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MATERIAL E MÉTODOS

Foram utilizados 36 incisivos centrais superiores humanos extraídos, obtidos do banco de dentes do laboratório de pesquisa da Faculdade de Odontologia da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) que se encontravam estocados há mais de 10 anos. Este estudo teve a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE), conforme o anexo I. Os elementos dentários foram limpos e conservados em formol a 10% até o momento do uso, sendo lavados em água corrente por uma hora e secos com gaze.

Realizou-se a cavidade de acesso de acordo com Ingle (INGLE, 1976). O limite de instrumentação foi determinado individualmente, pela introdução de uma lima tipo K #10 (Maillefer, Ballaigeus, Suíça), cuja extremidade coincida com o forame apical, fato este observado com um auxílio de uma lupa com aumento de 4X (Bio Arte, São Paulo, Brasil). O comprimento de trabalho foi calculado recuando 1 mm desta medida. Após obtenção das medidas, foram utilizadas as brocas Gates-Glidden (Maillefer, Ballaigeus, Suíça) na seqüência #4, #3, #2 e #1 e limas do tipo K (Maillefer, Ballaigeus, Suíça), utilizando a técnica preconizada pela Disciplina de Endodontia da UNIGRANRIO, pela qual todos os dentes foram instrumentados até a lima tipo K #45 (Maillefer, Ballaigeus, Suíça). Após a instrumentação, verificou-se a manutenção da patência do forame apical com uma lima tipo K #15 (Maillefer, Ballaigeus, Suíça). A irrigação foi realizada com hipoclorito de sódio a 2,5% (água sanitária marca Q-BOA®) acorde Marchesan et al. (1998), alternada com os instrumentos. Após o término do preparo, para remoção do smear-layer, foi preenchido todo o canal radicular com ácido cítrico a 10% (Extractum – Farmácia de manipulação, Bahia, Brasil), acorde White e Goldman (1989), Scelza et al. (2002) e Mathias Neto et al. (2003), e agitada em seu interior com auxílio de uma broca lentulo #40 (Maillefer, Ballaigeus, Suíça)

acionada por micromotor, durante 30 segundos. Esta solução permaneceu em repouso dentro do canal por 5 minutos. Após este procedimento, os canais radiculares foram irrigados novamente com hipoclorito de sódio a 2,5% (água sanitária marca Q-BOA®) e na seqüência, irrigados com soro fisiológico. A secagem dos canais radiculares foi realizada com a utilização de cones de papel absorvente (Tanari – Tanariman Industrial, Ltda., Amazonas, Brasil).

Após o preparo, as unidades dentárias foram divididas aleatoriamente em 03 grupos com 10 dentes cada e dois grupos de 03 dentes cada (controle positivo e controle negativo).

Para a obturação dos canais radiculares fez-se o uso da técnica de condensação lateral como descrita por De Deus, (DE DEUS, 1992). Utilizou-se 03 tipos de cimentos obturadores distintos, um para cada grupo. Os cimentos obturadores dos canais radiculares testados neste estudo foram o EndoREZ® (fig. 01 e 02), Sealer 26® (fig. 03) e o Acroseal® (fig.04). Estes cimentos estão listados na Tabela 1, que demonstra a marca comercial, suas composições químicas e os fabricantes.

Grupo I - 10 dentes obturados com a técnica de obturação de condensação lateral e o cimento Sealer 26® (Dentsply Indústria e Comércio Ltda., Rio de Janeiro, Brasil).

Grupo II - 10 dentes obturados com a técnica de obturação de condensação lateral e o cimento EndoREZ® (Ultradent, Utha, Estados Unidos).

Grupo III - 10 dentes obturados com a técnica de obturação de condensação lateral e o cimento Acroseal® (Septodont, França).

Grupo IV - 03 dentes obturados com a técnica de obturação de condensação lateral sem cimento endodôntico (controle positivo).

Grupo V – 03 dentes obturados com a técnica de obturação de condensação lateral impermeabilizados em todo o seu comprimento, sendo totalmente isolado (controle negativo).

Utilizaram-se, em todos os grupos, como cone principal, os cones M (Endopoints Indústria e Comércio Ltda., Rio de Janeiro, Brasil), sendo suas pontas calibradas com a régua calibradora (Maillefer, Ballaigeus, Suíça) nº 45 adaptado para obturação. Os cones foram testados no interior dos canais até atingirem o limite apical da obturação, de maneira firme e sem sofrer distorções. Uma vez escolhido o cone principal, foi realizada a obturação propriamente dita, segundo as normas descritas abaixo:

- Os cimentos foram manipulados de acordo com as características e instruções recomendadas pelo fabricante.

