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3. OS MECANISMOS DE COMBATE AO TRABALHO EM CONDIÇÕES

3.1 Mecanismos internacionais e nacionais de fiscalização e combate

Com a ratificação das convenções e recomendações internacionais, o Brasil passou a combater o trabalho em condições análogas a de escravo de forma mais constante. A primeira convenção ratificada pelo Governo brasileiro no ano de 1957, foi a de nº 29 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que em seu Artigo 1º68 dispõe que “[...] todo País-membro da Organização Internacional do Trabalho que ratificar esta Convenção compromete-se a abolir a utilização do trabalho forçado ou obrigatório, em todas as suas formas, no mais breve espaço de tempo possível”.

Ademais, a Convenção nº 105 da OIT, ratificada pelo Brasil em 1965, proibiu o uso do trabalho forçado e obrigatório como meio de coerção ou de educação política e proibiu que a participação em greves e a expressão de opiniões políticas e públicas fossem punidas com o trabalho forçado, dentre outras determinações69. Outrossim, segundo relatório da OIT, os países signatários que adotarem essa convenção:

[...]comprometem a adequar sua legislação nacional às circunstâncias da prática de trabalho forçado neles presentes, de modo que seja tipificada de acordo com as particularidades econômicas, sociais e culturais do contexto em que se insere. Ademais, a Convenção estipula que a legislação deve

prever sanções realmente eficazes70.

Por conseguinte, em 1966 foi ratificada a Convenção das Nações Unidas sobre a Escravatura, assinada em Genebra no ano de 1926 e emendada pelo protocolo de 1953, que estabeleceu que os países membros deveriam se comprometer no combate a prática escravocrata, que no período era caracterizada pelo exercício do direito de

68Convenção 29 sobre o trabalho forçado e obrigatório. Disponível em:

<http://www.oit.org.br/sites/all/forced_labour/oit/convencoes/conv_29.pdf>. Acesso em: 14/11/2015.

69 Artigo 1º da Convenção nº 105 sobre a abolição do trabalho forçado: Todo País-membro da

Organização Internacional do Trabalho que ratificar esta Convenção comprometer-se a abolir toda forma de trabalho forçado ou obrigatório e dele não fazer uso: a) como medida de coerção ou de educação política ou como por ter ou expressar opiniões políticas ou pontos de vista ideologicamente opostos ao sistema político, social e econômico vigente; b) como método de mobilização e de utilização da mão-de-obra para fins de desenvolvimento econômico; c) como meio disciplinar a mão-de-obra; d) como punição por participação em greves; e) como medida de discriminação racial, social, nacional ou religiosa.

70As boas práticas de inspeção do trabalho no Brasil: A erradicação do trabalho análogo a de escravo.

Organização Internacional do Trabalho. Brasília. 2010. Disponível em:

<http://www.oitbrasil.org.br/sites/default/files/topic/labour_inspection/pub/trabalho_escravo_inspecao_ 279.pdf>. Acesso em: 13/11/2015.

propriedade que se tinha em relação aos escravos71. No mesmo sentido, foi instituída a Convenção Suplementar sobre a Abolição da Escravatura de 1956, ratificada do mesmo modo em 1966, tendo ambas como objetivo principal erradicar todas as formas de escravidão existentes.

O Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos das Nações Unidas e o Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais das Nações Unidas, promulgados pelo Brasil em 1966, dispõem respectivamente que ninguém poderá ser submetido à escravidão e que todas as suas formas estão proibidas, além do mais, fica estabelecido que todas as pessoas têm o direito de trabalhar de forma justa e favorável72.

No mesmo sentido, a Convenção Americana de Direitos Humanos de 196973 (Pacto de São José da Costa Rica), reconhecida pelo Brasil em 1992, estabelece em seu art. 6º que “[...] ninguém pode ser submetido a escravidão ou a servidão, e tanto estas como o tráfico de escravos e o tráfico de mulheres são proibidos em todas as suas formas”, além de proibir a execução de trabalho forçado e obrigatório.

Valerio de Oliveira Mazzuoli, discorre sobre a escravidão no Continente Americano e assegura que:

Atualmente, o que se presencia em muitos países do Continente Americano é uma nova e mais requintada forma de escravidão e servidão. Tal pode ser chamado de neoescravismo, enquanto nova forma de comercialização de corpos humanos, caracterizando-se fundamentalmente pela falta de opção que têm grande parte da parcela da população de encontrar trabalho digno fora de um sistema que aprisiona com promessas de melhoria de qualidade de vida e bons salários74.

