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CAPÍTULO I Expetativa, Motivação e Conflito de Interesses

1.2 Conflito de Interesses

1.2.2. Mediação

Sendo o conflito de interesses um desencontro que é criado pela relação e inter- relação entre os indivíduos, e que levanta problemas de (in)disciplina é necessário gerir e intervir de forma adequada, nomeadamente, em contexto escolar – assunto da nossa reflexão.

Segundo os diferentes autores, esta intervenção, especializada ou não, surge com características comuns aos vários autores mas também com algumas divergências e complementam-se. No entanto é denominada por todos, como “mediação”.

Marília Favinha fala-nos de mediação como “uma nova visão social, é uma filosofia aplicada em prol da melhoria das relações. Mais que uma técnica ou receita de controlo disciplinar, é uma construção de valores.” (2010, p.196)

Desta forma e segundo Ortega e Del Rey (2002), a mediação será o procedimento a adotar para prevenir e solucionar os conflitos. Nas palavras destas

autoras “é a intervenção, profissional ou profissionalizada, de um terceiro – um especialista – no conflito travado entre duas partes que não alcançam, por si mesmas, um acordo nos aspetos mínimos necessários para restaurarem uma comunicação, um diálogo que é necessário para ambas (…) com o reconhecimento da responsabilidade individual de cada um no conflito e o acordo sobre como agir para eliminar a situação de crise com o menor custo de prejuízo psicológico, social ou moral para ambos os protagonistas e suas repercussões em relação a terceiros envolvidos” (p.147).

Relativamente ao tempo e ao espaço necessários à mediação, as mesmas autoras defendem que a atividade de mediação, além de algumas sequências temporais adequadas, exige um espaço igualmente idóneo. Um espaço que preserve a intimidade, cujas condições não provoquem incómodo e onde os protagonistas possam ser escutados entre si, e o mobiliário facilite o contato visual direto. “É difícil estabelecer um limite concreto, mas, em todo caso, um número de sessões nunca inferior a três e não superior a oito ou dez, sempre com um intervalo de tempo entre uma e outra que permita aos protagonistas ir maturando sua possível mudança de atitudes, comportamentos e formas de comunicar seus sentimentos e iniciativas” (Ortega & Del Rey, 2002, p.151).

Na mesma linha de pensamento que as autoras supracitadas, Sousa (2002) defende que a mediação é um processo formal que envolve especialistas, “um meio de procura de acordo, em que as pessoas envolvidas são ajudadas por um especialista que orienta o processo” (p. 19).

Com um entendimento diferente sobre o conceito, Oliveira e Galego (2005) definem mediação como uma prática informal e como modalidade de valorização do conflito, de reapropriação deste pelos sujeitos implicados, de reativação da comunicação

e, em consequência, diferenciando-se de práticas de simples gestão e manipulação de relações conflituosas.

Vezzula (2001), por sua vez, advoga que ”a base da mediação é o tratamento dos mediados como seres humanos únicos, que devem esclarecer as suas dificuldades melhorando as inter-relações, o que lhes permite deter o controlo absoluto de todas as etapas do processo, através de um diálogo esclarecedor que possibilita a negociação e pelo qual eles criem responsavelmente as soluções para não serem escravos de soluções impostas” (p.87), ou seja, como refere Parkinson (2008), um “processo de colaboração para a resolução de conflitos” no qual duas ou mais partes em litígio são ajudadas por uma ou mais terceiras partes imparciais (mediadores) com o fim de comunicarem entre elas e de chegarem à sua própria solução, mutuamente aceite, acerca da forma como resolver os problemas em disputa (p.16).

Torremorell (2008) apresenta três conceções de mediação: a resolução, entendida como práticas de intervenção sem violência; a gestão, considerada como resolução através do domínio e do controlo dos conflitos; e a transformação, vista como conceção holística sem intenção de erradicar nem dirigir, centrando-se na interdependência das pessoas que os vivem e incidindo no processo conflituoso no sentido de fortalecer os intervenientes, de forma a promover a aprendizagem. Para esta autora, prevenir e gerir os conflitos escolares, sejam eles mera indisciplina ou atos de violência, passa por encontrar soluções apropriadas e que levem à diminuição da conflitualidade, considerada como um fator importante do insucesso: “as decisões devem ser tomadas com base no consenso, construído conjuntamente num espaço novo, enriquecido com a presença real daqueles que o configuram - tanto as partes como o mediador” (Torremorell, 2008, p.27). Abordar a questão da mediação implica refletir

sobre quem medeia (o mediador), quem é mediado, o tempo e o espaço em que a mediação ocorre.