- Os cimentos obturadores foram introduzidos nos canais radiculares com os cones de guta-percha selecionados até observar o extravasamento do cimento pelo forame apical. Esta manobra foi realizada com auxílio de uma pinça prendendo os cones em seu comprimento de trabalho, introduzindo-os com movimentos firmes e curtos de vai e vem e penetração, até atingir o limite desejado, o comprimento de trabalho.

- Os cones secundários MF (Endopoints Indústria e Comércio Ltda., Rio de Janeiro, Brasil) foram condensados lateralmente ao cone principal com a inserção do espaçador digital #25 (Maillefer, Ballaigeus, Suíça) entre o cone principal e as paredes do canal, com movimentos simultâneos de penetração e oscilatória em sentido apical, de forma passiva. A obturação foi considerada completa quando o espaçador digital #25 (Maillefer, Ballaigeus, Suíça) não penetrou no terço cervical radicular.

- Em seguida, o excesso de cone a nível coronário foi cortado na embocadura dos canais radiculares com um instrumento previamente bem aquecido, o instrumento de Lucas® (J&R, Minas Gerais, Brasil), cortando os cones de guta-percha em sentido lateral. Logo após, foi feito uma leve compressão vertical com o lado do instrumento correspondente a um condensador (frio) para acomodação da obturação.

- Foi feita a seguir a limpeza da cavidade coronária com álcool isopropílico a 70%, secando-o em seguida.

Os acessos coronários foram selados com cimento provisório Tempore® (DFL Indústria e Comércio Ltda., Rio de Janeiro, Brasil).

Nos Grupos I, II, III, e V, os dentes tiveram sua superfície externa impermeabilizada com duas camadas de cianocrilato (Super Bonder® - Lactolite), com exceção de 2 mm aquém do forame apical.

No Grupo VI, os dentes tiveram sua superfície totalmente impermeabilizada com duas camadas de cianocrilato (Super Bonder® - Lactolite).

Os dentes foram armazenados em uma câmara umidificadora com ±100% de URA em temperatura de 37°C por 03 dias para aguardar o tempo de endurecimento dos cimentos testados. Decorrido este tempo, os dentes foram mantidos em um recipiente contendo tinta nanquim (Faber Castell, São Paulo, Brasil) a 37°C por um período de 05 dias.

Após este tempo, os dentes foram removidos do corante e lavados em água corrente por 01 hora. A seguir, foi removida a camada impermeabilizante das superfícies dos elementos dentários com auxílio de lâmina de bisturi e os mesmos submetidos ao processo de diafanização, de acordo com o preconizado pelo Laboratório de Pesquisa em Endodontia da FO-UERJ, acorde ARRUDA et al.(2002):

Os dentes foram submetidos ao processo de descalcificação em solução de ácido clorídrico a 10% (Laboratório de pesquisa - FO-UERJ). Depois de descalcificados, foram lavados por 4 horas em água corrente e submetidos ao processo de desidratação em série ascendente de álcool (70%, 80%, 90%, 100%), sendo deixados em cada um destes por 6 horas.

Após a desidratação, os dentes foram imersos em uma solução de salicilato de metila (Reagen- Quimibrás Indústrias Químicas S.A., Rio de Janeiro, Brasil) para que pudesse ser obtida a clarificação dos espécimes.

Para medir a infiltração marginal apical da tinta nanquim, cada dente diafanizado foi fotografado duas vezes, uma para cada lado proximal, utilizando-se uma máquina fotográfica digital Nikon D50, com uma lente Micro Nikkor 60 mm.

As fotos foram levadas ao microcomputador e avaliadas através do software Image Tool® 3.0, o qual aferiu medidas em pixel para o comprimento linear de infiltração do nanquim na raiz dos dentes estudados (Tabela 2). Foram avaliadas as maiores infiltrações encontradas entre as proximais. Tais medidas foram anotadas em uma planilha (Tabela 3) e os dados foram submetidos à análise estatística.

TABELA 1: Marca comercial, composição química e fabricante dos cimentos utilizados.

