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Predição 1: Os ruídos provocados por atividades humanas no ambiente marinho estão dentro da faixa de frequência utilizada pela baleia jubarte no seu processo

3. MATERIAL E MÉTODOS

3.1) Área de estudo

A área do presente estudo inclui o litoral do Estado da Bahia, desde Itacaré (14° S, 38° W) a Aracajú (11° S, 37° W), no litoral do Estado de Sergipe (figura 4), por ser uma região adjacente ao norte da concentração reprodutiva da espécie com facilidades logísticas nos portos de Itacaré (cerca de 300 km ao sul de Salvador), da própria capital, Salvador, de Praia do Forte, no município de Mata de São João, a 55 km ao norte.

Este trecho de costa é caracterizado por praias de areia de quartzo fina a grosseira. As barras parcialmente submersas de rocha ocorrem alternadamente no sublitoral e os recifes costeiros em franja, dominados por algas calcárias e briozoários, com poucos corais celenterados encontrados fora, aproximadamente a 12 km da praia. A praia supralitoral é caracterizada por um cordão de dunas

30 crescendo em altura na direção norte e por praias de baixo declive e de maior extensão ao sul.

Dentro da área de estudo também ocorrem grandes baías e estuários costeiros, de importância para a navegação, como a Baía de Todos os Santos, no Estado da Bahia e os estuários do Rio Vaza-Barris e do Rio Sergipe, no estado de mesmo nome.

A principal característica desta região, em geral, é a presença de uma plataforma continental estreita, cuja extensão corresponde a aproximadamente 15 km (figura 4). A média de profundidade ao longo da plataforma é de 20-70 metros e a amplitude de maré varia entre 0.1 a 2.6m (Carta náutica – Diretoria de Hidrologia e Navegação DHN- da Marinha do Brasil.).

Além da pressão antropogênica, resultante principalmente da presença de grandes portos, como o de Salvador e de Aracajú, e do tráfego de navios resultante, de atividades de exploração de petróleo e gás, com a presença de plataformas costeiras, a região abriga diversas colônias de pesca artesanal, intensa atividade turística e ocupação espacial desordenada, além do maior Pólo Petroquímico do Hemisfério Sul, no município de Camaçari, Estado da Bahia.

31 Figura 4: Área de estudo, desde Itacaré (BA) 14° S, 38° a Aracajú 11° S, 37° W (SE), durante a temporada reprodutiva de baleia-jubarte (Megapteranovaeangliae), entre julho e outubro.

32 3.2) Coleta de dados

3.2.1) Cruzeiros de pesquisa

Para os cruzeiros de pesquisa utilizou-se uma embarcação de madeira, do tipo saveiro (caracterizada por possuir somente um mastro central) de 15 metros e motor díesel de 250 hp (figura 5).

Figura 5: Embarcação (Saveiro) utilizada durante os cruzeiros de pesquisa durante a temporada reprodutiva de baleia-jubarte (Megaptera novaeangliae), entre julho e outubro, com referência aos observadores na proa.

33 A equipe de campo, composta por três observadores, permanece na proa da embarcação para cobrir um ângulo de 180° de campo visual. As observações são feitas a olho nu, eventualmente auxiliadas por binóculos, buscando-se identificar sinais de baleias (borrifo, dorsos, saltos e outros comportamentos) na superfície da água próxima ao horizonte.

Utilizamos uma ficha diária de amostragem, com os dados gerais da expedição, como duração, participantes, número de baleias avistadas, bem como os dados ambientais (velocidade e direção do vento, visibilidade, escala Beaufort do mar, profundidade, entre outros) que poderiam influenciar nas condições de avistabilidade. Para as tomadas de horário da maré correlacionada aos grupos de baleias avistados, foi utilizada a Tábua de Marés fornecida pela Diretoria de Hidrologia e Navegação (DHN) da Marinha do Brasil.

Os grupos de baleias-jubarte avistados foram registrados em outra ficha de campo, onde constam informações como coordenadas geográficas, tamanho e composição do grupo, horário da avistagem, comportamentos observados antes e durante a aproximação do barco, além de outras informações.

A aproximação aos grupos foi realizada de maneira gradual, com o motor em marcha média e constante, procurando chegar junto aos animais por um dos bordos. A embarcação de pesquisa permaneceu, em média, 30 minutos com cada grupo de baleias para a coleta dos dados de comportamento e bioacústica, entretanto, quando as condições climáticas são favoráveis, durante um comportamento de canto observado, este período pode ser extendido até cerca de 60 minutos.

34 4.2.5) Bioacústica

Ao longo dos anos o equipamento de gravação variou em função do crescente avanço tecnológico que derivou nos sistemas de aquisição de áudio e vídeo digital. Entre os anos 2005 a 2007, os cantos de baleia foram gravados utilizando um sistema analógico (gravador cassete Sony TCD-5M – resposta de frequência de 24 kHz) ou, eventualmente um sistema analógico-digital (vídeo- camêra Sony VX-1000) sempre plugados ao mesmo hidrofone (HTI SSQ-94). A partir de 2008 passou-se a utilizar um sistema digital (mini-gravador digital M-Audio MicroTrack II), resultando em um ganho da resposta de frequência para 48 kHz.

