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Medidas de Combate à Fraude Fiscal

2.3. Fraude Fiscal

2.3.6. Medidas de Combate à Fraude Fiscal

O combate à evasão e fraude fiscal é sem sombra de dúvida uma constante preocupação dos países, não só porque fomenta as desigualdades entre cidadãos com é um forte obstáculo à evolução de um Estado. Nos dias que correm e em grande parte por culpa da globalização, este tipo de práticas fraudulentas são cada vez mais elaboradas, labirínticas o que torna a luta pelo seu combate cada vez mais exigente. Neste sentido, vamos abordar um pouco as medidas que têm vindo a ser tomadas pelos Estados na luta contra este tipo de infrações tributárias e tentar apontar alguns caminhos.

Há muito que os Estados sentiram necessidade de dotar os seus sistemas fiscais de mecanismos para combater comportamentos evasivos e fraudulentos. Isto porque e como já referimos, inúmeras são as práticas dolosas contra Estados Fiscais onde a prossecução dos seus fins é financiada sobretudo por receitas que derivam do aumento da carga fiscal sobre os contribuintes cumpridores.

Contudo, é da responsabilidade de cada Estado e da AT em particular, o dever de combater e minimizar os efeitos que estas condutas fraudulentas têm sobre o património fiscal. E mais do que aplicar medidas de caráter sancionatório, a nosso ver, a aposta deverá passar por medidas de caráter preventivo e não punitivo. Sendo Portugal um país em que vigora o modelo declarativo, isto é, em que cabe ao contribuinte o papel de declarar, liquidar e posteriormente pagar o imposto, é necessário antecipar eventuais danos, em vez de esperar pelo ato consumado.

Todos os dias são efetuadas medidas de aperfeiçoamento ao nível do sistema fiscal, nomeadamente através da tentativa de desburocratização da relação jurídico-tributária, através da simplificação dos processos, transferindo para o contribuinte não só o dever de liquidação como também o dever de colaborar. Contudo, somos da opinião de que enquanto o dever fundamental de pagar impostos não fizer parte das obrigações quotidianas dos contribuintes, enquanto não houver essa consciencialização de que o ato do pagamento de tributos traz inúmeros benefícios não só para os cidadãos, mas também para toda a sociedade, grande parte dos esforços desenvolvidos para combater a fraude fiscal serão pouco eficazes. Será necessário apostar na educação fiscal, desenvolver medidas para melhor esclarecer os contribuintes sobre o seu papel e o fim das receitas fiscais. Se as receitas fiscais são constituídas por impostos que derivam das suas receitas financeiras, será natural que estes pretendam saber a finalidade destas. Talvez a melhor medida passe por clarificar de forma simples e concisa o destino efetivo das receitas obtidas em cada um dos impostos ou até mesmo fazer um balanço fiscal trimestralmente.

Apesar de defendermos a educação fiscal como a medida que melhor combaterá atos fraudulentos, temos de concordar que outras medidas podem também minimizar os danos. Medidas como a atribuição de incentivos atraentes, nomeadamente o perdão fiscal parcial, para os contribuintes que optem por colaborar com a AT através da denúncia de comportamentos de evasão e fraude fiscal. Somos da opinião que não devem ser atribuídos incentivos para fazer cumprir um dever, mas temos de concordar que resulta. A melhoria

do processo de gestão tributária, especificamente através da aquisição de meios informáticos que consigam cruzar dados entre os vários serviços públicos, por exemplo segurança social, conservatórias, que consigam corrigir as declarações ou eventuais omissões. O reforço da fiscalização por parte da AT recorrendo a equipas especializadas que se dediquem exclusivamente ao combate deste tipo de atos, promovendo visitas surpresa a empresas ou pedidos de esclarecimentos a contribuintes de forma aleatória ou até mesmo com comportamentos suspeitos. Temos conhecimento que nenhuma destas medidas é inovadora, outros já as apontaram, algumas já foram presentes a discussão, mas até à data não saíram do papel.

Através da análise ao Relatório sobre o Combate à Fraude e Evasão Fiscais e Aduaneiras de 201622 podemos perceber que muitas outras medidas poderiam ser apontadas tanto ao nível legislativo, como criminal, operacional, institucional até mesmo ao nível do relacionamento da AT com o contribuinte. O relatório em causa (2016) refere que inúmeras medidas foram implementadas no ano correspondente e os resultados ao nível do combate às práticas fraudulentas em análise foram muito significativas, nomeadamente: correções à matéria colectável declarada superior a 4.304M€; 82.731 ações de inspeção a nível nacional; 1.100 milhões de faturas emitidas com NIF, um aumento de 13.6% face a 2015; 60 milhões de mensagens enviadas aos contribuintes a título de apoio e promoção ao cumprimento voluntário, correspondendo a um aumento de 9% face ao período homólogo, entre muitas outras.

Estamos certos que há muito a fazer e cada dia que passa as necessidades são diferentes. Temos conhecimento que nenhuma das medidas que apontamos é inovadora e que a sua execução implica um investimento financeiro significativo, o que num país com uma despesa pública como a nossa causaria algum transtorno. Contudo e como quisermos comprovar pela análise do relatório supracitado, a implementação de medidas de combate à evasão e fraude fiscal traduz retornos muito significativos e se para obtermos um Estado

22 Gabinete do Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais (2016). Relatório das Atividades Desenvolvidas “ Combate à Fraude e Evasão Fiscais e Aduaneiras”. Lisboa: República Portuguesa. Consultado em

31/01/2018. Disponível em https://www.portugal.gov.pt/download-ficheiros/ficheiro.aspx?v=97ee2d71- 68aa-495f-aba8-7bc68a88a524

Fiscal mais justo necessitamos de fazer mais alguns sacrifícios, no nosso entender valem muito a pena. Até porque não é justo que os contribuintes que não têm forma de “fugir” aos impostos vejam a sua carga fiscal aumentar em prol dos infratores.