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1.5.1 Crianças e TV: mocinhos e bandido?

A televisão continua sendo o principal meio de comunicação eletrônica nos lares do mundo. Este aspecto pode ser confirmado no caso de Florianópolis no artigo de Girardello e Orofino (2002), A Pesquisa de Recepção com Crianças: Mídia, Cultura e Cotidiano, no qual assistir televisão, em três escolas da região de Florianópolis pesquisadas pelas autoras, foi

citado pelos alunos como a atividade mais presente no seu dia-a-dia, “mais presente ainda do que a atividade de brincar, independente da classe social” (Idem, p.9). Este fator pode ser verificado também nas obras de Duarte et al(2002, 2005), Fischer (2001), Borges (2004), Fernandes (2003) entre outras que, mesmo não tendo a TV como objetivo principal de pesquisa, mostram que esta apareceu como mídia mais popular entre os sujeitos nos campos empíricos, independente da classe social.

Diferentemente de outros meios como o cinema e o teatro, o acesso à televisão é ‘globalmente gratuito’ (BROUGÈRE, 2004b). Mesmo no caso dos canais pagos, os custos da programação não são visíveis, como seriam para quem sai de casa para assistir a um filme, e precisa pagar entrada. E isto se constitui num facilitador para o acesso das crianças à televisão: em casa (muitas vezes no próprio quarto), para assisti-la depende-se muitas vezes apenas do acesso aos botões que a controlam. A facilidade se mostra ainda maior quando se percebe que para assistir TV é necessário o entendimento de seu código, rapidamente entendido pelas crianças, sem a necessidade de uma aprendizagem formal como a da leitura/escrita. A imagem figurativa faz uma referência mais próxima ao mundo real do que a escrita e somente com o olhar a criança já entende seus códigos de comunicação (BROUGÈRE, 2004b). Embora Brougère afirme que existe esta facilidade de aprendizagem dos códigos da televisão por parte das crianças, Gardner (1982) mostra em seu artigo “A Conquista da TV” que este aprendizado não é assim tão fácil e imediato, envolvendo outros fatores, como construção, interação social, verbal etc.

Se essa facilidade existe para as crianças, as indagações dos adultos sobre o futuro dos pequenos, que se relacionam tão estreitamente com a TV mostram as divergências existentes sobre o tema. Duas correntes teóricas se opõem quando o assunto é a relação criança-TV. “A televisão é maléfica ou benéfica para o desenvolvimento das crianças?” parece ser uma pergunta que não quer calar, embora muitos estudos estejam aí para mostrar que o maniqueísmo na abordagem da TV e de seus possíveis efeitos já deveria ter sido superado. De acordo com Balzagette e Buckingham (1994) o problema com estes argumentos é que eles subestimam os caminhos que as próprias crianças podem encontrar para pensar a mídia e relacioná-la com suas outras experiências.

Interpretamos através da obra de Buckingham (2000), que estes debates podem geralmente ser enquadrados em dois pólos: de um lado, a teoria de que a televisão é uma das grandes culpadas pela chamada ‘morte da infância’; de outro, o abismo crescente entre gerações, que sugere que a habilidade das crianças em aprender e lidar com a tecnologia está cavando um fosso cada vez maior entre a cultura infantil e a adulta. Acrescentam-se aí as

idéias ‘românticas’, como vimos anteriormente, que definem a criança, como boa ou má, ora colocando-nas como ingênuas e vulneráveis às influências maléficas da sociedade (inclusive de seus meios de comunicação), ora caracterizando-nas como ameaça.

Partindo de uma perspectiva mais ampla, que não sugere a infância como uma categoria universal e natural, com características fixas e imutáveis, Buckingham demonstra que estas concepções são visões essencialistas da infância e dos meios de comunicação. Ele tenta superar este nível do debate, analisando as relações entre crianças e meios de comunicação a partir dos modos como estes últimos são utilizados por elas dentro de diferentes contextos sociais e econômicos. E é este o caminho apontado em Crescer na Era das Mídias (After the Death of Childhood: growing up in the age of electronic media, 2000)22, onde o autor faz uma reflexão sobre o que é ser criança hoje, seus aspectos culturais, sociais, econômicos e educacionais numa era fortemente marcada pelas mídias eletrônicas.

