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No quadro acima referido assume relevância a, relativamente recente, Lei de Bases Gerais da Política Pública de Solos, de Ordenamento do Ter-

ritório e do Urbanismo (“Lei de Bases”), apro- vada pela Lei 31/2014, de 30 de maio, e que re- vogou a antiga Lei dos Solos de 1976.

Na linha do que te- mos vindo a dizer, esta Lei de Bases, não obstante garantir o direito de propriedade privada e con- sagrar que a imposição de restrições ao mesmo e aos demais direitos relativos ao solo está sujeita ao pagamento de justa indemnização, também esta- belece que o direito de propriedade privada e os demais direitos relativos ao solo são ponderados e conformados no quadro das relações jurídicas de ordenamento do ter- ritório e de urbanismo, com princípios e valores constitucionais protegi- dos, nomeadamente nos domínios da defesa na- cional, do ambiente, da cultura e do património cultural, da paisagem, da saúde pública, da educação, da habitação, da qua- lidade de vida e do desenvolvimento económico e social.

Com relevância para o nosso tema, estabelece- -se também nesta Lei de Bases que a classificação do solo determina o destino básico do solo, com respeito pela sua natureza, e assenta na distinção entre solo rústico e solo urbano. Neste âmbito,

A existência de um catálogo fechado de direitos reais não é isenta de críticas,

a razão da sua existência e atualidade são questionáveis, desde logo pelos constrangimentos que tal situação é suscetível de causar no comércio jurídico.

O uso e fruição pelo titular do direito de propriedade não é contudo, hoje, livre e absoluto, apresentando-se em muitos casos condicionado, nomeadamente por

mais recentemente, pelo Decreto Regulamentar 15/2015, de 19 de agosto, foram estabelecidos os critérios de classificação e reclassificação do solo, bem como os critérios de qualificação e as catego- rias do solo rústico e do solo urbano em função do uso dominante, aplicáveis a todo o território naci- onal. O solo urbano corresponde ao que está total ou parcialmente urbanizado ou edificado e, como tal, afeto em plano territorial à urbanização ou edificação. Por sua vez, o solo rústico corresponde àquele que, pela sua reconhecida aptidão, se des- tine, nomeadamente ao aproveitamento agrícola, pecuário, florestal, à conservação e valorização de recursos naturais, à exploração de recursos geo- lógicos ou de recursos energéticos, assim como o que se destina a espaços naturais, culturais, de tu- rismo e recreio, e aquele que não seja classificado como urbano.

Ainda com relevância para o tema em apre- ço, a Lei de Bases prevê a estruturação da pro- priedade, estabelecendo, designadamente, que os proprietários do solo rústico podem, individu- almente ou em associação, promover a reestru- turação da propriedade, nomeadamente para reduzir ou eliminar os inconvenientes socioeco- nómicos da fragmentação e da dispersão da pro- priedade. Noutro quadro, prevê-se também na Lei de Bases que os prédios rústicos e os prédios mistos sem dono conhecido e que não estejam a ser utilizados para fins agrícolas, florestais, silvo- -pastoris ou de conservação da natureza, possam ser disponibilizados na bolsa nacional de terras, nos termos da lei.

Relativamente ao primeiro aspeto, foi recen- temente aprovada a Lei 111/2015, de 27 de agos- to, que veio estabelecer o Regime Jurídico da Estruturação Fundiária, indicando-se como ob- jetivos a criação de melhores condições para o desenvolvimento das atividades agrícolas e flo- restais de modo compatível com a sua gestão sustentável nos domínios económico, social e ambiental, através da intervenção na configura-

ção, dimensão, qualificação e utilização produti- va das parcelas e prédios rústicos.

Como instrumentos de estruturação fundiária regula-se nesta recente Lei 111/2015 o emparcela- mento rural, a valorização fundiária (v.g. obras de valorização fundiária) e o regime de fracionamen- to de prédios rústicos, e enunciam-se também como instrumentos de estruturação fundiária, os planos territoriais intermunicipais ou municipais (regulados pela referida Lei de Bases e pelo Regi- me Jurídico dos Instrumentos de Gestão Territori- al, aprovado pelo Decreto-Lei 80/2015, de 14 de maio) e a bolsa nacional de terras para utilização agrícola, florestal ou silvo-pastoril, a que é aplicá- vel o regime da Lei 62/2012, de 10 de dezembro e demais legislação complementar.

Já no que respeita ao segundo aspeto acima referido – dos prédios rústicos sem dono conhe- cido –, foi também muito recentemente aprovada a Lei 152/2015, de 14 de setembro, que veio esta- belecer o processo de reconhecimento da situa- ção de prédio rústico e misto sem dono conhecido que não esteja a ser utilizado para fins agrícolas, florestais ou silvo-pastoris, tendo em vista a sua disponibilização na bolsa de terras, prevista na Lei 62/2012, de 10 de Dezembro.

Note-se que, como referido na Lei 62/2012, esta bolsa de terras tem por objetivo facilitar o acesso à terra através da disponibilização de ter- ras, designadamente quando as mesmas não se- jam utilizadas, e, bem assim, através de uma melhor identificação e promoção da sua oferta. A bolsa de terras disponibiliza para arrendamento, venda ou para outros tipos de cedência as terras com aptidão agrícola, florestal e silvo-pastoril: do domínio privado do Estado, das Autarquias Locais e de quaisquer outras entidades públicas; ou per- tencentes a entidades privadas, nos termos defi- nidos na Lei. No que respeita à disponibilização na bolsa de terras das pertencentes a entidades pri- vadas, a mesma efetua-se por iniciativa dos seus

proprietários ou no âmbito do referido proces- so de reconhecimento da situação de prédio sem dono conhecido. No entanto, neste último caso, essa disponibilização é efetuada por via do arren- damento, apenas podendo esses imóveis ser dis- ponibilizados para venda, decorrido o período de 15 anos, contados da data do registo do reconhe- cimento do prédio sem dono conhecido.

É assim patente o relevante acervo de legisla- ção recente com reflexos importantes no âmbito da propriedade do solo e do seu uso.