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O Mecanismo de ajuste do equilíbrio entre a oferta e a procura

4 A indústria de construção naval

4.2 O mercado de fretes

4.2.3 O Mecanismo de ajuste do equilíbrio entre a oferta e a procura

O frete é o mecanismo de ajuste que liga a oferta de capacidade à procura por transporte marítimo. O seu funcionamento é bastante simples. Os armadores e os embarcadores, por meio de negociações, acertam um preço que reflete o equilíbrio entre a disponibilidade de navios e cargas a serem transportadas no mercado. Se houver excesso de navio com relação ao volume de carga, a cotação de frete será baixa, caso contrário assumirá um valor alto. Uma vez que a taxa de frete é estabelecida, os armadores e embarcadores fazem seus ajustes que eventualmente levam ao equilíbrio a oferta e a procura (STOPFORD, 1997, p.139).

A Figura 16representa de forma qualitativa a função de oferta de capacidade de transporte marítimo, a função de procura por transporte marítimo e o preço equilíbrio pelo qual o armador oferece ao mercado capacidade de transporte no mesmo nível da procura.

A função de oferta representa o volume de transporte disponibilizado pelos armadores para cada nível da taxa de frete. À medida que o preço pago pelo frete assume valores mais elevados, os armadores disponibilizam para o mercado maior volume de transporte marítimo, por meio de ajustes nas velocidades de navios e voltando a operar as embarcações que estavam na reserva.

Figura 16 – As funções de oferta e de procura por transporte marítimo

Na região “A”, conforme assinalado na figura, há um oferecimento parcial de capacidade de transporte de carga, com os navios menos eficientes mantidos na reserva, de acordo com os níveis da taxa de frete . Na região “B” os níveis da taxa de frete alcançam valores suficientes para que seja ofertada a totalidade da capacidade de transporte; não há navios na reserva. Na região “C” a totalidade da frota estará em operação à máxima velocidade. A partir deste ponto não há possibilidade de aumento na oferta de capacidade, pelo menos a curto prazo, salvo se houver entregas de novas embarcações encomendadas aos estaleiros.

A função de procura por transporte marítimo mostra como os embarcadores se ajustam às cotações de frete. A curva de demanda é praticamente vertical. De acordo com Stopford (1997, p. 141) a maioria dos granéis tem este comportamento, o qual é explicado pela inexistência de transportes alternativos competitivos.

O ponto de equilíbrio representa a situação na qual a taxa de frete alcança um nível, para o qual a capacidade ofertada encontra as necessidades de transporte marítimo. Quando o ponto de equilíbrio está situado na região “A” a taxa de frete reflete a procura baixa. Quando a procura posiciona o ponto de equilíbrio na região “B” , há um discreto aumento na taxa de frete visto que alguns navios que estavam na reservam voltam a operar. Porém um pequeno aumento da procura posiciona o ponto de equilíbrio na região “C” fazendo com que o frete atinja taxas altíssimas, pois nesta ocasião as cotações do mercado de frete são ditadas pelos navios mais antigos e menos eficientes, os quais necessitam de receitas altas para cobrir os seus altos custos operacionais.

O mecanismo de ajuste de longo prazo do equilíbrio entre a oferta e a procura atua através dos mercados de navios usados, de demolição e de construção naval. À medida que as taxas de frete caem durante a recessão, a rentabilidade dos navios e, consequentemente, suas respectivas cotações no mercado de navios usados despencam. Eventualmente os preços dos navios menos eficientes atingem níveis do mercado de demolição. Nessas condições os navios são alienados e comprados pela indústria de demolição, sendo permanentemente removida desta forma uma parcela da capacidade excedente do mercado. A queda dos preços dos navios usados torna-os, eventualmente, economicamente viáveis para outras aplicações, como armazenagem de petróleo e operações de transbordo no mercado de graneis. Desta forma o mecanismo do preço atua no mercado reduzindo a oferta de navios no mercado.

Em outro momento quando a oferta de capacidade torna-se pequena comparada à procura empurrando para cima as cotações do frete, este efeito repercute no mercado de navios usados. Os armadores neste momento vão em busca de capacidades

adicionais para reforçar as suas frotas e, do momento que há falta de navios no mercado, os despachantes decidem também expandir suas próprias operações de transporte marítimo para garantir navios para as suas cargas. Com o desequilíbrio entre o número de compradores e vendedores, as cotações do mercado de navios usados, dependendo da idade do navio, ultrapassam os preços do mercado de construção naval. Neste instante, dada as escassez de navios no mercado e as cotações de frete altamente atrativas, os armadores colocam suas encomendas nos estaleiros, os quais experimentam uma expansão rápida de suas carteiras de pedidos. Dois ou três anos depois começam a entrar no mercado as primeiras embarcações entregue pelos estaleiros, iniciando desta forma a expansão da oferta de capacidade.

A combinação entre a volatilidade da procura com os atrasos significativos para o ajuste da oferta com a procura, forma a estrutura para a dinâmica cíclica do mercado. De acordo com Stopford (1997, p. 145), os armadores tendem a tomar suas decisões de investimentos com base no status corrente do mercado, ou seja, eles colocam suas encomendas nos estaleiros de acordo com a atratividade das cotações do frete; frete alto, muitas encomendas, frete baixo, poucas. No lapso de tempo natural entre a encomenda e a entrega das novas embarcações, podem haver mudanças significativas no comportamento da procura, desta forma qualquer tendência de ciclo será amplificada.

Stopford (1997, p. 145) demonstra que nos últimos 100 anos o ciclo tem a duração média de 7 anos, ou seja, a duração esperada para que o mecanismo do mercado de frete atue de forma a equilibrar a oferta com a demanda. Geralmente demora de dois a três anos para que as encomendas de novos navios sejam entregues, são necessários também de dois a três anos para que a indústria de demolição remova

a capacidade excedente do mercado e de dois a três anos para que o mercado estimule novamente os armadores a apresentarem as suas encomendas aos estaleiros.

Diante da dinâmica apresentada, cabe aos investidores do mercado questionar se a evolução de longo prazo das taxas de frete lhes garantirá retornos significativos sobre seus investimentos. Certamente que nenhum investidor poderá se sentir confortável a cada solavanco do mercado (STOPFORD, 1997, 147).