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2.2 Teoria Institucional e o Processo de Institucionalização

2.2.1 Mecanismos de Transformações Isomórficas

Segundo DiMaggio e Powell (2005), os fatores que conduzem as organizações à burocratização e à racionalização se deslocaram da competição para processos miméticos que tornam as organizações mais semelhantes, porém não necessariamente mais eficientes. As organizações, em busca de legitimação, tendem a aderir aos padrões e práticas de seu setor e da sociedade em geral, o que conduz ao assemelhamento de práticas organizacionais. Esse

19 processo é denominado isomorfismo institucional e compreende três mecanismos de transformações isomórficas: coercitivo, normativo e mimético.

O isomorfismo coercitivo ocorre por meio de uma imposição formal ou informal exercida por uma organização a outra, com a qual mantém relação de dependência. Nesse caso, as transformações estruturais ou incorporações de padrões e práticas organizacionais ocorrem por força de autoridade, como na submissão a regulamentações governamentais. De forma mais sutil e indireta, o isomorfismo coercitivo pode também ser identificado na necessidade de certas organizações em desenvolver hierarquias organizacionais como requisito para obtenção de suporte de organizações concedente de recursos (DIMAGGIO; POWELL, 2005; HALL; TAYLOR, 1996). Segundo DiMaggio e Powell (2005, p. 77):

O isomorfismo coercitivo resulta tanto de pressões formais quanto de pressões informais exercidas sobre as organizações por outras organizações das quais elas dependem, e pelas expectativas culturais da sociedade em que as organizações atuam. Tais pressões podem ser sentidas como coerção, como persuasão, ou como um convite para se unirem em conluio. Em algumas circunstâncias a mudança organizacional é uma resposta direta a ordens governamentais: os produtores adotam novas tecnologias de controle de poluição para se adequarem a regulamentações ambientais; organizações não lucrativas mantêm contabilidade e contratam contadores a fim de se adequarem às obrigações legais e fiscais; [...] Outros requerimentos legais e técnicos do Estado – mudanças com relação ao ciclo orçamentário, a ubiquidade de alguns anos fiscais, relatórios anuais e as exigências dos relatórios financeiros que asseguram elegibilidade para o recebimento de fundos ou o fechamento de contratos federais – também moldam as organizações sob diversos aspectos.

O isomorfismo mimético, que pode ser identificado como imitação, ocorre quando da adoção de práticas organizacionais já legitimadas e difundidas em seu setor; da busca das melhores práticas (benchmarking) de forma a suprir a ausência ou insuficiência de iniciativas próprias. Nesse aspecto, DiMaggio e Powell (2005, p. 78) ponderam que:

[...] as organizações podem vir a tomar outras organizações como modelo. As vantagens do comportamento mimético, em termos de economia de ações humanas, são consideráveis. [...] Tomar outras organizações como modelo, como denominamos, constitui uma resposta à incerteza. A organização imitada pode não estar consciente de que está sendo imitada ou pode não ter o desejo de ser imitada. Ela simplesmente serve como fonte conveniente de práticas que a organização que a copia pode utilizar. Os modelos podem ser difundidos involuntariamente, indiretamente por meio da transferência ou rotatividade de funcionários, ou explicitamente por organizações como firmas de consultoria ou associações de comércio de indústrias.

Finalmente, o isomorfismo normativo ocorre a partir da homogeneidade de práticas profissionais difundidas no mercado ou no meio acadêmico, processo que é desenvolvido

20 especialmente pelas universidades e por instituições de ensino e treinamento profissional, na qualidade de formadoras de conhecimentos que se difundem no mercado através da formação de seus profissionais. Para DiMaggio e Powell (2005, p. 78-79):

Uma terceira fonte de mudanças organizacionais isomórficas é a normativa, e deriva principalmente da profissionalização. [...] enquanto diversos tipos de profissionais dentro de uma organização podem diferir uns dos outros, eles apresentam muita semelhança com seus pares profissionais em outras organizações. [...] Dois aspectos da profissionalização são fontes importantes de isomorfismo. Um deles é o apoio da educação formal e da legitimação em uma base cognitiva produzida por especialistas universitários. O segundo aspecto é o crescimento e a constituição de redes profissionais que perpassam as organizações e por meio das quais novos modelos são rapidamente difundidos.

DiMaggio e Powell (2005) ressaltam que essa tipologia é eminentemente analítica, pois, empiricamente, os três mecanismos podem coexistir. Desse modo, uma possibilidade de interpretação desses aspectos recai sobre a presença de esquemas interpretativos aos indivíduos de uma organização, isto é, quadros de referência que moldam o comportamento humano. Assim, indivíduos em papéis específicos internalizam suas normas e as reproduz, fato que pode ser relacionado à dimensão normativa da influência das instituições sobre o comportamento. Simultaneamente, essa influência é percebida quando as instituições fornecem aos indivíduos esquemas e modelos cognitivos para a ação (DIMAGGIO; POWELL, 2005; HALL; TAYLOR, 1996). O Quadro 4 sintetiza essa tipologia.

Quadro 4: Mecanismos de transformações isomórficas

Isomorfismo Características

Coercitivo

Imposição formal ou informal exercida por uma organização a outra; transformações estruturais ou incorporações de padrões e práticas organizacionais ocorrem por força de autoridade; submissão a regulamentações governamentais.

Mimético Adoção de práticas organizacionais já legitimadas e difundidas no setor; busca das melhores práticas (benchmark ing); imitação.

Normativo

Homogeneidade de práticas profissionais difundidas no mercado ou no meio acadêmico; processo desenvolvido por universidades, instituições de ensino e treinamento profissional e redes profissionais, formadoras de conhecimentos que se difundem no mercado.

Fonte: Elaborado pelo autor (2018), a partir de DiMaggio e Powell (2005).

De forma pertinente, Machado-da-Silva e Gonçalves (2010) resgatam o fato de que, em contraste com sociedades de forte tradição democrática e alto nível de competição nas quais predominam os mecanismos miméticos e normativos, a trajetória de modernização das instituições brasileiras é marcada pelo destaque de mecanismos coercitivos de transformação

21 social, explicável pela associação da forte tradição patrimonialista aos longos períodos de autoritarismo no processo de formação sociocultural da sociedade brasileira. Como exemplo,

os autores pontuam que expressões como “burocracia patrimonial”, de Raimundo Faoro (1984), e “formalismo como estratégia para mudança”, de Guerreiro Ramos (1983), são

típicos constructos associados a essa realidade histórica. Dessa forma, segundo os autores, a articulação desses mecanismos isomórficos é relevante na análise do processo de transformação de sociedades; todavia, o peso atribuído a cada qual varia em função do contexto, isto é, das características de cada ambiente em análise.