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5.2 A VOZ E O ENTENDIMENTO DOS AGRICULTORES FAMILIARES

5.2.3 Melcoop (Apama): Marcolândia

O encontro em Marcolândia contou com a presença de 20 agricultores familiares filiados e em processo de filiação à Apama/Melcoop, número bastante superior ao do primeiro encontro que contou com 7 cooperados. Houve a presença de convidados, como o prefeito municipal, que participou da parte inicial da reunião, e dos secretários municipais da agricultura e da educação. A reunião, realizada na Câmara Municipal de Vereadores, conforme Fotografia 10, finalizou com a assinatura em documento da secretária municipal autorizando a aquisição de mel da Casa Apis à alimentação escolar no município, de acordo com o PNAE.

Fotografia 10 – Reunião de retorno da pesquisa-ação junto com os apicultores da Apama/Melcoop, em Marcolândia, PI.

Data: 24/09/2010. Autor: PCMS.

Durante a apresentação das conclusões da primeira ida a campo, os apicultores apontaram a necessidade de fortalecer outros processos produtivos desenvolvidos naquela região, a exemplo da mandiocultura e da caprinocultura, que, no entanto, não atuam de forma cooperativa e solidária. Outra contribuição importante apontada foi relacionada à necessidade de ampliação do financiamento público aos EES, como forma de garantir os processos produtivos e a valorização do trabalho da agricultura familiar.

Na realidade, a maioria das pessoas, por uma questão de pensar de uma forma limitada, entende dessa forma. Que está vendendo para a Casa Apis. Isso é um hábito, penso eu. Mas o certo seria: ‘Não, eu entreguei na

cooperativa, ela processou vendeu e retirou os custos e repassou a minha parte. (Francisco José de Oliveira, apicultor).

O processo e tratamento do mel, para chegar ao consumidor, são semelhantes ao do leite. O leite é usado naquele sistema do vizinho, entrega o leite na porta. Mas não é o correto do ponto de vista de segurança alimentar. O leite é tratado em Picos p poder chegar ao consumidor. Assim é o mel, comprado ou doado, tem que passar pela Casa Apis. (Milton José de Sousa, apicultor).

Eu penso o seguinte: da roça até a casa do mel, vai todo mundo, não afunila. Os que participam da colheita da produção na roça é o mesmo que faz o processo na casa do mel. Agora, na hora que passa para a Casa Apis, claro, existem pessoas lá dentro que são apicultores, mas que vêm aquela questão do lado técnico, que vai fazer contato com as empresas lá de fora na hora de exportar, aí já exige um conhecimento burocrático bem além do que nós estamos habituados. Sem se falar no tempo. Seria aquela questão de nas decisões do Comitê Gestor estar presentes mais apicultores, mais produtores. (Francisco José de Oliveira).

Na visão de deixar essas duas linhas paralelas e não existir mais o funil, a rede sociotécnica deve trabalhar junto com o apicultor, contudo precisa de alguém para administrar. Essa rede sociotécnica teria que trabalhar sendo a voz da administração do apicultor no processo final quando sai da roça. Seria também um apicultor com uma especialidade mais a frente tendo apoio de uma faculdade, por exemplo. (Marciel Francisco de Carvalho, apicultor).

Quanto à situação de outros processos produtivos no município:

Nós temos o exemplo do que acontece aqui na região com setores de produtores que estão mais avançados em organização, por dentro das centrais, como o mel e o caju. Se a gente conseguisse encontrar essa mágica de informação e de conscientização para todos os produtores, isso facilitaria o desenvolvimento da organização das outras atividades, no caso da mandiocultura, caprinocultura, produtores de leite e outros. (Francisco José de Oliveira).

A potencialidade da mandioca aqui é no mínimo cinquenta vezes maior do que o mel. Agora a união não existe. Existem em torno de sessenta fábricas. Se eles tivessem sido convidados, talvez viessem três ou quatro. (Erisvaldo Antonio de Brito, apicultor).

Eu estou no sexto ano como secretário de agricultura. Nós conseguimos uma central de comercialização e uma fábrica de farinha de mandioca, por meio da Fundação Banco do Brasil e Sebrae. Está construída ali. A central funcionou pouco tempo, fecharam. Uma coisa que era para estar funcionando a todo vapor. No entanto, a fábrica está alugada e corre o risco de ser fechada pela justiça por causa dos danos ambientais. (Alberto Manuel Coelho, Secretário de Agricultura).

Os parceiros, que têm nos ajudado muito, falam que os apicultores teriam que andar com as próprias pernas. Agora, os parceiros institucionais, no momento que nos deixarem, ficaram alguns problemas. A gente percebe que o sistema de cooperativa convencional, tanto no caju quanto no mel, não funcionou porque não era autogerido, coletivo, além disto, os custos são altos. O sistema solidário é positivo porque tem sempre esses parceiros que subsidiam o processo produtivo. Qual é o país que não vive sem ser subsidiado? Os Estados Unidos têm subsídio: paga prêmio para o agricultor produzir. Imagina no semiárido: as incertezas climáticas, a comercialização. Então a gente está clareando bem esse sistema da Casa Apis; a economia solidária precisa de recurso subsidiado, não reembolsável. (Milton José de Sousa).

Na verdade, a apicultura de Marcolândia está de parabéns. A gente tem aqui o caso da mandioca, que poderia ter diversos tipos de alimentos para distribuir em nossas escolas, mas está tudo sendo desperdiçado. Por exemplo, a secretaria de educação, durante todo esse ano, tem que disponibilizar 30% do recurso para comprar da agricultura familiar. Nós já fizemos duas chamadas públicas e não apareceram esses produtos da região. É um dinheiro que deveria estar girando dentro da cidade e que, no entanto, está parado. (Isabel Elisangela de Carvalho, secretária municipal de educação).