• Nenhum resultado encontrado

Medidas de desenvolvimento

No documento 981_2008_0.pdf (3.464Mb) (páginas 73-77)

O AJUSTE AOS DADOS

4. BEM-ESTAR, QUALIDADE DE VIDA E DESIGUALDADE

4.2. Qualidade de vida e desigualdade

4.2.1. Medidas de desenvolvimento

As dificuldades teóricas e práticas que permeiam a geração de indicadores sintéticos de bem-estar foram discutidas em vários momentos deste relatório. Em alguns deles se citou a simplificação, muito conhecida, proposta pelo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), desenvolvido pelo economista paquistanês Mahbub Ul Haq18. Neste subitem, apresentam-se, brevemente, seus componentes, estabelecendo-se alguns comentários acerca de suas qualidades.

O IDH é uma medida abreviada de Bem-Estar Social que mede a qualidade de vida a partir de três parâmetros: renda, educação e longevidade. A variável renda é medida a partir

18

Mahbub ul Haq foi um economista paquistanês que desenvolveu a Teoria do Desenvolvimento Humano e que, juntamente com Amartya Sen, criou o Índice de Desenvolvimento Humano. Participou, também, de vários planejamentos de políticas do Banco Mundial (1970-1982) e foi Ministro da Economia do Paquistão.

do Produto Interno Bruto (PIB) de uma determinada região – o PIB é a soma dos bens e serviços produzidos num ciclo produtivo (um ano, por exemplo) dentro de uma determinada região, como um país. O valor do PIB dividido pela população dá origem ao PIB per capita, ou seja, o valor agregado de bens e serviços finais desenvolvidos por unidade de habitante. Porém, quando se trata de avaliar regiões específicas, como os municípios de um país com as dimensões territoriais do Brasil, ou qualquer outro que permita grande facilidade em mobilidade populacional para dentro e para fora de suas fronteiras, a utilização do PIB per

capita como um componente do IDH pode se tornar inadequada. Como observa o Atlas do

Desenvolvimento Humano no Brasil (2003, p. 3)

nem toda a renda produzida dentro da área do município é apropriada pela população residente. A alternativa adotada é o cálculo da renda municipal per capita. Ela permite uma desagregação por cor ou gênero da população, o que seria inviável de outra maneira.

A variável educação, em princípio, pode ser medida pelo acesso que os indivíduos têm à educação formal. Assim, um indicador possível pode ser a taxa de matrícula escolar. Entretanto, assim como no caso da renda, esse indicador pode ser distorcido se for medido em regiões que permitem fácil mobilidade de um local para outro. Como o Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil coloca (2003, p. 2), “quando o foco está em núcleos sociais menores, como municípios, esse indicador é menos eficaz, pois os estudantes podem morar em uma cidade e estudar em outra”. O que se propõe, como o PNUD faz, é medir a taxa de freqüência às salas de aula, uma vez que estas são baseadas em dados estatísticos censitários. A proposta de indicador desta pesquisa, atenta a estas limitações, buscou uma fonte de dados que estivesse disponível a todos os municípios do país, perdendo em complexidade (no subíndice), mas ganhando em comparabilidade.

A variável longevidade é baseada na quantidade média de anos que os indivíduos nascidos numa determinada região vivem, ou seja, é baseado na expectativa de vida da população, mas para isso deve-se observar se as condições de mortalidade se mantêm constantes. Essa variável permite supor a qualidade da saúde de uma determinada população. O Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil (2003, p.3) enfatiza que:

Quanto menor for a mortalidade registrada em um município, maior será a esperança de vida ao nascer. O indicador é uma boa forma de avaliar as condições sociais, de saúde e de salubridade por considerar as taxas de mortalidade das diferentes faixas etárias daquela localidade. Todas as causas de morte são contempladas para chegar ao indicador, tanto as ocorridas em função de doenças quanto as provocadas por causas externas (violências e acidentes).

Deve-se ressaltar que a obtenção de um valor numérico para a expectativa de vida enfrenta algumas dificuldades, como no caso dos municípios, a “inadequação do registro

civil”. Nesse caso, semelhante ao que ocorre com o indicador de educação, recorre-se à utilização de estatísticas a partir de pesquisas censitárias e, novamente, a proposta de índice desta pesquisa sugere outra medida (como será apresentado no capítulo 5) para esta dimensão de “saúde”, utilizando como Proxy uma “taxa de sobrevivência”, obtida a partir do número de filhos ainda vivos daqueles que tiveram filhos.

O IDH é, portanto, uma medida composta por três índices que caracterizam cada uma das variáveis listadas há pouco e restringe-se ao intervalo [0,1], sendo que o valor zero significa a medida mais baixa de Bem-Estar Social, ou ausência dele, e o valor um significaria o máximo de qualidade de vida, medido pelas dimensões selecionadas. Considera-se que uma população que possui um IDH entre 0 e 0,499 possui um desenvolvimento humano baixo. Por outro lado, um valor do IDH entre 0,500 e 0,799 é classificado como tendo um desenvolvimento humano médio, enquanto que para valores entre 0,800 e 1,000 o desenvolvimento humano é considerado elevado (valores superiores a 0,9 são considerados muito elevados).

