• Nenhum resultado encontrado

INCREMENTA A COLORAÇÃO DE UVAS E VINHOS DA CULTIVAR CABERNET SAUVIGNON

4.3 MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi realizado na safra 2012-2013, no Estado do Rio Grande do Sul, na Serra Gaúcha, importante pólo produtor de uvas, vinhos e sucos, no município de Pinto Bandeira (latitude 29º 08’,

longitude 51º 26’ e 700 metros de altitude). O vinhedo utilizado foi implantado em 1999, com a cultivar Isabel, da espécie Vitis labrusca.

Na área experimental o delineamento adotado foi de blocos ao acaso com cinco repetições. Antes da realização da aplicação foi realizada desfolha e a aplicação de ABA foi feita diretamente nos cachos. Foram aplicados cinco doses de ácido abscísico (0; 200; 400; 600 e 800 ppm) uma única vez, na virada de cor (veraison) quando 50% das bagas ou mais estavam rosadas.

No momento da colheita, foram realizadas as avaliações das características físicas das bagas e químicas do mosto das uvas, e a partir das cascas, foi avaliada a composição fenólica. Para tanto, foram coletadas amostras de 100 bagas por parcela, aleatoriamente de diferentes posições dos cachos. Para avaliação de massa das bagas foi efetuado o peso de 100 bagas de cada repetição com auxílio de balança de precisão e para diâmetro das bagas foram utilizadas 20 bagas de cada repetição, com auxilio de paquímetro.

A concentração de sólidos solúveis (oBrix) foi determinada por refratometria, com refratômetro portátil digital de bancada, modelo RTD-45, marca Digital Refractometer. A acidez total (% ácido málico) foi determinada através de uma amostra 5 mL de mosto, diluída em 5 mL de água destilada, sendo realizada a titulação com solução de NaOH a 0,1 N. A determinação do potencial hidrogeônico (pH) foi realizada a 25ºC em potenciômetro marca Imbrac, calibrado com soluções padrão de pH 4,00 e 7,00.

Para extração dos compostos para análise de polifenóis e antocianinas foram pesadas 40 g de casca de uva e adicionados 16 mL de metanol a 50%, colocando-se em estufa a 30 ºC, por 24 horas, retirando-se o sobrenadante após esse período. A seguir as cascas passaram por extração fria, adicionando-se 16 mL de metanol a 50%, armazenadas em refrigerador a -3 ºC, por 24 horas. Após esse período, o sobrenadante foi novamente coletado e misturado com o extraído anteriormente. O extrato foi mantido em geladeira até o momento da análise.

A concentração de antocianinas extraíveis foi estimada segundo a metodologia proposta por Ribéreau-Gayon; Stonestreet (1965) apud Ribéreau-Gayon et al. (1998), método químico baseado na propriedade característica das antocianinas, as quais variam sua cor de acordo com o pH. O método que mensura a diferença da densidade óptica na absorbância da onda de 520 nm (D.O.520), Δd’ = d’1 - d’2, em uma cubeta de quartzo de 10,01 mm de percurso óptico. Este método

prevê a preparação das amostras para leitura em espectrofotômetro d’1 e d’2. A primeira amostra (d’1), é composta por 1 mL de solução extrato, 1 mL de etanol, 0,1% HCl e 10 mL de HCl 2% (pH = 0,8). A segunda (d’2) contém 1 mL de solução extrato, 1 mL de etanol 0,1% HCl e 10 mL de solução tampão [pH = 3,5 (303,5 mL de fosfato dissódico 0,2M + 696,5 mL de ácido cítrico 0,1M)]. Mediante a fórmula AE (mg L-1) = 388*Δd’, obtém-se a quantidade de antocianinas facilmente extraíveis em miligrama por litro. A determinação dos polifenóis totais foi realizada pelo método descrito por Singleton e Rossi (1965), utilizando o reagente Folin-Ciocalteau, e as concentrações foram determinadas utilizando-se uma curva de calibração com ácido gálico (mg L-1 de mosto).

Para elaboração do suco de uva integral da cultivar Isabel, após a colheita da uva foi realizada a separação das bagas e da ráquis e em concomitante seleção das bagas sadias. O suco de uva integral, apresentado na sua concentração e composição natural, límpido ou turvo, sem adição de açúcar, foi elaborado à partir de três quilogramas de uva por repetição. Foi utilizada uma panela extratora de suco à vapor e manualmente realizando-se o engarrafamento e rotulagem das garrafas que após foram encaminhadas para análise de cor, antocianinas e polifenóis.

As variáveis analisadas foram submetidas à análise de regressão polinomial em função das diferentes doses de ácido abscísico aplicadas.

