC por 1 minuto e extensão a 72ºC por 1 minuto, com uma

etapa final a 72ºC por 2 minutos.

Os produtos da amplificação foram purificados utilizando um sistema de

purificação para PCR (Wizard PCR Preps, Promega, Madison, WI, EUA) e

então seqüenciados diretamente no seqüenciador automático de DNA ABI 377

utilizando dye terminator chemistry (Amersham Biosciences, Little Chalfont,

Buckinghamshire, Reino Unido). Dados das seqüências e os respectivos

(HALL, 1999). As seqüências geradas foram comparadas aos dados do

GenBank para identificar aquelas com maior similaridades, utilizando o programa BLAST (ALTSCHUL et al., 1990). As seqüências do banco de dados

com a maior similaridade e scorebits com a seqüência pesquisada foram

escolhidas para identificação. Uma identidade maior que 99% com a seqüência

do gene do 16S rRNA no banco de dados foi o critério usado para identificar a

RESULTADOS

Inicialmente, 17 dentes foram incluídos no estudo, porém quatro foram

excluídos por diferentes razões: devido à quebra acidental do tubo de coleta

contendo a 3ª amostra (pós-medicação) (1 dente); contaminação da coroa

após teste da descontaminação do campo operatório (1 dente); ocorrência de

flare-up, havendo a necessidade de tratamento emergencial por outro operador, com resultante troca da substância de irrigação e da medicação

intracanal (2 dentes). Assim, 13 dentes contendo amostras de todas as fases

do tratamento, ou seja, coleta inicial, coleta pós-instrumentação e coleta pós-

medicação, foram objeto de análise no presente estudo.

Bactérias foram encontradas em todas as 13 amostras (100%). Após a

contagem das UFCs e calculados os fatores de diluição, o valor de mediana do

número de bactérias nas amostras iniciais foi de 1.1 X 106 variando entre 2.8 x

103 a 1 x 108. A média dos valores das amostras iniciais foi de 1.36 X 107. Nas

13 amostras obtidas pós-instrumentação e irrigação com clorexidina, 6

apresentaram cultura negativa (46,2%). A mediana do número de bactérias

presentes após a instrumentação foi de 4 X 102, variando entre 0 e 5.12 X 105.

A média dos valores das amostras após instrumentação foi de 7.46 X 104. Após

a instrumentação utilizando clorexidina como irrigante, observou-se redução

variável entre 53,45% e 100% no número de UFCs em comparação com as

amostras iniciais (Tabela 1).

Na análise dos resultados da 3a coleta (pós-medicação intracanal), foi

bacteriano, sendo encontrado, nesta única amostra, a quantidade de 1.56 X

103 UFCs. Entre as 13 amostras estudadas, 12 apresentaram culturas

negativas (92,3%). O valor de mediana do número de bactérias encontradas

pós-medicação foi 0, variando entre 0 e 1,56 X 103. Após a medicação

intracanal com hidróxido de cálcio associado a clorexidina, observou-se

redução variável entre 99,7% e 100% no número de UFCs em comparação

com as amostras iniciais (Tabela 1).

Com os dados obtidos, verifica-se que das 6 amostras que obtiveram

redução de 100% após irrigação-instrumentação, as 6 mantiveram redução de

100% após a medicação, indicando que não houve contaminação entre as

sessões do tratamento por quebra da cadeia assepsia ou infiltração do material

selador temporário.

A maioria das amostras que apresentou crescimento bacteriano pós-

instrumentação evidenciaram uma redução bacteriana de mais de 90%, exceto

duas amostras que apresentaram redução inferior a 90%, revelando valores de

53,45% e 72,68%.

Uma média de 3,5 espécies bacterianas foi encontrada por canal na

coleta inicial e 1,7 na segunda coleta. Na terceira coleta apenas um dente

apresentou cultura positiva, com duas espécies bacterianas identificadas.

Os dados analisados após o teste estatístico de Mann-Whitney

permitiram verificar que tanto a instrumentação quanto à instrumentação

seguida da medicação produziram redução significativa quando comparados

A medicação intracanal após a instrumentação reduziu

significativamente o número de bactérias comparadas com as amostras

coletadas imediatamente após a instrumentação (p=0,014).