Grande parte das críticas voltadas às mídias as caracterizam como um potente agente ideológico, que manipula e bombardeia quem se relaciona com elas sob os princípios do mercado, sendo as crianças as principais vítimas. Nesta linha teórica, afirma Buckingham,

tanto as mídias como seus públicos são vistos como verdadeiramente homogêneos. Argumenta-se que as mídias são responsáveis por garantir que as massas aceitem uma ordem social injusta, por meio de um processo de falsas ilusões e mistificação. Elas oferecem uma forma de falso prazer que destrói a capacidade imaginativa, o pensamento crítico e conseqüentemente a possibilidade de resistência (Idem, p.28).

Já o outro extremo destas pesquisas parte de uma construção positiva da relação entre crianças e mídias eletrônicas. “Longe de serem vítimas passivas das mídias, as crianças passam a ser vistas como dotadas de uma forma poderosa de ‘alfabetização midiática’, uma sabedoria natural espontânea de certo modo negada aos adultos” (Idem, p.35). Neste ponto de vista, as mídias eletrônicas, como computadores e televisão, são vistas como boas companhias para as crianças, e fundamentalmente mais democráticas e participativas que as velhas mídias (como o rádio, utilizado pelos pais destas crianças durante suas infâncias). Não desconsiderando as preocupações com aspectos negativos das mídias, Buckingham afirma que as duas posições são constituídas pelas mesmas fragilidades, abordando noções essencialistas da infância e da tecnologia.

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Traduzido por Gilka Girardello e Maria Isabel Orofino, ainda não publicado no Brasil. A referência ao ano de publicação pertence à obra original publicada em inglês.

Ambas as posições se caracterizam por um tipo de determinismo tecnológico. Vista desse ângulo, a tecnologia emerge de um processo neutro de pesquisa e desenvolvimento científicos, mais do que da interação de complexas forças sociais, econômicas e políticas (Ibidem, p.38).

Além de discutir as teses que abordam a “morte da infância”, que demonstram ter origem nas relações de poder dos adultos sob as crianças, o autor busca superar a dicotomia existente nas pesquisas que abordam a infância e mídia, demonstrando que é necessária a compreensão do surgimento de uma nova configuração de infância, fortemente marcada pela presença das mídias eletrônicas.

Se a televisão traz algum benefício ou não para quem a assiste, se existe mesmo uma “influência” negativa que faz dela a grande vilã da educação das crianças deste último século, ou até mesmo seja considerada a maior invenção dos últimos tempos, os estudos sobre este tema baseados na teoria das mediações demonstram que nada disso pode ser respondido sem que se faça uma relação ao contexto em que este meio e os sujeitos espectadores estão inseridos, as relações criadas entre os sujeitos e os programas de tv, as mediações que ocorrem antes e depois de se ter acesso à programação televisiva.

Sob este aspecto, vale a pena voltar ao maniqueísmo a que acabamos de nos referir e fazer uma breve aproximação às teorias que consideram a televisão ou como uma boa companhia para as crianças ou como a destruidora da infância. Para melhor resumir estas duas tendências buscamos nas obras de Girardello (1998) e Gomes (2005) as principais características destas pesquisas, que vão desde o campo da psicologia cognitiva até a sociologia. Girardello (1998), ao tratar da imaginação infantil, destaca os dois eixos teóricos principais que situam as tendências básicas do pensamento sobre este tema (televisão e crianças). Se os primeiros citados em sua pesquisa emitem opinião de que a televisão ‘faz mal’, representados em sua obra por autores como J. Mander e J. Baudrillard, demonizando a televisão como um meio hipnotizante, supressor da imaginação infantil, claramente situados na opinião dos apocalípticos (para citar Umberto Eco), o outro extremo, representado por exemplo por F. Mariet e D. Rushkoff afirma que a televisão possibilita às crianças a formação de novas habilidades, de uma atenção mais larga, além de outros aspectos, devido a suas características como a velocidade, cores e sons, instantaneamente. Sendo esta dicotomia um tanto simplista, visto que o ato de assistir televisão não pode ser resumido a seus possíveis efeitos, a autora afirma que

