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Proposta provoca reação de entidades

Foto 3.3 e Foto 3.4 Sedimentos originários da erosão do Jd Jussara depositados no baixo curso do córrego do Sobrado (2001) e Erosão Córrego Sobrado em 2005.

3.2. Materiais tectogênicos e aterros de erosões

Conforme levantamento em campo, entrevistas e pesquisas bibliográficas, a utilização das erosões enquanto depósito de lixo e entulho sempre foi uma prática constante em Bauru. A situação começou a inverter-se após o ano de 1994 quando a questão relativa às erosões começou a contar com uma certa preocupação técnica, ambiental e de política pública e ação social. Para o controle e acompanhamento do processo de voçorocamento da cidade, o município contratou os serviços de consultoria do geólogo Nariagui Cavagutti, docente aposentado da Universidade Estadual Paulista, que catalogou as erosões na cidade. Esse geólogo, em entrevista concedida no dia 23/06/2006, para fins deste trabalho, fez o seguinte depoimento:

“Esta questão do lançamento de lixo nas erosões e voçorocas já foi uma prática corriqueira por parte do poder público, inclusive sendo motivo de meu interesse em estudar e pesquisar o tema, pois como Eu estudava a questão do aqüífero Bauru para o abastecimento urbano de água, passei a me preocupar com as erosões, pois nelas eram lançados lixos, que provocam a contaminação da água subterrânea. A partir daí me dediquei à pesquisa de erosões, aterros sanitários e águas subterrâneas. Segundo Cavagutti, as erosões são resultados dos loteamentos realizados sem critérios técnicos, principalmente antes da lei de 1.979. Uma forma de controle das erosões passa por um trabalho de drenagem adequada nos novos loteamentos. Passando a controlar os novos loteamentos, sobram os antigos, onde medidas corretivas de drenagem podem resolver. Cavagutti defende que, o que gera a erosão é a água pluvial, você controlando através da drenagem, o processo erosivo entra em controle”.

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Tabela 3.1 – Microbacias do rio Bauru, bairros, população ano 2000 e voçorocas

BACIA PRINCIPAIS BAIRROS HABITANTES

NA BACIA (CENSO IBGE - 2000)

VOÇOROCA POR BACIA

CÓRREGO DA RESSACA

Jd. Aeroporto, Altos Da Cidade, Jd.América, Jd. Europa Vila Aviação, Vila Serrão, Jd. Estoril,Jd. Europa, Residencial Lago Sul, Jd. Marabá, Jd. Mary, Jd. Paineiras, Pq. Das Nações, Jd. Paulista,

Samambaia, Tivoli 1 e 2, Villagio I, II e III, Spazio Verde, Ilha di Capri

23.559

1 – Jd. América.

CÓRREGO ÁGUA

DA FORQUILHA Jd. Eugênia, V. Independência, Jardins do Sul, Vila Santista, Vila São Francisco, Jd. Shangrilá, Jd. Solange, Jd. Terra Branca,

9.677

CÓRREGO ÁGUA DO SOBRADO

Parque das Andorinhas, Jd. Ferraz, Jd. Gaivota, V. Ipiranga, N.H. Joaquim Guilherme, Jd. Jussara, V. Nipônica, Vila Nova Celina, Jd. Ouro Verde, V. Paraíso, Quinta Ranieri, Parque dos Sabias, Vila Souto, Parque Viaduto, Jd. Vitória,

33.768

2 – Vila Ipiranga, Jd. Jussara.

CÓRREGO ÁGUA DA GRAMA

Chácara Cornélia, Vila Dutra, N.H. Edson Francisco, Vila Falcão, N. H. Fortunato Rocha Lima, V. Industrial 2, V. Industrial, Parque Jaraguá, Nova Esperança, Vila Pacifico, Jd. Prudência, Pq. Real, Pq. Santa Cândida, Pq. Sta. Edwirges, Pque Val de Palmas, Jd. Vânia Maria

66.524

9 Erosões 3 –J. da Grama 3 – N. Bauru 16 1-Parque Sta Edwirges 1- Jd. Vânia Maria 1 – Jd. Jussara 1 – Pque Jaraguá. Córrego Água do

Castelo Jd. Bela Vista, Distr. Industrial, Vila Garcia, Jd. Godoy, Vila Lemos, Jd. Petrópolis, Pq. Roosevelt, Pque. Sta Cecília, Jd. Santana, Pq. São Geraldo, Vila Seabra, Jd. TV, Pq. Vista Alegre

41.931

2 – Jd. TV e V. Garcia

Córrego do Pau D’

Alho N. Habitacional Gasparini, Parque City, Núcleo Resid. Nova Bauru, Pousada da Esperança. Pousada da Esperança 2, Vila São Paulo.