4.4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Pode-se observar na figura 1, que houve incremento linear de antocianinas, de 80% com a dose de 800ppm de ABA e de 48% com a dose de 600 ppm de ABA, demonstrando que o ácido abscísico induz o aumento da pigmentação das bagas pelo aumento da concentração de antocianinas.

Hiratsuka et al. (2001) em trabalho realizado in vitro com a cultivar Olympia (Vitis labruscana Bailey) também observaram o aumento da biossíntese de antocianinas com a aplicação exógena de ABA. Os resultados obtidos concordam com os dados observados por Shandhu et al. (2011), que avaliaram a aplicação de ácido abscísico durante o veraison e após o veraison, nas cultivares ‘Nobles’ e ‘Alachua’ (Vitis rotundifolia), obtendo que o tratamento com ácido abscísico aumentou o conteúdo de polifenóis e antocianinas.

Figura 1 – Antocianinas nas cascas da cultivar Isabel submetida a diferentes doses de ácido abscísico. Pinto Bandeira, 2013. y = 0,3353*x + 303,28 R² = 0,8605 200 300 400 500 600 700 0 200 400 600 800 A nt oc ia ni na s (m g L -1 m al vi di na -3 -g lu co si de ) Doses de ABA (ppm)

Fonte: Sabrina Lerin

Verifica-se comportamento polinomial para o diâmetro das bagas na medida em que aumentam-se as doses de ácido abscísico aplicadas, conforme pode ser observado na figura 2.

Figura 2 – Diâmetro das bagas da cultivar Isabel submetida a diferentes doses de ácido abscísico. Pinto Bandeira, 2013.

y = -3E-06x2+ 0,002x + 16,51 R² = 0,989 16,4 16,6 16,8 17 17,2 17,4 0 200 400 600 800 D iâm et ro de b aga s ( cm ) Doses de ABA (ppm)

Os resultados para o suco de uva foram semelhantes aos observados nas análises das cascas das bagas, com incremento linear positivo para polifenóis (Figura 3).

Na figura 3, verifica-se que a manutenção de 95% a mais de polifenóis no suco que a testemunha com a dose 800 ppm de ABA e de 119% com a dose de 600 ppm de ácido abscísico.

Figura 3 – Polifenóis totais presentes no suco da cv. Isabel submetida a diferentes doses de ABA. Pinto Bandeira, 2013.

y = 1,4606*x + 1064,6 R² = 0,8415 500 1000 1500 2000 2500 0 200 400 600 800 P ol if en ói s T ot ai s ( m g L -1 eq ui va le nt es de á ci do g ál ic o) Doses de ABA (ppm)

Fonte: Sabrina Lerin

Observa-se que o teor de polifenóis totais atinge um ponto máximo de concentração com a aplicação da dose de 600 ppm de ABA (Figura 3), no entanto, a quantidade de antocianinas apresenta tendência de aumento além da dose de 800 ppm de ABA (Figura 4).

Com isso, doses além de 800 ppm de ácido abscísico podem ser testadas a fim de se obter a concentração ideal que propicie o máximo de teor de antocianinas.

Conforme figura 4, verifica-se que para o teor de antocianinas houve incremento linear positivo no suco de uva integral da cultivar Isabel com manutenção no suco de 70% para 800 ppm e de 50% para a dose de 600 ppm de ácido abscísico.

Figura 4 – Antocianinas presentes no suco da cv. Isabel submetida a diferentes doses de ABA. Pinto Bandeira, 2013.

y = 0,1471*x + 203,04 R² = 0,9183 150 200 250 300 350 0 200 400 600 800 A nt oc ia ni na s (m g L -1 m al vi di na -3 -g lu co si de ) Doses de ABA (ppm)

Fonte: Sabrina Lerin

Na tabela 1, nas demais variáveis analisadas não foram detectadas diferenças significativas entre os tratamentos. Shandhu et al. (2011) verificou que a aplicação de ácido abscísico não alterou a massa das bagas, a quantidade de sólidos solúveis e o potencial hidrogeônico do mosto (pH) nas cultivares ‘Noble’ e ‘Alachua’ em experimento conduzido na Flórida, Estados Unidos..

Tabela 1 – Massa de bagas (M), sólidos solúveis (SS), acidez total (AT), pH, polifenóis totais nas cascas (PTC - equivalentes de ácido gálico), intensidade da cor nas cascas (ICC) e do suco (ICS) da cultivar Isabel tratada com diferentes doses de ácido abscísico. Pinto Bandeira, 2013.