ambas as posições extremas resumidas acima são movidas por um tipo de responsabilidade que o adulto se atribui diante da criança; o que difere é o tipo de perspectiva histórica em que a questão é situada. O pensamento que advoga a restrição ou mesmo a eliminação da televisão procura evitar que as crianças tenham atrofiadas as capacidades intelectuais e imaginativas que as gerações anteriores à televisão teoricamente possuíam. Do outro lado, o pensamento que aposta na intensidade cada vez maior da relação entre a criança e os meios se coloca como arauto de uma evolução humana, da qual as crianças de hoje já seriam protótipos (Idem, p.135).

Para melhor explicitar a complexidade das abordagens, Girardello faz um estudo a partir dos campos que refletem sobre a relação da televisão com a imaginação da criança. Começando pela área da psicologia, sua busca deu-se nos EUA, local onde as pesquisas sobre o tema nessa área – estudos dos efeitos - são mais presentes. Focalizou os trabalhos em três grupos que pesquisam o tema desde a década de 80,23 além de fazer considerações sobre a década de 90. Após aprofundar nesta área, a autora demonstra como o campo da psicologia cognitiva tende a se ater aos estudos dos efeitos da televisão na imaginação das crianças, provavelmente pela ansiedade da população (pais, professores, pessoas envolvidas com crianças) quanto à possível influência negativa do meio no comportamento das crianças. Ela ressalta que todos os estudos aos quais teve acesso que afirmam que a televisão é uma influência negativa para a imaginação e comportamento das crianças, levam em conta um grande tempo de audiência, ou seja, a audiência intensiva. Segundo ela, estes efeitos prejudiciais nas habilidades cognitivas citados pelos autores das pesquisas costumam se estabelecer em contextos já fragilizados por outros problemas.

Quando crianças pequenas que assistem a tanta televisão demonstram tendências agressivas, não se pode atribuir toda a responsabilidade à televisão por um fracasso do contexto social em que a criança vive de lhe proporcionar outros estímulos e companhia. Não é difícil imaginar que muitas crianças de três anos que ficassem todos os dias por mais de sete horas fechadas numa sala, sem a companhia de outras crianças e sem atenção adulta, acabassem manifestando alguma tendência agressiva ou anti-social, com ou sem televisão (Idem, p.145).

Desta forma, a relação construída entre criança e televisão vai muito além de aspectos como o tempo que a criança passa em frente da tela. O contexto em que a criança se encontra torna a situação bem mais complexa, envolvendo momentos de significação e recriação

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A equipe de Dorothy e Jerome Singer, na Universidade de Yale; a equipe de Howard Gardner, na Universidade de Harvard; e a equipe de Patricia Marx Greenfield, na Universidade da California em Los Angeles.

diretamente ligados à família e à cultura. De acordo com a autora, estudar a televisão e a relação construída com/pelas crianças com este meio parece ir muito além do que indicavam estudos que enquadravam apenas seus efeitos;

Os dois pólos radicalmente “contra” e “a favor” de certa forma se esquivam ao desafio de intervir na situação: a posição de que a televisão anestesia a imaginação da criança pode lavar as mãos diante do que combate, não precisando se comprometer com investimentos na transformação das linguagens, conteúdos e contextos de recepção, nem com o aprimoramento da capacidade de compreender os anseios dos que habitam o outro lado do fosso de gerações; a outra posição, que alegremente celebra o advento da nova espécie humana, “equipada com dispositivos de última geração”, igualmente não precisa traçar estratégias para interferir na situação, pois lhe satisfaz o rumo que o processo segue. Uma terceira posição, que procura considerar os matizes e complexidades da mudança, é a que mais acarreta responsabilidades e desafios (Idem, p.149).

No trabalho de Itânia Gomes (2005), encontramos também o cenário das pesquisas sobre televisão e infância dividido em duas tendências, que já demonstramos nesta revisão nas palavras de Buckingham, Girardello e outros. De um lado estão as teorias que consideram as crianças como receptoras passivas dos programas de televisão, incapazes de raciocinar ou obter senso crítico ao que assistem – a TV é a vilã e a criança a principal vítima - e de outro as que consideram que as crianças são sujeitos críticos, pensantes.