Por fim, a Declaração da Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano ou Declaração de Estocolmo de 1972 e o Protocolo para Prevenir, suprimir

71Convenção sobre a Escravatura de 1926. Disponível em:

<http://www.oit.org.br/sites/all/forced_labour/legis_jur/sumario/CONVEN%C3%87%C3%83O%20S%C

3%94BRE%20A%20ESCRAVATURA%20ASSINADA%20EM%20GENEBRA.pdf>. Acesso em:

14/11/2015.

72As boas práticas de inspeção do trabalho no Brasil: A erradicação do trabalho análogo a de escravo.

Organização Internacional do Trabalho. Brasília. 2010. Disponível em:

<http://www.oitbrasil.org.br/sites/default/files/topic/labour_inspection/pub/trabalho_escravo_inspecao_ 279.pdf>. Acesso em: 13/11/2015.

73 Convenção Americana sobre Direitos Humanos de 1969 (Pacto de São José da Costa Rica).

Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/anexo/and678-92.pdf>.

Acesso em:15/11/2015.

74GOMES, Luiz Flávio; MAZZUOLI, Valerio de Oliveira. Comentários à Convenção Americana sobre

Direitos Humanos. Pacto de San José da Costa Rica. 4. Ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013. p. 58.

e Punir o Tráfico de Pessoas, Especialmente Mulheres e Crianças ou “Protocolo do Tráfico” de 2000, são os últimos instrumentos internacionais reconhecidos pelo Brasil, que tem por objetivo minimizar e erradicar o trabalho em condições análogas a de escravo no país.

Todavia, o Brasil não respeitou as Convenções e os pactos firmados em sua plenitude, e como consequência, no ano de 1989 o caso “José Pereira” repercutiu mundialmente e foi fundamental para que o país reconhecesse em 1995, após 107 anos da abolição da escravatura, que milhares de trabalhadores eram submetidos a condições análogas a de escravo na realização das suas atividades laborais.

O caso mencionado ocorreu na Fazenda Espírito Santo, no estado do Pará, onde José Pereira e mais 60 (sessenta) trabalhadores executavam seus trabalhos em condições degradantes e subumanas, sofrendo maus-tratos constantes, sem nenhum amparo estatal. Em 1989, com 17 (dezessete) anos, José resolveu fugir da fazenda em companhia de seu amigo “Paraná”, após a notícia de que o salário não seria pago, entretanto os dois foram surpreendidos pelos “gatos” do local no momento da fuga e acabaram baleados. “Paraná”, morreu no local e José que levou um tiro no olho se fingiu de morto com o objetivo de despistar os assassinos. Os corpos foram levados para as mediações da Fazenda Brasil Verde, próxima a Fazenda Espirito Santo, e José conseguiu pedir ajuda ao gerente da fazenda que o levou para o hospital da região75.

O trabalhador resolveu denunciar o caso a Polícia Federal, entretanto, a Comissão da Pastoral da Terra denunciou o caso para a Organização dos Estados Americanos (OEA), haja vista que as autoridades nacionais não apresentaram uma resposta imediata. José em 2003, após 14 anos, recebeu a primeira indenização paga pelo Brasil a um trabalhador nessas condições, com o valor de R$ 52.000,00 (cinquenta e dois mil reais).

Outrossim, foram impostas medidas como forma de sanção pela OEA ao governo brasileiro, como por exemplo:

A fim de melhorar a Legislação Nacional, que tem como objetivo proibir a prática do trabalho escravo no país, o Estado brasileiro compromete-se a implementar as ações e as propostas de mudanças legislativas contidas no Plano Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo, elaborado

75RELATÓRIO nº95/03. Caso 11.289, José Pereira (ano 2003). Comissão Interamericana de

Direitos Humanos. Disponível em: <https://cidh.oas.org/annualrep/2003port/Brasil.11289.htm>. Acesso em: 08/01/2016.

pela Comissão Especial do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, e iniciado pelo Governo brasileiro em 11 de março de 2003. O Estado brasileiro compromete-se a efetuar todos os esforços para a aprovação legislativa (i) do Projeto de Lei Nº 2130-A, de 1996 que inclui, entre as infrações contra a ordem econômica, a utilização de mecanismos “ilegítimos da redução dos custos de produção como o não pagamento dos impostos trabalhistas e sociais, exploração do trabalho infantil, escravo o semi-escravo”; e (ii) o Substitutivo apresentado pela Deputada Zulaiê Cobra ao projeto de Lei Nº 5.693 do Deputado Nelson Pellegrino, que modifica o artigo 149 do Código Penal Brasileiro.

