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2. IMPULSIVIDADE: CONCEITUAÇÃO, ABORDAGENS E MEDIDAS

2.2. Modelos neuropsicológicos: Comportamento impulsivo como um déficit nas funções

4.2.2. Medidas de impulsividade

Escala de Impulsividade de Barratt, versão 11, (BIS-11; Patton et al.,1995; Malloy-Diniz et al., 2010) (APÊNDICE C, página 199)

A Escala de Impulsividade de Barratt, versão 11, (BIS-11) é um questionário breve, de auto- preenchimento, composto por 30 frases que representam diferentes comportamentos impulsivos nas suas três facetas conforme proposto por Patton et al. (1995), a saber, impulsividade motora, atencional e por falta de planejamento. Para cada frase, o probando deve julgar de acordo com uma escala likert de 4 pontos se o comportamento em questão ocorre nunca ou raramente (1 ponto), ocasionalmente (2 pontos), frequentemente (3 pontos) ou muito frequentemente (4 pontos). O escore máximo da escala é de 120 pontos. A escala de impulsividade atencional é composta por 8 itens (escore máximo de 32), a motora por 11 itens (escore máximo de 44 pontos) e a escala falta de planejamento por 11 itens (escore máximo 44 pontos).

Conner's Continous Perfomance Test (Tarefa de Performance Contínua) (CCPT-II, Conners, 2003) O CCPT-II foi desenvolvido inicialmente para avaliar a atenção sustentada. No entanto, na atualidade, vários de seus componentes têm sido utilizados para avaliação de outros aspectos cognitivos, como controle inibitório e outros tipos de atenção. Na tarefa, o sujeito é exposto a uma série de letras apresentadas, uma de cada vez, em intervalos relativamente curtos na tela do computador. A tarefa do sujeito consiste em pressionar a barra de espaço do computador cada vez que aparece uma letra, exceto quando a letra for X. Caso apareça a letra X, o sujeito deverá inibir a resposta. Esta tarefa fornece 15 medidas, entre elas, medidas sobre erros de comissão (o sujeito pressiona a barra mediante a letra X), omissão (o sujeito não pressiona a barra quando vê uma determinada letra) e tempo de reação. Os estudos desenvolvidos com base no CPT geralmente

utilizam os escores de erros por comissão como uma medida de impulsividade motora e os erros por omissão como uma medida de falta de atenção (Riccio, Reynolds & Lowe, 2001).

Uma alternativa de utilização dos escores do CPT foi relatada por Egeland e Kowalik-Gran (2010a, 2010b) e segue a proposta do uso de variáveis latentes. Recentemente, autores identificaram que, apesar da versão do CPT apresentada Conner (Conner’s Continuous Performance Test – CCPT-II) oferecer 15 medidas que potencialmente refletem diferentes dimensões da atenção, a maioria dos neuropsicólogos utiliza apenas algumas medidas para avaliar a atenção sustentada. Diante desta constatação, os autores realizaram estudos fatoriais (n=376) com as medidas disponíveis a fim de identificar se os fatores obtidos se referem aos subprocessos específicos ou globais do construto atenção. Os resultados indicaram a presença de quatro fatores da atenção denominados: atenção focal, atenção sustentada, hiperatividade/impulsividade (motor), vigilância, mudança no controle atencional (Cohen et al., 1993; Egeland & Kowalik-Gran, 2010a, 2010b). Estudos de validade concorrente e de critério sobre as dimensões obtidas estão em andamento (Egeland & Kowalik- Gran, 2010b). Acredita-se que a reunião das variáveis que avaliam o mesmo aspecto da atenção possa ser uma alternativa interessante, uma vez que, outros subprocessos atencionais interdependentes podem estar sendo avaliados no CPT. Tais medidas foram utilizadas nas análises desse estudo. A seguir, a apresentação da definição dos fatores de acordo com Egeland e Kowalik- Gran (2010b): a) Fator 1: Atenção concentrada se refere à capacidade de concentrar recursos atencionais em uma tarefa específica e ser capaz de filtrar os estímulos que distraem. Tal controle atencional é um pré-requisito da atenção sustentada e vigilância. Escores do CCPT que compõem este fator: erros por omissão, desvio padrão do tempo de reação, variabilidade e perseveração; b) Fator 2: Hiperatividade-impulsividade é uma medida de repetição e é composta por um curto tempo de reação e alto número de erros por comissão. Escores do CCPT que compõem este fator: erros por comissão, tempo de reação e estilo de resposta B; c) Fator 3: Dificuldade de atenção sustentada refere-se ao padrão de desempenho do sujeito que perderam a habilidade inicial da atenção concentrada. Este fator é formado por um tempo de reação mais lento e variável ao longo do teste e por um aumento do número de erros por omissão. Escores do CCPT que compõem este fator tempo de reação por mudança de bloco e desvio-padrão do tempo de reação por mudança de bloco. Sujeitos com altos escores neste fator tendem a apresentar maiores erros por desatenção ao longo do teste; d) Fator 4: Vigilância é tradicionalmente definida como a capacidade de atenção para manter- se alerta também quando menos estimulado. Escores do CCPT que compõem este fator: tempo de reação no intervalo inter-estímulo e desvio-padrão do tempo de reação intervalo inter-estímulo.