Segundo Gomes, a concepção de que a TV favorece uma recepção passiva às crianças também considera que o processo receptivo esgota-se no momento em que se está na frente da televisão. Assistir TV se resume ao momento em que o aparelho é ligado e finalizando quando o mesmo é desligado. Entendemos que este ponto de vista prioriza o tempo que a criança passa assistindo televisão, como vimos anteriormente em Girardello, não sendo levadas em consideração as estruturas de mediação, os vários espaços em que a criança circula e que fazem parte da recepção e da produção de significados acerca do que é visto na televisão.24

Ao expor a polaridade entre essas teorias, Gomes tece uma crítica a autores que afirmam que uma das características da passividade das crianças enquanto assistem a TV é o estado de torpor, adormecimento e dispersão.

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Outro artigo, “A recepção dos desenhos animados da TV e as relações entre a criança e o adulto:

desencontros e encontros”, Fernandes (2005) apresenta a forma como é construída a relação entre adultos e

crianças, a partir de depoimentos de meninos e meninas, a respeito da preferência das crianças em assistirem desenhos animados sozinhas. A autora baseia-se na teoria das multimediações de Orozco ao observar que as crianças apropriam-se do que vêem na TV a partir de inúmeras mediações como, por exemplo, as conversas com amigos e familiares.

Ao contrário do que alguns autores querem fazer crer, acreditamos que esses momentos de alternância entre concentração e dispersão, de devaneio da criança diante da telinha, não denotam sua passividade, mas a forma como a criança se afirma enquanto sujeito no processo comunicativo (GOMES, 2005, p.4).

Em outras palavras, a autora afirma que

quando ela [criança] tem as condições, seja por amadurecimento intelectual, seja por dispor de outras opções de lazer, ela reage com a seleção da programação assistida. Quando não tem tais condições, ela encontra outros refúgios: em algumas crianças a dispersão aparece como uma forma muito especial de reagir à programação que não corresponde às suas necessidades (Ibidem).

Ainda para a autora, a criança brinca com a televisão, que se constitui num espaço para o desenvolvimento lúdico, que faz parte de seu universo de interações, descobertas, indagações. Para Gomes (2005) é na televisão que a criança encontra um outro brincar, diferente das brincadeiras de rua, como são diferentes as brincadeiras entre si. Compartilha desta mesma opinião Fernandes (2003) ao afirmar que

a imagem da TV é, segundo Lazar (1987), um ponto de partida para o imaginário da criança. Assim como os contos de fadas e as histórias que ouvimos são suportes para os desenhos, brincadeiras, jogos; a TV oferece, através das suas narrativas, também outros suportes para a imaginação e a brincadeira infantil. Podemos julgá-los como bons ou ruins, mas uma coisa é certa: eles não passam impunes pela cultura lúdica infantil (Idem, p.75).

E é a partir da relação que a criança constrói com a televisão que fica clara a importância de que este meio seja cada vez mais tomado como objeto de pesquisa na cultura contemporânea. É preciso também não apenas pensá-la como instrumento ideológico do capital, passível de exercer grande influência no desenvolvimento das crianças, mas como um meio que tem ajudado a construir a infância, “os modos de ser criança hoje” (FISCHER, 2003, p.2).

Cabe ressaltar a importância das teorias da recepção para o tema da relação das crianças com a televisão, principalmente a visão latino-americana, que ganhou importância a partir da obra de Jesus Martín-Barbero, De los médios a las mediaciones: comunicación, cultura e hegemonia, em 1987. Foi Martín-Barbero quem primeiro identificou a emergência

de uma renovação teórica nos estudos de comunicação, propondo pensar a comunicação a partir da cultura. Até então as pesquisas nessa área concentravam-se na análise dos meios e de seus efeitos sobre o receptor, sem considerar as conexões existentes entre os meios e sujeitos. A teoria das mediações, então, formulação maior do autor, segundo Jacks e Escosteguy (2005)

nasce da necessidade de entender a inserção das camadas populares latino- americanas no contexto de subdesenvolvimento e, ao mesmo tempo, de um processo acelerado de modernização, que implica no aparecimento de novas identidades e novos sujeitos sociais, forjados, em especial, pelas tecnologias de comunicação (Idem, p.65).