MARCAS COMERCIAIS COMPOSIÇÃO FABRICANTES

ACROSEAL® Base

- Methenamina - Enoxolona - Agente Radiopaco Catalizador

- DGEBA - Resina Epóxica - Hidróxido de Cálcio - Agente Radiopaco Septodont SEALER 26® Pó - Hidróxido de cálcio - Óxido de bismuto - Hexametileno tetramina - Dióxido de titânio Resina

- Resina epóxica bisfenol

Dentsply Indústria e Comércio LTDA

ENDOREZ® Não informado pelo fabricante Ultradent

Figura 1 – Apresentação comercial do EndoREZ®

Figura 3 – Apresentação comercial do Sealer 26®

RESULTADO

As medidas, em pixel, obtidas das infiltrações nas raízes estudadas, em cada grupo, foram dispostas na tabela 2.

TABELA 2: Valores obtidos em pixel pela observação da infiltração marginal apical dos canais radiculares obturados.

Grupo I (Sealer 26® ) Grupo II (EndoREZ® ) Grupo II (Acroseal® ) Controle positivo Controle negativo Dente P1 P2 P1 P2 P1 P2 P1 P2 P1 P2 1 0 11 106 125 80 81 1100 1182 0 0 2 0 126 309 188 78 62 1031 886 0 0 3 186 129 315 243 0 0 363 339 0 0 4 73 97 456 474 0 0 5 0 0 612 655 99 109 6 0 0 193 190 0 0 7 93 0 142 93 0 41 8 0 0 312 804 37 50 9 0 0 0 0 0 0 10 0 0 194 215 67 0 Média 35,2 36,3 263,9 298,7 36,1 34,3 831,3 802,3 0 0 * P1 = Proximal 1 e P2 = Proximal 2.

Após a obtenção dos valores da tabela 2, foram avaliadas as maiores infiltrações encontradas entre as proximais. Tais medidas foram anotadas em uma nova tabela (Tabela 3) e os dados foram submetidos à análise estatística.

TABELA 3 Valores obtidos em pixel da maior infiltração marginal apical dos canais radiculares obturados observados entre P1 e P2 de cada dente.

Dente Grupo I (Sealer 26® ) Grupo II (EndoREZ® ) Grupo II (Acroseal® ) Controle positivo Controle negativo 1 11 125 81 1182 0 2 126 309 78 1031 0 3 186 315 0 363 0 4 97 474 0 5 0 655 109 6 0 193 0 7 93 142 41 8 0 804 50 9 0 0 0 10 0 215 67 Média 51,3 323,2 42,6 858,7 0

No grupo I, foi observado que o cimento Sealer 26® obteve a média de 51,3 pixels, sendo 0 pixel o menor resultado e 186 pixels a maior. O cimento EndoREZ® (grupo II) apresentou uma média de 323,2 pixels, sendo 0 pixel e 804 pixels, respectivamente, a menor e a maior distância de penetração da solução marcadora. Para o cimento Acroseal® (grupo III), a média apurada foi de 42,6, com 0 pixel o menor valor e o maior de 109 pixels. O grupo IV (controle positivo), obteve a média de 858,7 pixels, sendo 363 pixels a menor infiltração e 1182 pixels a maior. Com relação ao controle negativo (grupo V), não houve infiltração em nenhum dos dentes.

Com o objetivo de comparar os cimentos endodônticos testados (Sealer 26®, EndoREZ® e Acroseal®) em relação à máxima penetração do corante nanquim, realizou-se a avaliação estatística pela análise de variância (ANOVA). Tendo em vista a não normalidade

dos dentes, foi utilizado o teste de Kruskal-Wallis nos grupos I, II e III, revelando que existe pelo menos um grupo com diferença estatística na infiltração marginal apical (H= 13,37 e P=0,00). Desta forma foi aplicado o teste de comparações múltiplas de Tukey com nível de significância igual a 5% (Tabela 4).

TABELA 4. Teste de Tukey com nível de significância igual a 5%

Figura 7a e 7b - Fotos dos dentes diafanizados do controle positivo Comparações entre Grupos P < .05

II vs III Sim

II vs I Sim

Figura 8a e 8b - Fotos dos dentes diafanizados do controle negativo

Figura 10a e 10b - Dentes diafanizados do grupo II. (EndoREZ® )

DISCUSSÃO

A obturação hermética e tridimensional, conjuntamente com a limpeza e formatação do sistema de canais radiculares (SCR), são fundamentais para o êxito da terapia endodôntica.