Dose ppm M g SS °Brix AT

meqL-1 pH mg.LPTC -1 ICC ICS 0 310,6* 14,5* 19,6* 3,74* 853,6* 5,6* 4,7* 200 315,1 14,7 22,2 3,88 926,9 6,4 6,9 400 321,8 15,2 21,4 3,74 796,0 5,8 6,6 600 310,1 14,7 27,4 3,55 886,9 6,9 7,0 800 310,1 14,9 20,7 3,74 1057,4 7,9 7,6 CV(%) 1,5 1,7 14,6 3,9 8,8 7,8 10,3

Os resultados positivos obtidos nas cascas com a aplicação de ABA se repetiram no suco, pois houve aumento da quantidade de polifenóis totais (Figura 3) e aumento na quantidade de antocianinas (Figura 4) e na intensidade de cor, como pode ser observado na tabela 1.

O incremento de cor no suco integral de ‘Isabel’ foi de 61% em comparação à testemunha com a dose de 800 ppm de ácido abscísico, enquanto o incremento da quantidade de polifenóis totais foi de 23% na mesma dose.

Na tabela 2 são apresentadas as condições climáticas durante o período de realização do experimento para o município de Pinto Bandeira, podendo-se verificar a alta quantidade de chuva para os meses de fevereiro e março, bem como a diminuição da temperatura em março. Tabela 2 - Condições climáticas durante o período experimental: T° Máx. (temperatura máxima média), T° Mín. (temperatura mínima média), P.P. (precipitação pluviométrica total). Pinto Bandeira, safra 2012/2013. Meses T° Máx. T° Mín. P. P. (mm) Outubro/12 Novembro/12 23 25,8 13,4 13,7 183,8 35,2 Dezembro/12 22 21 213,6 Janeiro/13 20,2 19 106,6 Fevereiro/13 20,5 19,5 159,2 Março/13 17,6 16,8 180,2 Média 21,5 17,2 146,4

Fonte: Estação Metereológica Automática Don Giovanni, Pinto Bandeira, RS – (Lat. 29° 08’S, Lon. 51° 26’W e alt. 713 m).

As melhores safras para a viticultura na Serra Gaúcha ocorrem em anos com menor precipitação e maior incidência de radiação, possibilitando melhores condições de maturação às uvas (PEDRO JÚNIOR, 2006).

Mandelli, (1998) relata que durante o período de maturação, dias ensolarados e com baixa precipitação são imprescindíveis para a obtenção de uvas sadias e com equilibrada relação açúcar/acidez, características essenciais para que se possam elaborar bons vinhos. Essas mesmas condições também são necessárias para elaborar sucos de boa qualidade.

4.5 CONCLUSÕES

A aplicação exógena de ácido abscísico proporciona aumento dos doses de polifenóis, antocianinas e intensidade de cor na uva Isabel e no suco produzido a partir desta cultivar.

A aplicação exógena de ABA não altera as características físico-químicas das bagas da uva ‘Isabel’. A aplicação exógena de ácido abscísico proporciona um aumento dos doses de polifenóis, antocianinas e intensidade de cor, tanto na uva ‘Isabel’ como suco produzido a partir desta cultivar.

A aplicação exógena de ABA não altera as características físico-químicas das bagas da uva ‘Isabel’.

O suco de uva é indicado para todas as pessoas que procuram uma fonte de antioxidantes na alimentação.

4.6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CAMARGO, U. A.; MAIA, J. D. G.; RITSCHEK, P. Novas cultivares

brasileiras de uva. Bento Gonçalves: Embrapa Uva e Vinho, 64 p.,

2010.

CATTERALL, S.; SOUQUET, J. M.; CHEYNIER, V.; CLIFFORD, M. N.; IOANNIDES, C. Modulation of the mutagenecity of food

carcinogens by oligomeric and polymeric procyanidins isolated from grape seeds: synergistic genotoxicity with nitrosopyrrolidin. Journal of

the Science of Food and Agriculture, v.80, p. 91–101, 2000.

COOPER, K. A.; CHOPRA, M.; THURNHAM, D. I. Wine polyphenols and promotion of cardiac health. Nutrition Research Reviews, v.17, p. 111–129, 2004.

DÁVALOS, A.; BARTOLOMÉ, B.; GÓMEZ-CORDOVÉS, C. Antioxidant properties of commercial grape juices and vinegars. Food

DEMBINSKA-KIEC, A.; MYKKÄNEN, O.; KIEC-WILK, B.;

MYKKÄNEN, H. Antioxidant phytochemicals against type 2 diabetes.

British Journal of Nutrition, v.99, p.ES109–ES117, 2008.

