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3. METODOLOGIA GERAL

4.2 ANÁLISE DOS PADRÕES AMBIENTAIS CENTRO E BORDA

4.2.2 Medidas de Similaridade e Diversidade

A diversidade de espécies foi semelhante entre os ambientes, sendo o índice de Shannon de 3,30 para a borda e 3,25 para o centro (Figura 22), não diferindo estatisticamente (t0,05= 1,0). Costa et al. (2013) encontraram, no entanto, maior diversidade para as áreas de borda em relação às áreas de centro, e de acordo com Didhan e Lawton (1999) as bordas comumente apresentam maior diversidade de espécies em decorrência da sobreposição de nichos.

A proximidade dos valores de diversidade observados pode ser um indicativo de uma transição gradual entre centro e borda, com semelhança na diversidade total e alta similaridade florística, mas com diferenças pontuais na composição de espécies. A comparação gráfica baseada nos estimadores de cobertura (ACE e ICE) para borda e centro também demonstra similaridade entre os ambientes quanto à riqueza, fornecendo uma estimativa mínima de 48 espécies (Figura 23), valor esse muito próximo ao observado a campo (51 espécies para borda e 48 espécies para o centro).

Figura 22- Diversidade estimada pelo índice de Shannon para a borda e o centro de um remanescente florestal no Escudo Cristalino, Bioma Pampa, RS.

Fonte: Autor

Figura 23- Similaridade na composição de espécies entre os padrões de borda e centro, com base nos estimadores de cobertura (ACE e ICE), para um remanescente florestal no Escudo Cristalino, Bioma Pampa, RS.

Fonte: Autor. 0 1 2 3 4 0 5 10 15 20 25 30 35 40 Núm ero de es pé c ies

Número de parcelas amostrais

Shannon

A Figura 24 também dá suporte à interpretação da similaridade florística ao demonstrar como as espécies observadas estão compartilhadas entre os ambientes, sendo possível constatar através da análise do diagrama de Venn que existem 43 espécies compartilhadas entre centro e borda do total das 57 espécies observadas, reforçando a ideia de similaridade.

Cabe salientar que os diagramas de Venn são um método intuitivo de análise, sendo reflexo direto da amostragem e, portanto, sujeitos a subestimativas do número real de espécies compartilhadas. O índice Chao para espécies compartilhadas (Chao Shared Estimates), por exemplo, estima que a riqueza real compartilhada para a área total (borda e centro) seria de 51 espécies.

Figura 24- Diagrama de Venn ilustrando o padrão de compartilhamento das espécies observadas entre borda e centro para um remanescente florestal no Escudo Cristalino, Bioma Pampa, RS.

Fonte: Autor

Subdividindo o padrão ambiental de borda, com base nas características da matriz de entorno em: borda-eucalipto e borda-estrada e, comparando ao ambiente de centro, observa-se que a maioria das espécies (35 sp.) continuam sendo comuns entre ambientes, e que cada um dos padrões de borda compartilha quatro espécies exclusivamente com o centro. Não obstante, tanto borda-eucalipto quanto borda- estrada apresentam três espécies exclusivas cada, sendo que ambos os padrões compartilham entre si duas espécies (Figura 25).

Figura 25- Diagrama de Venn ilustrando o padrão de compartilhamento das espécies observadas entre borda-estrada, borda-eucalipto e centro para um remanescente florestal no Escudo Cristalino, Bioma Pampa, RS.

Fonte: Autor

Ocorreram apenas em borda-estrada as espécies Citharexylum montevidense,

Prunus myrtifolia e Randia ferox e apenas em borda-eucalipto as espécies Dodonaea viscosa, Moquiniastrum polymorphum e Syagrus romanzoffiana.

As duas primeiras espécies exclusivas de borda-eucalipto são características de ambientes abertos e normalmente descritas na literatura como típicas de áreas alteradas e/ou de solos ácidos (BRACK et al., 1998; SCHNEIDER, FINGER & SCHNEIDER, 1999; SIMÕES-JESUS & CASTELLANI, 2007). Já Syagrus

romanzoffiana, também descrito como pioneiro, normalmente ocorre em solos

hidromórficos, mas sendo ocasionalmente relatado em outras formações (BAUERMANN et al., 2010).

A similaridade florística também é atestada pelos índices de Sorensen e Jaccard, que alcançaram valores de 0,86 e 0,75, respectivamente, o que demonstra haver em média 80,5% de espécies comuns entre os dois ambientes avaliados (borda e centro).

Embora o quociente dos índices de Sorensen e Jaccard sejam muito semelhantes, autores como Gomide, Scolforo e Oliveira (2006) destacam a melhor expressividade do índice de Sorensen para espécies comuns que co-ocorrem, por dar

maior peso a essa categoria. Entretanto, ambos os índices são baseados somente na incidência de espécies (presença/ausência) e, portanto, seus coeficientes não levam em conta dados de abundância (GASTAUER & MEIRA-NETO, 2015).

Essa peculiaridade faz com que mesmo em ambientes com grande diferença em termos de riqueza de espécies, o índice de Sorensen mantenha-se sempre alto (LENNON et al., 2001). Ainda assim, segundo Magurran (2013), o índice de Sorensen é tido como uma das melhores ferramentas indicativas da similaridade entre ambientes.

Os índices quantitativos de Morisita-Horn e Bray-Curtis, que consideram a abundância de espécies, reportaram para a mesma conclusão de similaridade, sendo o primeiro 0,92 e o segundo 0,70.

O índice de Bray-Curtis apesar de ser comumente empregado em trabalhos científicos (BURD, 2002; ELLINGSEN & GRAY, 2002), é fortemente influenciado pela riqueza florística e pelo esforço amostral empenhado (WOLDA, 1981), justificando o menor valor de similaridade encontrado através desse índice para a área de estudo, como reflexo da provável insuficiência amostral anteriormente discutida.

Diferentemente, o índice de Morisita-Horn não apresenta essa fragilidade, sendo sensível apenas às abundâncias muito discrepantes, o que não ocorre no presente estudo, onde os índices analisados (Berger-Parker e Pielou) não demonstraram a existência de dominância de espécies na comunidade.

Reforça-se que a existência de “efeito de borda” é natural e presente em todas as formações florestais, se considerado que sempre haverá uma zona de bordadura sujeita a diferentes dinâmicas microclimáticas e ecológicas locais. O problema relacionado ao ambiente de borda realmente se caracteriza quando as alterações estruturais na composição e na dinâmica estendem-se por uma área muito grande nos fragmentos, chegando próximo ao núcleo ou interior da floresta.

Nesse caso, duas situações distintas poderiam ser observadas, na primeira, em fragmentos maiores, haveria acentuada diferença entre os ambientes de centro e borda, já na segunda, em decorrência do pequeno tamanho do fragmento, os padrões de borda estenderiam-se até quase cobrir a área total, não havendo, portanto, um centro efetivo.

Dessa forma, quando não encontradas diferenças marcantes entre centro e borda em grandes maciços florestais, como no presente estudo, poderia se concluir a não existência de um efeito de borda além do natural, refletindo também o estado de

conservação do remanescente e tendo relação direta com a qualidade do habitat para a fauna local.