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MATERIAL E MÉTODOS

13

Para a realização dos exames de potencial evocado auditivo em equinos, foram 14

utilizados 21 animais, 13 machos e oito fêmeas, com idades entre 2 a 12 anos. A pesquisa foi 15

realizada no Laboratório de Eletroneurodiagnóstico do Departamento de Clínica Veterinária, 16

FMVZ, UNESP – Botucatu, e teve início após aprovação pelo Comitê de Ética (protocolo: 17

201/2012). Como critério de seleção dos animais, foi realizada otoscopia para certificar-se de 18

que o conduto auditivo e pavilhão interno apresentavam-se íntegros, sem qualquer alteração 19

que pudesse interferir no resultado do exame. 20

Foi realizado jejum sólido de 12 horas antes do procedimento. Os animais foram 21

sedados com cloridrato de detomidina, (0,013 mg/kg de PV) por via intravenosa. O exame 22

teve início 10 minutos após a sedação. Eletrodos de agulha foram inseridos no subcutâneo em 23

cada base da orelha (O1 e O2- eletrodos ativos), na região frontal (Fpz - eletrodo de 24

refêrencia) e sobre o vértice da cabeça (Cz - eletrodo terra) (fig., 1). Foram utilizados filtros 25

com banda passante de 200 a 3.000 Hz, sensibilidade de 2,5 µV/cm e varredura de 1 ms/cm. 1

Foram utilizados fones de inserção para a emissão dos estímulos sonoros. Foram utilizados 2

cliques de rarefação de com 2 ms de duração e intensidade de 90 dB na orelha testada e na 3

orelha contralateral, um ruído de mascaramento com intensidade de 40 dB. Em cada lado, 4

foram obtidas pelo menos duas séries de 500 promediações utilizando-se equipamento Viasys 5

Healthcare®, modelo Teca Synergy de 2 canais. 6

Em cada teste foram medidas as latências absolutas em milissegundos das ondas I, III 7

e V, bem como os intervalos I-III, III-V e I-V para cada lado. A obtenção dos valores permitiu 8

calcular e interpretar as médias e os desvios padrões das variáveis. Foram comparados (teste T 9

pareado) os valores obtidos dos lados direito e esquerdo e entre machos e fêmeas. 10

RESULTADOS

11

A figura 2 ilustra o potencial evocado auditivo obtido de um equino adulto. A tabela 1 12

representa os valores das médias, mínimo e máximo e desvios padrões das ondas I, II, III, IV 13

e V e interpicos I-III, IIII-V e I-V de 21 animais em uma intensidade de 90 dB. 14

Não houve diferença estatística quando foram comparados os valores de latência 15

obtidos do lado esquerdo e direito dos animais. Com exceção da onda III (P=0,0082), as 16

demais ondas e os interpicos não apresentaram diferença estatística significativa (P≥0,05) 17

quando os valores obtidos para machos e fêmeas foram comparados. 18

19

DISCUSSÃO

20

Apesar de não ter sido observado relatos do uso do BAEP em equinos no Brasil, o 21

exame tem sido utilizado para diferentes finalidades em outros países. Em 2008, ALEMAN et 22

al. (2008) utilizaram o BAEP para diagnóstico de surdez em cavalos com osteoartropatia do 23

tempohioídea (THO). ALEMAN et al. (2014a) identificaram deficiência auditiva em 57 24

equinos, após realizarem o BAEP em 76 animais. As causas mais comuns de alteração do 25

BAEP foram THO, surdez neurossensorial congênita em cavalos Paint Horse, doença cerebral 1

multifocal e otite média/ interna. HARLAND et al. (2006) também descreveram o uso do 2

BAEP para o diagnóstico de surdez em um equino da raça Paint Horse com área de 3

despigmentação na face e coloração azul da íris. ALEMAN et al. (2014b) associaram 4

alterações nos potenciais de potros com doenças como sepse, encefalopatia neonatal, 5

isoeritrólise neonatal e prematuridade. Os resultados obtidos no presente estudo serão 6

utilizados como referência para comparar com as latências obtidas de equinos com diferentes 7

alterações nas vias auditivas. 8

Os valores das latências obtidos no presente estudo foram semelhantes aos obtidos por 9

ALEMAN et al. (2014 a) tais como a onda I 2,12 (0,06); III 3,61 (0,17); V 5,36 (0,16), dos 10

interpicos I-III 1,40 (0,15); III-V 1,74 (0,15) e I-V 3,14 (0,12). A onda I no BAEP realizado 11

em equinos demorou 1,0 ms a mais para percorrer as estrutura do fone de ouvido e chegar na 12

orelha do animal quando comparados com resultados de outros autores (MAYHEW & 13

WASHBOURNE, 1990, 1992, 1997; MAYHEW, 2003). Essa possível diferença pode ser 14

justificada pelo atraso não qualificado no fone de ouvido em comparação ao uso do fone de 15

ouvido externo (MAYHEW & WASHBOURNE, 1992). 16

Existem fatores que podem influenciar a variação dos resultados do BAEP, como os 17

