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Memorial de Aires, sobrevivência

O panorama das leituras críticas do romance, ao longo do século XX, elaborado no capítulo anterior, constitui um passo fundamental para a compreensão de sua sobrevivência, uma vez que permite articular à recepção no solo brasileiro seu processo de difusão fora do país, mais especificamente sua difusão em países de língua espanhola. E, assim, nos permite analisar o papel que desempenhou a crítica literária na

consolidação de uma tradição de leitura da obra machadiana e na difusão específica do Memorial, além de ajudar-nos a identificar possíveis ressonâncias dela nas três traduções para o espanhol, publicadas até hoje.

Machado de Assis lá fora: da apropriação ao encontro

A existência de traduções de obras de Machado de Assis para o espanhol nos primeiros anos do século XX dá conta de uma circulação expressiva de alguns dos seus livros, especialmente de Memórias

Póstumas de Brás Cubas e Dom Casmurro, e, portanto, de um interesse

por parte de escritores e intelectuais do universo hispanófono diante da cultura e da literatura brasileiras. Apesar de não caber aqui fazer uma reconstrução do panorama cultural hispano-americano da transição do século XIX ao XX, para compreender de um modo mais complexo a introdução desses romances, no âmbito cultural estrangeiro, é preciso observar que o mais significativo de sua difusão consiste no estabelecimento de um contato, embora tímido, com o Brasil, mais especificamente com um escritor que antes da virada do século XIX já era amplamente reconhecido entre seus conterrâneos.

É o caso de um autor que é protagonista da cena literária brasileira do século XIX, apesar de não ser aceito por unanimidade pela crítica contemporânea devido, em parte, á dificuldade de articular sua obra ao projeto de uma literatura brasileira em formação, caracterizado pela representatividade de uma noção diferenciadora do brasileiro. As divergências associadas à recepção de sua obra, particularmente a partir da publicação de Quincas Borba (1891), implicaram a dificuldade já discutida de compreender sua produção como constitutiva da literatura nacional, e, em consequência, a procura de outros protocolos de leitura que possibilitassem interpretações diferentes. Uma evidência dessa busca pode identificar-se no artigo que José Veríssimo publicou a propósito de Quincas Borba no Jornal do Brazil, em 1892, em que se lê:

A obra litteraria do Sr. Machado de Assis, não póde ser julgada segundo o criterio que eu peço licença para chamar nacionalistico. Esse criterio, que é o principio director da Historia da

Litteratura Brazileira e de toda a obra crítica do

Sr. Sylvio Roméro, consiste, reduzido a sua expressão mais simples, em indagar o modo por que um escriptor contribuio para a determinação do caracter nacional, ou, em outros termos, qual

medida do seu concurso na formação de uma litteratura, que por uma porção de caracteres differenciaes se pudesse chamar conscientemente brasileira. Um tal criterio, applicado pelo citado critico e por outros á obra do Sr. Machado de Assis, certo daria a esta uma posição inferior em nossa literatura. (apud, GUIMARÃES, 2012, p. 325)

O fragmento expõe a preocupação do crítico diante dos efeitos negativos que uma leitura baseada no critério “nacionalistico” representa para a obra machadiana, chegando a questionar o poder desse critério que julga “legítimo”, ainda que “por demais estreito para formarmos delle um principio exclusivo de critica” (p. 325):

Se a base de uma literatura qualquer é o sentimento nacional, o que a faz grande e enriquece não é unicamente esse sentimento. Estreitariamos demais o campo da actividade litteraria dos nossos escriptores se não quiséssemos reconhecer no talento com que uma obra é concebida e executada um criterio do seu valor, independentemente de uma inspiração mais pegada à vida nacional. Por isso, a do Sr. Machado de Assis deve ser encarada à outra luz, sobretudo, sem nenhum preconceito de escolas e theorias literárias. Se houvessemos, por exemplo, de julga-la conforme o criterio a que chamei nacionalistico, ella seria nulla ou quasi nulla, o que basta, dado o seu valor incontestável, para mostrar quão injusta póde ser às vezes o emprego systematico de formulas criticas. (p. 326)

Nessa perspectiva também se podem considerar as observações que, anos mais tarde, Lúcia Miguel-Pereira fez ao contextualizar a prosa brasileira de 1880, em que comparou a recepção de O Mulato, escrito por Aluísio Azevedo, e Memórias Póstumas de Brás Cubas, ambas as obras publicadas em 1881.