20.284

2 - Pousada I e Pousada II Córrego Barreirinho Jardim Araruna, N. Habitacional Beija Flor, Jd.

Florida, Jd. Ivone, N. Hab. Mary Dota, N. Hab. Nobuji Negasawa, Residencial Nova Florida, Jd. Pagani, Vila Santa Luzia, Jd. Silvestri

23.284

1 – Jd. Ivone

Córrego Vargem

Limpa Jd. Chapadão, Pq. Giansante, N. Hab. Isaura Pita Garms, N. Hab. M. Dota, Jd. Mendonça, Quinta

Bela Olinda, Chácara S.João, 12.210

Quinta Bela Olinda, N. Hab. Isaura Pitta Garns, Ribeirão Vargem

Limpa Vila Aumorés, Bairro Tangarás, Pq. Baurum Jd. Country Club, Distrito Industrial I e II, N. Hab. José Regino, Pq. Julio Nóbrega, Jd. Manchester, Jd. Nova Bauru, N. Hab. Otévio Rasi, N. Hab. Pastor Arlindo, Pq. Paulista, Pq. Sta. Terezinha

22.011

2 – Núcleo Otávio Rassi, Distrito Industrial

Córrego Água

Comprida Vila Aviação, Pq. Camélias, V. Cárdia, V. Monlevade, Jd. Carolina, V. Carolina, Jd. Colonial, Jd. Contorno, Jd. Cruzeiro do Sul, V. Engler, N. Hab. Presidente Geisel, Jd. Guadalajara, Jd. Marambá, Jd. Nicéia, Resid. Odete, Resid. Tavano, `q. Paulistano, Jd. Redentor, Jd. Samburá, Jd. Santos Dumont

31.717

5

1- Jd. Carolina

3 -Gleba Família Duque, 1- Horto Florestal

Córrego das Flores

(Nações Unidas) Vila Antarctica, Jd. Brasil, Vila Cárdia, Higienópolis, Jd. Panorama, Vila Universitária

17.117

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Embora com a preocupação da necessidade de um tratamento técnico para essa séria questão ambiental, usar erosões como destino de materiais tectogênicos, principalmente entulhos de construção civil, que muitas vezes vão acompanhados de lixo domésticos e restos vegetais, continua sendo uma prática para controle e combate do fenômeno erosivo, por parte da administração pública municipal. Mas como é de conhecimento público, o lançamento de entulhos para aterrar erosões não tem nada de técnico nem de correto.

Praticamente, as voçorocas distribuídas por toda parte da cidade, bem como tentativas de controle e contensão dessas erosões são desastrosas, com o emprego de medidas paliativas ou daquelas totalmente desaconselháveis, como aterros com depósitos tectogênicos, composto por resíduos de construção e demolição e resíduos volumosos, pois, além de não controlarem adequadamente o processo, provocam a contaminação dos mananciais superficiais e subterrâneos e ainda geram terrenos com características geotécnicas indesejáveis, sem função alguma, uma vez que os materiais citados não propiciam a compactação do solo, além do que os materiais orgânicos se decompõem, aumentando o potencial de riscos e danos ambientais futuros. Soma-se a isto o lixo que é lançado pelas empresas de coletas de entulhos, pela população e os esgotos sanitários “in natura”, transformando a erosão em focos de doenças, degradando mais ainda o meio, vindo a comprometer a sustentabilidade da área. O lançamento de resíduos sólidos, formados por dejetos é inadequado e não demonstra eficiência no controle das voçorocas, além de que, grande parte desses materiais é carreada para a rede hidrográfica principal. A maioria das erosões e voçorocas está conectada a cabeceiras de redes hidrográficas, contribuindo para o seu assoreamento, e, por conseqüência, para a do rio Bauru também. Essa medida de controle das erosões, com lançamento de entulhos em sua borda e em seu interior, sem um estudo técnico, somente tende a mascarar os danos ambientais em evidência, não promovendo a sua solução.

