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INCREMENTA A COR DAS BAGAS DA UVA RUBI EM DUAS REGIÕES NO SUL DO BRASIL

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.2 VARIEDADES DE VIDEIRA AVALIADAS

2.2.1 Cabernet Sauvignon

É uma cultivar vinífera clássica, pois é cultivada em todas as regiões vitícolas do mundo (Vitis vinifera L.). Proveniente da região de Bordeaux, na França, a Cabernet Sauvignon é resultado de um bem sucedido cruzamento natural entre a cultivar Cabernet Franc (Cabernet) com a cultivar Sauvignon Blanc (Sauvignon) cultivada com êxito em muitas regiões vitícolas (LAROUSSE DO VINHO, 2007).

Com o aumento da produção de vinhos varietais tornou-se a vinífera tinta mais importante e com maior área cultivada do Estado do Rio Grande do Sul. É uma cultivar muito vigorosa e medianamente produtiva. Em vinhedos bem conduzidos obtêm-se uvas aptas à elaboração de vinhos típicos, que podem evoluir em qualidade com alguns anos de envelhecimento (KUHN, 2003; GUERRA et al. 2009).

O vinho de ‘Cabernet Sauvignon’ é mundialmente reputado pelo seu caráter varietal, com intensa coloração, riqueza em taninos e complexidade de aroma e buquê (GUERRA et al. 2009). Evolui com o envelhecimento, atingindo sua máxima qualidade desde dois a três anos até cerca de vinte anos em determinadas safras do Médoc, localidade situada na cidade de Bordeaux na França, por exemplo. (CAMARGO, 2003).

2.2.2 Isabel

A ‘Isabel’ é uma das principais cultivares de Vitis labrusca L., originária do Sul dos Estados Unidos, de onde foi difundida para outras regiões. Caracteriza-se por ser rústica e fértil, proporcionando colheitas abundantes com poucas intervenções de manejo em comparação à cultivares viníferas e a regiões de cultivo, possuindo altos valores de sólidos solúveis (MASCARENHAS et al. 2010). Pode ser consumida como uva de mesa, utilizada na elaboração de vinhos brancos, rosados e tintos de mesa, que são vinhos comuns, os quais, muitas vezes, são utilizados para a destilação ou para a elaboração de vinagre. Destaca-se pelo suco de boa qualidade, que é a base do suco brasileiro para exportação e como matéria-prima para a fabricação de doces e geleias (ROMBALDI et al. 2004).

Apesar de destacar-se pela sua alta produtividade e pelo grande potencial de acúmulo de açúcar (SATO et al. 2009), os produtos

elaborados com uvas da cultivar Isabel precisam ser cortados com vinho ou suco de cultivares tintórias para que atinjam a intensidade de coloração que o mercado exige (MAIA, CAMARGO, 2005), visto que a ‘Isabel’ em alguns locais possui problemas de coloração deficiente.

2.2.3 Rubi

A cultivar de mesa Rubi (Vitis vinifera L.) surgiu de uma mutação somática constatada em pomar comercial de uva 'Itália' do Sr. Kotaro Okuyama, em 1972, no município de Santa Mariana, Estado do Paraná. As cultivares tem características de cacho e bagas semelhantes, no entanto, a diferença entre as cultivares é a coloração avermelhada da cultivar Rubi (KISHINO; ROBERTO, 2007). Possui boa aceitação pelo mercado consumidor, tanto nacional quanto internacional, apresentando bom tamanho de bagas, boa resistência ao transporte e ao armazenamento.

No entanto, para que a cultivar apresente uma boa coloração, tanto em tonalidade quanto em uniformidade, o período de maturação deve ocorrer em períodos com amplitude térmica, ou seja, com temperaturas quentes durante o dia e frias durante a noite (NACHTIGAL, CAMARGO, 2005, PEPPI et al. 2006). São comuns problemas com coloração deficiente na cultivar Rubi em vinhedos muito vigorosos e com carga excessiva de frutos, como também a baixa incidência de luz pode causar deficiência da coloração das bagas (KISHINO; ROBERTO, 2007).

2.3 REGIÕES VITIVINÍCOLAS ESTUDADAS

De acordo com o Instituto Brasileiro do Vinho, o IBRAVIN (2014), a produção de uvas no Rio Grande do Sul é uma atividade consolidada, de significativa importância socioeconômica, responsável por cerca de 90% da produção nacional das uvas, vinhos e derivados. A produção de vinhos no Rio Grande do Sul está distribuída nas seguintes regiões: Alto Uruguai, Campos de Cima da Serra, Serra Gaúcha, Serra do Sudeste, Região Central e Região da Campanha.