Por ultimo, o Estado brasileiro compromete-se a defender a determinação da competência federal para o julgamento do crime de redução análoga à de

escravo, com o objetivo de evitar a impunidade76.

Desta forma, a partir de 2003, com o Plano Nacional para Erradicação do Trabalho Escravo, o Brasil se responsabilizou e comprometeu-se em aplicar medidas eficazes para coibir o trabalho escravo no território nacional77. No que tange os esforços para aprovação do Projeto de Lei nº 2130-A e para modificação do art. 149 do CP, o primeiro encontra-se arquivado, enquanto que a modificação do art. 149 foi realizada no mesmo ano da instalação das medidas.

Ademais, a federalização do crime previsto no art. 149 do CP que antes era pacificada, vem sofrendo algumas tentativas de modificação, haja vista que o crime encontra-se inserido no Capítulo VI do Código Penal, que trata dos crimes contra a liberdade individual, bem como na seção I que dispõe sobre os crimes contra a liberdade pessoal. Assim, a Justiça Federal seria competente, apenas para julgar os crimes que atentam contra a organização do trabalho que estão elencados do art. 197 ao 207 do CP78, não sendo competente para julgar os crimes com a pessoa.

No entanto, em novembro de 2015, o STF ao julgar o Recurso Extraordinário (RE) 459510, apresentado pelo Ministério Público Federal (MPF) em face da decisão do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1) que remeteu para a Justiça de Mato Grosso denúncia de trabalho escravo na Fazenda Jaboticabal, onde 53 trabalhadores foram encontrados em situação degradante, foi favorável no sentido de reconhecer a competência da Justiça Federal para julgar o delito, podendo tal decisão

76RELATÓRIO nº95/03. Caso 11.289, José Pereira (ano 2003). Comissão Interamericana de

Direitos Humanos. Disponível em: <https://cidh.oas.org/annualrep/2003port/Brasil.11289.htm>. Acesso em: 08/11/2016.

77SAKAMOTO, Leonardo. Zé Pereira, um sobrevivente. Repórter Brasil, 02/06/2004. Disponível em:

<http://reporterbrasil.org.br/2004/06/ze-pereira-um-sobrevivente/>. Acesso em: 15/11/2015.

78NOTÍCIAS, STF. STF analisa se cabe à Justiça Federal ou Estadual julgar crime de exploração

de trabalho escravo. Imprensa do Superior Tribunal Federal, Brasília, 04 de fevereiro de 2010.

Disponivel em:

<http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=119686&caixaBusca=N>. Acesso em: 08/11/2016.

ser utilizada de maneira análoga. Deste modo, o Brasil, em passos lentos, cumpriu mais uma determinação estabelecida pela OEA, em decorrência do caso “José Pereira”.

Em sequência, a atuação do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) com a incorporação dos grupos de fiscalização, tem constituído ferramenta fundamental para coibir e combater a pratica de trabalho análogo à escravidão.

O Grupo Especial de Fiscalização Móvel (GEFM), foi instituído pelo MTE em 1995, através das Portarias nº 549 e 550, logo após o reconhecimento oficial da existência, perante a OIT, de trabalho escravo no Brasil. O grupo é coordenado pelo Secretaria de Inspeção de Trabalho (SIT) do MTE, responsável pela fiscalização da existência de trabalho escravo e de trabalho infantil, e tem em sua composição auditores fiscais do trabalho, procuradores do Ministério Público do Trabalho e policiais federais79.

As disposições sobre a os procedimentos adotados pelo GEFM, encontram-se elencadas na Portaria 265/200280, que assenta em seu art. 1º o objetivo principal com a instituição dos grupos de fiscalização, asseverando que “[...]os Grupos Especiais de Fiscalização Móvel – GEFM, compostos por Auditores Fiscais do Trabalho, têm por finalidade o combate ao trabalho escravo, forçado e infantil e têm atuação em todo o território nacional”.

Destarte, os seis81 grupos de fiscalização, surgiram com a finalidade de combater todas as formas de trabalho escravo no Brasil, com o objetivo de erradicar o crime tipificado no art. 149 do CP, de estabelecer punições para os infratores e medidas de assistência e inclusão para os trabalhadores encontrados em situação de trabalho análoga a condição de escravo. A ação dos grupos, em sua maioria, é desencadeada pelas denúncias de trabalhadores ao MTE quando conseguem fugir, ao Ministério Público do Trabalho (MPT) e a Comissão Pastoral da Terra (CPT)82.

79Combate ao Trabalho Escravo no Brasil. Comissão Interamericana de Direitos Humanos. Outubro

de 2006. Disponível em: <http://reporterbrasil.org.br/documentos/oea_governo.pdf>. Acesso em: 18/11/2015.