Há algum tempo, autores como RICKERT, 1927; COOLDGLE, 1927; BUCKEY, 1931 e BUCHBINDER, 1931 concluíram que a utilização do cimento na obturação dos canais radiculares é indispensável, visto que a guta-percha é um excelente material obturador, apesar de não ter propriedades de selamento satisfatória. Com a utilização dos cimentos endodônticos, a obturação torna-se mais homogênea e minimiza a probabilidade de microinfiltração do exudato periapical para o interior do canal, dificultando sua reinfecção (EVANS e SIMON, 1986; LIMKANGWALMONGKOL, 1991 e SMITH e STEIMAN, 1994). Mesmo com a sua utilização, os canais radiculares obturados podem tornar-se recontaminados devido à percolação de fluidos oriundos dos tecidos perirradiculares (LOPES e SIQUEIRA Jr., 2004). De acordo com HOVLAND e DUMSHA (1985), a infiltração de fluidos no corpo da obturação pode ocorrer nas interfaces do cimento com a dentina, do cimento com o cone de guta-percha, por dentro do cimento ou pela dissolução do mesmo. Conclui-se, então, que o ponto crítico para o selamento hermético da obturação é o cimento obturador dos canais radiculares. Por este motivo, torna-se necessário a análise da capacidade de selamento apical dos cimentos endodônticos que existem no mercado, a fim de verificarmos aquele que melhor desempenha esta propriedade.

A especificação número 57 da American Dental Association, tem por finalidade a avaliação das propriedades físicas dos materiais obturadores do sistema de canais radiculares. Esta especificação determina os testes de: escoamento, tempo de trabalho, tempo de endurecimento, espessura do filme, alteração dimensional após endurecimento, solubilidade e radiopacidade. No entanto, não prevê nenhum modelo de estudo para os testes de adesividade

e infiltração. Em razão da importância já relatada da capacidade de selamento do cimento endodôntico, torna-se importante acrescentar estes testes a esta especificação. Certamente isto daria maior credibilidade aos cimentos endodônticos que existem atualmente no mercado e aos que por ventura venham a ser lançados.

No presente estudo, foram utilizados cimentos resinosos, visto que vários trabalhos têm demonstrado uma maior eficiência dos cimentos à base de epóxi do que os cimentos à base de óxido de zinco e eugenol no que diz respeito à sua adesão e à infiltração marginal (LIMKANGWALMONGKOL, 1991; FIDEL, 1994; BONETTI FILHO, 1995; TANOMARU FILHO, 2001 e FREITAS, 2006). Entretanto, deve-se ressaltar que, estes cimentos não proporcionam uma boa resposta biológica periapical favorável (DE ALMEIDA, 2000), sendo também insolúveis, o que os torna de difícil remoção em casos de retratamentos. A superioridade dos cimentos à base de resina epóxi deve-se à sua capacidade de penetração nos canalículos dentinários, favorecendo um aumento da interação cimento/dentina. Mesmo assim, todos os cimentos testados permitiram a infiltração apical marginal do corante, tendo este fato sido observado em 21 dos 30 dentes estudados dos grupos em avaliação, ou seja, cerca de 70 % das amostras (Tabela 2). Estes achados estão de acordo com outros trabalhos nos quais, independente da técnica de obturação e da composição química das substâncias empregadas, todos os cimentos endodônticos permitiram algum grau de infiltração (BONETTI FILHO, 1995; HOVLAND e DUMSHA, 1985; LIMKANGWALMONGKOL, 1991; LOPES e SIQUEIRA Jr. 2004; SMITH e STEIMAN, 1994; FRETAS, 2006). No entanto, é interessante notar que em 22 casos, ou seja, 73 % das amostras, não foram observados a presença do nanquim no corpo da obturação, pois não infiltraram ou infiltraram apenas na área entre a guta-percha e o forame apical, distância esta normalmente respeitada quando da definição do limite de trabalho e obturação. Se levarmos em consideração apenas os cimentos endodônticos: Sealer 26® e o Acroseal®, se verificou que em 18 casos, ou seja,

90% das amostras não houve infiltração ou infiltraram apenas na área entre a guta-percha e o forame apical. Assim os resultados do presente estudo indicam que os cimentos, embora não impeçam, retardam a percolação marginal de fluidos em canais radiculares obturados. Esta afirmativa pode ser comprovada pelo grupo controle positivo (Figuras 7a e 7b), sem a utilização de cimento endodôntico obturador, que resultou em severa infiltração marginal apical. Estes achados estão de acordo com outros trabalhos semelhantes (EVANS e SIMONS, 1986; HATA , 1995; SMITH e STEIMAN, 1994).

