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Meio Ambiente, Saúde, Soldadores e Indústria Naval

8 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

8.2 Análise e Discussão sobre as pesquisas encontradas

8.2.6 Meio Ambiente, Saúde, Soldadores e Indústria Naval

A pesquisa realizada por Pinheiro (2015), engenheira de Produção, Segurança do Trabalho e Naval com ênfase em Soldagem, aborda a gestão de segurança, meio ambiente e saúde para os soldadores da indústria naval no Brasil, e se preocupa com os riscos ocupacionais pelos quais os soldadores estão expostos, ao peso dos equipamentos que transportam, ao desconforto de seus EPI, a falta de capacitação profissional, o aumento do número de acidentes e doenças ocupacionais, pois, em sua opinião, as partículas dos fumos da soldagem são um dos maiores causadores e agravantes à saúde dos soldadores, tudo isto já sinalizado por Soares (2012), Dias e Araújo (2015), Teixeira (2012) e Miranda (2013).

Muito bem apontado por Pinheiro (2015), o modelo capitalista nos estaleiros utiliza a racionalização das organizações em geral, que visa à máxima produtividade e redução dos custos, com a introdução de novas técnicas de gestão e desenvolvimento que têm por objetivo o aumento dos ganhos na produtividade e, somente em último caso, a melhoria no bem-estar e condições de trabalho para os empregados.

Mais uma vez surge a racionalização com a exploração da força de trabalho, onde o trabalhador é pago para executar e não pensar. Observa-se a desmotivação no ambiente organizacional, como sinaliza Dejours (1993) em seu livro, a Psicodinâmica do Trabalho, sobre o conceito de estratégia defensiva que pode ser reconhecido como fonte do sofrimento, podendo gerar dentre outros agravos os acidentes, ociosidades e perdas no processo de trabalho. (grifo do autor)

O método de trabalho imposto pelas empresas, muitas vezes mal elaborado, torna-se uma ferramenta questionável. Para os trabalhadores, a falta de estrutura organizacional às disfunções ocorridas no meio operacional, onde pode acontecer a falta de motivação e interesse para com o trabalho, surgindo a fadiga constante, demonstrando que quando se realiza uma atividade de maneira prazerosa os resultados são normalmente positivos, em contra partida, ao realizarem funções de forma relapsa, os fins são insatisfatórios tanto para o empregador quanto para os empregados, que são submetidos ao constrangimento e ao desgaste emocional.

Outro aspecto importante, já relatado anteriormente por Dias e Araújo (2015), Teixeira (2012), Miranda (2013) e Moreira, Ferreira e Araújo (2016) e reforçado por Pinheiro (2015), é sobre o uso incorreto e até mesmo o não uso dos EPI, uma vez que são pesados e desconfortáveis, no qual o Sinduscon (2014) ratifica e destaca que as atividades exigem indumentária pesada em um ambiente desfavorável, devido à exposição a diversos riscos ambientais e à arquitetura dos ambientes.

Quelhas e Lima (2006, apud PINHEIRO, 2015, p. 11 e SOARES, 2012) já citados anteriormente, discorrem que no Brasil muitas organizações ainda possuem uma visão restrita em relação à segurança, medicina do trabalho e saúde ocupacional e restringem-se a coletar dados estatísticos, tomar ações reativas aos acidentes de trabalho, a responder as causas trabalhistas e ao cumprimento básico das exigências legais com relação às NR do MTE, onde podem evoluir e serem gerenciadas através de normas de gestão, tais como a OHSAS 18001 e ISO 14001, que abrangem respectivamente os Sistemas de Gestão de Segurança e Saúde Ocupacional e Gestão Ambiental e permitem aumentar a produtividade, reduzir o custo do produto final, a não interrupção no processo de trabalho, o absenteísmo e os acidentes e/ou doenças ocupacionais.

Pinheiro (2015) se apropria das informações prestadas pelo Welding Journal (2011) e explica que deve ser realizada uma análise detalhada na composição dos insumos de soldagem utilizados pelos soldadores, na geração dos fumos metálicos e doenças, o tipo de processo de soldagem, as condições das instalações e a proteção adequada para que sejam atendidas as necessidades com as exigências físicas (peso, esforço e postura) e o ambiente laboral (arquitetura dinâmica), onde, nessa perspectiva, um SGI auxilia de forma prática para a aplicação de todos esses quesitos normativos.

Se fundamentando nas informações prestadas pelo Sinduscon (2014), Pinheiro (2015) apropria-se da afirmação do diretor da Associação Brasileira de Engenharia Industrial (ABEMI), Oscar Simonsen Júnior, frisando que a baixa produtividade na indústria naval é decorrente das condições de trabalho desgastantes, métodos inadequados e a falta de formação e do ensino deficiente para a aplicação das novas tecnologias disponíveis mundialmente, que propõem favorecer a produtividade, sugerindo melhorias no ambiente de trabalho voltado à segurança, ao meio ambiente, à saúde dos trabalhadores e investimentos na formação dos profissionais qualificados nas novas tecnologias.

Sem dúvida que as modernas ferramentas de gestão agregam novos e grandes valores para a segurança dos estaleiros, como já foi abordado por Soares (2012) e Pinheiro (2015), contudo, mais esforços devem ser aplicados por parte dos empregadores para a devida implantação, aumento dos investimentos e a implementação destes sistemas, a fim de que realmente não fiquem apenas na verbalização e promessas, mas sim colocá-los em prática, criar uma cultura para aquisição e aperfeiçoamento de novos EPC e EPI para aplicação nas NR, evitar as jornadas de trabalho excessivas e mais esforços voltados para a integração de fatores humanos aos processos, para se garantir a excelência no mercado de trabalho, e o mais importante, não afetando a saúde dos Soldadores e demais trabalhadores.

Outro fator importantíssimo citado por Pinheiro (2015), Dias e Araújo (2015), Teixeira (2012), Miranda (2013), Moreira, Ferreira e Araújo (2016) e por Soares (2012), é a falta de qualificação profissional, que também abre precedentes para que os próprios soldadores utilizem-se de certos improvisos quando estão exercendo as suas tarefas, ocasionados pela falta de informação e da devida seriedade oferecida pela empresa sobre a segurança na soldagem, contribuindo para o aumento do índice de acidentes e as doenças do trabalho.

Pinheiro (2015) conclui seu estudo sugerindo que para

[...]“transformar a segurança no trabalho como um valor organizacional é um grande desafio por parte das empresas, todavia, é muito improvável que uma organização alcance excelência de seus produtos e processos negligenciando seus colaboradores. Contudo, cabe ao empresariado analisar a segurança, meio ambiente e saúde também sob o aspecto econômico diante dos benefícios operacionais e mercadológicos que influenciam de forma direta a produtividade” (PINHEIRO, 2015, p. 11)