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Inventário de Depressão de Beck

4.3. Medidas Bioquímicas

A análise de ANOVA de uma via não revelou diferenças estatisticamente significativas entre os grupos em nenhuma das coletas para os níveis de glicemia, ureia, creatinina, TGO, TGP, colesterol/triglicerídeos (Tabela 6).

* #

35 Os níveis de HDL apresentaram diferenças estatisticamente significativas para os grupos no basal [F(2,85) = 3,490, p < 0,05], mas não após 12 semanas [F(2,85) = 0,36, p = 0,70]. Os níveis de LDL também apresentaram diferenças estatisticamente significativas entre os grupos no basal [F(2,85) = 4,19, p < 0,05], mas não após 12 semanas [F(2,85) = 1,79, p = 0,17]. O teste t para amostras pareadas revelou diferença do grupo yoga apresentou níveis mais reduzidos de LDL após 12 semanas de prática regular [t(39) = 2,23, p < 0,05]. O grupo exercício não teve alteração entre o basal e após a prática [t(28) = 0,24, p = 0,812]. Contudo, o grupo controle demonstrou um aumento dos níveis de LDL após 12 semanas em relação a medida basal [t(18) = 2,28, p = 0,035] (Tabela 6).

Tabela 6. Média das medidas bioquímicas de mulheres pós menopausadas

antes e após 12 semanas de prática de yoga, exercício ou sem intervenção.

Controle Exercício Yoga

Basal Após 12

semanas Basal semanas Após 12 Basal semanas Após 12 Medidas

Bioquímicas Média Média Média

Glicemia 80,61 86,50 71,64 81,39 69,45 69,08 Ureia 32,31 27,12 33,95 32,17 34,21 28,77 Creatinina 0,86 0,88 0,90 0,88 0,84 0,85 TGO 18,72 21,06 23,32 20,90 21,86 19,05 TGP 18,28 19,06 18,89 22,30 20,89 19,21 Colesterol 181,61 177,56 190,65 183,93 201,79 166,13 Triglicerídeos 116,72 131,72 111,50 103,61 115,68 110,47 HDL 48,33 45,44 49,92 47,50 43,68 44,66 LDL 97,06 126,44* 117,37 116,00 124,26 107,54*

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5. DISCUSSÃO

Nosso estudo mostrou que voluntárias saúdaveis após a prática de 12 semanas de hatha yoga tradicional apresentaram: diminuição dos sintomas da menopausa, estresse e depressão; melhora nos níveis de qualidade de vida; não apresentaram alteração nos índices de ansiedade; (4) os níveis hormonais de cortisol não foram alterados após a prática, entretanto as voluntárias do grupo controle que não foram submetidas a nenhuma intervenção demonstraram aumento significativo dos níveis deste hormônio; (5) os níveis hormonais de FSH e LH diminuíram, enquanto de estrogenio e progesterona não foram alterados; e (6) níveis bioquímicos de colesterol LDL diminuíram após a intervenção.

Durante o climatério o impacto psicológico e físico devido as alterações neuroendócrinas deste período são consideráveis e podem ser responsáveis por grandes mudanças e prejuízos na qualidade de vida das mulheres (Atwood et al, 2005; Pai e Manson, 2013). Essas mudanças são expressas por muitos sintomas, que podem ser medidos por escalas de avaliação da menopausa, como o MRS, um instrumento amplamente utilizado em pesquisas e que utilizamos em nosso estudo. Na verdade a qualidade de vida das mulheres menopausadas tem sido investigada extensivamente na última década e muitos estudos têm indicado que a adoção de um estilo de vida saudável, que inclua exercícios físicos e mudanças de comportamento, podem ser uma abordagem auxiliar na redução da gravidade dos sintomas (Daley et al, 2006; Ross & Thomas, 2010). Entre tais atividades tem sido incluida a prática de yoga (Elavsky, 2009; Afonso et al, 2012; Cramer et al, 2012). Neste contexto, no início de nosso estudo as voluntárias apresentavam níveis elevados em

