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2.5 Estrutura tarifária em vigor em Portugal

2.5.2 Tarifa de Uso Global do Sistema

Para efeitos desta dissertação, que gravita à volta do conceito da Produção em Regime Especial (PRE) e da sua postura em ambiente de mercado, faz sentido abordar a Tarifa de Uso Global do Sistema de forma mais detalhada, visto que é ela quem internaliza os sobrecustos decorrentes deste tipo de produção de energia. Com efeito, a PRE possui preços garantidos e apresenta-se a preço nulo no mercado, com toda a energia que se estima que possa vir a ser produzida em cada período horário do próximo dia.

Esta tarifa está indexada à remuneração decorrente da atividade de gestão do sistema, bem como custos de interesse económico geral. É aplicada pelo Operador da Rede de Transporte, ORT, ao Operador da Rede de Distribuição, ORD, em MT e AT e pelo Operador da Rede de Distribuição aos clientes nos mercados regulado e liberalizado.

A Tarifa de Uso Global do Sistema a aplicar pelo Operador da Rede de Transporte ao Ope- rador da Rede de Distribuição em MT e AT ramifica-se em duas parcelas (UGS I e UGS II). A Parcela I reflete os custos com a gestão do sistema. A Parcela II, por seu turno, pretende recuperar custos decorrentes da implementação de medidas de política energética, ambiental e de interesse económico geral.

A Tarifa de Uso Global do Sistema a aplicar pelos Operadores da Rede de Distribuição às entregas a clientes finais também se desdobra em duas componentes: a Parcela I é em tudo seme- lhante à Parcela I acima referida, refletindo custos decorrentes da gestão do sistema. A Parcela II reflete custos de interesse económico geral (CIEG), nomeadamente [5] :

• Sobrecustos com a produção em regime especial com preços garantidos (PRE); • Sobrecustos com as centrais detentoras de Contratos de Aquisição de Energia (CAE); • Custos de Manutenção do Equilíbrio Contratual (CMEC);

• Encargos com a garantia de potência;

• Sobrecustos com a convergência tarifária das Regiões Autónomas (RA);

Capítulo 3

Produção em Regime Especial

3.1

Introdução da PRE no sistema elétrico

Em 1988 foram lançadas as bases para a definição do conceito de Produção em Regime Espe- cial, de acordo com o Decreto-Lei n.o189/88 de 27 de Maio. Este estabelecia "normas relativas à actividade de produção de energia eléctrica por pessoas singulares ou por pessoas colectivas de di- reito público ou privado"[15] e decretava nas alíneas a) e b) do número 1 do artigo 1oque este tipo de produção não podia ultrapassar uma potência aparente instalada de 10000 kVA, assim como a utilização de recursos renováveis, combustíveis nacionais ou resíduos industriais, agrícolas ou urbanos, bem como instalações de cogeração, estas últimas sem limite de potência.

Em 2001, o Decreto-Lei n.o339-C/2001 estabeleceu "uma remuneração diferenciada por tec- nologia e regime de exploração e atribuindo destaque apropriado às tecnologias que, embora emer- gentes, como é o caso da energia das ondas e da energia solar fotovoltaica, evidenciam um elevado potencial a médio prazo, visando proporcionar-lhes condições indispensáveis para a concretização de projectos exemplares"[16]. A implementação deste Decreto-Lei visava um melhor aprovei- tamento dos recursos endógenos nacionais, nomeadamente a redução da dependência energética externa e das emissões poluentes, mostrando preocupação para com as alterações climáticas.

Em 2006, no Artigo 18odo Decreto-Lei n.o29/2006, definiu-se produção de electricidade em regime especial como sendo "a actividade licenciada ao abrigo de regimes jurídicos especiais, no âmbito da adopção de políticas destinadas a incentivar a produção de electricidade, nomeadamente através da utilização de recursos endógenos renováveis ou de tecnologias de produção combinada de calor e electricidade"[17].

De acordo com a Figura3.1, é possível verificar que as energias que utilizam combustíveis fósseis ou biomassa pecam nos índices de cariz ambiental, mais especificamente nas emissões de gases poluentes. Este aspeto explica a subsidiação como forma de incentivo à produção de energia utilizando recursos endógenos ou renováveis e a processos com grande eficiência, como é o caso da cogeração, de modo a reduzir as importações de energia primária (nomeadamente petróleo, gás natural e carvão) e, por conseguinte, diminuir a dependência internacional.

20 Produção em Regime Especial

Em termos de mercado, do ponto de vista dos produtores, corresponde a um investimento de baixo risco pois, como estas tecnologias têm prioridade no despacho, o produtor acaba por ter sempre garantido o escoamento da totalidade da sua produção. Esta prioridade é assegurada com a entrada da PRE no mercado a custo zero na curva das ofertas de venda.

Figura 3.1: Comparação entre fontes de energia [6].

As tecnologias integradas na Produção em Regime Especial são as seguintes [18]: • Hídrica (limitados a 10 MVA de potência instalada);

• Térmica; – Biogás; – Biomassa; – Cogeração;

– Resíduos Sólidos Urbanos (RSU); • Eólica;

• Fotovoltaica; • Marés; • Ondas.

Estas duas últimas tecnologias apresentam, até ao momento, implementação residual em Portugal, pelo que não foram tidas em consideração nesta dissertação.

Importa reforçar a distinção entre PRE e PRO, por um lado, e produção de energia elétrica utilizando fontes renováveis e não renováveis, por outro. A PRE, embora englobe fontes de energia renovável, também inclui energia de origem térmica, como é o caso da cogeração. Por seu turno, nem toda a PRO é não renovável, visto que inclui aproveitamentos hídricos com potência instalada superior a 10 MVA. A diferença entre PRE e PRO prende-se com a forma de remuneração e tratamento no mercado e não com o facto da energia primária ser ou não de fonte renovável.

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