O depoimento do padre AOKI, que durante a campanha da Fraternidade de 2004, realizada pela Igreja Católica, com o tema “Água.- Fonte de Vida”, mostra-se engajado nas denúncias de danos ambientais envolvendo erosões em área de nascentes, disse ele que: “havia comprado um terreno para construção de um templo na periferia. Logo iniciou-se

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um processo erosivo que levou todo o terreno e nos barrancos haviam resíduos de plásticos e outros materiais que haviam sido utilizados no aterro da erosão”. Ou seja, aterraram a erosão com lixo, lançaram terra por cima, plantaram grama e venderam o terreno.

Esta prática ainda continua. A única diferença é que, até o início da década de 1990, utilizava as erosões como lixões. Atualmente, com o argumento que não existe uma usina para reciclagem de entulhos e a necessidade de controlar as erosões, a prática, ou melhor, política ambiental é: dar destino ao entulho e aterrar as erosões. Mesmo sabendo que a técnica não era adequada, em reuniões promovidas pela Secretaria do Meio Ambiente, foram traçadas formas de intervenções, inclusive com a participação da Prefeitura, instalando as galerias pluviais e as empresas de coleta de entulho lançando somente entulhos.

Conforme matéria publicada em 28/11/2001 no Jornal Cidade, com o título “A área escolhida para receber os resíduos de demolição e construção de Bauru, a partir de janeiro, é uma erosão”. Trata-se da erosão localizada no bairro Pousada da Esperança II.

Visando resolver o problema do entulho que era lançado em qualquer local ou erosão, que até então estava a esmo e, em decorrência da não-determinação de locais próprios para depósito de entulhos, existiam e ainda persistem muitos pontos clandestinos, espalhados por toda a área urbana de Bauru, onde são despejados resíduos de construção e demolição. Posteriormente, tais locais acabam tornando-se lixões a céu aberto, já que restos de lixo, animais mortos e outros materiais são acumulados no local. Em outros casos, o material é depositado sem critério nenhum, o que provoca riscos de contaminação dos lençóis freáticos, entre outros. Foram detectados também, em Bauru, depósitos em áreas de preservação permanente, como proximidades de nascentes. Ver foto 3.7.

O local do depósito de entulho se define com a participação de representantes da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semma), da Secretaria Municipal de Planejamento (Seplan), da Empresa Municipal de Desenvolvimento Urbano e Rural de Bauru (Emdurb) e de representantes das empresas transportadoras de entulho, cadastradas na cidade. Estes setores, reunidos, buscam uma solução quanto ao destino do entulho no município através de alternativas que não devem causar danos ao meio ambiente, nem representar desconforto à população vizinha. Após o licenciamento ambiental, para o aterro das erosões com entulhos o planejado não é executado.

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É frisado nos licenciamentos ambientais promovidos pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente que “o local deverá ser cercado e haverá uma vigilância para fiscalizar os materiais depositados no local. A Semma frisa que a erosão receberá apenas resíduos de construção: restos de tijolos, concreto, azulejos e de cerâmica. Não será permitido depositar madeira, galhos, materiais orgânicos, móveis velhos e latas de tinta, entre outros produtos” (JORNAL CIDADE, 28/11/2001). Além da não captação do lençol freático das voçorocas para uma devida drenagem, as empresas coletoras de entulhos não respeitam, o que levam todo tipo de resíduos sólidos e, aos poucos vão aterrando, às vezes queimando materiais diversos, e com isto a erosão é mascarada e o dano ambiental se amplia.

O aterro de erosão com entulho exige critérios técnicos específicos e a solução dada pela Administração Municipal não é, ambientalmente, correta. Porém, os técnicos da Prefeitura, consultores e ambientalistas, autorizam a técnica que poderia ser uma alternativa de emergência, desde que com critérios claros e efetivo controle. Conforme levantamento realizado no ano de 2005, algumas ravinas erosivas já se manifestavam nos locais das erosões que foram aterradas no bairro Pousada da Esperança II. Uma das soluções para o problema das erosões, defendida pela ex- Secretária de Planejamento Municipal, arquiteta Maria Helena Regitano, seria a alteração da topografia nas áreas de erosões. Conforme entrevista realizada em abril de 2006, Maria Helena “considera pertinente drenar e canalizar a água que normalmente surge no fundo dos buracos, realizar o retaludamento do local, retirando a terra das bordas e depositando-a no fundo da erosão, deixando, assim, o local com uma depressão menor e mais ampla.