37 relação a severidade dos sintomas medidos pela escala de sintomas da menopausa (MRS). A redução de 30% dos sintomas severos da menopausa encontrados no grupo de yoga reflete em um aumento na qualidade de vida relacionada à diminuição desses sintomas, estes achados são corroborados por outros estudos (Carson, 2009; Cattha, 2008; Joshi, 2011). Por outro lado, o grupo que realizou a prática de exercício físico não demonstrou a diminuição dos sintomas da menopausa (Figura 2), o que difere de outros resultados já descritos por estudos prévios (Skrzypulec et al, 2010; Cabral et al, 2012). Esta diferença entre os nossos resultados e os relatados por outros estudos pode estar relacionada com o tipo e intensidade do protocolo de exercício utilizado, já que a maioria dos estudos que descrevem efeitos significativos utilizaram exercício aeróbio moderado ou intenso (Moilanen, et al, 2012). Em nosso estudo utilizamos exercícios de intensidade similar ao da ginástica laboral que utilizam resistência muscular localizada de intensidade leve, justamente para aproximar-se da mobilização física realizada durante a execução dos asanas do yoga, que apresentam caractísticas semelhantes. Além do mais, entre os três grupos, apenas o grupo yoga apresentou redução nas 3 dimensões da escala de avaliação de sintomas da menopausa: sintomas somáticos (incluindo os aspectos seguintes: ondas de calor, sudorese, palpitaçoes, distúrbios de sono, queixas músculares e articulares); psicológicos (incluindo os aspectos seguintes: irritabilidade, ansiedade, depressão e exaustão); e urogenital (incluindo os aspectos seguintes: sexuais, queixas urinárias e desconforto vaginal). Estes achados indicam efeitos da intervenção yoga, que podem ser de grande interesse para a administração dos sintomas climatéricos e manutenção da saúde em mulheres menopausadas.

38 A presença do estresse manifesta-se complexamente através de respostas de componentes psicofisiológicos, e quando o estresse é excessivo promove consequências negativas para a saúde, tanto em relação a aspectos físicos quanto psicológicos (Lipp, 2000; Pafaro & De Martino, 2004; Minari & Souza, 2011). Neste contexto, longos períodos de tensão psicológica, relacionada a experiências negativas como, por exemplo, as geradas por um climatério sintomático também podem ter um efeito nocivo na qualidade de vida das mulheres na pós-menopausa (Elavisky, 2007 e 2009). Em nosso estudo, metade de nossas voluntárias apresentaram resposta de estresse em fase de resistência no início do estudo (Tabela 3), indicando que essas mulheres estavam sob condições de estresse por um tempo considerável, e que seu organismo estava passando por uma tentativa de manter a homeostase (Lipp, 2000). Se o estresse persiste pode evoluir para a fase de quase exaustão, em que o organismo começa a ficar desequilibrado no seu processo homeostático, tornando-se propenso a doenças (Lipp, 2000). A maioria das voluntárias que apresentavam fase de quase-exaustão estava no grupo yoga no início do estudo, e observamos que após 12 semanas de prática nenhuma delas permaneceu nesta fase, indicando uma redução de 100% dos casos (Tabela 3). Neste sentido, ocorreu após a intervenção um aumento de mulheres (35%) nas fases positivas de estresse (alerta, ou sem estresse), enquanto o grupo controle teve uma diminuição desse percentual, e um aumento da prevalência dos sintomas nas fases de quase-exaustão e exaustão (Tabela 3). Tais achados são corroborados por outros estudos que também relatam efeitos positivos do yoga sobre a redução do estresse (Afonso et al, 2012; Rocha et al, 2012). Além disso, já foi demonstrado que mulheres saudáveis na pós-

39 menopausa que fazem uso de terapia de reposição hormonal oral não lidam melhor com o estresse após a terapia com estrogênio, embora os sintomas vasomotores (fogachos e suores noturnos) sejam tratados com sucesso (Nedstrand et al, 1998).

Quando consideramos nossos resultados em relação ao hormonio cortisol observamos que a pratica do yoga foi efetiva em manter os mesmos níveis deste hormonio tanto antes quanto após a prática (Figura 9). Neste sentido, embora os nossos resultados não mostrem redução dos níveis cortisol após o treino de yoga ou também do exercício físico, podemos observar que houve um aumento dos níveis de cortisol no grupo controle após o período de espera, corroborando os resultados obtidos no inventário de estresse (Tabela 3). Em resumo, estes resultados associados indicam que a prática do yoga pode auxiliar na manutenção dos sintomas relacionados ao estresse, ou seja, estas intervenções podem apresentar efeitos preventivos retardando o aumento de cortisol em mulheres na pós-menopausa.

Por conseguinte, é possível afirmar que o yoga pode ser considerado uma excelente intervenção para o desenvolvimento de estratégias de gerenciamento do estresse, associado ou não aos sintomas da menopausa, evitando o desequilíbrio homeostático e o desenvolvimento de doenças relacionadas ao estresse crônico, como por exemplo, a depressão.

