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Organograma 1 Estrutura do Peti

4 O COMBATE AO TRABALHO INFANTIL

4.1 MEDIDAS PROTETIVAS

A Constituição Federal brasileira reconhece a criança e o adolescente como sujeitos de direito e garante a eles o Princípio da Proteção Integral. A Lei 8.069/90, que regula o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), estabelece em seu artigo 98, que medidas protetivas à criança e ao adolescente serão aplicáveis sempre que os direitos reconhecidos no próprio estatuto ou em outras normas forem ameaçados ou violados por ação ou omissão da sociedade ou do Estado, por falta, omissão ou abuso dos pais ou responsável, ou ainda em razão de sua conduta. Neste sentido, Cury (2005, p. 34) esclarece:

Temos, aqui, na verdade, o princípio que deve servir de norte a toda atividade referente à Justiça da Infância e da Juventude, qual seja, de as medidas aplicadas se constituírem em propostas efetivas da promoção do bem-estar de seus destinatários, propiciando-lhes oportunidade de integração sócio-familiar.

São previstos às crianças e adolescentes direitos à vida, à saúde física e mental, à alimentação, à educação, ao lazer, à dignidade, ao respeito, à liberdade, à convivência familiar e comunitária. O trabalho infantil viola esses direitos básicos e fundamentais, porquanto afeta a saúde, prejudica a educação, afasta o lazer, compromete a dignidade e respeito e tolhe a liberdade das crianças e adolescentes.

Em razão destas violações é que o trabalho infantil é combatido como medida de proteção à criança e ao adolescente. O Estado promove mecanismos protetivos à criança e ao adolescente, principalmente no que se refere à inserção precoce no mercado de trabalho, através de leis e ações governamentais.

O aparato jurídico traz regras proibitivas para o trabalho de crianças e especifica condições especiais para o trabalho de adolescentes, enquanto o aparato institucional promove programas para combater o trabalho infantil, bem como as variáveis causadoras deste fenômeno.

Sobre os programas desenvolvidos pelo aparato institucional, Cacciamali e Braga (2003) enfatizam que há os que combatem o trabalho infantil pela demanda, embasados na conscientização da população e fiscalização do Poder Público e os

que focam nas determinantes de oferta de mão-de-obra infantil, as quais garantem a promoção de uma complementação na renda da família para afastar a necessidade de que suas crianças caiam na rotina labora precoce.

Cada um dos aspectos levantados pelas autoras corresponde a uma das variáveis determinantes do trabalho infantil levantada no item 2.2 da pesquisa, quais sejam, a cultura do trabalho e a insuficiência de renda familiar.

Os programas que possuem como eixo central a sensibilidade e mobilização da sociedade civil tratam da variável cultural, incutida pela ética do trabalho, que desestrutura o discurso de defesa dos direitos das crianças e adolescentes por pregar a ideia de trabalho educativo e lucrativo para o mercado de trabalho. Neste aspecto, os programas buscam demonstrar para a sociedade as consequências do trabalho precoce para que a sociedade civil repudie o fenômeno, fiscalize as ocorrências e denuncie sua prática. Para promover essa conscientização, Cacciamali e Braga (2003, p. 395-433) afirmam que,

Este tipo de ação objetiva desenvolver campanhas de conscientização para mudar a cultura com relação ao trabalho infantil, contando com o envolvimento de instituições e entidades da sociedade civil com capacidade de intervir na erradicação do trabalho infantil. As ações de sensibilização e mobilização social constituem elemento chave da maioria das ações em curso com destaque para a Marcha Global contra o Trabalho Infantil e a atuação do IPEC – Programa Internacional para a Eliminação do Trabalho Infantil. Neste campo podemos destacar ainda: a Campanha Criança no Lixo, Nunca Mais, criada pelo Fórum Nacional Lixo & Cidadania; Seminário Crianças no Campo: educação, direito e trabalho; Evento Itinerante sobre Trabalho Infantil na Agricultura Brasileira; Capacitação de Agentes Sociais como Mobilizadores na Prevenção do Trabalho Infantil Precoce, uma iniciativa do MOC (Movimento de Organização Comunitária) no âmbito do IPEC/Organização Internacional do Trabalho (OIT); Projeto Sensibilização e Mobilização dos Conselhos Tutelares, desenvolvido pelo IBAM em conjunto com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), no âmbito do IPEC; Prêmio Criança da FUNDAÇÃO ABRINQ. Por fim a Agência de Notícias dos Direitos da Infância (ANDI) vem atuando a serviço da conscientização e mobilização social contra o uso do trabalho infantil por meio do acompanhamento dos artigos sobre trabalho infantil veiculados na imprensa.

