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2.4.1 Organização estrutural e objetivos propostos

O Mercado Ibérico da Energia Elétrica (MIBEL) resulta da cooperação ativa entre os governos de Portugal e Espanha com o intuito de integrar os sistemas elétricos de ambos os países numa perspetiva de otimização técnico-económica dos recursos existentes. Este processo iniciou-se em 1998, sendo estabelecidos vários protocolos de colaboração entre os dois países. Como resultado deste processo, no dia 1 de Julho de 2007, o MIBEL arrancou na sua plenitude, com perspeti- vas de que este protocolo trouxesse benefícios para os consumidores, nomeadamente uma maior igualdade e transparência ao setor da energia na Península Ibérica [10].

Do ponto de vista geográfico e de escalabilidade, Portugal não apresentava condições para desenvolver um mercado de eletricidade de forma isolada. Porém, ao juntar os dois sistemas elé- tricos, este mercado Ibérico acaba por se equiparar a outros mercados europeus, situação ilustrada na Figura2.6.

2.4 Mercado Ibérico de Eletricidade - MIBEL 11

Figura 2.6: Consumos relativos dos mercados regionais europeus, em 2005 [3].

A criação do MIBEL tinha como principais metas:

• Beneficiar os consumidores de electricidade dos dois países; • Estruturar o funcionamento do mercado liberalizado;

• Construir um preço de referência único para toda a Península Ibérica;

• Facultar o livre acesso ao mercado, em condições de igualdade, transparência e objectivi- dade;

• Favorecer a eficiência económica das empresas do sector eléctrico; • Promover a livre concorrência entre as mesmas [3].

Em termos físicos, o MIBEL visava uma melhor coordenação de procedimentos a nível da operação dos dois TSO, assim como o desenvolvimento e reforço das interligações entre os dois países.

A nível económico, a meta consistia em especificar o modelo de mercado e respetivo funcio- namento, definindo para isso condições de remuneração e encargos dos agentes, bem como custos de transição de mercado, os chamados Stranded Costs (custos ociosos), entre outros aspetos.

No âmbito legal e regulatório, o objetivo passava por garantir a harmonização da legislação das regras de operação dos sistemas e da desejável convergência tarifária, criando para tal efeito o Conselho de Reguladores, com representação simétrica dos reguladores financeiros e de energia.

A nível estrutural, importa destacar o Operador do Mercado Ibérico (OMI), com dois pólos: o pólo com a responsabilidade pela gestão do mercado diário, operado a partir de Madrid, e o pólo português, orientado para o mercado a prazo - OMIP. A estrutura organizativa do Mercado Ibérico encontra-se detalhada na Figura2.7.

12 Mercados de Eletricidade

Figura 2.7: Esquema organizativo do Operador de Mercado Ibérico [3].

2.4.2 OMI

O OMI é o Operador de Mercado designado em Espanha e Portugal, fazendo a gestão dos mercados diário e intradiários e desempenhando a função regulada do acoplamento do nosso mer- cado com o resto da Europa. É gerido pela empresa OMEL do lado Espanhol e pela OMIP do lado Português.

O OMI-Polo Español, S.A. (OMIE), assume a gestão do sistema de ofertas de compra e venda de energia eléctrica nos mercados diário e intradiário.

O OMIP, por seu turno, é a bolsa de derivados do MIBEL (futuros, swaps, entre outros) [11], assegurando a gestão do mercado conjuntamente com a OMIClear, sociedade constituída e detida totalmente pelo OMIP, a qual assegura as funções de câmara de compensação e contraparte central das operações realizadas no mercado [12].

As funções desempenhadas pelo Operador do Mercado Ibérico categorizam-se da seguinte forma, sendo para categoria apresentado um exemplo relevante de operação desempenhada:

• Sobre o funcionamento dos mercados:

– Realização da cassação das ofertas de venda e de aquisição partindo da oferta mais barata até igualar a procura em cada período de programação;

• Sobre as regras do mercado e o contrato de adesão:

– Exigência aos agentes do mercado de certificar o cumprimento das condições regula- mentares para a sua atuação;

2.4 Mercado Ibérico de Eletricidade - MIBEL 13

• Sobre a informação aos agentes do mercado:

– Comunicação aos agentes do mercado do preço marginal da energia elétrica, no mer- cado diário e nas sessões do mercado intradiário;

• Sobre a informação a terceiros:

– Publicação das curvas agregadas de oferta e procura dos mercados diário e intradiário; • Sobre os princípios de independência, transparência e objetividade:

– Elaboração do código de conduta do operador do mercado [13].

2.4.3 Market Splitting

O output do mercado diário é o preço de energia e despacho económico para cada período do dia seguinte. No entanto, este despacho não tem em consideração os limites técnicos do sistema, nomeadamente a capacidade das linhas de transmissão.

Desta forma, e visto que o MIBEL é um esforço conjunto entre Portugal e Espanha, torna- se necessária a verificação da capacidade de interligação entre os países. Caso os Operadores de Sistema dos dois países verifiquem que o despacho decorrente do mercado origina congestio- namentos nas interligações, procede-se à separação dos mercados, originando preços de energia distintos para Portugal e Espanha para o período em questão. Em 2007 e 2008 os preços eram habitualmente mais elevados em Portugal, mas atualmente impera o equilíbrio. Adicionalmente, em 2007 e 2008, em 90% dos casos das horas era utilizado o Market Splitting. Nos anos mais recentes em 90% das horas o preço é igual nos dois países, isto é, não é necessário recorrer ao Market Splitting.

Esta separação do mercado correspondente ao mecanismo de Market Splitting e a sequência operacional respetiva encontra-se esquematizada na Figura2.8.

14 Mercados de Eletricidade

Figura 2.8: Ilustração do mecanismo de Market Splitting [4].

Desta forma compreende-se que a não ocorrência de congestionamentos assume grande re- levo na obtenção de um mercado Ibérico ao invés de dois mercados separados, o Português e o Espanhol. Devido a tal relação têm-se realizado investimentos de modo a reforçar as interligações entre os dois países. Só assim é que se consegue reduzir o número de horas anuais em que ocorre Market Splitting. A este respeito, é importante referir que em 2007 e 2008 o mecanismo de Market Splitting foi utilizado em cerca de 90% das horas desses anos. Em contrapartida, nos anos mais recentes, o preço é igual nos dois países em cerca de 90% das horas desses anos, isto é, apenas em 10% das horas desses anos se recorreu ao Market Splitting. Para além do reforço das interligações, o aumento da capacidade de produção ligada a redes de distribuição, reduzindo as solicitações às redes de transporte, contribuiu igualmente para esta alteração.

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