FREDERIKSEN, H.; MORTENSEN, A.; SCHRODER, M.;

FRANDSEN, H.; BYSTED, A.; KNUTHSEN, P.; RASMUSSEN, S. E. Effects of red grape skin and seed extract supplementation on

atherosclerosis in Watanabe heritable hyperlipidemic rabbits. Molecular

Nutrition and Food Research, v.51, n.5, p.564–571, 2007.

GUILFORD, J.; PEZZUTO, J. M. Wine and health: A review.

American Journal of Enology and Viticulture, Davis, v.62, p.471– 486, 2011.

HIRATSUKA, S.; ONODERA, H.; KAWAI, Y.; KUBO, T.; ITOH, H.; WADA, R. ABA and sugar effects on anthocyanin formation in grape berry cultured in vitro. Scientia Horticulturae, Amsterdam, v. 90, n.1- 2, p.121-130, 2001.

IACOPINI, P., BALDI, M., STORCHI, P. AND SEBASTIANI, L. Catechin, epicatechin, quercetin, rutin and resveratrol in red grape: Content, in vitro antioxidant activity and interactions. Journal of Food

Composition and Analaysis, v.21, p.589– 598, 2008.

MANDELLI, F. Comportamento do Clima da Serra Gaúcha e sua influência na vindima de 1998. Embrapa: Comunicado Técnico, n.31, p.1-4, 1998.

MULLEN, W.; MARKS, S. C; CROZIER, A. Evaluation of phenolic compounds in commercial fruit juices and fruit drinks. Journal of

PASCUAL-TERESA, S. de; SANCHEZ-BALLESTA, M. T.

Anthocyanins: from plant to health. Phytochemistry Reviews, USA, v. 7, n. 2, p. 282-299, 2008.

PEDRO JUNIOR, M. J.; PEZZOPANE, J. R. M.; HERNANDES, J. L.; ABRAMIDES, P. L. G. Sistemas de condução da videira ‘Niágara Rosada’: efeitos na transmissão da radiação solar e na produtividade.

Revista Brasileira de Agrometeorologia, Santa Maria, v.14, n.1, p.1-9,

2006.

RIBEREAU-GAYON, P.; GLORIES, Y. ; MAUJEAN, A. ;

DUBOURDIEU, D. Traité dóenologie. 2. Chimie du vin:stabilisiation

et traitements. Paris: Dumond. v.2, 1998, 519 p.

SATO, A. J.; SILVA, B. J. da; SANTOS, C. E. dos; BERTOLUCCI, R,; SANTOS, R. dos; CARIELO, M.; GUIRAUD, M. C.; FONSECA, I. C. de B.; ROBERTO, S. R. Características físico-químicas e produtivas das uvas ‘Isabel’ e ‘BRS-Rúbea’ sobre diferentes portaenxertos na região norte do Paraná. Revista Brasileira de Fruticultura, Jaboticabal, v.30, n.2, p.553-556, 2008.

SINGLETON, V.L.; ROSSI, J.A. Colorimetry of total phenolics with phosphomolybdic-phosphotungstic acid reagent. American Journal of

Enology and Viticulture, Davis, v.16, p.144-158, 1965.

SHANDHU, A. K.; GRAY, D. J.; LU, J.; GU, L. Effects of exogenous abscisic acid on antioxidant capacities, anthocyanins, and flavonol contentes of muscadine grape (Vitis rotundifolia) skins. Food

Chemistry, USA, v.126, n.3, p.982-988, 2011.

TERRA, X.; VALLS, J.; VITRAC, X.; MÉRRILLON, J. M.; AROLA, L.; ARDÈVOL, A.; BLADÉ, C.; FERNANDEZ-LARREA, J.;

PUJADAS, G.; SALVADÓ, J.; BLAY M. Grape-seed procyanidins act as anti-inflammatory agents in endotoxin-stimu lated RAW 264.7

macrophages by inhibiting NFkB signaling pathway. Journal of

Agricultural and Food Chemistry, v.55, p. 4357–4365, 2007.

YOUNG, I. S.; WOODSIDE, J. V. Antioxidants in health and disease.

Journal of clinical pathology, v. 54, n.3, p.176-186, 2001.

ZERN, T. L.; WOOD, R. J.; GREENE, C.; WEST, K. L.; LIU, Y.; AGGARWAL, D.; SHACHTER, N. S.; FERNANDEZ, M. L. Grape polyphenols exert a cardioprotective effect in pre- and postmenopausal women by lowering plasma lipids and reducing oxidative stress.

5 CAPÍTULO 3 - APLICAÇÃO DE ÁCIDO ABSCÍSICO

Documentos relacionados