No momento, impressionou muito mais a

novidade do Mulato

− do que a do Brás Cubas, muito mais completa e audaciosa. E’ que aquele não só trazia um rótulo em moda, como, parecendo revolucionário e de fato o sendo pelo tema, continuava a velha linha

nacional de romances que encontravam na descrição de costumes o seu centro de gravidade; foi por isso mais fàcilmente entendido e admirado. […] Tôda a gente se deslumbrou – ou se escandalizou – com O Mulato, sem perceber que o espírito de inovação e de rebeldia estava mais nas

Memórias Póstumas de Brás Cubas. (1957, p. 53) Não podemos identificar nesta citação o ímpeto da advertência que Veríssimo fazia a propósito da publicação de Quincas Borba, em janeiro de 1892, sobre a urgência de encontrar outros critérios de aproximação à obra machadiana. Contudo, a observação que faz Pereira sobre a recepção imediata de O Mulato e Memórias Póstumas de Brás

Cubas faz referência aos efeitos que o protocolo de leitura dominante

exerceu sobre o romance machadiano, ao associar o sucesso da obra de Aluísio Azevedo ao fato de ela ser “continua[dora] da velha linha nacional”. Essas limitações da recepção imediata de Memórias

Póstumas foram também referidas recentemente por Hélio de Seixas

Guimarães no livro Os leitores de Machado de Assis (2004), livro que aborda a recepção imediata dos romances do autor a partir da análise das particularidades do público letrado do século XIX no Brasil. Nele, o crítico afirma: “O romance mais abusado produzido no Brasil oitocentista [Memórias Póstumas], marco da maturidade e da modernidade das letras nacionais e de uma espécie de renascimento literário do principal escritor brasileiro de todos os tempos, teve recepção modesta na imprensa” (2012, p. 174). Em contraste com a tímida leitura de que esse romance foi objeto, Guimarães observa, na sequência, o modo em que, apenas uma década mais tarde, seria recebida a seguinte obra do autor, Quincas Borba, como “o primeiro grande sucesso de crítica e público” (p. 191).

Essas breves informações sobre a recepção mais próxima à publicação desses dois romances contribuem para nossa reflexão na medida em que evidenciam a visibilidade alcançada por Machado de Assis na última década do século XIX, no âmbito cultural brasileiro. Uma visibilidade não sustentada no consenso de seus leitores, nem na articulação harmônica de sua obra à produção romanesca de seus contemporâneos, que, contudo, teve implicações diretas na difusão de sua obra fora do país. Assim, reconhecido no círculo literário nacional, Machado de Assis integrou as listas de escritores brasileiros traduzidos para o espanhol, especialmente em países vizinhos como a Argentina e o Uruguai, ao lado de autores como Aluízio Azevedo e José de Alencar.

Dessa integração dão conta os registros de várias bibliotecas nacionais de países hispanófonos, que também mostram como nas primeiras décadas do século XX as traduções desses autores se concentraram nas obras mais celebradas pela crítica local, sendo estas O Guarani de José de Alencar, O Mulato de Aluízio Azevedo e Memórias Póstumas de

Brás Cubas e Dom Casmurro, de Machado de Assis.

