Sant’Ana
7. Vestiário
2.7 Dispensa de medicamentos
2.7.6 Medicamentos Genéricos e Preços de referência
«Preço de referência» é o valor sobre o qual incide a comparticipação do Estado no preço dos medicamentos incluídos em cada um dos grupos homogéneos, de acordo com o escalão ou regime de comparticipação que lhes é aplicável;
«Grupo homogéneo» é o conjunto de medicamentos com a mesma composição qualitativa e quantitativa em substâncias activas, dosagem e via de administração, com a mesma forma farmacêutica ou com formas farmacêuticas equivalentes, no qual se inclua pelo menos um medicamento genérico existente no mercado, podendo ainda integrar o mesmo grupo homogéneo os medicamentos que, embora não cumprindo aqueles critérios, integrem o mesmo grupo, ou subgrupo, farmacoterapêutico e sejam considerados equivalentes terapêuticos dos demais medicamentos que daquele grupo fazem parte.
2.8 Automedicação
A farmácia é o local de eleição dos utentes que esperam um alívio rápido de alguns sintomas ou doença que padecem num determinado momento. O rápido atendimento por parte do farmacêutico, e a confiança nos seus conhecimentos científicos, fazem com que os utentes se desloquem a este local de saúde em detrimento do médico, para a resolução de males menores, como sintomas gripais, dores musculares, articulares ou de cabeça, sintomas de obstipação, diarreias, e também na busca de medicamentos preventivos de certas situações – fadiga psicológica, imunitária e física, entre diversos outros casos.
Segundo o Despacho nº 17 690/2007, a automedicação é a utilização de medicamentos não sujeitos a receita médica de forma responsável, sempre que se destine ao alívio e tratamento de queixas de saúde passageiras e sem gravidade, com a assistência ou aconselhamento opcional de um profissional de saúde, e encontra-se regido também por este despacho quais as situações passíveis de automedicação, estando estas situações descritas no ANEXO II. Muitos utentes sabem previamente o que querem levar à partida, e referem ao farmacêutico o nome do medicamento que querem aviar. Cabe ao farmacêutico ou outro profissional de saúde a atender o utente, validar o estado de saúde do utente, para confirmar se, de facto, essa será a via mais exequível de tratamento, ou se será mais conveniente dispensar outra especialidade, ou proceder a um diferente aconselhamento: é importante promover as medidas não farmacológicas ao doente. Quando a situação se puder resolver sem o recurso a medicamentos, devemos enfatizar isso mesmo ao utente. Haverá outras situações em que o mais aconselhável será a remissão ao médico: é bastante comum em casos de mães que vêm pedir aconselhamento para certas afeções que sofrem os seus filhos com idades ainda inferiores a 2 anos. Como sabemos, as especialidades de medicamentos MNSRM não são inócuas, pelo que todo o cuidado na cedência destes medicamentos é essencial. Além disso, há que ter em conta que a automedicação pode mascarar sintomas, dificultar ou atrasar o diagnóstico e resoluções terapêuticas, bem como favorecer o aparecimento de reações adversas e/ou interações medicamentosas.
Posto isto, há então, uma série de questões a serem colocadas ao utente, para se conseguir chegar a um consenso na decisão do farmacêutico em relação à sua situação, tentando enquadrar a situação numa possível situação passível de aplicação de automedicação mediante a lei:
Quais os sintomas de que se queixa? Qual a intensidade dos sintomas?
Há quanto tempo surgiram esses sintomas?
Já havia passado por alguma situação semelhante?
Existem outras patologias (ex: diabetes, hipertensão, patologias cardíacas, hepáticas ou renais…)?
Toma medicamentos cronicamente? Quais?
Já tomou algumas medidas terapêuticas? Qual foi o resultado? Tem alguma alergia?
Tomemos o seguinte exemplo passado na farmácia de estágio, um exemplo bastante comum que seguramente se repetirá em diversas farmácias ao longo do país:
Chega um utente à farmácia que quer que se lhe dispense um medicamento para a gripe. Perguntamos: “Já anda a tomar qualquer coisa para a gripe?” – “Sim, tomei um Ben-U-Ron®, mas não me ajudou grande coisa…” – “Que Ben-U-Ron® era? De 500mg ou 1g? E então, que sintomas apresenta?” –“Ah…era de 500mg, só tomei um de manhã… Tenho tosse seca, pingo do nariz, tenho dores…” – “Não estava a tomar a dose certa! Tinha de tomar 3x ao dia, e talvez tivesse de tomar 2 comprimidos! Então, vai levar aqui o Griponal® para a gripe, que já tem o Ben-U-Ron®, e também ajuda a não pingar do nariz, e vai levar um xarope para a tosse, o Bisoltussin®! Não se esqueça de beber bastantes líquidos, e tome o Griponal num máximo de 5 dias (possui o simpaticomimético), 3x ao dia! Se não se sentir melhor, vá ao seu médico!”
Neste caso, certas perguntas poderiam ser omitidas, pois a dosagem de paracetamol do Griponal® não era muito elevada e tais perguntas poderiam tornar-se enfastiantes para o doente, sem necessidade.
Outro caso mais grave na cedência de medicamentos sem indicação médica é a Pílula do Dia Seguinte (contraceção hormonal de emergência). Nestes casos é necessário colocar uma série de questões, nomeadamente há quanto tempo foi a relação sexual, se há alguma possibilidade de já estar grávida, altura do ciclo menstrual, se foi usado algum método contracetivo, se já alguma vez recorreu à contraceção de emergência, entre outras… É necessário elucida-la para o facto de este não ser um método de contraceção, e que os riscos para a sua saúde são elevados, sobretudo com tomas repetidas. Se realmente não se tiver tratado de um infeliz acidente (o preservativo rompeu-se, teve uma diarreia a tomar a pílula…) devemos alerta-la para a existência dos diferentes métodos contracetivos existentes, da sua segurança e funcionalidade. É importante que a cedência deste medicamento seja feita de forma segura, e informar a doente do modo de toma.