Nesta mudança de foco nas pesquisas, partindo dos meios ao lugar em que se produz sentido, o receptor é considerado também produtor de sentidos e, o cotidiano, espaço primordial da pesquisa, o que vai justamente ao encontro do caminho que estamos tentando trilhar, o de entender a criança não como receptora passiva, mas como sujeito de autoria, que cria e produz significados a partir dos conteúdos a que tem acesso não somente na televisão, como também no computador e outros tipos de mídias.

Sendo não apenas o meio o centro das atenções mas também o sujeito que se relaciona com os meios, assim como o seu cotidiano, a cultura em que o sujeito receptor está inserido mostra-se peça fundamental para o entendimento de como ocorrem as mediações. Ao analisar conceitos de cultura a partir do surgimento das teorias da recepção, Fernandes (2003) afirma que

ao perceber-se que o receptor age sobre os meios recriando os mesmos, percebe-se que ele também faz parte da produção, ou seja, ele também produz um outro produto ao modificar o uso para o qual este foi pensado. A cultura passa a ser entendida como uma rede de práticas e relações que constituem a vida cotidiana. É um conceito totalmente diferente do anterior no qual havia um ponto final para a produção cultural: o consumo do receptor. Os estudos atuais percebem que o receptor continua a produção modificando usos, produzindo significados num processo sem fim. Na produção da cultura incorpora-se a produção social dos diferentes receptores (Idem, p.20).

Como esta pesquisa não tem por objetivo observar programas de televisão, e concordando com autores acima que afirmam que os aspectos culturais nos quais estão envolvidos os sujeitos não podem ser analisados somente a partir dos meios mas sim das

relações construídas entre os sujeitos, tanto com seus pares como dentro de determinadas instituições (a escola, a família), utilizamo-nos também do enfoque dado às mediações por Guillermo Orozco (1996). O autor parte do princípio de que nas pesquisas sobre educação e mídia, principalmente nas pesquisas de audiência, é importante que se reconheçam os sujeitos não apenas como ativos frente à TV, mas principalmente como agentes sociais e membros de uma determinada cultura em sua múltipla interação com este meio. Embora a TV possua características próprias como meio de comunicação e seja definida pelo autor como instituição social (assim como a igreja, a escola, a família), para ele sua influência na audiência não pode ser considerada como totalizante. Isto pode ser explicado em parte

porque toda a tecnologia sempre deixa lugar à criatividade de quem a usa (...) em parte também porque o conteúdo da programação é polissêmico e pode ser percebido e interpretado pela audiência de diversas maneiras (OROZCO, 1996, p35)25.

Além destes fatores, Orozco lembra que a televisão não age sozinha. Como instituição social, ela está ao lado de outras instituições como a família, escola, sindicatos, partidos políticos etc., que de diversas maneiras contribuem para a personalidade dos sujeitos e sua forma de receber e ressignificar os conteúdos, tanto aqueles vistos na televisão como nas situações do dia-a-dia.

Sendo a mediação um fator importante para se considerar como são construídas as relações entre os sujeitos da audiência e a TV, Orozco destaca o conceito de mediação, que parte da idéia principal de Martín-Barbero, e acrescenta outros fatores que podem influir, de acordo com o contexto analisado. Para ele, as mediações podem ser entendidas como “processos de estruturação derivados de ações concretas ou intervenções na televidência” (Idem, p.84), ou seja, “um processo estruturante que configura e reconfigura tanto a interação dos membros da audiência com a TV como a criação por eles do sentido dessa criação” (Ibidem). Para isso, as fontes de mediação configuram-se como o lugar em que se originam esses processos estruturantes. São as quatro fontes listadas pelo autor resumidas abaixo:

mediação individual: onde ganham importância as experiências próprias do sujeito,