Neste estudo foram utilizados os cimentos: Sealer 26® (Dentsply) (Figura 3), que demonstrou em vários estudos já realizados (SIQUEIRA, 1994 e 2001; FIDEL, 1994; BONETTI FILHO,1995; HOLLAND, 1996; TANOMARU, 1996, 2001 e 2004; VALERA, 1998 e 2000; BRANDÃO, 2001; SOUSA, 2001; VALOIS, CASTRO, 2002; FREITAS, 2006), ser um cimento que possui grande capacidade de selamento apical; o cimento EndoREZ® (Ultradent) (Figura 1), por se tratar de um cimento relativamente novo no mercado, até então com poucos estudos publicados, que apresenta uma nova proposta para sua manipulação e também na sua utilização; e o cimento Acroseal® (Septodont) (Figura 4), um cimento recém lançado no mercado, que até o momento, não encontramos na literatura, à nossa disposição, outros trabalhos referentes a sua capacidade de selamento apical.

A formação do magma dentinário, resultante do preparo biomecânico, constitui um fator restritivo ao selamento do material obturador (WHITE e GOLDMAN, 1989). O magma dentinário depositado sobre a superfície da dentina, compromete o vedamento proporcionado pela obturação. Neste estudo, para remoção do magma dentinário, foi utilizada a irrigação com hipoclorito de sódio a 2,5% alternado com ácido cítrico a 10%, baseados nos estudos de SCELZA (1986 e 2002) e MATHIAS NETO (2003).

A técnica de condensação lateral foi eleita para obturação dos canais radiculares dos dentes utilizados neste estudo, por ser a mais difundida mundialmente e por ter o autor, maior

domínio desta técnica em relação às demais. Esta técnica tem encontrado muitos críticos, que se apóiam no fato da mesma não oferecer uma obturação tridimensional do sistema de canais radiculares (BEER, 1987; DALAT e SPANGBERG, 1994). No entanto, até o presente momento, não existem evidências científicas de que outras técnicas de obturação propostas na literatura sejam superiores a ela em condições convencionais (LOPES e SIQUEIRA Jr., 2004 e SANTA CECÍLIA, 1999).

De acordo com vários autores (HASSELGREN e TRONSTAD, 1975; DALAT e SPANGBERG, 1994; ROPER, 1976; SANTA CECÍLIA., 1997 e LYROUDIA, 2000), a qualidade da obturação de canais radiculares somente pode ser avaliada clinicamente pelo exame radiográfico, não existindo, ainda, nenhum método para se avaliar in vivo, qualitativamente, a impermeabilização proporcionada pelo selamento apical endodôntico. A forma mais tradicional de se testar a capacidade seladora dos cimentos endodônticos in vitro é por meio da infiltração de corante. Diversos métodos são propostos na literatura para a observação da extensão da infiltração no corpo da obturação (GOLDMAN, 1989; MALTOFF, 1982; ROBERTSON e LEEB, 1982; DALAT e SPANGBERG, 1994; DE ALMEIDA, 2000; SIQUEIRA Jr., 2001 e FREITAS, 2006). Neste estudo, a técnica da diafanização foi utilizada, pois, além de permitir a avaliação da infiltração marginal apical ocorrida, possibilitou a visualização tridimensional dos dentes. Este fato favoreceu a observação da área de maior infiltração de cada elemento estudado.

A tinta nanquim foi utilizada como corante por realçar a área infiltrada, o que tornou fácil sua visualização para avaliação. Vale ressaltar que este corante apresenta algumas desvantagens. Tem sido relatado que o peso molecular e o tamanho das moléculas da tinta de nanquim são menores que os de outras moléculas encontradas no canal radicular, como a bacteriana (BEHRENT, 1996; DALAT e SPANGBERG, 1994; MATTOFF, 1982). Sendo assim, esta substância pode não representar fielmente as moléculas dos fluidos oriundos dos

tecidos perirradiculares, ocasionando resultados falsos positivos durante a análise da infiltração ocorrida. No entanto, por se tratar de um mesmo corante para todas as amostras, isto não interferiu nos resultados, já que este é um estudo comparativo.