Tabela 1 – Relação das amostras com as respectivas contagens de UFCs N Caso Amostra - a inicial Amostra - b

Imediatamente após preparo químico- mecânico com clorexidina a 0,12%

Amostra - c

Após uma semana de medicação com hidróxido de cálcio e clorexidina 1. 1TS 7.2 x 106 4 x 102 (99.99%) 0 (100%) 2. 3TS 2.8 x 107 2.48 x 105 (99.11%) 0 (100%) 3. 4TS 1.1 x 106 5.12 x 105 (53.45%) 0 (100%) 4. 5TS 2.2 x 106 0 (100%) 0 (100%) 5. 6TS 5.21 x 105 9 x 102 (99.83%) 1.56 x 103 (99.7%) 6. 7TS 2.12 x 107 0 (100%) 0 (100%) 7. 8TS 1.63 x 107 2 x 105 (98.77%) 0 (100%) 8. 11TS 6.08 x 104 4.4 x 103 (92.76%) 0 (100%) 9. 12TS 1.83 x 104 5 x 103 (72.68%) 0 (100%) 10. 13TS 5.3 x 103 0 (100%) 0 (100%) 11. 14TS 2.8 x 103 0 (100%) 0 (100%) 12. 15TS 1 x 108 0 (100%) 0 (100%) 13. 16TS 7 x 105 0 (100%) 0 (100%) Média 1.36 x 107 (100%) 7.46 x 104 (99,45%) 1.2 x 102 (99,99%) Mediana 1.1 x 106 (100%) 4 x 102 (93,5%) 0 (99,97%)

A tabela 2 relaciona as espécies bacterianas identificadas pelo método

necrose pulpar e lesão perirradicular e que foram eliminadas com o preparo

químico-mecânico. A coluna do meio se refere às bactérias que já estavam

presentes na amostra inicial e que permaneceram viáveis em 7 canais após a

instrumentação-irrigação com 0,12% de clorexidina (TSb). A última coluna

relaciona as bactérias encontradas na única amostra positiva após medicação

(TSc).

Os gêneros mais freqüentes foram Fusobacterium, Streptococcus,

Porphyromonas, Prevotella, Propionibacterium, Pseudoramibacter, Staphylococcus, Actinomyces e Campylobacter. As demais espécies presentes na tabela apareceram apenas em uma das amostras. Os gêneros

Streptococcus, Actinomyces e Propionibacterium foram os mais prevalentes na segunda coleta e encontrados em 4, 2 e 2 cepas, respectivamente, dos casos

que apresentaram cultura positiva.

Foram cultivadas cepas previamente não caracterizadas de Prevotella,

Fusobacterium e Actinomyces, apenas conhecidas por seqüências genômicas. As espécies que não foram eliminadas com o preparo químico mecânico

foram as seguintes: Streptococcus mitis, Propionibacterium acnes, Prevotella

oral clone FM005, Pseudoramibacter alactolyticus, Actinomyces odontolyticus,

Actinomyces urogenitalis, Streptococcus oralis, Streptococcus sanguinis, Propionibacterium granulosum, Staphylococcus aureus e uma bactéria previamente não-cultivável (beta proteobacterium clone FAC20) que não

estava na amostra inicial. A detecção desta bactéria pode estar relacionada à

ocorrência de falha na coleta inicial ou contaminação durante o tratamento,

Tabela 2 – Bactérias identificadas em diferentes etapas do tratamento pelo

seqüenciamento do gene do 16S rRNA

Bactérias persistentes Bactérias apenas nas amostras a

Amostras b Amostras c

Porphyromonas gingivalis (3) Streptococcus mitis biovar 2 (2) Streptococcus mitis biovar 2 (1)** Fusobacterium nucleatum (2) Propionibacterium acnes (1) Propionibacterium acnes (1) Prevotella oral clone GU027 (2) Prevotella oral clone FM005 (1)

Propionibacterium acnes (2) Pseudoramibacter alactolyticus (1)

Propionibacterium propionicum (2) Actinomyces odontolyticus (1) Staphylococcus epidermidis (2) Actinomyces urogenitalis (1) Dialister invisus (1) Streptococcus oralis (1) Pseudoramibacter alactolyticus (1) Streptococcus sanguinis (1) Mogibacterium neglectum (1) Propionibacterium granulosum (1)

Prevotella salivae (1) Staphylococcus aureus (1) Prevotella oralis (1) Uncultured beta proteobacterium clone

FAC20 (1)*

Fusobacterium oral clone CZ006 (1) Fusobacterium oral clone BS019/ Fusobacterium periodonticum (1) Campylobacter gracilis (1) Campylobacter curvus (1) Micromonas micros (1)