Cabe aqui colocar a observação de que como os valores obtidos pelo IDH medem a qualidade de vida a partir de apenas três variáveis, pode ser que em termos de renda, educação e longevidade uma determinada região apresente um IDH elevado, mas isso não significa que ela possua os três subíndices simultaneamente elevados. Esta observação tornar-se-á evidente no capítulo 6 ao se comparar os ordenamentos obtidos pelo índice aqui proposto, o MIQL-M com os ordenamentos obtidos pelo IDH-M para os municípios das regiões metropolitanas do Brasil em análise.

De posse de um valor numérico que represente a variável renda, educação e longevidade, o IDH é obtido pela média aritmética dos três indicadores, assumindo-se a premissa de que as dimensões são igualmente importantes (LELLI, 2001). Este critério de agregação, a média aritmética, é também alvo de críticas contundentes, principalmente pelo fato da média aritmética ser uma medida de tendência central insensível à disparidade na distribuição de seus componentes. Com base nesta crítica, Foster et.ali. sugerem uma outra forma de agregação, pela média geométrica, que é adotada por esta pesquisa e explicitada no item seguinte.

O IDH-M – Índice de Desenvolvimento Humano Municipal, por sua vez, é uma derivação do IDH, proposto para uma região geograficamente menor, o que possibilita um melhor nível de detalhamento, mas amplia as complicações práticas da coleta de dados, requerendo algumas pequenas distinções na forma de cálculo.

Segundo o Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil (2003), no caso dos municípios, a variável educação é composta por outros dois indicadores, a “taxa de alfabetização de pessoas acima de 15 anos de idade (com peso dois) e a taxa bruta de freqüência à escola (com peso um)”. Como o próprio relatório coloca (2003, p.1):

O primeiro indicador é o percentual de pessoas com mais de 15 anos capaz de ler e escrever um bilhete simples (ou seja, adultos alfabetizados). O calendário do Ministério da Educação indica que se a criança não se atrasar na escola ela completará esse ciclo aos 14 anos de idade, daí a medição do analfabetismo se dar a partir dos 15 anos. O segundo indicador é resultado de uma conta simples: o somatório de pessoas (independentemente da idade) que freqüentam os cursos fundamental, secundário e superior é dividido pela população na faixa etária de 7 a 22 anos da localidade. Estão também incluídos na conta os alunos de cursos supletivos de primeiro e de segundo graus, de classes de aceleração e de pós-graduação universitária. Apenas classes especiais de alfabetização são descartadas para efeito do cálculo.

No caso das variáveis longevidade e renda, os valores são obtidos praticamente da mesma forma que no caso geral, ou seja, para a renda dividi-se a renda per capta do município pela quantidade populacional. Para a longevidade utiliza-se a “esperança de vida ao nascer”, resumindo a qualidade da saúde no município. Em todos os casos, os dados são obtidos principalmente a partir de Censos, em especial os que são provenientes do IBGE. Todos os sub-indicadores variam entre os valores zero e um. Assim, o indicador agregado, o IDH-M, também varia entre zero e um.

O IDH e sua variante IDH-M, como dito anteriormente, têm ampla aceitação, apesar de suas insuficiências. Os avanços por eles representados, nas palavras de Sen (2000a, p.18), incluem

Rather than concentrating only on some solitary and traditional measure of economic progress (such as the gross national product per head), „human development‟ accounting involves a systematic examination of a wealth of information about how human beings in each society live (including their state of education and health care, among other variables). It brings an inescapably pluralist conception of progress to the exercise of development evaluation.

No mesmo artigo, Sen (2000a, p.22) afirma que o maior mérito do IDH estaria na abordagem plural que ele impõe ao estudo do desenvolvimento e não necessariamente na sua forma de mensuração. A Comissão para Mensuração da Performance Econômica e do Progresso Social (CMPEPS, 2009) realizou críticas às insuficiências desta medida e embora não tenha evidenciado, de forma clara, quais seriam as alternativas de superação destas, sinaliza a necessidade de considerar as diversidades de condições que se impõem às pessoas, restringindo sua capacidade de “desenvolvimento com liberdade”, numa clara predileção por abordagens mais amplas que as restritas à renda e sugerindo como necessário, um olhar mais atento às disparidades econômicas e sociais.

Assumindo-se a importância da redução das desigualdades para o desenvolvimento econômico, mesmo que na forma de premissa ou opção filosófica-moral, ainda resta definir qual medida de desigualdade utilizar. Intento este a ser buscado no próximo subitem.

No documento 981_2008_0.pdf (3.464Mb) (páginas 73-77)