80BRASIL, Ministério do Trabalho e Emprego. Portaria nº 265/2002. Disponível em:

<http://www.oit.org.br/sites/all/forced_labour/legis_jur/sumario/PORTARIA%20N.%C2%BA%20265,% 20DE%2006%20DE%20JUNHO%20DE%202002%20(M.T.E.).pdf>. Acesso em: 22/11/2015.

81Art. 3 da Portaria 265/2002, do MTE. As ações dos GEFM serão planejadas e coordenadas por: I -

uma Coordenação Nacional, exercida pelo Secretário de Inspeção do Trabalho; e II – seis

Coordenações Operacionais. Parágrafo Único. Quando necessário garantir a proteção das fontes de informação, a segurança dos integrantes e a sua eficácia, a ação fiscal revestir-se-á de caráter sigiloso.

82As boas práticas da inspeção do trabalho no Brasil: a erradicação do trabalho análogo ao de escravo/

A SIT em conjunto com a Superintendência Regional do Trabalho e Emprego (SRTE), divulgaram dados de 1995 até 2013, sobre a atuação dos grupos de fiscalização e os números mostram o emprenho dos agentes em coibir a prática escravocrata moderna. Em 18 (dezoito) anos foram realizadas 1.572 (um mil, quinhentos e setenta e duas) operações de fiscalização, em 3.741 (três mil, setecentos e quarenta e um) estabelecimentos que proporcionaram o resgate de 46.478 (quarenta e seis mil, quatrocentos e setenta e oito) trabalhadores que realizam trabalhados forçados e degradantes e aproximadamente R$ 86.320.330,00 (oitenta e seis milhões, trezentos e vinte mil, trezentos e trinta reais) e foram pagos por meio de indenizações para estes trabalhadores resgatados83.

De modo geral, os grupos de fiscalização com suas operações buscam resgatar os trabalhadores do local onde estão sendo expostos a condições de vulnerabilidade e proporcionar por meio de relatórios e com o acionamento de outros órgãos federais, ações que assegurem assistência emergencial para estes trabalhadores através da concessão de seguro-desemprego especial, com a prioridade de inseri-los no Programa Bolsa Família e intermediar a mão de obra rural, por exemplo, dentre outras medidas84.

A assistência emergencial consiste em oferecer alimentação e hospedagem para os trabalhadores resgatados até o fim da operação de fiscalização, quando os infratores não assumem a responsabilidade pela autoria do delito. E como consequência, os trabalhadores são levados para suas cidades e famílias, e tem a oportunidade de começar uma vida longe das privações anteriores. Ademais, de acordo com o caput do art. 2ª-C da Lei nº 10.608/ 200285 os trabalhadores resgatados

83MTE, Ministério do Trabalho e Emprego. Divisão de Fiscalização Para Erradicação do Trabalho

Escravo- DETRAE. Quadro Geral das Operações de Fiscalização para Erradicação do Trabalho Escravo - SIT/SRTE 1995 a 2013. Relatórios Específicos de Fiscalização Para Erradicação do Trabalho

Escravo. Disponível em:

<file:///C:/Users/Win's/Documents/Quadro%20resumo%20opera%C3%A7%C3%B5es%20T.E.%2019 95%20-%202013.%20Internet.pdf>. Acesso em: 22/11/2015.

84Ministério do Trabalho e Emprego. A experiência brasileira no combate ao trabalho escravo

contemporâneo. Disponível em:<file:///C:/Users/Win's/Downloads/MTE_- _A_experi%C3%AAncia_brasileira_no_combate_ao_trabalho_escravo_contempor%C3%A2neo_- _.pdf>. Acesso em: 22/11/2015.

85 Art. 2º-C da Lei nº 10.608/2002: O trabalhador que vier a ser identificado como submetido a regime

de trabalho forçado ou reduzido a condição análoga à de escravo, em decorrência de ação de fiscalização do Ministério do Trabalho e Emprego, será dessa situação resgatado e terá direito à percepção de três parcelas de seguro-desemprego no valor de um salário mínimo cada, conforme o disposto no §2º deste artigo.

§ 1º- O trabalhador resgatado nos termos do caput deste artigo será encaminhado, pelo Ministério do Trabalho e Emprego, para qualificação profissional e recolocação no mercado de trabalho, por meio do

são inseridos no Seguro-Desemprego Especial e recebem três parcelas correspondentes ao salário mínimo, além disto o §1º do referido artigo dispõe sobre a qualificação profissional e inserção no mercado de trabalho, destes trabalhadores através do Sistema Nacional de Emprego (SINE)86.

