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MEIO AMBIENTE NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988

A Constituição da República Federativa do Brasil, de 05 de outubro de 1.988, traz pela primeira vez um capítulo específico sobre meio ambiente. Ao contrário das organizações jurídicas fundamentais anteriores, esta é a primeira Constituição Federal a tratar do assunto, seguindo a necessidade atual de se conceder ampla proteção aos direitos e interesses difusos e coletivos.

O advento da atual Constituição Federal não obstou o prosseguimento da Política Nacional do Meio Ambiente, já que a Lei Federal nº 6.938/81, que dispõe sobre a mencionada Política, foi recepcionada em quase todos os seus aspectos.

Essa lei, além de instituir princípios gerais da tutela ambiental, foi responsável por uma inédita evolução legislativa na matéria, o que pode ser observado, especialmente, na Lei da Ação Civil Pública (Lei Federal nº 7.347/85), na Lei dos Crimes Ambientais (Lei Federal nº 9.605/98), bem como na Carta Magna de 1988 e nas decorrentes Constituições Estaduais.

Conquanto o meio ambiente tenha recebido capítulo específico na atual Constituição, diversos são os dispositivos constitucionais que fazem alusão expressa ou implícita ao patrimônio ambiental, tais como aqueles que trazem regras de competência ou instrumentos processuais adequados à sua proteção57.

Inserido no Título VIII (Da Ordem Social) da Constituição da República, o Capítulo VI, referente ao Meio Ambiente, é composto exclusivamente pelo artigo 225. O caput desse artigo traz a norma-matriz do direito ambiental brasileiro, in verbis:

“Artigo 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao

57 Vide ANEXO I - Quadro ilustrativo das principais citações da Constituição Federal de 1988 sobre o

Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”.

Essa norma foi responsável pela criação do bem ambiental, terceira espécie de bem, contemplado na terceira geração de direitos e que não se confunde com os públicos ou privados. Este bem de natureza difusa, além de ser de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, é imprescritível, irrenunciável e inalienável.

Nos termos do artigo 81, parágrafo único, inciso I, da Lei Federal n° 8.078, de 11 de setembro de 1990 (Código de Defesa do Consumidor), o bem ambiental, de natureza indivisível, tem como titulares pessoas indeterminadas, ligadas por circunstâncias de fato. Nessa linha, o caput do artigo 225 da Constituição Federal de 1988 garante aos brasileiros e estrangeiros residentes no país o direito a essa nova espécie de bem, essencial à sadia qualidade de vida do ser humano.

No ano de 1947, ao interpretar a expressão “brasileiros e estrangeiros residentes no país”, atualmente presente no caput do artigo 5º da Constituição da República, o Supremo Tribunal Federal decidiu que essa expressão se refere aos direitos executáveis nos limites de nossa soberania. Assim, qualquer direito poderá ser assegurado no local onde tenha vigência e eficácia.

Segundo esse entendimento, a Lei maior resguarda direitos, inclusive, aos estrangeiros que não residem em nosso país. Os Estrangeiros poderão, por exemplo, exercer seu direito de propriedade sobre um imóvel adquirido em nosso país, ou até mesmo figurar como paciente em uma ação de Habeas Corpus. Com muito mais razão, os estrangeiros também terão direito a um meio ambiente equilibrado quando estiverem nos limites do nosso território.

Por esta interpretação legal, firmada em total consonância com o atual artigo 1º, inciso I, da Constituição Federal/1988, os “brasileiros e estrangeiros residentes no país” são os titulares do meio ambiente ecologicamente equilibrado disciplinado no mesmo texto Constitucional (artigo 225). São eles os titulares do direito a uma vida sadia.

Atualmente, não há como se falar em direito à vida sem dignidade. O simples direito a não interrupção do ciclo vital não basta. Importantíssimo o princípio da dignidade da pessoa humana, elencado no inciso III do artigo 1º da Carta Magna de 1988, que se irradia sobre todas as normas constitucionais, bem como sobre aquelas constantes no subsistema.

Essa almejada dignidade pode ser alcançada a partir do momento em que se tornam efetivos os direitos sociais descritos no artigo 6º da Constituição, que dispõe que “São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição”. Esse artigo traz um rol de direitos necessários à manutenção de uma sadia qualidade de vida, denominado piso vital mínimo.

Não se pode olvidar, por outro lado, que todas as normas ambientais e a própria Constituição Federal de 1988 se dirigem à pessoa humana, mesmo quando o objeto direto da proteção seja outro ser vivo.

De fato, o tema ambiental passou a ter relevância jurídica no Brasil na década de 80, uma vez que o direito de viver num ambiente ecologicamente equilibrado foi erigido à categoria de Direito Humano Fundamental pela Constituição Federal de 1988. Neste sentido, ressalta-se um dos princípios fundamentais do Direito Ambiental, qual seja, o Princípio da Prevenção, inserido no caput do artigo 225 da Carta Magna de 88, que visa prevenir que o dano ao meio ambiente se concretize.

Sendo a prevenção o objetivo fundamental do direito ambiental, aludido princípio aparece outras vezes na Constituição Federal, bem como em outros pontos do subsistema.

Como instrumento processual, o artigo 5º, inciso XXXV, da Carta Magna/1988, abarca o princípio da prevenção quando estabelece que “A lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário a lesão ou ameaça do direito”. Ainda no plano processual, verifica-se a existência deste princípio na possibilidade de

concessão de liminares e medidas cautelares de ofício pela autoridade judiciária, juntamente com Poder Geral de Cautela do magistrado.

Já como direito material, o inciso IV do §1º do citado artigo 225 da Constituição Federal, traz a exigência do Estudo Prévio de Impacto Ambiental (EIA/RIMA), para a instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente. Essencialmente preventivo esse instrumento, além de elaborar uma previsão dos eventuais impactos ao meio ambiente, pode indicar as medidas mitigadoras desses impactos.

Concernente ao dispositivo constitucional acima citado, entendemos que o mais adequado seria a previsão acerca da necessidade de “Avaliação de Impacto Ambiental (AIA)” para empreendimentos que pudessem causar impacto ao meio ambiente, por se tratar de instrumento mais amplo, previsto no artigo 9°, inciso III, da Política Nacional de Meio Ambiente (Lei Federal n° 6.938/81).

Com efeito, a AIA engloba não só EIA/RIMA, mas também outros instrumentos importantes, a exemplo do Estudo de Impacto de Vizinhança e respectivo Relatório (EIV/RIVI), Estudo Ambiental Simplificado (EAS), Avaliação Ambiental Estratégica (AAE), etc, que serão utilizados de acordo com impacto, localização e abrangência.

De outra forma, administrativamente, o princípio da prevenção é aplicado por intermédio das licenças, das sanções, das autorizações, e da fiscalização. Por fim, em matéria penal, uma punição correta e efetiva imposta ao poluidor pode constituir em estimulante negativo contra práticas nocivas ao meio ambiente.

Assim sendo, em que pese os novos esforços do Poder Judiciário, especificamente o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, que, pioneiramente, criou a Primeira Câmara Especial do Meio Ambiente visando dar mais efetividade à tutela processual do Direito Ambiental, os mecanismos alternativos de solução de conflitos, a exemplo do Termo de Ajuste e Conduta (TAC), são mais ágeis e eficazes para dirimir questões que envolvem o meio ambiente.

4. ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA DOS ÓRGÃOS INTEGRANTES DO