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Maternidade e Paternidade na adolescência

2- INTRODUÇÃO

2.4 Maternidade e Paternidade na adolescência

Um dos potenciais eventos estressores da vida adolescente é a ocorrência da maternidade na adolescência. Sendo a adolescência um período crítico, é preciso considerar que a ocorrência de uma gravidez durante esse período do desenvolvimento seria considerada um evento duplamente crítico, uma vez que à crise da adolescência soma-se a crise da gravidez, já que ambas são crises que fazem parte do desenvolvimento humano. De acordo com o contexto e com a subjetividade, os papéis de mãe e de mulher se alteram e, conseqüentemente, interferem na dinâmica familiar, sendo a participação e o apoio da família determinante para o desfecho dessa crise e para o desenvolvimento mais sadio da gravidez (Borges, 2007; Maldonado, 1997; Suassuna, 2008).

O quadro da gravidez na adolescência pode ainda ser agravado por fatores como a imaturidade e a desmotivação das mães precoces em assumirem a responsabilidade da maternidade. Muitas vezes, a este quadro ainda se somam outras condições adversas, tais como a gravidez inesperada, o abandono do pai do bebê e até a rejeição dos familiares maternos e/ou paternos, como foi constatado por Maia eRamos (2002).

O acontecimento da maternidade na adolescência é entendido como um evento frustrador da vida juvenil, marcada por entretenimentos, passeios, estudo, trabalho, entre outras atividades. O nascimento de um filho traz consigo a interrupção desse ritmo de vida, e, muitas vezes, essas mudanças não são aceitas pela mãe adolescente, que continua vivenciando experiências próprias da fase do desenvolvimento em que se encontra. Assim, pode-se afirmar que esta falta de adaptação às novas circunstâncias recai sobre o bebê e sobre os vínculos afetivos entre mãe e filho (Maia & Ramos, 2002).

Deve-se considerar também como evento potencialmente estressor a ocorrência da paternidade na adolescência. Os pesquisadores que se dedicaram a conhecer os sentimentos envolvidos na paternidade adolescente revelam que as reações iniciais do pai adolescente, frente à notícia da gravidez da parceira, são de surpresa, medo, abalo e preocupação, que, com o tempo, irão se transformar em sentimentos de conformação, aceitação, amor e felicidade (Hoga & Reberte, 2009; Levandowski & Piccinini, 2006; Meincke& Carraro, 2009; Munhoz, 2006).

Munhoz (2006) afirma que o sentimento de medo relatado pelos pais adolescentes frente à descoberta da gravidez da parceira é comum, e acontece também com os pais adultos, uma vez que a paternidade é uma experiência nova em suas vidas, e provoca a idéia de que não saberão lidar com essa situação. Além disso, devemos compreender que a paternidade é uma experiência que provoca nos homens as mesmas alterações de papéis porque passam as mães, já que eles também revelam sentir o peso

da responsabilidade de deixar de ser filho e passar a ser pai, além de lidar com as transformações e incertezas que acompanham a aquisição de novos papéis (Freitas, Coelho & Silva, 2007; Meincke &Carraro, 2009).

É preciso considerar que alguns pais adolescentes envolvem-se física e psicologicamente nessa experiência. No entanto, eles são, na maioria dos casos, vulneráveis economicamente, e têm dificuldade para conseguir emprego em função da sua pouca formação escolar. É justamente essa deficiência educacional e econômica que lhe causa ansiedade frente à responsabilidade de se constituir como provedor material para a criança, de acordo com as constatações de Arilha (1999), Lyra da Fonseca (1997), Schelemberg, Pereira, Grisard e Hallal (2007).

É preciso também considerar que os adolescentes pertencentes às classes populares enfrentam intensas barreiras no sistema de ensino público, como as que foram observadas durante a realização do presente estudo. A etapa de coleta de dados dessa pesquisa sofreu significativo atraso em função da realização de paralisações e greves dos professores da rede municipal e estadual de ensino durante o ano de 2011, com duração de aproximadamente cinco meses, e que foram motivadas pelos baixos salários desses profissionais, pela ausência de merenda escolar para os alunos, pelas péssimas estruturas físicas das escolas, entre outros graves aspectos da educação pública, observados durante a realização desse estudo.