Ademais, o SINE com a implantação do programa de intermediação de mão de obra, é indispensável para inserção de milhares de trabalhadores urbanos e rurais em todo país. A intermediação de mão de obra rural, conhecida como “Marco Zero” por sua vez, é uma política pública que visa coibir o aliciamento dos trabalhadores para outras regiões ou estados da federação pelos “gatos” com o intuito de submetê-los ao trabalho escravo. O aliciamento é crime previsto no art. 207 do CP, que prevê pena de um a três anos e multa para o ilícito.

Art. 207- Aliciar trabalhadores, com o fim de leva-los de uma para outra localidade do território nacional:

Pena – detenção, de um a três anos e multa.

§1º Incorre na mesma pena quem recrutar trabalhadores fora da localidade de execução do trabalho, dentro do território nacional, mediante fraude ou cobrança de qualquer quantia do trabalhador, ou ainda, não assegurar condições do seu retorno ao local de origem.

§2º A pena é aumentada de um sexto a um terço se a vítima é menor de dezoito anos, idosa, gestante, indígena ou portadora de deficiência física ou mental87.

Outrossim, por meio desta política pública os trabalhadores têm acesso a trabalho na sua cidade, ou estado de origem, sem que haja a necessidade do deslocamento para outros lugares, afim de garantir o sustento da sua família.

Essa política pública incide sobre o aliciamento, momento chave da cadeia de eventos que conduz ao trabalho escravo. Ao proporcionar o encontro entre a demanda por mão de obra e a força de trabalho, a intermediação tornar· desnecessária a figura do aliciador (popular “gato”) e fomentará a adoção de práticas trabalhista em acordo com a legislação. O trabalhador intermediado pelo sistema público terá maior previsibilidade sobre as condições de trabalho de sua futura ocupação. Poderá, ainda, mediante cadastro na agência do SINE, ter mais chances de acesso a outras políticas, como a qualificação profissional. Do outro lado, o empregador terá à disposição um meio de encontrar os trabalhadores que sua atividade produtiva demanda, de acordo

Sistema Nacional de Emprego – SINE, na forma estabelecida pelo Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador- CODEFAT.

86Ministério do Trabalho e Emprego. A experiência brasileira no combate ao trabalho escravo

contemporâneo. Disponível em:<file:///C:/Users/Win's/Downloads/MTE_- _A_experi%C3%AAncia_brasileira_no_combate_ao_trabalho_escravo_contempor%C3%A2neo_- _.pdf>. Acesso em: 22/11/2015.

87BRASIL, Decreto-Lei nº 2.848 de 07 de dezembro de 1940. Código Penal. Disponível em:

com perfil ocupacional que poder· estabelecer previamente à contratação

junto aos centros de intermediação88.

Existe ainda, a prioridade de inserção desses trabalhadores no programa Bolsa Família, a inclusão no Programa Brasil Alfabetizado, comandado pelo Ministério da Educação e o Sistema de Acompanhamento e Combate ao Trabalho Escravo (SISACTE), implantado pela OIT e pelo MTE, que além de registrar as denúncias recebidas pelos órgãos competentes, registra os dados das operações de fiscalização realizadas pelos GEFM’s89.

Por conseguinte, a Portaria nº 540 de 2004 do MTE possibilitou o Cadastro de Empregadores Infratores que mantiveram seus trabalhadores em condições análogas a de escravo. O cadastro conhecido como “Lista Suja” ocorre segundo o art. 3º da Portaria90 “[...] após decisão administrativa final relativa ao auto de infração lavrado em decorrência de ação fiscal em que tenha havido a identificação de trabalhadores submetidos a condições análogas à de escravo”.

Depreende-se que a “lista suja” é um mecanismo fundamental para coibir a prática escravocrata no território brasileiro, uma vez que os nomes dos infratores são revelados nacional e internacionalmente, ademais os infratores incluídos no cadastro têm benefícios como a concessão de créditos públicos e isenções fiscais negadas, todas as medidas que derivam da “lista suja”, tem a mesma finalidade, erradicar o trabalho escravo no Brasil e proporcionar a liberdade e a dignidade de milhões de trabalhadores.

O Ministério Público do Trabalho (MPT), é outro órgão que tem função essencial na erradicação do trabalho escravo. As medidas do MPT se concretizaram a partir de 2002 com a criação da Coordenadoria Nacional de Erradicação do Trabalho Escravo (CONAETE) pela Portaria 231, que objetiva fortalecer as ações realizadas

88Ministério do Trabalho e Emprego. A experiência brasileira no combate ao trabalho escravo

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