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Segurança, espaço confinado, ergonomia, construção de embarcações e estaleiro

8 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

8.2 Análise e Discussão sobre as pesquisas encontradas

8.2.5 Segurança, espaço confinado, ergonomia, construção de embarcações e estaleiro

Soares (2012), engenheiro de Segurança do Trabalho, propôs através de sua pesquisa, aplicar um método para identificação dos fatores que afetam o desempenho dos trabalhadores em espaços confinados na indústria naval durante a construção de embarcações, onde na sua concepção, tais atividades contribuem para a deterioração das condições de segurança no trabalho.

Utilizou como ferramenta a coleta de dados em entrevistas com profissionais especialistas em Segurança do Trabalho do estaleiro e alguns trabalhadores com atividades de maior risco em ambientes confinados, também optando por um estaleiro localizado no Rio de Janeiro, tal como Teixeira (2012), Miranda (2013) e Moreira, Ferreira e Araújo (2016).

Soares (2012) através de seu método dividido em etapas, iniciou sua pesquisa no levantamento nas fases de construção, na identificação das atividades, no reconhecimento dos riscos e agentes de risco, utilizando a técnica da APR e da matriz de GUT para se categorizar os riscos e classificar a prioridade das ações a serem tomadas pelo estaleiro. Também utilizou como ferramenta metodológica a AET, que em sua opinião é indispensável para as propostas que visam transformar o ambiente de trabalho seguro, pois disponibiliza os requisitos que deverão ser observados na etapa de projetos e para que venham a ser implementadas, atingindo resultados favoráveis, no escopo de minimizar os resultados colaterais, tais como acidentes e custos provenientes de causas trabalhistas.

No resultado obtido por Soares (2012) através das entrevistas com os profissionais especialistas em segurança do trabalho, diagnosticou que a etapa de edificação dos blocos e estruturas é a de maior risco e que os profissionais de montagem, soldagem e esmerilhamento, são os que se expõem a todos os riscos quando as atividades são realizadas em espaços confinados. Conseguiu observar e

identificar as potenciais falhas humanas detectadas na produção e que podem afetar a segurança do trabalhador.

Explica Soares (2012) que quando foram apresentadas as NC aos trabalhadores envolvidos, as reações e explicações injustificadas foram diversas. Alguns foram contra as observações e outros reconheceram a prática insegura, prometendo que não mais aconteceriam. Outros admitiram as práticas inseguras e concordaram que em caso de acidente são os maiores prejudicados. Entretanto, justificaram essas práticas, devido às pressões e ameaças por parte das chefias. Outros trabalhadores informaram desconhecer alguns dos riscos e suas consequências, fato comuns nas pesquisas de Dias e Araújo (2015), Teixeira (2012), Miranda (2013) e Moreira, Ferreira e Araújo (2016).

Neste momento, surgem em suas reações a explicação e a autodefesa, com promessas de que não haveria recorrências e, logo em seguida, com a justificativa de que deveria existir uma organização do trabalho, vindo então à tona as palavras sobre a psicodinâmica, a loucura do trabalho e da banalização da profissão, que para Dejours (1998, apud RODRIGUES et al, 2006)

[...]“a primeira vítima do sistema não é o aparelho psíquico; mas, sim, o corpo dócil e disciplinado, entregue às dificuldades inerentes a atividade laborativa; e, dessa forma, projeta-se um corpo sem defesa, explorado e fragilizado pela privação de seu protetor natural, que é o aparelho mental”. (DEJOURS, 1998, p. 102, apud RODRIGUES et al 2006, p. 3)

E afirma que

[...]“as relações de trabalho, dentro das organizações, frequentemente despojam o trabalhador de sua subjetividade, excluindo o sujeito e fazendo do homem uma vítima do seu trabalho”. (DEJOURS, 1998, p. 102 apud RODRIGUES et al 2006, p. 3)

Rodrigues (2006) ainda ilustra

“Um dos mais cruéis golpes, que o homem sofre com o trabalho é a frustração de suas expectativa iniciais sobre o mesmo, à medida que a propaganda do mundo do trabalho promete felicidade, satisfação pessoal e material, para o trabalhador; porém, quando lá adentra, o que se tem é infelicidade e, na maioria das vezes, a insatisfação pessoal e profissional do trabalhador, desencadeando, então, o sofrimento humano nas organizações”. (RODRIGUES et al., 2006, p. 3)

Foi percebida a grande motivação de Soares (2012) pela obtenção dos resultados positivos em prol do SESMT do estaleiro.

Outro fato muito bem observado por Soares (2012) e que não causa estranheza, é que a maioria das chefias desconheciam que as NC estão diretamente relacionadas à baixa produtividade e aumento do prazo de entrega, consequentemente, o aumento do custo do processo e que estas NC não apresentam interesses com os objetivos de produção para a empresa.

Com os resultados alcançados explicado por Soares (2012) e com a implantação deste novo método de gestão pelo estaleiro, o SESMT passou a ter mais apoio e credibilidade pelo empregador, gerando para a empresa pontos positivos na redução dos índices de acidentes em comparação aos ocorridos nos períodos anteriores, intensificação na capacitação dos seus trabalhadores e chefias no atendimento as NR do MTE e a nova organização de segurança do trabalho implantada obteve maior visibilidade no mercado da indústria naval.

Dando sequência às conclusões de Soares (2012), foi intensificada a participação das chefias em todos os níveis na realização do DDS, inclusive com a dos novos gestores.

Outro fator de extrema importância abordado por Soares (2012) e pelos pesquisadores Dias e Araújo (2015), Teixeira (2012), Miranda (2013) e Moreira, Ferreira e Araújo (2016), é o que diz respeito a falta do comprometimento da empresa com a saúde dos seus trabalhadores e a sociedade, podendo se valer de uma boa política de segurança, deixando evidente que as capacitações e incentivos são frutos de uma nova gestão e que os esforços de todos irão colocar a empresa em uma posição de destaque na construção da indústria naval, obtendo, com este feito, o resultado tão almejado na produtividade em um mercado cada vez mais competitivo.

Um fato de grande importância observado no estudo de Soares (2012) é que quando foi realizada a apresentação das desconformidades, percebeu-se que a maioria das chefias desconhecia que estavam diretamente relacionadas à baixa produtividade, aumento do prazo e, consequentemente, ao aumento do custo do processo e, mostrado pelo pesquisador, que a resposta dos gestores foi “ elas não apresentam interesses com os objetivos de produção da empresa”.

Soares (2012) explica que em um primeiro momento houve o interesse da empresa revisar o programa de treinamento voltado aos gerentes de produção,

configurando em uma reciclagem sobre SST para o desenvolvimento das lideranças, o que possibilitaria uma ação mais impactante e significativa para atender as necessidades da empresa no momento atual.

Por isto, relata Soares (2012), que o estaleiro intensificou a participação das chefias, em todos os níveis com o DDS, inclusive com a participação dos novos gestores.