Toda essa caracterização do sistema público de ensino se faz necessária para que possamos entender que a realidade social vivenciada pelos sujeitos dessa pesquisa não os permite atribuir à educação o valor de estratégia de ascensão social, sendo que, para eles, a escolaridade convive com o desejo e a necessidade de trabalhar e de buscar autonomia pela inserção precoce (se comparado aos adolescentes de classe média e alta) no mercado de trabalho (Lyra da Fonseca, 1997).

De acordo com Lyra da Fonseca (1997), o projeto de autonomia dos jovens das camadas populares não está atrelado à formação educacional (como o é para os jovens de classes média e alta), mas sim à inserção no mercado de trabalho ou à constituição da sua própria família, casando-se e/ou tendo filhos. Diante disso, alguns estudos sobre gravidez e paternidade adolescente vêm assinalando que tornar-se mãe e pai pode fazer parte do projeto de autonomia desses jovens, o que significa que nem sempre as gestações adolescentes acontecem por descuido, irresponsabilidade ou acaso, mas sim pelo desejo de ser mãe e de ser pai (Alves & Brandão, 2009; Brandão, 2009; Cabral, 2003; Sousa & Gomes, 2009).

Mesmo os estudos realizados sobre o uso de métodos anticoncepcionais (MAC) entre adolescentes acabam por concluir que o uso inconsistente de MAC entre esse público está associado ao envolvimento em relacionamentos estáveis, o que faz com que, muitos jovens abandonem a utilização dos métodos motivados, muitas vezes, pelo desejo de engravidar, o que leva esses pesquisadores a identificar o relacionamento estável como uma situação que torna os adolescentes propensos à não-utilização de métodos anticonceptivos (Alves & Brandão, 2009; Brandão, 2009; Sousa & Gomes, 2009).

Não se trata aqui de negar que uma gravidez adolescente pode trazer prejuízos para a mãe e para o bebê, como os que são apontados pela literatura científica, quais sejam: parto prematuro, baixo peso ao nascer, sofrimento fetal intraparto, diabetes gestacional, pré-eclampsia, além de dificultar a inserção da adolescente no mercado de trabalho, já que prejudica suas condições de estudo e intensificam as dependências familiares, advindo assim, conseqüências desfavoráveis na perspectiva de vida e de trabalho (Belo & Pinto e Silva, 2004; Carniel et al., 2006; Chalem et al, 2007; Dias & Aquino, 2006; Lima et al, 2004; Michelazzo et al, 2004; Sabroza et al., 2004)

Também não se trata de negar que o jovem que se torna pai durante a adolescência pode ter reduzido o seu tempo de escolaridade, menor realização acadêmica, inserção precária no mercado de trabalho, vivência de níveis de estresse e adaptação variados, entre outros (Hoga & Reberte, 2009; Levandowski, 2001; Levandowski &Piccinini, 2006; Meincke & Carraro, 2009; Munhoz, 2006).

Trata-se de considerar que uma gravidez ou paternidade adolescente podem, não necessariamente, ser considerados como fenômenos que trazem exclusivamente perturbações para a trajetória de vida do adolescente, uma vez que a juventude guarda suas especificidades em termos de classe, gênero e etnia (Cabral, 2003). Assim, a postura adotada no presente estudo é de reconhecer que, mesmo diante dos prejuízos apontados pela literatura científica, os adolescentes fazem a escolha de tornaram-se mães e pais como forma de obter o reconhecimento social do seu amadurecimento, da aquisição de responsabilidades da vida adulta e de que são capazes de ter e prover o sustento e o cuidado dos seus filhos.

A partir desse posicionamento, julga-se necessário realizar uma discussão teórica à respeito dos papéis sociais de mãe e de pai, de forma a compreender melhor as motivações dos adolescentes na busca por assumir esses papéis.

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