A Encosta Superior do Nordeste, mais conhecida como Serra Gaúcha abrange alguns dos principais municípios produtores de vinhos finos, vinhos de mesa e suco de uva, como por exemplo, Bento

Gonçalves, Garibaldi, Caxias do Sul, Farroupilha, Pinto Bandeira, Flores da Cunha e Monte Belo do Sul.

A Região dos Campos de Cima da Serra caracteriza-se pela produção de vinhos finos e pode ser representada principalmente pelos municípios de Vacaria, Muitos Capões e Monte Alegre dos Campos.

Localizada na fronteira do Rio Grande do Sul com o Uruguai, a Região da Campanha é uma nova promissora região vitícola para produção de uvas viníferas, representada pelos municípios de Santana do Livramento, Bagé e Dom Pedrito.

2.3.1 Bento Gonçalves

Localizado na Serra Gaúcha, o município de Bento Gonçalves (29°10'S e 51°31'O) pertence a Mesorregião do Nordeste Rio- Grandense, no estado do Rio Grande do Sul. Possui seu relevo é bastante acidentado uma altitude média de 690 metros, atingindo seu ponto mais alto a 720 metros acima do nível do mar. O clima da cidade é classificado como subtropical de altitude, com temperaturas médias mínimas de 8°C e médias máximas de 17°C, com uma precipitação pluviométrica média anual de 1.500 milímetros.

Conhecida como "capital brasileira do vinho", Bento Gonçalves se configura como a maior produtora de uva do Rio Grande do Sul, e o maior produtor de vinhos e derivados de uva do Brasil, destacando-se no cenário internacional (BENTO GONÇALVES, 2014).

2.3.2 Pinto Bandeira

Assim como Bento Gonçalves, Pinto Bandeira (29°5’S e 51°27’O) pertence à Mesorregião do Nordeste Rio-Grandense

e d

evido à tradição dos imigrantes italianos que colonizaram o município, Pinto Bandeira destaca-se como produtor de uvas e frutas, como o pêssego. Os diferentes microclimas proporcionados pelo relevo acidentado e montanhoso de Pinto Bandeira em conjunto com particulares características de solo, com a utilização de adequadas técnicas de manejo fizeram com que a cidade desponta-se na produção de vinhos finos e de espumantes, tendo importantes empreendimentos vinícolas instalados no município (ASPROVINHO, 2014).

2.3.3 Vacaria

O município de Vacaria localiza-se à latitude de 28º 30’ S e à longitude de 50º 56' O, estando a uma altitude de 971 metros, com clima subtropical (ou temperado), de verões amenos, com temperatura máxima média 25°C e mínima média 15°C. No inverno a temperatura máxima média está em torno de 16°C e a mínima média em torno de 7°C (PREFEITURA DE VACARIA, 2014).

2.3.4 Santana do Livramento

Santana do Livramento localiza-se a latitude 30º 53’ S e a longitude 55º 31' O, em uma altitude de 208 metros, fazendo parte da Região da Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul. Mais recentemente, vem ampliando a produção frutífera, destacando-se como uma das principais regiões em expansão na viticultura, em especial na produção de vinhos tintos elaborados como, por exemplo, a partir da cultivar Cabernet Sauvignon (BRUNETTO et al. 2007).

2.4 INFLUÊNCIA DO CLIMA NA COMPOSIÇÃO POLIFENÓLICA DA UVA E SEUS DERIVADOS

Pesquisas demonstram que as respostas da produtividade agrícola em relação às alterações climáticas variam muito, dependendo da espécie, da cultivar, propriedades do solo, pragas e agentes patogênicos e suas interações (BEYRUTH, 2008), como por exemplo, o aumento da temperatura, a distribuição e frequência das chuvas podem trazer impactos na produção de uva e na qualidade do vinho (JONES; GOODRICH, 2008).

Segundo Blouin e Guimberteau (2004), a temperatura, a intensidade luminosa e a precipitação interferem diretamente no cultivo da videira, influenciando no crescimento e no desenvolvimento da planta, e consequentemente, na produtividade e qualidade final da uva, como por exemplo, em sua composição fenólica.

Em algumas regiões devido à oscilação de temperatura, é comum haver problemas com coloração inadequada das bagas de uva principalmente em cultivares de mesa (FIDELIBUS; PEPPI, 2006). De acordo com Winkler et al. (1974), as uvas produzidas em regiões quentes podem apresentar menor coloração em comparação as

cultivadas em regiões mais frias, porque altas temperaturas inibem a acumulação de antocianinas nas bagas das uvas (SPAYD et al. 2002).

