• Nenhum resultado encontrado

Áreas prioritárias para conservação da biodiversidade subterrânea no eixo Centro-norte de Minas Gerais.

MATERIAIS E MÉTODOS Área de estudo

O estudo foi desenvolvido entre os anos de 2014 e 2015 em 51 cavernas distribuídas em 17 municípios da região Centro-norte do estado de Minas Gerais (Brasil), entre as latitudes 15°0’24”S e 18°42’23”S e longitudes 42°42’12”O e 44°42’26”O. Das cavernas inventariadas, 48 estão na porção sudeste do Grupo geológico Bambuí, possuem litologia calcária e fazem parte da bacia hidrográfica do Rio São Francisco, enquanto três pertencem à bacia hidrográfica do Rio Jequitinhonha, fazendo parte do Grupo geológico Macaúbas e se desenvolvendo em formação ferrífera (Figura 1) (Tabela 1). A vegetação predominante é caracterizada pelo bioma Cerrado e varia principalmente entre as fitofisionomias de Campo Cerrado, Campos e Floresta Estacional Decidual Montana (Carvalho et al. 2006).

Figura 8: Distribuição das cavidades na região Centro norte de Minas Gerais, bacias dos rios São Francisco e Jequitinhonha. Em destaque o grupo carbonático Bambuí (cinza claro) e o grupo Macaúbas, ferruginoso (rosa).

geográfica e métricas das cavernas inventariadas (CodM= código do município de acordo com a figura 1) desenvolvimento linear total (DLT), desenvolvimento linear amostrado (DLA), número de entradas (NE), soma da área das entradas (∑AE), unidades de conservação na qual se inserem (UC) N = nenhuma, PNCP = Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, PELG = Parque Estadual da Lapa Grande (*cavernas ferruginosas).

Métricas e variáveis ambientais

Os valores de desenvolvimento linear total, desenvolvimento linear amostrado e as dimensões das entradas das cavernas, foram coletados em loco, com auxílio de trena à laser, ou através dos mapas das cavidades. Tais métricas foram utilizadas para calcular a riqueza relativa (Tabela 1).

Para realizar o cálculo do grau de impacto das cavernas, os usos e modificações antrópicas foram levantados para cada caverna e em suas respectivas áreas de entorno (considerando um raio de 250 metros a partir da entrada semelhante ao recomendado na legislação brasileira (Brasil 2004) durante as atividades de campo, através de observação e anotação em cadernetas, seguindo metodologia proposta por Souza-Silva e colaboradores (2015).

Coleta e identificação dos invertebrados cavernícolas

A amostragem de cada caverna foi realizada uma única vez entre os anos de 2014 e 2015, com equipe de coleta composta por quatro biólogos experientes em amostragem de fauna de invertebrados cavernícolas (Souza-Silva et al. 2015)

A coleta se deu por busca e coleta ativa em toda a extensão acessível das cavernas, incluindo micro-habitats com acúmulo de recursos orgânicos, espaços sob rochas, espeleotemas e poças. Devido às grandes dimensões, algumas cavernas não tiveram todo o seu desenvolvimento linear amostrado (Tabela 1). A captura dos organismos foi realizada com auxílio de piças, pincéis e redes de mão, sendo que os indivíduos coletados foram armazenados em recipientes contendo álcool 70%.

Todos os indivíduos foram separados em morfótipos, que, com auxílio de chaves de identificação, foram identificados ao menor nível taxonômico acessível. Os grupos Acari, Amblypygi, Amphipoda, Araneae, Collembola, Diplopoda, Opiliones e Palpigradi, foram enviados a especialistas, a fim de refinamento taxonômico.

A determinação de características consideradas troglomórficas foi feita utilizando critérios definidos em artigos de descrição de espécies aparentadas aos organismos encontrados. (Pinto-da-Rocha 1996, Baptista e Giupponi 2003, Souza e Ferreira 2010, Pellegrini e Ferreira 2011, Brescovit et al. 2012, Hoch e Ferreira 2012, Prevorcnik et al. 2012,

2015). Os troglomorfismos são específicos para cada grupo, porém algumas convergências são frequentemente observadas, como: ausência de olhos, alongamento de apêndices locomotores e sensoriais, despigmentação, redução de asas, aumento do tamanho corporal e aumento do número de tricobótrias (Christiansen 1962, Barr 1968, Hoch e Ferreira 2012, Novak et al. 2012).

Relevância biológica, grau de impactos e vulnerabilidade das cavernas

Para definir as cavernas prioritárias para receber ações de conservação, foi utilizado o Índice de Prioridade para Conservação de Cavernas – iPCC (Souza-Silva et al. 2015), com adaptações para o cálculo da riqueza relativa.

O iPCC é calculado com base na relevância biológica e no grau de impacto antrópico ao qual a caverna está sujeita, sendo seu resultado a categoria de vulnerabilidade das cavernas e sua fauna.

Relevância biológica

A relevância biológica de cada caverna é resultado de diferentes “modalidades” de riqueza; riqueza de espécies troglóbias, riqueza total de espécies e riqueza relativa ((riqueza total / desenvolvimento linear amostrado) / soma da área das entradas.). Tais modalidades de riqueza foram categorizadas em baixa, média, alta e extremamente alta, e definidas de acordo com o maior valor da modalidade de riqueza, que foi dividido por quatro e o valor obtido, utilizado como intervalo entre as categorias (Tabela 2). Deste modo, riqueza total foi categorizada com base na maior riqueza encontrada (158 espécies). Os intervalos definidos foram: de zero a 39 espécies (baixa riqueza), de 40 a 79 espécies (média riqueza), 80 a 119 espécies (alta riqueza) e 120 a 158 espécies (extremamente alta riqueza) (Tabela 2).