Iowa Gambling Task (IGT, Bechara et al., 1994; Malloy-Diniz, Leite, Moraes, Corrêa, Bechara, Fuentes, 2008)

O Iowa Gambling Task (IGT), versão computadorizada, é uma tarefa desenvolvida para avaliar o processo de tomada de decisão, simulando uma situação da vida real em termos de análise de custo- benéfico (recompensas e punição) em longo prazo e resultados incertos. Na tarefa, são apresentados quatro baralhos de cartas denominados pilhas A, B, C, D. O sujeito deve escolher cartas, uma a uma, de forma a ganhar o máximo de dinheiro até a finalização da tarefa que ocorre após a 100ª escolha. Ao escolher uma carta, o sujeito recebe um ganho imediato que lhe é apresentado e, algumas vezes, a escolha implica em perdas, sendo que ambos podem variar em magnitude. O sujeito não é informado sobre a distribuição de ganhos e perdas associados a cada uma das pilhas sendo que cada baralho inclui um esquema fixo e pré-programado de recompensa e punição. Progressivamente, por meio de um processo de aprendizagem, os participantes podem criar padrões de probabilidade e inferir quais são os baralhos vantajosos e quais são desvantajosos com base no risco e lucratividade no curto e longo prazo. Os baralhos A e B trazem ganhos maiores e imediatos, em contrapartida, as perdas são mais frequentes ou mais vultosas. Escolher mais vezes os baralhos A e B conduz a uma perda global, por isso, essas pilhas são consideradas desvantajosas em termos das consequências em longo prazo. Já as cartas dos montes C e D levam a ganhos pequenos em curto prazo, mas a perdas menos frequentes e referem-se à quantidade menor de dinheiro. Escolher mais vezes os baralhos C e D conduz a um ganho global maior, por isso, são consideradas pilhas vantajosas em relação às pilhas A e B em termos das consequências em longo prazo. Os sujeitos não são informados dessa regra, devendo percebê-la à medida que jogam. È dito a eles apenas que existem pilhas que são melhores do que outras. Por isso, precisam adquirir um conhecimento sobre as contingências de recompensa ao longo das tentativas e diante dos erros tendo em vista que o objetivo da tarefa é ganhar o máximo possível ou perder o mínimo possível. Em cada pilha há 40 cartas de baralho, por isso, é possível que as cartas de determinada pilha acabem antes do final da tarefa. Nesse caso, o sujeito deve continuar suas escolhas nas pilhas restantes. O jogo termina quando o sujeito escolhe a 100a carta. O desempenho do sujeito nas 100 escolhas é dividido em cinco blocos composto por 20 escolhas. Primeiramente, é possível efetuar uma análise descritiva dos escores obtidos por meio do número de cartas selecionadas em cada baralho. Bechara (2007) sugeriu que alta frequência de escolhas no baralho A e baixa frequência de escolha no baralho D são fortemente indicativas de uma tomada de decisão prejudicada considerando as consequências em longo prazo, já que as escolhas em A podem ser entendidas como evidências de busca por risco. Já as escolhas do baralho B são menos conclusivas podendo estar associada a ganhos altos e baixa frequência de perdas e tendem a ser preferidas por indivíduos saudáveis. Uma medida tradicional no IGT é a diferença entre número de escolhas de cartas vantajosas (pilhas C e D) em relação ao

número de cartas das pilhas desvantajosas (pilhas A e B) para cinco blocos formados por 20 escolhas consecutivas. Assim, para cada bloco é utilizada a fórmula [(escolhas na pilha C + escolhas na pilha D) - (escolhas na pilha A + escolhas na pilha B)]. Ao final, o escore global é calculado somando-se o resultado da fórmula nos cinco blocos de escolhas. O escore final do IGT foi utilizado nesse estudo para medir a impulsividade por falta de planejamento (por dificuldades no processo de tomada de decisões).

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