É interessante lembrar que os cimentos endodônticos utilizados são auto polimerizados, por isto, requer a mistura de duas partes do cimento. Deve-se levar em consideração a proporção das partes do material utilizado e a sua manipulação, visto que, isto pode interferir de forma significativa nos resultados. O cimento endodôntico Sealer 26® é o cimento que apresenta a maior dificuldade de mensurar a quantidade de cada parte a ser utilizada, por ser uma mistura de pó/líquido (Figura 3), fato este que torna difícil mensurar com precisão a quantidade exata do pó e a do líquido concordando com TANOMARU, 2001 e 2004. Sua manipulação é de fácil execução, desde que seja realizada com uma espátula de manipulação bem flexível e de boa qualidade. O cimento endodôntico EndoREZ® apresenta- se em pasta/pasta e contém um misturador (Figura 2), que facilita ao operador, por este já estabelecer a quantidade de material a ser utilizado de cada parte, como também executar a sua manipulação sem necessidade de utilização de uma espátula de manipulação. O cimento endodôntico Acroseal®, apresenta-se na forma pasta/pasta (Figura 4), que favorece ao operador estabelecer a quantidade de cada parte a ser utilizada. Sua manipulação é de fácil execução, e, semelhante ao cimento Sealer 26®, se faz necessário a utilização de uma espátula de manipulação bem flexível e de boa qualidade.

Neste estudo os dentes obturados com o cimento Sealer 26® apresentaram índices pequenos de infiltração (Tabela 4), demonstrando ser um cimento com boa capacidade seladora apical. Este resultado está de acordo com vários estudos antes realizados (SIQUEIRA, 1994; FIDEL, 1994; BONETTI FILHO,1995; HOLLAND, 1996; TANOMARU, 1996, 2001 e 2004; VALERA, 1998 e 2000; BRANDÃO, 2001; SOUSA, 2001). Com relação ao cimento Acroseal®, não foram encontrados estudos referentes à

infiltração marginal apical. Este estudo mostrou no resultado obtido, índices de infiltrações menores do que o cimento Sealer 26®, porém estatisticamente insignificantes (Tabela 4). Este resultado que demonstrou a boa qualidade de selamento apical deste cimento, tem um valor importante por se tratar de um cimento lançado recentemente no mercado. O resultado encontrado do selamento do cimento EndoREZ® demonstrou índices de infiltrações maiores que os outros dois cimentos avaliados, estatisticamente significantes (Tabela 4), mostrando ser um cimento que não possui boa capacidade seladora apical. Foram encontrados poucos estudos que analisaram a capacidade de selamento apical do cimento EndoREZ®. Este resultado está de acordo com os achados de KARDON (2003); SEVIMAY e KALAYCI (2005); TAY (2005) e ORUCOGLU (2005), que mostram em seus estudos, resultados insatisfatórios de infiltração marginal apical deste cimento.

Sugerimos que estudos adicionais sobre as propriedades biológicas e antimicrobianas destes cimentos sejam também analisadas para que se possa ter maior segurança em preconizar o uso clínico destes.

A importância da infiltração marginal apical em canais radiculares obturados não é bem conhecida. Na realidade, apesar dos materiais empregados atualmente não serem totalmente eficazes neste sentido, a experiência clínica mostra que o tratamento endodôntico apresenta um percentual relativamente alto de sucesso, mesmo em canais que apresentavam necrose pulpar (LOPES e SIQUEIRA Jr., 2004).

No entanto não se pode negar a importância da busca por materiais que realmente possibilitem o completo selamento hermético e tridimensional do sistema de canais radiculares, especialmente em tratamentos endodônticos realizados em dentes necrosados e infectados, onde não é possível eliminar todos os microorganismos, evitando assim a proliferação e o egresso de irritantes para os tecidos perirradiculares via forame apical, pois estes podem desempenhar um papel importante no prognóstico a longo prazo.

CONCLUSÕES

De acordo com a metodologia empregada e resultados obtidos neste estudo, pode-se concluir que:

1. Nenhum dos cimentos utilizados , Sealer 26® (Dentsply), Acroseal® (Septodont) e EndoREZ® (Ultradent), foram capazes de impedir a infiltração marginal apical em todos os dentes que foram testados.

2. O cimento que apresentou menor média de infiltração foi o cimento Acroseal®, seguido do cimento Sealer 26®, porém sem diferença estatisticamente significante.

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