Muitos estudos têm abordado a relação entre a redução dos níveis de estrogênio e a presença de sintomas depressivos (Moilanen, 2012). Porém, algumas pesquisas afirmam que embora as terapias de substituição hormonal sejam eficazes na redução de vários sintomas fisiológicos, tais como os fogachos (vasomotores) e ressecamento vaginal, isto não tem o mesmo efeito

40 sobre a depressão (Baker, 2012). Em nosso estudo nossos sujeitos apresentaram 40% de sintomas de depressão moderada ou grave no início do estudo, tanto no grupo controle quanto no grupo yoga e 38% de depressão leve no grupo exercício (Tabela 4), sendo que o escore total de depressão e os níveis de gravidade dos sintomas diminuíram apenas no grupo de yoga após 12 semanas (Figura 5). Embora, alguns estudos indiquem que mulheres no climatério praticantes regulares de exercícios físicos apresentam níveis mais baixos de depressão (Pilkington, 2005), nosso estudo não corroborou estes resultados, o que foi mostrado pela ausência de redução dos níveis de depressão no grupo que realizou a pratica de exercício físico (Figura 5). Uma possível explicação para resultado pode ser novamente a intensidade da modalidade de exercício escolhida, que não é um exercício aeróbico. Além disso, o grupo yoga foi o único em que a porcentagem de voluntários que apresentavam ausência de sintomas de depressão aumentou após 12 semanas (Tabela 4).

Outro instrumento utilizado para avaliar a qualidade de vida percebida foi o questionário de Qualidade de Vida da Organização Mundial de Saúde. Esta ferramenta dá acesso a aspectos relacionados com a qualidade de vida em uma escala de 0 a 100. Os resultados obtidos demonstraram no início do estudo uma média de escore 55, em todos os domínios (Figura 6), indicando que os voluntários apresentavam uma qualidade de vida baixa e insatisfatória, que poderia estar relacionada a variáveis como os sintomas da menopausa. Após a intervenção, o grupo yoga apresentou um aumento da satisfação com a qualidade de vida global (percepção da qualidade de vida e satisfação com a saúde), bem como o aumento no domínio psicológico quando comparados ao

41 grupo controle. Para o grupo exercício foi verificado uma melhora na qualidade de vida apenas no domínio psicológico, sem um impacto maior sobre os outros aspectos (Figura 6).

No início do estudo, todos os grupos apresentaram baixos a moderados níveis de ansiedade, tanto para avaliação do traço quanto do estado (Figuras 7 e 8). Existe uma tendência a menor mudança na resposta dos indivíduos com relação ao traço de ansiedade por ser uma característica de personalidade e, portanto menos sensível a alterações ambientais com tendêndia a permanecer constante ao longo do tempo (Cattell & Scheier, 1961; Andrade & Gorenstein, 2000; Fioravante et al, 2006), o que pode justificar a ausência de mudança de resposta após 12 semanas de intervenção. A escala de avaliação do estado de ansiedade apresentou o mesmo resultado que a escala de traço, porém a ausência de mudança nos resultados de todos os grupos pode estar relacionada ao fato de ter sido usada uma escala sem característica clínida para diagnóstico. Assim como também, diante dos níveis de estado de ansiedade verificados, consideramos que talvez um período de treinamento mais longo fosse necessário para que alterações pudessem ser observadas após a prática de yoga ou de exercícios.

Apesar da diminuição dos níveis de FSH e LH verificada nos grupos yoga e exercício, seus indices continuaram apresentando características típicas do período da pós-menopausa (Fox, 2008; Guyton e Hall, 2011).

Entre as medidas de níveis lipídicos no sangue verificamos que o grupo yoga apresentou diminuição do LDL, considerado um tipo de colesterol negativo para o organismo, enquanto que o grupo controle apresentou aumento dos níveis de LDL, corroborando o estudo de Lee et al, (2012) que

42 também demonstrou os efeitos positivos da prática de yoga sobre os níveis de lipídicos, inclusive a redução do LDL e seus benefícios na prevenção de doenças cardiovasculares em mulheres na pós-menopausa.

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3. CONCLUSÃO

Em conclusão, 12 semanas de treinamento de yoga diminui os sintomas da menopausa, diminui os níveis de estresse e depressão, além disso, também aumenta a qualidade de vida e evita o aumento de cortisol em mulheres na pós-menopausa. Assim, nossos resultados confirmam a hipótese de que o yoga pode promover alterações positivas de longo prazo sobre os aspectos psicofisiológicos em mulheres na pós-menopausa e contribuir para melhorar a qualidade de vida global de mulheres nestas condições. É possível afirmar que a yoga pode ser aplicado como uma terapia complementar para o tratamento da pós-menopausa.

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