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3.1 A alimentação no cotidiano escolar e em seus espaços circundantes: caracterizando e

3.1.6 A merenda vespertina

A última refeição do dia realizada na escola tem semelhanças com a merenda matutina, guardando, porém, sutis diferenciações, cujo cardápio nunca se repete no mesmo dia. Corresponde, portanto, ao prenúncio do fim das atividades escolares, pois para os alunos, após essa refeição, segue-se apenas mais um horário escolar com tempo de 50 minutos.

NOTA DE CAMPO 13:

O turno da tarde sempre é algo que predispõe qualquer indivíduo nas tardes ensolaradas de Teresina, em especial nos últimos meses do ano, que costumamos

chamar carinhosamente de “B-R-O Bró”, em alusão aos 40º graus médios durante

setembro, outubro, novembro e dezembro marcadamente freqüentes na capital piauiense. Conforme essa predisposição, eu traçava minhas idéias de que uma tarde alimentar em uma escola integral talvez trouxesse uma caracterização particular quanto a esse perfil climático da cidade.

A merenda vespertina se iniciava às 15h30, de acordo com organização semelhante às demais ocasiões alimentares da escola. Entretanto, apesar de apresentar algumas semelhanças com o cardápio da merenda matutina, este nunca se repetia no turno da tarde, apresentando sempre uma atenção especial à temperatura das bebidas a serem servidas. Pois as cozinheiras eram preocupadas se os alimentos iriam refrescar as crianças naquelas tardes ensolaradas.

Assim sendo, eram servidos biscoitos (doces, salgados), bolinhos de trigo, acompanhados de sucos variados e iogurte. Porém, era perceptível uma diferenciação quanto ao consumo. Os alunos do 2º ano, de um modo geral, consumiam mais os alimentos líquidos, não apresentado apetite para outro gênero

ofertado, e isso ia se modifica ndo gradativamente de acordo com as idades e séries dos alunos.

Em contrapartida, o fluxo de alunos dos 4º e 5º anos era bem maior quanto à repetição da merenda, muitos repetiam duas, três vezes a merenda completa. As cozinheiras já percebiam essa movimentação e dispunham merenda para isso.

De forma genérica, o consumo dos líquidos era bem maior durante a merenda, particularizando desse modo a merenda vespertina, o que implicava muitas vezes no uso de frutas como laranja, melão, mamão e melancia como opção a mais para alimentação. Ao término da merenda, os alunos retornavam para sala, dando continuidade às aulas. E o dia letivo findava em torno das 16h40, e os pais dos alunos já estavam na porta da escola a esperá -los.

E assim, percebia que o turno da tarde me fazia multiplicar os goles de cajuína, de modo tal que nem me dava conta de quão consumia. E assim, com essa

mesma sensação de que „a tarde na escola passa mais rápido‟, findei minhas

observações em torno da última alimentação oportunizada naquele dia pela escola.

FOTOGRAFIA 23 - Merenda vespertina: em primeiro plano pode ser vista a fila de alunos para a merenda; em seguida, vê-se a distribuição da merenda, dentro do refeitório.

FONTE DO AUTOR

No turno da tarde há uma preocupação com a hidratação das crianças e que os tipos de alimentos que devem contribuir para amenizar a sensação de calor, repor a perda de líquido corpóreo. Por isso, predominam as bebidas – sucos de frutas – mais refrescantes, atentando-se bastante à temperatura em que esses são servidos, pois precisavam estar bem frios. Outro aspecto que se diferencia da merenda matutina com a vespertina, é que o uso de frutas no cardápio que possuam muita água para hidratar – melão, melancia e laranja, por exemplo – é freqüente no turno da tarde, critério que não é utilizado tão fortemente para a merenda do turno da manhã. Essa situação se expressa no depoimento de uma das cozinheiras da escola.

[...] Na merenda da tarde a gente tem que se preparar pra colocar mais bebidas para as crianças, porque a tarde é quente... é quente demais, e se num for bebendo suco ou um iogurtim [iogurtezinho] gelado nem eles agüenta, nem a gente. [...] Também tem que prestar atenção nas crianças mais velhas que são as que mais comem nesse horário, e os pequeinim [pequeninos] do 2º como já comeram coisa com muita sustança, nessa hora só querem beber na merenda, não querem comer nada, são poucos que comem! Os maiores comem também porque dizem que gostam muito das comidas da escola, dos sucos, das frutas. (Maria, Cozinheira Escolar)

O relato da cozinheira escolar traz uma explicação acerca do baixo consumo de alguns alunos na merenda vespertina, especialmente por parte dos alunos do 2º e 3º ano. Explica que isso ocorre devido esses alunos serem menores/ mais novos, o que indica que suas necessidades nutricionais já tenham sido supridas em momentos anteriores da alimentação escolar (merenda matutina, almoço). Dessa maneira, pode-se inferir que por conta disso, tais alunos optam por consumir apenas as bebidas no turno da tarde, em detrimento dos alimentos sólidos.

As práticas alimentares e conseqüentemente a nutrição sofrem influência direta e indireta do meio ambiente. Quando o clima interfere de maneira imprópria na produção e no metabolismo dos alimentos, ocorre a quebra na interação entre os elementos, influenciando diretamente na saúde do indivíduo que, sentindo-se agredido reage fisiologicamente (GUYTON, 1989). Assim sendo, em um aumento da temperatura ambiental efetiva, o indivíduo come menos do que necessita para a sua produção, provavelmente por uma diminuição da atividade da tireóide, na tentativa de diminuir a produção de calor, sofrendo algumas sutis variações quanto à faixa etária.

Não obstante, cientes das especificidades da alimentação escolar deste horário, as cozinheiras escolares fazem um pouco mais de merenda/ disponibilizam mais gêneros aos alunos do 4º e 5º ano já que estes tendem a repetir esta refeição no turno da tarde.