A história de difusão dos romances machadianos no universo hispanofalante teve seus inícios em 1902, com a publicação de

Memorias Póstumas de Brás Cubas, na tradução de Julio Piquet, em

Montevidéu. Entre as primeiras traduções também cabe referir a de Esaú

e Jacó, publicada em Buenos Aires em 1905, de cujo tradutor não há

informações. Posteriormente, a editora Garnier publicou em Paris as traduções de Dom Casmurro e Memórias Póstumas de Brás Cubas elaboradas por Rafael Mesa López, em 1910 e 1911 respectivamente; e, dois anos mais tarde, a de Quincas Borba, elaborada por J. de Amber23. Os registros bibliográficos dão evidência de que durante os anos vinte e trinta não houve movimentações na cena tradutória da obra machadiana, e, também de que, ao longo de várias décadas, a tendência de tradução da obra para o espanhol não teve mudanças significativas no que se refere à inclusão de livros menos visitados pela crítica. Entre 1940 e 1955, por exemplo, foram republicadas algumas traduções de Dom

Casmurro, Memórias Póstumas de Brás Cubas e Quincas Borba, ao

mesmo tempo em que foram elaboradas novas traduções desses mesmos títulos.

A difusão dos romances machadianos em outras línguas pareceu seguir também essa mesma tendência; na França, por exemplo, até 1955 foram traduzidos Memórias Póstumas de Brás Cubas, por Adrien Delpech em 1911 e por R. Chadebec de Lavalade em 1944; Dom

Casmurro por Francis de Miomandre em 1936; e, Quincas Borba, em

1955 por Alain de Acevedo; enquanto, entre o público anglofalante, só na década de cinquenta apareceram as primeiras traduções de Memórias

Póstumas de Brás Cubas por William L. Grossman, Dom Casmurro por

Helen Caldwell, e, Quincas Borba por Clotilde Wilson. Daí Roberto Schwarz no artigo “Leituras em competição” (2006), em que analisa a recepção de Machado de Assis no Brasil e no exterior, especialmente no universo anglofalante, concentrando-se nas diferenças das leituras feitas

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A propósito, cabe mencionar o texto “Traducciones de Machado de Assis al español”, de Pablo Cardellino Soto, publicado em Machado de Assis: tradutor e

traduzido (2012), que oferece um levantamento bibliográfico das traduções da

da obra dentro e fora do país, afirmar: “o renome internacional de Machado de Assis, hoje em alta, até meados do século passado era quase nenhum.” (p. 61).

Aproveitemos o comentário e detenhamo-nos um pouco nessa reflexão de Schwarz, para analisar as semelhanças da leitura de Machado entre os públicos anglofono e hispanofono. “Leituras em competição” começa com a referência às circunstâncias que favoreceram a visibilidade de Machado de Assis depois da década de cinquenta nos Estados Unidos, destacando, fundamentalmente, o interesse que determinadas literaturas despertaram no período de pós- guerra, como possíveis campos de estudo entre os pesquisadores da literatura; assim como a promoção que alguns escritores fizeram da obra machadiana, tais como Susan Sontag e John Barth. Além dessas circunstâncias, Schwarz identifica na obra uma condição que favoreceria sua recepção e sua vinculação com as correntes críticas da época, que consiste na tensão que ela estabelece entre o local e o universal24. O contraste entre a recepção local e a estrangeira teria assim, segundo o crítico, origem naquela tensão, que permitiria tanto uma leitura da obra vinculada à realidade brasileira − à tradição literária e histórica −, quanto uma interpretação concentrada exclusivamente nas particularidades estéticas da obra, uma leitura universalista, em que as circunstâncias associadas à escrita do texto, isto é, a seu tempo e lugar de produção, não seriam matéria de reflexão. A análise da recepção local que esse texto propõe se estende sobre vários aspectos, no entanto, gostaria de concentrar-me aqui apenas no que se refere à leitura estrangeira, pela contribuição que representa para a abordagem de algumas particularidades da difusão da obra machadiana.

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O crítico aponta a propósito: “Quanto à academia, a pesquisa machadiana desenvolvida nos Estados Unidos acompanhou as correntes de crítica em voga por lá, como era natural. O patrocínio teórico vinha entre outros do New

Criticism, da Desconstrução, das idéias de Bakhtine sobre a carnavalização em

literatura, dos Cultural studies, bem como do gosto pós-moderno pela metaficção e pelo bazar de estilos e convenções. A lista é facilmente prolongável e não pára de crescer. Mais afinada com a maioria silenciosa, indiferente às novidades, havia ainda a análise psicológica de corte convencional. A surpresa ficava por conta do próprio Machado de Assis, cuja

obra, originária de outro tempo e país, não só não oferecia resistência, como parecia feita de propósito para ilustrar o repertório das teorias recentes.”