Para categorizar a riqueza de espécies troglóbias, os intervalos também foram definidos com base na maior riqueza (dez espécies). As cavernas de baixa riqueza de troglóbios foram aquelas que apresentaram zero ou uma espécie, com média riqueza as que apresentaram de duas a

quatro espécies, de alta as que apresentaram de cinco a sete espécies e de extremamente alta as que apresentaram de oito a dez espécies (Tabela 2).

Por fim, o maior valor obtido para a riqueza relativa foi de 1,89 e as classes foram: 0 a 0,47 (baixa); 0,48 a 0,94 (média); 0,95 a 1,41 (alta) e 1,42 a 1,89 (extremamente alta).

Para calcular a relevância biológica, foram atribuídos pesos às categorias. A riqueza de troglóbios e a riqueza relativa ganharam peso “1” quando foram categorizadas como baixas, “2” quando categorizadas como média, “3” quando alta e “4” quando extremamente alta. Já em relação à riqueza total, a categoria baixa recebeu peso “2”, média recebeu peso “4”, alta peso “6” e extremamente alta peso “8”.

Para acessar a relevância biológica final, cada caverna teve o peso das categorias das três riquezas somado e o resultado foi reclassificado nas categorias baixa, média, alta e extremamente alta. Os pesos atribuídos para a relevância biológica final foram um, dois, três e quatro. As cavernas categorizadas como de baixa relevância biológica final foram as que obtiveram a soma três para os pesos das riquezas, as com relevância biológica média obtiveram a soma quatro, cinco ou seis, com relevância biológica alta obtiveram soma sete, oito ou nove e relevância biológica extremamente alta as que obtiveram soma dez, onze ou doze.

Tabela 5: Categorias das riquezas utilizadas para acessar a relevância biológica, onde: Rt = riqueza total, PRt = peso da riqueza total, Rtr = riqueza de troglóbios, PRtr = peso da riqueza de troglóbios, Rr = riqueza relativa (espécies / m²), PRr = peso da riqueza relativa.

Grau de impacto

Para determinar o grau de impacto, foram levantados os impactos gerados por usos ou modificações antrópicas no interior e entorno das cavernas.

Cada impacto teve seus efeitos classificados e pontuados quanto ao potencial (intenso - peso 2 - ou tênue - peso 1), extensão espacial

constante - peso 3). Para a obtenção do peso final de cada impacto, foi realizada a soma dos pesos distribuídos de acordo com seus efeitos (Tabela 4).

O grau de impacto de cada caverna foi calculado com base na soma do peso final dos seus impactos. Foram criadas quatro categorias com base na caverna que obteve maior valor para a soma dos impactos. A primeira categoria (baixo) foi de zero a 12,5% do maior valor obtido para a soma dos impactos e recebeu peso ”1”; a segunda categoria (médio) recebeu peso “2” e vai de 12,6 a 25% do maior valor obtido; a terceira categoria (alto) recebeu peso “3” e vai de 25,1% a 50% do maior valor, e finalmente a quarta categoria (extremamente alto) recebe peso “4” e enquadra todas as cavernas que somam 50,1% ou mais do valor de referência.

Categoria de Vulnerabilidade das cavernas e sua fauna

Para definir as categorias de vulnerabilidade em que as cavernas e sua fauna se inserem, a relevância biológica e o grau de impacto foram somados e redistribuídos em quatro categorias. As cavernas que somaram dois pontos foram categorizadas como de baixa vulnerabilidade, as que somaram três ou quatro pontos foram categorizadas como de média vulnerabilidade, cinco ou seis pontos de alta vulnerabilidade e sete ou oito pontos extremamente alta vulnerabilidade.

Definição das cavernas e áreas prioritárias para conservação

As cavernas prioritárias para conservação foram definidas com base nos valores de extremamente alta vulnerabilidade, apontadas pelo Índice de Prioridade para Conservação de Cavernas - iPCC. As áreas prioritárias para conservação, por sua vez, foram baseadas nas cavernas que apresentaram vulnerabilidade extremamente alta, possuem destaque regional ou são frequentemente utilizadas por espeleólogos e pela comunidade de entorno.

Optamos por utilizar o mesmo critério adotado por Simões e colaboradores (2014) para definir as cavernas prioritárias para conservação do Centro-norte de Minas Gerais, para facilitar as medidas práticas e políticas de conservação, uma vez que os dois trabalhos

abordam regiões justapostas, pertencentes a um mesmo grupo carbonático e à mesma bacia hidrográfica.

Comparação de índices

A fim de analisar a aplicabilidade dos três últimos índices utilizados para a conservação de cavernas no Brasil, que foram propostos por Donato et al. (2014) (Índice de Status de Conservação), Simões et al. (2014), Souza-Silva et al. (2015) (Índice de Prioridades para Conservação de Cavernas), utilizamos informações do presente estudo, que contempla 51 cavernas na região centro-norte de Minas Gerais e dez outros estudos que englobam cavernas de Norte a Sul do Brasil (Zeppelini Filho et al. 2003, Rheims e Franco 2003, Zampaulo 2010, Bento 2011, Souza-Silva et al. 2011b, 2011c, Souza 2012, Donato et al. 2014, Simões et al. 2014, Gallão e Bichuette 2015). No total obtivemos a riqueza de 578 cavernas inventariadas de norte a sul do Brasil, das quais, mais da metade se concentra nos estados da região sudeste do país.

RESULTADOS

Documentos relacionados