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Matriz de Referência do Saresp: as competências e habilidades relacionadas ao texto

CAPÍTULO 2 – FORMAÇÃO DE LEITORES: OS DESAFIOS DA LEITURA E DO

2.4 Análises dos documentos oficiais sobre Leitura e Literatura

2.4.4 Matriz de Referência do Saresp: as competências e habilidades relacionadas ao texto

Projeto específico do estado de São Paulo, o Saresp compreende etapas de avaliação de escolas públicas e privadas que pretendem verificar o funcionamento dos sistemas educacionais – particulares, estaduais, municipais e das escolas técnicas – a partir do desempenho dos alunos em provas específicas e de questionários a serem respondidos por pais e alunos.

Segundo a Matriz de Referência do Saresp, até 2007, a educação básica no estado não apresentava uma proposta curricular diretiva tampouco um sistema de avaliação que evidenciasse, claramente, o que deveria ser avaliado no aprendizado dos alunos. O que se tinha nesta época eram trabalhos bem sucedidos, porém efetivados isoladamente numa ou noutra escola o que dificultava o enquadramento sistêmico e com equidade das metodologias e avaliações nas diversas escolas de São Paulo. A partir de 2008, passa a existir uma base curricular comum aplicada a todos os alunos da educação básica e uma matriz de referência sobre o que deve ser avaliado para evidenciação do aprendizado em cada uma das áreas do conhecimento.

Dentre os instrumentos que quantificam os resultados desta nova proposta, está a avaliação aplicada em todas as escolas do estado anualmente, sendo que as provas de LP e Matemática são recorrentes, ao passo que as de história e geografia ou física, química e biologia são aplicadas alternadamente. Serão, as questões da prova de LP, aplicada em 2009, tomadas como ponto de discussão nesta pesquisa, por esta razão importam as referências para avaliação da proficiência em língua portuguesa exigida dos alunos do 3º ano do Ensino Médio, propostas pelo documento em estudo.

A matriz em análise apresenta três competências gerais segundo as quais se enquadram as habilidades relativas a cada tema de LP. No quadro abaixo, será realizado um recorte de temas e habilidades relacionados a pesquisa:

II – Situações de leitura de gêneros literários: contos, crônicas reflexivas, apólogos, novelas, romances, peças de teatro, ensaios literários, cartas literárias, letras de música, poemas.

GRUPO I

Competências para observar GRUPO II Competências para realizar GRUPO III Competências para compreender H34 Identificar recursos

semânticos expressivos (antítese, personificação, metáfora, metonímia) em segmentos de um poema, a partir de uma dada definição.

H35 Identificar uma

interpretação adequada para um determinado texto literário. H36 Identificar, em um texto literário, processos explícitos de remissão ou referência a outros textos ou autores.

H37 Organizar os episódios principais de uma narrativa literária em uma sequência lógica. H38 Estabelecer relações entre forma (verso, estrofe, exploração gráfica do espaço etc.) e temas (lirismo amoroso, descrição de objeto

ou cena, retrato do cotidiano, narrativa dramática etc.) em um poema.

H39 Estabelecer relações temáticas ou estilísticas de semelhança ou oposição entre textos literários: de diferentes autores; de diferentes gêneros; ou de diferentes épocas.

H40 Estabelecer relações entre as condições histórico-sociais (políticas, religiosas, morais, artísticas, científicas, estéticas, econômicas etc.) de produção de um texto literário e fatores linguísticos de sua produção (escolha de gêneros, temas, assuntos, estruturas, finalidades, recursos).

H41 Comparar e confrontar pontos de vista diferentes relacionados ao texto literário, no que diz respeito a histórias de leitura; deslegitimação ou legitimação popular ou acadêmica; condições de produção, circulação e recepção; agentes no campo específico (autores, financiadores, editores, críticos e leitores).

H42 Inferir informação pressuposta ou subentendida, em um texto literário, com base na sua compreensão global. H43 Inferir o conflito gerador de uma narrativa literária, analisando o enunciado na perspectiva do papel assumido pelas personagens.

H44 Inferir a perspectiva do narrador em um texto literário narrativo, justificando conceitualmente essa perspectiva.

H45 Inferir o papel desempenhado pelas personagens em uma narrativa literária.

H46 Justificar os efeitos de sentido produzidos em um texto literário pelo uso de palavras ou expressões de sentido figurado.

H47 Justificar o efeito de sentido produzido em um texto literário pela exploração de recursos ortográficos ou morfossintáticos.

H48 Justificar o efeito de sentido produzido no texto literário pelo uso intencional de pontuação expressiva (interrogação, exclamação, reticências, aspas etc.).

H49 Justificar o período de produção (época) de um texto literário, considerando informações sobre seu gênero, tema, contexto sociocultural ou autoria.

H50 Articular conhecimentos literários e informações textuais, inclusive as que dependem de pressuposições e

inferências (semânticas e pragmáticas) autorizadas pelo texto, para explicar ambiguidades, ironias, expressões figuradas, opiniões ou valores implícitos.

Matriz de Referência do Saresp (SÃO PAULO, SEE, 2009, p. 56)

Ainda mais detalhada e específica, esta matriz contempla definições claras sobre leitura e análise do texto literário no que tange à observação, realização e compreensão do gênero literário. Percebe-se que, um pouco mais aprofundada e direcionada, a redação do texto produzido pelo governo estadual apresenta a importância de se trabalhar com recursos expressivos específicos dos textos artísticos os quais instrumentalizam a leitura a ser feita pelos alunos.

Assim como os demais documentos oficiais aqui analisados bem como a Matriz do Enem, a matriz paulista de avaliação também valoriza o trabalho com competências e habilidades para o aprendizado dos alunos, revelando igualmente a noção de que os conteúdos precisam entrecruzar-se aos objetivos mais amplos da formação do aluno em nível médio.

Como breve conclusão do que se verificou nas análises até aqui realizadas, afirmamos que por todos os lados emergem orientações didáticas para o desenvolvimento de aulas de leitura e literatura, no EM, as quais permitam ao aluno: ler além da materialidade do texto, estabelecer relações entre o texto e suas condições de produção e compreender o texto artístico como representação cultural e parte da sua formação identitária. Com tão abrangentes objetivos, é necessária uma mudança nas metodologias conteudistas empregadas nas aulas de literatura, o que se pretende abordar nesta pesquisa com a apresentação de uma sequência didática pautada nas teorias aqui apresentada e nas orientações dos textos oficiais lidos.