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Mediação família: o papel dos pais na formação de leitores

5 RECONHECENDO O CAMPO: ANÁLISE DAS CATEGORIAS

5.1 Mediação família: o papel dos pais na formação de leitores

Petit (2008, p.140) ressalta a “importância da familiaridade precoce com os livros, de sua presença física na casa, de sua manipulação” para que as crianças tenham contato, desde cedo, com o livro, adquirindo o gosto e o hábito da leitura. Queremos dizer que a media que os pais também têm experiências e práticas leitoras, estimulando essas atividades em família, isso vai ser significativo para formação dos filhos. Dessa forma, evidenciamos a importância, sobretudo, no que diz respeito ao incentivo cotidiano dos pais, para a formação da sociabilidade dos jovens. Entendemos que eles são responsáveis por legitimar essa prática, demonstrando, através de exemplos diários de leitura, o interesse em ler e aprender com os livros, assim, motivando o desejo nos filhos, afinal, a família é o primeiro e decisivo espaço de socialização dos sujeitos.

Nesse sentido, conforme o exemplo francês apresentado por Petit (2008), “a criança cuja mãe lhe contou uma história toda noite tem duas vezes mais chances de se tornar um leitor assíduo do que aquela que praticamente nunca escutou uma” (p.141). Portanto, isso reitera o quanto é essencial atentarmos para a relação da família com o livro, visto que ela será decisiva na motivação para que seus filhos usufruam dos benefícios trazidos pela leitura.

A participação familiar na vida dos quatro entrevistados parece ser efetiva quanto à exigência pela dedicação nos estudos e a liberdade. É unânime entre eles a preocupação dos pais com o desempenho escolar e as atividades desenvolvidas pelos pesquisados. Isso é percebido ao afirmarem que sempre que desejam realizar qualquer tipo de coisa, como viagens e compras, eles precisam consultar os pais,

revelando certo controle em relação as suas atividades e, em muitos casos, tendo a dedicação aos estudos como fator decisivo para terem maior ou menor liberdade.

Ainda assim, Elisa, Tanara e João acreditam que a exigência nos estudos poderia ser mais rígida. Entretanto, segundo eles, os seus pais sabem que eles se dedicam, portanto, acabam não cobrando tanto. Relatam também, que no final do ano, próximo ao fim das atividades escolares, os pais estão sempre atentos às notas e são rígidos, demostrando total preocupação com o esforço e dedicação nos estudos. Tal postura pode ser exemplificada quando Karina afirma que já foi “privada de muita coisa por ir mal na escola”, e que, caso não cumpra com os deveres da escola, leva o chamado “sermão”.

A preocupação dos pais, geralmente, está associada ao desejo de mostrar para o filho que o estudo é importante para que tenham um futuro melhor. Fato que pode ser observado quando a entrevistada comenta sobre a importância do estudo para ela:

Vou estudar porque eu quero ter uma vida melhor que a dos meus pais, sabe? Tipo, eu vou querer ter isso. E isso foi uma coisa que sempre meus pais influenciaram, porque meu pai tem técnico e minha mãe só o Ensino Médio. E eles disseram assim: “Vocês tenham uma vida melhor do que a gente” [...] Querem que os filhos tenham mestrado, doutorado, sempre evoluindo. Nunca, ah, só o Ensino Médio. Entendeu? Tipo, sempre foi uma coisa que eles sempre falavam que era sempre pra gente ter essa motivação de querer sempre mais (TANARA).

Quando indagados sobre os conflitos, os entrevistados afirmam que, quando acontecem, geralmente, são por suas opiniões serem contrárias ou discordarem dos seus pais em alguns pontos e, também, quando deixam de fazer alguma atividade em casa. Essas atitudes são recorrentes por estarem em uma fase de instabilidade emocional e rebeldia que é a da adolescência. As regras que são estabelecidas em suas casas são para as atividades diárias como: arrumar a cama, manter o quarto em ordem, lavar a louça e se dedicar aos estudos.

Percebemos que em todas as famílias a relação é expressiva, seja em conversas do dia-a-dia, como em viagens e passeios feitos durante o ano. Os quatro entrevistados comentam que conversam muito com os pais sobre diversos assuntos. Todos salientam que têm mais abertura com as mães, mesmo que tenham uma boa relação com o pai, entretanto, afirmam, que ela é mais flexível e disposta ao diálogo. Quando perguntados se os jovens costumam conversar sobre literatura ou livros, todos afirmam que sim, tanto para pedir algum livro para os pais, como para contar sobre alguma leitura feita ou projeto que está sendo realizado na escola. João

tem uma forte relação com a irmã mais velha, por morarem na cidade para estudar. Segundo ele, os dois sempre estão conversando sobre diversos assuntos, mas afirma que o livro pauta muitas de suas conversas, pois a sua irmã, igualmente, tem interesse pela leitura. Essa relação entre os membros da família parece ser de interesse recíproco entre as partes, o que realmente demostra que os assuntos relacionados ao livro são comumente discutidos no ambiente familiar, isto é, fazem parte da sociabilidade dos entrevistados.

Em relação ao hábito de leitura em casa, todos afirmam que já viram seus pais lendo. Os pais de Elisa e de Karina costumam ler jornal, pois, segundo elas, preferem leituras rápidas pela falta de tempo, por isso não dedicam tempo ao livro. Destaca-se também o tempo dedicado à leituras religiosas (livros espíritas, revistas de Testemunhas de Jeová e Bíblia), como nas famílias de Elisa, João e Tanara.

Os entrevistados tiveram contato muito cedo com o livro, tanto através da compra desses e gibis quanto, no caso de Karina e Elisa, das leituras de histórias feitas pelos pais quando crianças. Tanara destaca a figura do avô como alguém que lhe contava histórias e do seu encanto. João, mesmo não lembrando se os pais lhe contavam histórias, recorda das idas à livraria: “no começo eles me levavam, mas depois eu já fiquei mais independente e ia sozinho na revistaria”. Sobre receber livros de presentes, os quatro entrevistados afirmam ganhar dos amigos, parentes e pais. Em relação aos últimos, “eles dão o dinheiro” (Elisa), mas quem escolhe, na maioria das vezes, são os adolescentes.

Dessa forma, percebemos a participação dos pais dos pesquisados para o contato com os livros e o incentivo para a leitura assídua. A situação fica evidente quando João reconhece que o interesse do jovem passa, necessariamente, pela referência familiar, incentivo e acesso ao livro (“Uma base familiar, uma base de incentivo, não familiar, de incentivo. Eu acho que talvez eles não [...] os pais deles ou os amigos também não leem e eles não se interessam, acham outras atividades”). Essa forte relação dos pais na motivação ao livro e à leitura não por acaso, coincide com o universo total do estudo piloto (Gráfico 1), reforçando a grande influência da família.

Gráfico 1 – Motivação familiar para leitura

Fonte: Estudo exploratório realizado entre os meses de julho e setembro