A coloração avermelhada atrativa das uvas se deve em sua maior parte à presença de antocianinas nas cascas das bagas (MAZZA, 1995), compostos importantes para a elaboração de vinhos tintos de qualidade, sendo esta concentração influenciada pela amplitude térmica (HIRATSUKA et al. 2001; LACAMPAGNE et al. 2010, ANANGA et al. 2013).

As antocianinas são classificadas quimicamente como flavonóides, sendo os principais pigmentos naturais responsáveis pela coloração rosa, laranja, vermelha, violeta e azul de certos vegetais, frutas, pétalas de flores e em folhas (McGHIE et al. 2006, JING e GIUSTI, 2007). Embora tenha um grande valor como corantes naturais de alimentos, as antocianinas são pouco estáveis, pois alguns tratamentos de conservação e armazenamento de alimentos podem levar à degradação das antocianinas.

De acordo com Francis (1989), os principais fatores que influenciam a estabilidade das antocianinas são a estrutura química, o pH, a temperatura, a luz, a presença de oxigênio, a degradação enzimática e as interações entre os componentes dos alimentos, tais como ácido ascórbico, íons metálicos e açúcares. Segundo Março e Poppi (2008) as antocianinas quando expostas ao um meio extremamente ácido (pH entre 1 e 2) apresentam coloração intensamente avermelhada devido ao predomínio da forma cátion flavílico (AH+). No entanto com aumento do pH (acima de 6) as antocianinas perdem a cor e se tornam praticamente incolores, devido à predominância da forma pseudobase carbinol.

Segundo Conde et al. (2007) as antocianinas são responsáveis pela cor de vinhos tintos e estão localizadas nas paredes espessas de células hipodérmicas das cascas das uvas. Estes compostos têm sua estrutura formada por antocianidinas ligadas covalentemente em uma ou mais moléculas de açúcar (TAIZ; ZEIGER, 2004). A estrutura mais comum de antocianinas encontradas em Vitis vinifera é a malvidina-3- glucoside, e a concentração dos monoglicosídeos de malvidina nos vinhos tintos das variedades Vitis vinifera varia muito com a idade dos vinhos e das cepas das quais os vinhos provêm (KENNEDY et al. 2006).

A deficiência em cor (uvas pouco vermelhas ou levemente rosodas) reduz substancialmente o valor econômico das uvas de mesa e prejudica também a elaboração de vinhos tintos. Estudos demonstram

que, práticas culturais como a remoção de folhas para a entrada de mais luz e desbaste de ramos e cachos, reduzindo a carga da planta podem aumentar a qualidade da cultivar ‘Flame Seedless’, mas essas práticas são insuficientes para remediar os problemas de coloração (DOKOOZLIAN; HIRSCHFELT, 1995).

Para melhorar a coloração das bagas os produtores geralmente aplicam ethephon, mas as concentrações necessárias para incrementar a cor reduzem a firmeza de fruto, porque a biossíntese de antocianinas inicia-se junto com o amolecimento das bagas (JENSEN et al. 1982; SZYJEWICZ et al. 1984; CHERVIN et al. 2004; PEPPI et al. 2007).

O acúmulo de antocianinas acontece na última fase fisiológica de desenvolvimento da baga caracterizada pelo amolecimento do pericarpo, expansão celular, aumento de diâmetro e pela mudança de cor (OLLAT et al. 2002, CONDE et al. 2007) ou ‘veraison’, e parece estar parcialmente regulado pelo ácido abscísico (HIRATSUKA et al. 2001; LACAMPAGNE et al. 2010; BAN et al. 2003; OWEN et al. 2009), sendo que as aplicações exógenas desse hormônio, além de aumentar as concentrações de antocianinas nas cascas das uvas (PEPPI et al. 2006), também antecipam o desenvolvimento da coloração em comparação à uvas não tratadas (HIRATSUKA et al. 2001; PEPPI et al. 2006).

De acordo com Mori et al. (2005b) e Yamane et al. (2006) a expressão dos genes responsáveis pela biossíntese de antocianinas é induzida por baixas temperaturas e suprimida por altas temperaturas. Assim, o efeito supressivo das altas temperaturas na acumulação de antocianinas pode ser uma consequência da redução da concentração de ABA nas cascas, segundo estudos feitos por Lee et al. (1979) e Tomana et al. (1979). Outros trabalhos associam ABA e os efeitos climáticos na maturação das bagas e na acumulação de antocianinas, como por exemplo, a temperatura (MORI et al. 2005, KOSHITA et al. 2007), a luz (JEONG et al. 2004), e a tensão de água (ANTOLÍN et al. 2006, STOLL et al. 2000).

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