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Não é porque essencial e relevante que um item se torna insumo para fins de descontos no regime de não cumulatividade do PIS/Cofins Por Marcio Crejonias

O Superior Tribunal de Justiça (STJ) definiu que o creditamento de insumos, para efeitos de PIS/Cofins não cumultativos, deve ser aferido à luz dos critérios de essencialidade ou relevância. A Corte fixou como critérios de avaliação a imprescindibilidade ou importância de determinado bem ou serviço para o desenvolvimento da atividade econômica desempenhada pela empresa. Trata-se do REsp 1.221.170, precedente vinculante.

Na esteira desse julgamento, muitos contribuintes passaram a vindicar em juízo o reconhecimento do direito de calcular créditos de PIS/Cofins com base em insumos utilizados na exploração de atividade comercial. Mas é preciso observar que este movimento jurisdicional vem ampliando indiscriminadamente o alcance da decisão da Corte Superior. A extensão do julgado é bem menor do que muitas empresas vêm reputando.

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Não é porque essencial e relevante que um item se torna insumo para fins de descontos no regime de não cumulatividade do PIS/Cofins Quando o STJ definiu que será tido como insumo o bem e o serviço essenciais ou relevantes “para o desenvolvimento da atividade econômica”, circunscreveu “atividade econômica” às atividades de prestação de serviço e de produção de bens. Não encampou os bens e serviços empregados direta ou indiretamente na etapa posterior da cadeia econômica, consistente na comercialização.

Dito de outro modo, não é porque essencial e relevante que um item imediatamente se torna insumo para fins de descontos no regime de não cumulatividade do PIS/Cofins. O que o define como tal é a etapa da cadeia econômica, com a especial exclusão da fase final, consistente na comercialização, associada à venda/revenda do serviço prestado ou do bem produzido. Tudo isso nos exatos termos do REsp 1.221.170.

A confusão talvez advenha da ementa do acórdão. A expressão genérica “para o desenvolvimento da atividade econômica desempenhada pelo contribuinte” pode sugerir que o “iter” econômico é secundário ou mesmo desimportante.

Abandonando o pavimento raso da ementa e aprofundando-se na íntegra dos votos que compõem o acórdão, é possível depreender que somente podem ser considerados insumos itens intrinsecamente relacionados com a produção de bens destinados à venda ou com a prestação de serviços. Isso fica

patente na análise concreta que os ministros fizeram acerca dos itens em relação aos quais a empresa diretamente envolvida no julgamento pretendia creditar-se. A postulante era uma indústria de alimentos.

Os ministros somente consideraram como insumos dispêndios intrinsecamente relacionados com a industrialização, tais como água, combustível, materiais de exames laboratoriais, materiais de limpeza e equipamentos de proteção individual. Por outro lado, excluíram de tal conceito itens cuja utilidade não é aplicada nesta atividade, destacadamente custos com veículos, ferramentas, seguros, viagens, conduções, comissão de vendas a representantes, fretes, prestações de serviços de pessoa jurídica, promoções e propagandas, telefone e comissões. A tese acordada pela maioria dos ministros foi aquela apresentada inicialmente pela ministra Regina Helena Costa, segundo a qual o conceito de insumos na legislação das contribuições deve ser identificado segundo os critérios da essencialidade ou relevância, explanados por ela própria.

O critério da essencialidade diz com o item do qual o produto ou o serviço dependa intrínseca e fundamentalmente. Constitui elemento estrutural e inseparável do processo produtivo ou da execução do serviço ou, quando menos, a sua falta lhes prive de qualidade, quantidade e/ou suficiência. Já o critério da relevância é identificável no item cuja finalidade integre o processo de produção, seja pelas singularidades de cada cadeia produtiva, seja por imposição legal.

32 Aliás, nem poderia o STJ ter decidido de forma diversa. Estas limitações conceituais constam expressamente da dicção do inciso II do caput do art. 3º das Leis 10.637/2002 e 10.833/2003, à luz da qual se dessume que o insumo é o bem e o serviço utilizados, quer “na prestação de serviços”, quer “na produção ou fabricação de bens ou produtos destinados à venda”.

Disso tudo se infere que ficam impossibilitados de apurar créditos de PIS/Cofins os contribuintes com atuação exclusivamente comercial. Pelo menos no que diz respeito aos custos com insumos, conceito que deve ser avaliado de acordo com a etapa de produção.

É afirmação que alcança tanto atacadistas como varejistas, por um motivo muito simples: nenhuma empresa nestes setores presta serviços ou produz bens. Elas figuram no fim da cadeia econômica, vendendo ou revendendo produtos, de sorte que o mecanismo de creditamento de despesas não as alcança, porque na fase comercial da cadeia econômica os insumos não devem ser creditados. Idêntica conclusão se estende às empresas que, mesmo sendo prestadoras de serviços ou produtoras de bens de consumo, procurem se creditar de insumos em cujos custos venham a incorrer na etapa de comercialização. É o que se pode dizer, por exemplo, sobre custos com serviços de publicidade, marketing e de representação comercial, entre outros. Para arrematar, vale o registro de que esse é o entendimento que a Receita Federal tem a respeito do alcance da decisão do STJ sobre o tema (Parecer Normativo COSIT/RFB 05/2018).

Marcio Crejonias é procurador da Fazenda Nacional e atua na

Divisão de Acompanhamento

Especial em São Paulo.

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Caderno: Opinião, quinta-feira 05 de

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