Posteriormente, as gravações obtidas nos sistemas analógico e analógico- digital foram digitalizadas, exportanto os dados brutos para o programa onde seriam feitas as análises, o RAVEN 1.3 (Universidade Cornell/EUA). Os dados do sistema digital já eram obtidos em formato sem compressão (WAV), selecionado no gravador, e salvos em um banco de dados de áudio.

Depois de digitalizados os sons foram analisados, no programa RAVEN, quanto aos parâmetros de frequência física tais como: frequência inicial, frequência final, frequência média, frequência máxima, frequência mínima, amplitude, duração, energia. Estes dados foram medidos, utilizando o cursor para a seleção do sinal acústico, através de espectrogramas digitalizados (gráficos com eixos em freqüência (Hz) e tempo (seg)). Uma vez medidos, os dados foram exportados para o programa Microsoft Excel para compor um banco de dados para análises posteriores.

35 Para os cantos das baleias jubarte, também analisamos a complexidade de partes da estrutura dos cantos, agrupadas em unidades sonoras ou notas, frases e temas, seguindo a classificação de trabalhos anteriores (revisado em Tyack, 2000, Souza-Lima, 2007 e Parsons, 2008)

4.2.6) Sistema de Informações Geográficas

As rotas dos cruzeiros de pesquisa e avistagens dos grupos de baleias jubarte observados, bem como as tomadas ambientais coletadas, foram armazenadas em um Sistema de Informações Geográficas para serem posteriormente plotadas em mapas de cartas náuticas pré-digitalizadas, utilizando o programa Arcview 3.2 (ESRI, Headland, Califórnia). Estes mapas, então, incluem a batimetria da área de estudo e a distribuição das avistagens de baleias jubarte.

36 4) RESULTADOS

37 Artigo 1 – Ecologia comportamental do canto em baleias jubarte (Megaptera

novaeangliae), na região nordeste do Brasil.

Marcos R. Rossi-Santos 1,2, Elitieri Santos-Neto1, Clarêncio G. Baracho-Neto1, Sérgio R. Cipolotti1, Enrico G. Marcovaldi1, Flávio J. L. Silva2,3

1-

Instituto Baleia Jubarte

2-

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

3-

Universidade Estadual do Rio Grande do Norte\ Centro Golfinho Rotador

BEHAVIORAL ECOLOGY (A1 – Fator Impacto 3,083)

38 RESUMO

Nós estudamos a ecologia comportamental de machos cantores de baleias jubarte (Megaptera novaeangliae) entre Itacaré/ Bahia (14°S, 38°W) a Aracaju/ Sergipe (11°S, 37°W), dentro da sua área de reprodução no Brasil, entre os anos de 2005 e 2009. Foram analisados aspectos sociais e ecológicos tais como composição de grupo, distribuição espacial, influência de profundidade, marés e fases da lua. Saídas utilizando embarcação foram realizadas para avistagem e aproximação das baleias, para a coleta de dados como localização geográfica, comportamento e gravações bioacústicas. Um total de 912 horas de esforço amostral foi obtido em 123 dias de saídas, avistando 370 grupos de baleias. Em 36 dias (41 horas de observação direta), 29% dos grupos (n=44; 82 indivíduos) foram identificados contendo ao menos um macho cantor, confirmado por gravações subaquáticas. Grupos com machos cantores foram avistados ao longo de toda a área de estudo, na maioria das vezes como indivíduos solitários (n=21 grupos, 48%), seguido por grupos contendo dois (n=8; 18%), três (n=3, 7%), quatro (n=2, 4,5%) indivíduos adultos e grupos contendo pares de fêmea com filhote, acompanhados por um macho cantor (n=4, 9%) ou fêmeas com filhotes acompanhadas de dois machos cantores (n=1, 2%). Grupos com machos cantores foram avistados em uma variação de profundidade entre 16 e 173 metros (média = 54,6/ desv.pad.= 34,2). A plataforma continental estreita associada com a distribuição costeira da baleia jubarte na região de estudo pode influenciar na formação das diferentes estruturas de grupo contendo machos cantores. Trazemos, assim, uma visão mais ampla dos aspectos ecológicos do comportamento de canto nesta espécie, em uma nova região de estudo, alem de sua concentração reprodutiva do Banco de Abrolhos.

39 Palavras-chave: Baleias jubarte, machos cantores, ecologia comportamental, distribuição

40 BEHAVIORAL ECOLOGY OF THE SONG IN HUMPBACK WHALES

(MEGAPTERA NOVAEANGLIAE), FROM THE SOUTHWESTERN ATLANTIC

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