Esses programas visam o engajamento da sociedade civil e do poder público para promover reforços à educação básica e ações complementares à escola e, fiscalização, denúncia e incentivos para a atuação contra o trabalho infantil.

Em outro aspecto, há programas que possuem como eixo central o incremento da renda familiar, de forma a promover atendimento imediato às necessidades básicas da família, atacando a variável da renda, uma vez que a

pobreza justifica a exploração da mão-de-obra infantil. Ao transferir valores às famílias, condicionando determinantes como a frequência escolar e o afastamento do trabalho precoce, o Estado atinge os objetivos sociais através do complemento da renda familiar. Cacciamali e Braga (2003, p. 395) alertam que,

Este tipo de ação é constituído por programas que propõem a adoção imediata de medidas eficazes de atendimento às necessidades básicas das famílias que mostram ocorrência do trabalho infantil. Além disso, os programas salientam que as ações públicas devem estar relacionadas a processos político-sociais mais amplos, em detrimento de ações pontuais de atendimento a um determinado número de crianças e adolescentes. Destacam-se como eixos de ação o incremento da renda, ações sócio- educativas e de qualificação profissional junto às famílias e promoção do desenvolvimento local. Cabem neste tipo de ação, os seguintes programas: Programa Nacional de Geração de Emprego e Renda em Áreas de Pobreza – PRONAGER. Objetiva gerar ocupações produtivas e renda, potencializando todos os recursos e vocações econômicas da comunidade, a partir da capacitação massiva de trabalhadores desempregados e/ou subempregados para a sua organização autogestionária em empresas, associações e cooperativas de produção de bens e/ou serviços, com competitividade no mercado. Este Programa realizado em parceria com o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI) deve permitir prioridade de acesso às famílias com crianças e adolescentes; Programa Nacional de Qualificação Profissional (PLANFOR), que prioriza ações de formação e qualificação profissional nas famílias e áreas onde há registro de trabalho infantil; Programas de complementação da renda familiar associados à contrapartida da retirada da criança do mercado de trabalho e da sua manutenção na escola, além de iniciativas na área educacional - jornada complementar – e de assistência social as famílias. Ações dessa modalidade podem ser representadas pelo Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI), Programas Municipais e Estaduais de Bolsa-Escola e Programas de Garantia de Renda Mínima Familiar.

Ao combater as duas principais variáveis do trabalho infantil com programas de conscientização social e incremento de renda, o Estado promove a proteção das crianças e adolescentes, porém, embora combatam o fenômeno e procure promover a proteção dos direitos e garantias destes sujeitos, os programas não se mostram suficientes para erradicar o trabalho infantil.

Ambas variáveis são fortes para resistirem às medidas protetivas empreendidas pelo Estado. A questão cultural está arraigada na sociedade brasileira, já que a ―ética do trabalho‖ é um discurso reproduzido desde os primórdios da formação do capitalismo nacional brasileiro, consolidado como forma de afastar a criança e o jovem da marginalidade e do ócio. A questão financeira torna-se bastante complexa, quando se verifica que os programas são insuficientes para afastar os menores do trabalho, já que com este consegue receber valor bastante superior à renda transferida pelo Governo, na forma de benefício, a qual

varia de R$ 25,00 à R$ 40,00 por criança retirada do mercado de trabalho e mantida na escola31.

Embora não tenha sido alcançada a erradicação do trabalho infantil, as medidas protetivas são essenciais para os avanços sociais e para a redução do número do trabalho infantil no Brasil, mesmo que ainda seja tímido o progresso nestas questões. A proteção da criança e do adolescente, principalmente no que se refere à inserção precoce no mercado de trabalho demanda da mobilização social e de ações do Estado, como forma de assistência à infância, através de medidas constantes e eficientes para combater o trabalho infantil.

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