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Devido a esse resultado e outros baseados em pesquisas, que educadores brasileiros têm se empenhado em redirecionar a prática de avaliação com sua função seletiva, eliminatória e classificatória, a favor do sentido dinâmico e reflexivo do processo. Dentre outros, destacamos Luckesi (2011) e Hoffmann (2010) por defenderem uma posição dialógica e mediadora da avaliação.

Mas, o que seria uma posição mediadora da avaliação? No livro de autoria de Jussara Hoffmann (2008) “Avaliar: respeitar primeiro e educar depois” a autora decide esclarecer a definição, devido a dúvidas e diferentes entendimentos colocados por professores em suas palestras por muitos anos e coloca de maneira bem resumida que mediação significa: “interpretação, diálogo, interlocução” (p.101), das manifestações dos alunos. E para que o papel do professor mediador se concretize é fundamental sua conscientização que “o ato de avaliar é essencialmente, interpretativo”.

Ainda, com a autora Hoffmann (2010) em seu outro livro com o título: “Avaliação Mediadora” expõe os princípios para uma avaliação mediadora, sendo as características deste processo, baseado na observação-reflexão-encaminhamento. Para isso, necessitamos de uma ação contínua, em todos os momentos, entre uma tarefa e outra, onde educador e educando na busca do conhecimento crescente com a apropriação do processo dialógico, da troca de ideias, da problematização, colocando os resultados em anotações de maneira permanente, registros diários e contínuos, para fornecer dados para devidos encaminhamentos. E a autora resume (que) avaliação mediadora com a seguinte definição:

Analisar teoricamente as várias manifestações dos alunos em situação de aprendizagem (verbas ou escritas), outras produções para acompanhar as hipóteses que vem formulando a respeito de determinados assuntos, em diferentes áreas de conhecimento, de forma a exercer uma ação educativa que lhes favoreça a descoberta de melhores soluções ou a reformulação de hipóteses preliminares formuladas. Acompanhamento esse que visa ao acesso gradativo do aluno a um saber competente na escola e, portanto, sua promoção a outras séries e graus de ensino (HOFFMANN, 2010, p.77).

Apresentamos alguns princípios coerentes para uma ação avaliativa mediadora e comentaremos por meio de explicação, logo em seguida, cada um dos princípios na ordem que foram explicitados no seu livro, porém de forma sucinta.

• Oportunizar aos alunos muitos momentos de expressar suas ideias;

• Oportunizar discussão entre os alunos a partir de situações desencadeadoras;

• Realizar várias tarefas individuais, menores e sucessivas, investigando teoricamente, procurando entender razões para as respostas apresentadas pelos estudantes;

• Ao invés do certo/ errado e da atribuição de pontos, fazer comentários sobre as tarefas dos alunos, auxiliando-os a localizar as dificuldades, oferecendo-lhes oportunidades de descobrirem melhores soluções;

• Transformar os registros de avaliação em anotações significativas sobre o acompanhamento dos alunos em seu processo de construção de conhecimento (Idem, p.58).

Estes princípios significam na prática pedagógica do professor oportunizar aos alunos muitos momentos de expressar suas ideias, como em tarefas diversificadas, seja em sala, seja em casa, algumas tarefas mais extensas, outras menores. Porém, não esquecendo da importância de se ter em mente a finalidade da tarefa, como por exemplo: Por que tais assuntos naquele momento? O que investigar ou observar em relação à compreensão dos meus alunos? (Idem, p.59,60).

Como também oportunizar discussão entre os alunos a partir de situações desencadeadoras, isto é a interação entre os alunos através da discussão. A autora defende que não seriam trabalhos em grupo na concepção tradicional, onde os alunos “copiam” (grifo da autora) trechos de um livro, ou quando cada aluno contribui com parte da tarefa. E sim, que os alunos participem de situações-problemas para que sejam colocados vários pontos de vistas, ideias e que encontrem diante de várias alternativas uma solução (HOFFMANN, 2010, p.60).

Para que não aconteçam mais exemplos iguais ao que vivenciamos em sala de aula na escola investigada.

Porém, a prática de ensino esta desconectado com a sua concepção teórica. O discurso de muitos professores é atualizado, mas a prática continua baseada na concepção tradicional de ensino com a avaliação classificatória. Na verdade, o que é ensinado são conteúdos distantes da vida real e das necessidades dos alunos na sociedade em que vivem, utilizando somente conteúdos livrescos, isto significa conteúdos retirados do livro didático que são ditados pelo professor.

E voltando em relação aos princípios, a autora sugere ainda a realização de várias tarefas individuais, menores e sucessivas para investigação teórica, com o objetivo de entender as razões das respostas apresentadas pelos estudantes através da observação individual de cada aluno e ao invés de corrigi-las como certo/errado e a atribuição de pontos, fazer a atribuição de significado das observações nas tarefas “valorizando as ideias dos alunos, dando importância as suas dificuldades, sugerindo-lhe o seu próprio prestar atenção” (p. 69). Na teoria construtivista o erro cometido pelo aluno traz uma imagem positiva, sendo mais produtivo do que um acerto automático (Idem, p.62 - 69).

Luckesi (2011) acrescenta que o ato de avaliar tem como função investigar a qualidade do desempenho dos estudantes, tendo em vista proceder a uma intervenção para a melhoria dos resultados, caso seja necessário. Assim, a avaliação tem sua função ontológica, que é a diagnóstica. Como investigação sobre o desempenho escolar dos estudantes, ela gera um conhecimento sobre o seu estado de aprendizagem, identificando como importante o que ele já aprendeu como o que ele não aprendeu e que necessita aprender, pois indica a prática de intervenção, de reorientação até que aprenda.

A perspectiva de avaliação mediadora pretende, essencialmente, opor-se ao modelo do “transmitir-verificar-registrar” e evoluir no sentido de uma ação reflexiva e desafiadora do educador em termos de contribuir, elucidar, favorecer a troca de ideias entre e com seus alunos, num movimento de superação do saber transmitido a uma produção de saber enriquecido, construído a partir da compreensão dos fenômenos estudados. (LUCKESI, 2011, p.114).

A prática da avaliação mediadora compromete-se como desenvolvimento máximo possível, deixando de lado os limites, de forma a não perder de vista os objetivos traçados, afinal, eles são desencadeadores da ação educativa que aqui destaca a autonomia moral e

intelectual do estudante. Remete-se, diante dessas práticas avaliativas, a um processo de verificação constante, contínuo, o que propicia as interferências do educador e os reajustes por parte do aluno e do professor para o desenvolvimento adequado de suas competências e habilidades (HOFFMANN, 2008; ESTEBAN, 2008; FREIRE, 2000);

CAPÍTULO III

3. AVALIAÇÃO COMO INSTRUMENTO QUE SE CONSTRÓI NO COTIDIANO DA