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Foto 39: Vista aérea das Superquadras norte 405/406

3.3 A arquitetura em ferro e a ascensão dos mercados públicos no Brasil

3.3.1 Mercados fechados

Mercado de São José

Instalado em 1875 no bairro de São José, na cidade de Recife, é apontado por Silva (1986) como provavelmente o primeiro mercado em ferro no Brasil. Concebido por um engenheiro da Câmara Municipal do Recife, segundo as linhas arquitetônicas do mercado público de Grenelle, em Paris, do arquiteto A. Normand, a obra foi empreitada por José Augusto de Araújo, que contratou o engenheiro francês Louis Léger Vauthier para desenvolver o projeto, detalhá-lo e acompanhar a fabricação das peças no seu país.

Com seis módulos longitudinais menor do que o de Grenelle, o Mercado de São José é formado por dois pavilhões de 20,44m x 72,44m conectados através de uma rua coberta com 8,00m no sentido transversal.

Figura 07: Planta do Mercado de São José no Recife. Fonte: Silva (1986:148)

Silva (1986) arremata que Louis Léger Vauthier ao se debruçar sobre o projeto em questão, submete-o a várias alterações, detalhadas em seu relatório. Racionaliza o uso do espaço interno, dispondo os boxes paralelamente à sua maior dimensão; ameniza a transmissão térmica para o interior do edifício trocando as folhas de ferro ondulado, que recobririam a coberta, por telhas de barro; controla a penetração de luz, substituindo algumas das venezianas em vidro, por outras em madeira; atenta para a importância da infra-estrutura e cuidados com a higiene, detalhando o sistema de abastecimento de água e de esgotos.

Foto 01: Fotografia antiga do Mercado de São José no Recife, 1913. Fonte: Silva (1986:144)

Vauthier desenvolveu um trabalho importantíssimo ao refletir sobre o modelo francês, extrapolando a mera cópia do engenheiro do Recife, adequando-o às necessidades de uso e às características climáticas locais.

Mercado de Peixe

Construído e explorado comercialmente, com anuência do Conselho Municipal, pelos engenheiros Bento Miranda e Raymundo Vianna, este mercado na cidade de Belém iniciou suas atividades em dezembro de 1901. A estrutura em ferro que compõe o edifício, supõe

Silva (1986), deve ter sido importada, muito embora o autor não consiga precisar a sua origem.

O mercado possui uma área central de 57,00m por 21,00m, cercada por um conjunto de quarenta e quatro instalações comerciais, com 15,00m² cada e quatro torres nas extremidades, com 22,00m² cada uma, destinadas ao comércio de pequeno porte. Acima das instalações laterais, inscritos na mesma área, localizavam-se os depósitos ou as residências dos empregados.

A porção ocidental da área central abrigava o comércio informal e os ambulantes que se concentravam num espaço de 315,00m², especialmente destinada a esta finalidade. A administração do mercado era abrigada por um pavilhão central, octogonal com 2,5m de raio.

Figura 08: Planta do Mercado do Peixe em Belém.

Fonte: Silva (1986:155)

Foto 02: Fotografia antiga do Mercado do Peixe em Belém, 1906.

A estrutura da coberta é formada por um conjunto de tesouras metálicas e um sistema de lanternins de 9,00m por 15,00m elevando-se um metro acima delas. Dezoito clarabóias distribuídas ao longo do telhado admitem a luz do sol. O aproveitamento da iluminação e da ventilação naturais se dá também através da larga utilização de venezianas abaixo do lanternim e das tesouras, associadas a aberturas externas que se comunicam com o interior do mercado através dos mezaninos.

Foto 03: Fotografia antiga do espaço interno do Mercado do Peixe em Belém, 1906.

Fonte: Silva (1986:153)

Lemos (apud Silva, 1986) comenta que o excesso de luz que atinge o interior do pavilhão torna-se um inconveniente à conservação dos gêneros alimentícios perecíveis, e um agravante às condições de conforto térmico. A ausência de proteção solar das fachadas dos estabelecimentos externos implicou, ao longo do tempo, na construção de uma marquise em concreto alterando a configuração original do edifício.

Mercado Municipal do Rio de Janeiro

Idealizado desde 1891, teve os terrenos disponibilizados pelo prefeito Antônio Coelho Rodrigues em 1900. Contudo foi apenas na administração reformadora de Pereira Passos, em 5 de julho de 1903, que o projeto de 12.500,00m², do engenheiro Alfredo Azevedo Marques, teve suas obras iniciadas, sendo inaugurado em 14 de dezembro de 1907.

O mercado carioca era formado por vinte e quatro pavilhões dispostos em torno de um central, inscritos num quadrado de 150,00m por 150,00m, entrecortados por um conjunto de dezesseis ruas, reservadas as diagonais ao comércio ambulante.

O complexo era subdividido em aproximadamente setecentos compartimentos, com 24,00m² cada, entre os diversos tipos de atividades comerciais.

O pavilhão central abrigava o comércio de flores e frutas, apresentando o entorno tratado paisagisticamente, com a introdução de árvores que lhe preservasse da exposição aos raios solares diretos. Nesta área sombreada, os transeuntes podiam se servir em pequenas mesas para degustação de bebidas, frutas, etc.

Figura 09: Planta de cobertura do antigo Mercado Municipal do Rio de Janeiro. Fonte: Silva (1986:158)

Em face da filosofia vigente na época, relacionada à organização, ao controle sanitário, e à higiene, a obra do mercado não poderia ter deixado de contemplar detalhes como a provisão, em todas as dependências, de gás, de água e de esgoto, inclusive local destinado a um frigorífico moderno importado da Europa, para a conservação de frutas, peixes, aves, etc.

As aberturas de acesso nas fachadas possuíam fechamentos com persianas corrediças de aço, limitando a entrada no mercado, quando fechado, que era feita apenas através dos portões principais.

Foto 04: Fotografia do antigo Mercado Municipal do Rio de Janeiro. Fonte: Silva (1986:159)

A imprensa da época, especificamente o “Correio da Noite”, nos trechos citados por Silva (1906), não poupa críticas, remetendo-se à elitização do novo mercado, descreve-o como “um mercado de luxo, mercado de gente rica”, comparando-o a outros exemplares no mundo. Em contraponto, o mesmo autor, citando um trecho do artigo publicado no jornal “A Notícia”, reforça a opinião deste último texto, afirmando que “mais uma vez aparecem as referências elogiosas ao aspecto do mercado, de estilo moderno e elegante, o que indica a aceitação por parte da opinião pública”. Foi destruído na década de 1950, considerado como a maior edificação em ferro, importada da Europa, erigida no território brasileiro.