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Mediação cultural: um possível caminho para um aprendizado

3 Olhando a cultura por um caleidoscópio

3.4 Mediação cultural: um possível caminho para um aprendizado

Quem já não conheceu o sentimento de frustração quando, na escola, a matéria a ser aprendida parecia uma coisa morta, um amontoado de fatos desinteressantes que não tinha nenhuma relação com a vida real? (DIERTRICH, 2007, p. 15).

Ouvimos já muitas vezes nossos alunos indagando, o objetivo de aprenderem determinados conteúdos, por não enxergarem e compreenderem a utilização do mesmo em suas vidas, ou seja, podemos entender que a falta de significância desses conteúdos dificulta seu aprendizado?

Se pensarmos que este aluno possui culturas próprias e necessidades específicas, como podemos oferecer um aprendizado mais significativo?

De acordo com Antunes (2007, p.7) “psicólogos modernos conceituam inteligência como a capacidade de resolver problema ou elaborar produtos importantes para uma comunidade cultural”.

Ao proporcionarmos a esses alunos a possibilidade de elaboração de produtos, que é exatamente a produção cultural e dando autonomia para que resolvam situações problemas estamos permitindo que este alunado por meio da cultura produza conhecimento?

Dentro do ambiente escolar há uma expectativa de construção de saberes. O desafio é, como construir saberes dentro de um espaço que é composto por uma diversidade de culturas e sabendo respeitá-las. Assim, como permitir que esse educando seja sujeito de seu aprendizado?

Pensemos também na postura dos professores que compõem as estruturas escolares. Qual seria a preparação necessária para lidar com essas diferenças culturais, afim de que possam levar esse alunado a gerarem conhecimento? Shulman (apud MIZUKAMI, 2004, p.4 e 5) diz: “A base de conhecimento se refere a um repertório profissional que contém categorias de conhecimento que subjazem à compreensão que o professor necessita para promover aprendizagens dos alunos”. As escolas tem atendido uma clientela, que consiste em uma formação heterogênea, onde existe um currículo a ser trabalhado, que ainda não contempla a diversidade cultura que a cerca. Provavelmente os professores não conseguem enxergar que as diferenças podem ser uma forma de enriquecer o aprendizado e

torná-lo significativo.

É muito importante que a bagagem cultural do aluno, suas vivências e experiências de vida sejam respeitadas, dentro do processo de ensino aprendizagem, cabendo aos professores a função de escuta e não de transferência de conteúdos, onde os alunos recebem passiva e mecanicamente. A troca de experiências é também fonte de informação que agrega conhecimento a todos, partindo da valorização de cada aluno.

Perrenoud (2000, p. 90), aborda que enfrentar o desafio de propor um ensino que respeite a cultura da comunidade significa constatar cada realidade social e cultural com a preocupação de traçar um projeto pedagógico para atender a todos sem exceção.

Ao darmos a liberdade para que as crianças sejam sujeitos de seu aprendizado, estaremos proporcionamos um ambiente escolar estimulador, criativo, prazeroso e divertido, para aquisição de conhecimento? Quando criamos espaços para a exposição dos trabalhos realizados pelos alunos, transformamos a escolas em oficinas produtoras de cultura, essa postura proporciona aos alunos um meio de interação para produção de conhecimento e estímulo criativo?

Hernández, em relação ao espaço escolar, propõe na construção de projetos a exposição dos trabalhos em locais de fácil visualização, para que toda a comunidade escolar acessem os projetos que estão sendo trabalhados.

Conclui-se que a interação e o estímulo oferecido pelo meio propiciará a produção de aprendizagem.

O educador Rubem Alves em seu livro A escola que sempre sonhei sem

saber que existia (2002), nos relata a experiência realizada pelo educador

português José Pacheco, que fez um brilhante e desafiador trabalho na Escola da Ponte em Portugal como vimos no capítulo 1, rompendo com estruturas, com currículos engessados, fazendo paredes literalmente cair, pois as salas de aula não são divididas nem por paredes nem por faixa etária, temos aí um exemplo de inovação na educação e que deu resultado.

Nessa escola buscaram-se formar alunos autônomos, reflexivos, pesquisadores e que romperam com as dificuldades socioeconômicas, devido está localizada em uma área pouco privilegiada, além de contemplar zonas de interesse dos alunos como disparador motivacional do processo criativo na aprendizagem. Onde os pilares de sustentação, estão baseados nos valores de liberdade,

responsabilidade e na solidariedade.

Em relação à gestão de espaço a cooperação é fator que Perrenoud (2000, p. 59) nos aponta na seguinte reflexão: “A gestão de uma classe tradicional é objeto da formação inicial e consolida-se no decorrer da experiência. O trabalho em espaços mais amplos exige novas competências. Algumas delas giram em torno da cooperação profissional”.

Para chegar ao êxito vivido pelo o idealizador do projeto realizado na Escola da Ponte, José Pacheco, precisaremos entender que pode ser um dos caminhos a trilhar e trabalhar essas competências citadas por Perrenoud, em nossas escolas, a cooperação de todos que formam a escola para gerir esse espaço.

Muito provável que ao enxergarmos esse aluno de maneira singular não mais como uma única massa homogênea, poderemos começar a abalar as estruturas da escola e fazer algumas paredes cair, libertando-os e dando a eles à capacidade de ser sujeito de seu aprendizado como diz Paulo Freire (2011, p. 94):

A educação libertadora, problematizadora, já não pode ser o ato de depositar, ou de narrar, ou de transferir, ou de transmitir ‘conhecimento’ e valores aos educandos, meros e pacientes, à maneira da educação ‘bancária’, mas um ato cognoscente.

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Como nos relata Schwanitz, em relação às pessoas que tiveram nas escolas experiências de não verem sentindo em sua formação, mais tarde descobrem a riqueza de sua cultura e começam a despertar e ver que a literatura não é mais uma área do conhecimento árida, mas mágica que permite participar de experiências e a história torna a sociedade compreensível, percebendo novos significados na construção do conhecimento.

Vygotsky (apud MOLL, 1997) nos aponta que a ideia dos processos psicológicos superiores se desenvolve nas crianças por meio do uso dos recursos culturais facilitado pelas práticas sociais, através da aquisição da tecnologia da sociedade, dos signos e ferramentas; através da educação em toda sua forma. Com esses caminhos apontados podemos pensar em como construir em nossas escolas conhecimentos significativos, contemplando a pluralidade cultural explicita em cada escola?