descritos por Wilson & Mills (2005). Esses autores descrevem a idade, o sexo, raça, e o 18

tamanho da cabeça entre as espécies. Quanto maior a cabeça do animal maior o tempo 19

necessário para se obter uma resposta ao estímulo gerado. A raça não foi um critério utilizado 20

para a seleção dos animais, por isso não foi investigada. No presente estudo, quando foram 21

comparadas as latências de machos e fêmeas, apenas a onda III foi estatisticamente maior em 22

machos. Como não houve diferença estatística para as outras latências, este aumento pode não 23

ter influência clínica. 24

WILSON et al. (2011) descrevem a utilização do BAEP para o diagnóstico de surdez 1

em equinos idosos. No seu estudo foram utilizados nove cavalos, sendo cinco jovens e quatro 2

idosos. Estímulos com intensidades de 90 a 20 dB foram utilizados. Quando comparado os 2 3

grupos, o grupo de animais mais velhos apresentou piores limiares auditivos e amplitude para 4

a onda V em uma intensidade de estímulo a 90 dB. No presente estudo, foram selecionados 5

animais com idades entre 2 e 12 anos, para que a idade não interferisse nas latências obtidas e 6

a variação na intensidade deo estímulo não foi realizada. 7

Existem alguns fármacos como os aminoglicosídeos (CROWELL, 1981; 8

NOSTRANDT, 1991) que podem apresentar efeito tóxico, afetando as células ciliadas da 9

cóclea, alterando os resultados do BAEP. Neste estudo, apesar do histórico dos animais sobre 10

e uso de medicações prévias não ser conhecido, nenhum dos 21 equinos testados apresentou 11

qualquer alteração no traçado, descartando a possibilidade de qualquer alteração na via 12

auditiva. 13

Alguns anestésicos podem alterar a latência e amplitude das ondas (Wilson e Mills, 14

2005), porém, eles podem ser usados para facilitar a captação e interpretação dos resultados 15

(POMIANOWSKI E ADAMIAK, 2010). A detomidina foi utilizada para registro do BAEP 16

em equinos por outros autores, sem interferir nos resultados obtidos (MAYHEW E 17

WASHBOURNE, 1990; HARLAND et al., 2006; MAYHEW E WASBOURNE,1992; 18

MAYHEW E WASHBOURNE,1997; WILSON et al., 2011). Como os equinos ficam 19

agitados com a manipulação das orelhas e com o posicionamento dos fones intra-auriculares, 20

a sedação permitiu o registro de potenciais com menor interferência e estresse para os 21 animais. 22 23 CONCLUSÃO 24

De acordo com a revisão de literatura realizada, este é o primeiro estudo de 1

normatização da técnica para equinos desenvolvido no Brasil, sendo de grande importância no 2

diagnóstico de alterações auditivas que não são identificadas clinicamente. A partir dos 3

resultados obtidos e nas condições em que o experimento foi realizado, foi possível concluir 4

que o BAEP é um exame útil e seguro para avaliação da atividade elétrica da via auditiva de 5

equinos. O baixo valor do desvio padrão das ondas associado à alta repetibilidade do exame 6

mostra a confiabilidade nos resultados obtidos. 7

8

AGRADECIMENTO

9

Os autores agradecem o apoio fornecido pela Fapesp na forma de auxílio (Processo 10 2010/00518-1). 11 12 13 REFERÊNCIAS 14

ALEMAN, M. et al. Brainstem Auditory-Evoked Responses in Horses with Temporohyoid 15

Osteoarthropathy. Journal of Veterinary Internal Medicine, v.22, p.1196–1202, 2008. 16

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2014a. 19

ALEMAN, M. et al. Brainstem Auditory Evoked Responses in an Equine Patient Population. 20

Part II: Foals. Journal of Veterinary Internal Medicine, v.28, n.13, p.1318-1324, 2014b. 21

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8 9 10 11 12 13

1

Figura 10. Posicionamento dos eletrodos para realização do BAEP. A) eletrodo terra, B) 2

eletrodo de referência, C) e eletrodo ativo. 3

4

Figura 2. BAEP de um animal normal. A) Lado esquerdo. B) Lado direito. Note a 5

identificação das ondas I, II, III, IV e V (divisão vertical: 1µV; divisão horizontal: 1 ms). 6

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Tabela 1: Médias, mínimos, máximos e desvios padrão das latências das ondas (I, II, III, IV e V) e interpicos (I-III, III-V e I-V) em uma intensidade de 90 dB em 21 equinos.

Latência Média (ms) Mínimo - Máximo (ms) Desvio padrão

I 2,24 2,1 – 2,34 0,06 II 2,74 2,58 – 2,92 0,08 III 3,61 3,36 – 3,88 0,12 IV 4,61 4,22 – 4,86 0,17 V 5,49 5,24 – 5, 92 0,15 I-III 1,37 1,16 – 1,64 0,11 III-V 1,88 1,46 – 2,18 0,16 I-V 3,26 2,98 – 3,7 0,16

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