Uncultured bacterium clone rRNA007 (1)

Anaerococcus prevotii (1) Actinomyces naeslundii (1) Actinomyces oral clone GU009 (1) Actinomyces odontolyticus (1) Streptococcus oralis (1) Acinetobacter sp. (1) Flavobacterium sp. (1) Staphylococcus pasteuri (1) Staphylococcus saccharolyticus (1) Unidentified (1)

Em relação à coleta pós-medicação, apenas 1 caso apresentou cultura

positiva. As espécies presentes foram Streptococcus mitis e Propionibacterium

DISCUSSÃO

O papel das bactérias na indução e perpetuação das lesões

perirradiculares em dentes com polpa necrótica já está bastante comprovado e

esclarecido (MILLER, 1984; KAKEHASHI et al., 1965; SUNDQVIST, 1976;

MÖLLER et al., 1981; FABRICIUS et al., 1982; TRONSTAD et al., 1987;

SIQUEIRA, 2005).

A etiologia infecciosa das lesões perirradiculares foi confirmada no

presente estudo, que utilizou dentes com polpa necrótica e lesão perirradicular,

no qual todas as amostras iniciais (TSa) foram positivas para o crescimento

bacteriano (100%), sendo a grande maioria composta por bactérias anaeróbias

estritas seguidas de anaeróbias facultativas. Resultados similares foram

obtidos por diversos pesquisadores (BYSTRÖM & SUNDQVIST, 1983;

BYSTRÖM et al., 1985; SJÖGREN et al., 1997; PETERS et al., 2002; SOUZA

et al., 2005). ORSTAVIK et al. (1991) encontraram crescimento bacteriano em 96% (22/23) das coletas antes do tratamento. SHUPING et al. (2000), CARD et

al. (2002), KVIST et al. (2004), McGURKIN-SMITH et al. (2005), CHU et al. (2006) relataram a presença de bactérias em amostras iniciais de 98%, 95%,

98%, 94%, 98,8%, respectivamente.

A mediana do número de UFCs presente na primeira coleta foi 1.1 X 106,

variando de (2.8 X 103 a 1 X 108). Nos demais trabalhos que analisaram a

redução bacteriana, os valores da contagem de UFCs são bastante variáveis

(BYSTRÖM & SUNDQVIST, 1983; 1985; SJÖGREN et al., 1991; PETERS et

al., 2002; McGURKIN-SMITH et al., 2005; CHU et al., 2005; 2006) com uma taxa de 6 X 103 até >109.

Após o preparo químico-mecânico, a redução média observada neste

estudo, comparando as amostras iniciais com a segunda coleta após a

instrumentação e a irrigação com solução de clorexidina líquida, foi 99,45%,

bem próximo dos valores de VIANNA et al. (2006), que obtiveram redução

acima de 96,60% com o uso da clorexidina a 2% em estado de gel. Estes

resultados obtidos concordam com os trabalhos de SIQUEIRA et al. (1999)

com redução de 99,57% e PETERS et al. (2002) com 99,82%, os quais

utilizaram a solução salina e o NaOCl, respectivamente, como irrigante e

também com SIQUEIRA et al. (2000b) que avaliaram a redução bacteriana

utilizando diferentes concentrações de hipoclorito de sódio (1%, 2,5% e 5,25%).

Com o exposto fica evidente que preparo químico-mecânico constitui

uma etapa importantíssima para o sucesso do tratamento endodôntico

(STEWART, 1955; SIQUEIRA, 2001b) já que é capaz de reduzir o número de

microrganismos dentro do canal. É notória a necessidade da ação conjunta dos

instrumentos endodônticos com uma substância irrigante que possua a

atividade física, do fluxo e refluxo da solução, e atividade antimicrobiana.

BYSTRÖM & SUNDQVIST (1981) encontraram 100% de culturas

positivas com uma solução irrigante inerte, enquanto ORSTAVIK et al. (1991)

relataram que 10 de 23 amostras estavam livres de bactérias (43%) quando os

dentes eram irrigados com solução salina. DALTON et al. (1998) só

evidenciaram 28% de culturas negativas usando como irrigante a solução

salina. Por outro lado, SHUPING et al. (2000) demonstraram que, com a adição

de uma substância de irrigação com propriedades antimicrobianas (NaOCl a

casos. Posteriormente, CARD et al. (2002) obtiveram 100% de culturas

negativas em dentes unirradiculares e birradiculares e 89% em molares,

usando como irrigante NaOCl a 1%.