O aspecto central das considerações de Schwarz sobre a leitura crítica estrangeira consiste na análise das operações de legitimação da obra machadiana no marco da cultura “ocidental”, desde os primeiros olhares que sobre ela foram lançados até seu reconhecimento no presente. A operação legitimadora por excelência, presente nos movimentos iniciais de articulação da obra a um contexto cultural com pretensões de universalidade e com repercussões nas leituras posteriores produzidas no âmbito acadêmico, consiste na identificação de influências de autores renomados, como Shakespeare, Dante e Sterne, na produção literária de Machado de Assis, e seria característica de abordagens pioneiras como a de Helen Caldwell sobre Dom Casmurro. Tal identificação pode ser entendida, fundamentalmente, como um gesto de apropriação do texto que evidencia a necessidade dos leitores estrangeiros de conferir o valor através da corroboração de referentes de sua própria cultura, isto é, uma aproximação àquele “outro” com base na afinidade que o leitor possa reconhecer entre ele e seu domínio cultural. No caso da obra machadiana, aponta Schwarz, tal identificação representou uma atualização na fortuna crítica no âmbito nacional, pois renovou o interesse dos leitores por textos sobre os quais existia, aparentemente, um consenso interpretativo. Apesar do reconhecimento dos aportes da leitura estrangeira, o crítico não deixa de perceber um aspecto problemático no modo em que os textos são apropriados, observando a desconsideração de algumas particularidades que seriam constitutivas da obra e que a vinculariam a uma realidade determinada por coordenadas espaço-temporais: o fim do século XIX no Brasil. Em outras palavras, uma desterritorialização: “um escritor plantado na tradição do Ocidente, e não em seu país” (p. 67).

Não é Schwarz o único a observar as implicações das operações legitimadoras exercidas pela leitura crítica estrangeira; nessa mesma linha de pesquisa encontramos o artigo “O lugar de Machado de Assis na República mundial das letras” (2009), de Paulo Moreira. O texto apresenta uma abordagem da recepção “extra-universitária” recente da obra machadiana na cidade de Nova Iorque (definida, seguindo o fio de Pascale Casanova, como a nova “República Mundial das Letras”), concentrada em cinco figuras de relevância na cena cultural da cidade desde os anos noventa, a saber: John Updike, Susan Sontag, Michael Wood, Harold Bloom e Carlos Fuentes. Moreira analisa os mecanismos que operam sob os comentários desses autores a propósito da obra machadiana, de maneira individual, reconhecendo nelas uma tendência a desenraizar a obra para introduzi-la no panorama universal da literatura. Sua análise revela algumas manifestações dessa tendência, entre as

quais cabe destacar: uma concepção homogeneizadora da literatura latino-americana; a aproximação do autor brasileiro à tradição da bufonaria, suscitada fundamentalmente por Memórias Póstumas de Brás

Cubas e sua relação com Tristam Shandy; e a associação do autor a uma

tradição cervantina. Sob o olhar do crítico esse desenraizamento também se percebe como um aspecto problemático, já que põe em evidência a urgência de afastar a obra de suas origens para poder articulá-la a tradições literárias mais amplas, o que se traduz na naturalização de seu caráter estrangeiro como moeda de câmbio para seu ingresso no panorama da “literatura universal”:

Cabe também chamar mais uma vez a atenção para o fato de que, nos textos em questão neste artigo, o Brasil aparece, geralmente, de forma oblíqua, como um problema, uma marca de uma alteridade indesejada pelos intelectuais do Primeiro Mundo e às vezes recalcada pelos intelectuais do Terceiro Mundo. Convencidos da excelência de Machado de Assis, os críticos metropolitanos se atiram ao desafio de integrar o autor de uma língua, um país e uma tradição literária desconhecidos numa tradição que lhes seja plenamente reconhecível. Trata-se de uma vontade de identificar não a alteridade do texto machadiano, mas o que nele se pode encontrar de um reconfortante e universal mesmo. (MOREIRA, 2009, p.106)