Comecemos por analisar o papel do mediador. Nas definições anteriormente apresentadas de mediação, já se constatou que há autores que defendem que ele deve ser um especialista na área da mediação e outros são da opinião que este procedimento deve ser informal. Ortega e Del Rey (2002) e Sousa (2002) apresentam a mediação como um processo formal que envolve especialistas enquanto Oliveira e Galego (2005) a apresentam como um processo informal subescrevendo as qualidades atribuídas por Santos (1998), que atribui ao mediador as seguintes qualidades fundamentais: “a equidistância funcional, isto é, o não envolvimento afetivo com as partes e a independência face a elas, a neutralidade, a capacidade de agir como facilitador, sem qualquer poder adicional sobre as partes, mas em condições de estimular o diálogo e o entendimento” (Oliveira & Galego, 2005, p.4). Assim, promover a comunicação entre as partes e permitir o diálogo sobre os temas de conflito são fatores facilitadores da resolução de conflitos. Bonafé-Schmitt (2006) defende que o papel do mediador trará mais autoestima, confiança, maior responsabilidade, maior capacidade de tolerância e abertura ao que é diferente se for diligenciada pelos pares (iguais) e promoverá a moderação de atitudes e da imparcialidade na forma de agir.

Jones e Kmitta (2000) consideram a intervenção de todos a comunidade educativa na resolução de conflitos, como uma mais valia. Refere que a evidência empírica nos mostra que haverá mais benefícios para os alunos quando a mediação inclui não só crianças e jovens, mas também pais, educadores e restante pessoal escolar e da comunidade e desta forma torna-se mais eficaz na promoção de competências relacionadas com a resolução do conflito e na melhoria do ambiente escolar. A mediação cabe em todos os âmbitos da vida escolar e a todos os setores da comunidade

educativa: na relação professores/direção, relação professores/professores, professores/alunos, professores/pais; relação professores/alunos e relação dos alunos entre si. Assim, esta participação de toda a comunidade educativa, na mediação de conflitos, em processos de cooperação, sensibiliza os envolvidos para a necessidade de uma convivência pacífica e do desenvolvimento das competências pessoais e interpessoais, promove o respeito e a valorização de sentimentos e emoções, estreita relações e melhora a confiança nos outros. Como refere Torremorell (2008), “as diferenças naturais entre as pessoas não são propriamente geradoras de conflitos destrutivos, mas sim criativos. Aproveitar a riqueza de cada pessoa favorece a inovação social e promove o bom entendimento” (p.20).

O objetivo será, pois, compreender a comunidade escolar, promovendo uma gestão de conflitos mais assertiva e eficaz, onde exista uma melhor comunicação entre todos e relações interpessoais mais satisfatórias. Será possível, através do diálogo, de acolhimento, escuta, empatia, neutralidade e imparcialidade, confidencialidade, negociação e busca de pontos em comum, encontrar soluções com o intuito da sua resolução. No entanto, Estrela (1998) defende que tudo isto pode não ser suficiente se as diferentes posturas e atitudes forem contraditórias, defendendo que “a emergência de normas de conduta é um aspeto importante da vida dos grupos, pois, ao criarem as condições de funcionamento harmonioso do grupo, submetem a vontade particular à vontade geral e criam sentimentos de solidariedade e de pertença” (p. 55).

A coesão traduz-se nas relações afetivas que cada um tem em relação ao grupo e que o mantém unido manifestando-se na partilha diária e do envolvimento de toda a comunidade educativa dependerá o sucesso de um projeto de mediação. Pois como nos diz Fernando Pessoa no O Rio da Posse, “toda a aproximação é um conflito. O outro é sempre o obstáculo para quem procura”.

CAPÍTULO II