Em outros estudos, nos quais avaliaram a redução da população

bacteriana com auxílio de soluções bactericidas, BYSTRÖM & SUNDQVIST

(1983) relataram que 12 de 15 (80%) dentes tratados com NaOCl a 0,5%

apresentavam culturas negativas após a quinta consulta. Os mesmos autores,

em um estudo posterior (BYSTRÖM & SUNDQVIST, 1985), encontraram 50%

e 60% de amostras com bactérias após irrigação com NaOCl a 5% e 0,5%,

respectivamente, enquanto SJÖGREN et al. (1997) obtiveram 40% de culturas

positivas com o NaOCl a 0,5%. No estudo de PETERS et al. (2002), em 76%

(32/42) dos canais não foram encontradas bactérias após a limpeza com

NaOCl a 2% e modelagem na primeira consulta. McGURKIN-SMITH et al.

(2005) relacionaram 52,72% de culturas positivas com NaOCl a 5,25%

associado com EDTA, enquanto CHÁVEZ DE PAZ et al. (2003) encontraram

53,5% de culturas positivas após o primeiro tratamento.

Este estudo obteve 53,8% de culturas positivas com o uso de clorexidina

a 0,12% após o preparo químico-mecânico, cujos achados foram os mesmos

de VIANNA et al. (2006), que revelaram 50% dos casos com crescimento

bacteriano com o gel de clorexidina a 2%. ÖNÇAG et al. (2003) obtiveram

100% de culturas negativas após 48 horas do preparo químico-mecânico

utilizando clorexidina a 2% como irrigante, no tratamento de 91 dentes

nos quais analisaram a redução bacteriana, revelaram que 62% dos casos

eram positivos após o preparo químico-mecânico.

Em trabalhos in vitro, SIQUEIRA et al. (1997) observaram de 30 a 40%

de culturas positivas da espécie E. faecalis utilizando o NaOCl a 4%.

Posteriormente, estes mesmos autores (SIQUEIRA et al., 2002c) observaram

90% de culturas positivas de E. faecalis com a associação da clorexidina a 2%

e do NaOCl a 5,25%, utilizando a mesma técnica de instrumentação deste

estudo (Movimentos Contínuos de Rotação Alternada), porém houve redução

de 62,8% da população bacteriana inicial. SHABAHANG & TORABINEJAD

(2003) também observaram a presença de E. faecalis em 53% das amostras

de canais radiculares quando o NaOCl foi utilizado tanto na concentração de

1,3% quanto de 5,25%.

A mediana do número de bactérias viáveis após a instrumentação e

desinfecção deste trabalho foi de 4 X 102, com uma média de 7.46 X 104,

variando de (0 a 5.12 X 105). VIANNA et al. (2006) que também utilizaram

clorexidina como irrigante endodôntico, obtiveram uma média de 4.8 X 102 e

um valor de mediana igual a 10.

Neste trabalho houve uma redução de uma média de 3,5 espécies

bacterianas presentes em cada amostra inicial, para 1,7 nas coletas pós-

instrumentação. Estes valores são compatíveis ao trabalho com cultura de

SJÖGREN et al. (1997) que verificaram, em média, 3,0 espécies por canal.

Valores inferiores foram propostos por CHÁVEZ DE PAZ et al. (2003; 2004b;

2005) que encontraram uma média de 2,4 espécies nas amostras iniciais e

uma média de 2,8 espécies bactérias por canal. Valores superiores foram

observados por BYSTRÖM & SUNDQVIST (1983) e LANA et al. (2001), que

obtiveram uma média de 5 espécies por canal e CHU et al. (2005) com média

de 4,2 nos canais não expostos à cavidade oral.

A média do número de espécies microbianas encontradas em estudos

nos quais os métodos moleculares são realizados diretamente da amostra

clínica é superior à da cultura (VIANNA et al., 2006). SOUZA et al. (2005)

observaram uma média de 17,3 espécies por canal (5 a 33 espécies).

MUNSON et al. (2002) verificaram uma taxa de 20,2 espécies em cada

amostra utilizando cultura e PCR: 26 espécies foram detectadas somente pelo

método molecular (PCR); 19 somente por cultura e 20 em ambas as técnicas.

A necessidade de uma medicação intracanal fica evidente de acordo

No documento SIMONE SOARES MARQUES PAIVA (páginas 82-131)

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