O aspecto central dessa operação de desenraizamento reside, segundo Moreira, nas particularidades das relações que aqueles autores estabelecem com os textos machadianos como entidades alheias, isto é, como “outros”. Para analisá-las, o crítico faz algumas observações sobre certas circunstâncias que envolvem os autores e suas leituras:

Quais as características gerais desses elogios a Machado de Assis feitos por Updike, Sontag, Bloom, Wood e Fuentes? Nenhum deles trabalha a partir de um conhecimento muito profundo da cultura brasileira em sentido mais amplo (história, literatura, sociedade, política etc.), a começar pela falta do domínio da língua portuguesa; todos partem, portanto, da leitura de traduções dos romances principais; todos (com exceção de

Wood) privilegiam Memórias póstumas de Brás

Cubas sobre o resto da obra e ignoram de maneira

geral a imensa fortuna crítica machadiana; e, significativamente, todos eles, sem exceção, buscam inserir Machado de Assis em alguma tradição estabelecida, de âmbito internacional. Qual seria a outra diferença fundamental entre esses textos e aqueles produzidos por acadêmicos para publicações universitárias do Primeiro Mundo? Updike, Sontag, Bloom e mesmo Wood (que, além da admiração por Machado de Assis, têm muito pouco em comum) são quatro versões diferentes, em língua inglesa e no âmbito circunscrito de Nova Iorque, da figura do intelectual público, que não tem a voz, ainda, inteiramente confinada atrás dos muros da academia, ou seja, cujas opiniões têm, ainda, peso relativo junto ao público leitor em geral. (p. 104)

Apesar de a abordagem de Moreira se concentrar nas colocações de cinco leitores específicos de Machado − não vinculados diretamente à pesquisa universitária, mas com uma influência notável na definição das demandas editoriais do público leitor não especializado, e, portanto, no ámbito propriamente acadêmico – o reconhecimento das implicações do processo de articulação da obra machadiana em que participam esses leitores compreende aspectos muito afins aos considerados por Schwarz a propósito da recepção do autor no contexto anglófono, associados unanimemente à maneira com que a obra estrangeira é apropriada a partir da corroboração de referentes culturais conhecidos, e não a partir da consideração de sua singularidade. No fragmento citado, podemos observar que, no caso dessas cinco figuras do circuito cultural nova- iorquino, Moreira identifica algumas condições que favorecem esse tipo de apropriação, que se resumem no caráter em extremo parcial do contato com a obra machadiana. Dita parcialidade manifesta-se em níveis diferentes que abrangem o conhecimento específico da obra, de sua fortuna crítica e do modo como ela se articula na literatura brasileira, assim como das particularidades linguísticas e culturais de origem.

O conhecimento parcial da obra de Machado, assim como o escasso contato com a literatura, a língua e a cultura brasileiras que Schwarz e Moreira identificam na leitura anglófona, não são exclusivos da circulação dessa obra, nem de outras da literatura brasileira. Essas

características estão estreitamente associadas a aspectos que ultrapassam o literário, que reportam relações de poder político, econômico e cultural entre os países. No caso das leituras analisadas pelos críticos, o contato Brasil-Estados Unidos está mediado por uma diferença considerável entre as posições que cada um deles ocupava na escala internacional, sendo o primeiro um país periférico e o segundo um país central. Essa disparidade tem efeitos diretos sobre o modo em que as culturas próprias de cada nação se reconhecem e se relacionam com outras, fazendo que umas se assumam como legitimadoras e as outras como objeto de legitimação. É por isso que afirmamos que o caráter parcial dessas leituras da obra machadiana não lhe é exclusivo a ela, pois pode ser rastreado, nos termos de um gesto da aproximação de uma cultura central a uma periférica, na história de circulação de autores de outros países considerados subdesenvolvidos.

Schwarz associa ao escasso conhecimento da literatura do país em nível internacional “a barreira do idioma” (2006, p. 61), esse é sem dúvida um fator que teve um impacto considerável na difusão da cultura

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