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Meses republicanos contra uma antiga política de rua

Capítulo 2 – A primeira morte da capoeira do Recife: um modelo Sampaio Ferraz no

2.1 Meses republicanos contra uma antiga política de rua

Apesar do que afirmou Albino Meira em relação a José Mariano, será ao governo dele que os seus partidários aludirão como principal momento de combate à capoeiragem em Pernambuco. No artigo em resposta à Província, ele nega que tenha deixado o cargo por livre e espontânea vontade e se mostra abertamente hostil a Simeão. Porém, meses antes o clima era outro, ele acompanhava o Marechal em sua descida nas escadarias do palácio do governo, do qual este se retirava junto com José Mariano para dar-lhe lugar. Na ocasião, os “republicanos históricos” fizeram festa, destacaram a afinidade entre Mariano e o ex-governador e desejaram a este uma boa viagem para o Rio de Janeiro427. Sem reconhecerem que tinham sido os articuladores da mudança de governo, se congratulavam por ter chegado a sua vez428.

Dividida em três partes publicadas em dias diferentes pela Gazeta da Tarde, a “Carta do compadre Simão ao compadre Lili” dá uma ideia do que representava para alguns republicanos não precisarem mais negociar com governantes que para eles só

425 “A Província”. Jornal do Recife, 19/08/1890.

426 O discurso. A Província, 20/04/1890. Albino Meira ainda diria que se falava deportação de José

Mariano naquele momento em: Ao público. Jornal do Recife, 13/08/1890.

427

Marechal Simeão. Gazeta da Tarde, 26/04/1890. No mesmo sentido: General Simeão d’Oliveira, Diário de Pernambuco, 26/04/1890. Tranquilos por saberem o que aquela partida significava para eles, os martinistas destacaram cuidadosamente a participação de Mariano na despedida. Um exemplo do quanto esse tom ameno e mesmo favorável era calculado é o fato de que poucos dias antes a Gazeta fazia o seguinte comentário sobre a conferência que ele ia realizar: “Vai falar republicanamente, em favor da república (...) contra a qual – quando constituindo uma simples aspiração de um punhado de moços patriotas, confiantes no futuro da pátria, por cujo bem-estar trabalhavam com esforço, açulou muitas vezes as cóleras da fina flor da gente que o rodeava devota”. Variações. Gazeta da Tarde, 12/04/1890.

428

Apesar de no mesmo artigo da nota 425 Albino Meira admitir que Martins Júnior foi ao Rio de Janeiro queixar-se do fato de o governador Simeão ter se aproximado de Mariano.

teriam aceitado a República de última hora, em resposta à abolição, e a haviam convertido numa mera reedição da política monárquica. Na carta, esse é o papel desempenhado por Simão, admirador do Marechal Simeão e amigo do “Dr. Zé Mariano”, que repreende o seu compadre por não ter sabido abandonar a Monarquia na hora certa, de maneira a beneficiar-se de sua derrubada: “Você perdeu a patente/que o Lucena lhe arranjou (...) Bem eu lhe disse em caminho:/Vamos botar manifesto/Ao Rei apoio não presto/Pois tirou nosso pretinho”429

.

Incapaz de compreender as mudanças que vinham ocorrendo, Lili não tirou proveito dos novos símbolos mobilizados no debate político: “chore muito e bote luto/que é tudo uma confusão/é tudo igual, tudo fala/até negro de Senzala/é aqui um cidadão (...) Acabou-se a fidalguia/não há mais negro nem cabra”. Em outras palavras, ele não soube ser como Ambrósio Machado, que derrotado pela abolição tratou de aliar- se com antigos abolicionistas que pudessem ajudar-lhe a fazer uma República na qual ele e seus companheiros da lavoura tivessem mais voz430.

Ao contrário do seu compadre, Simão era especialista em adaptar-se e isso lhe rendera muito prestígio: “Eu por cá, vou bem contente/sempre alegre e satisfeito/ junto aos amigos do peito,/ da mais fina flor da gente./Tenho sido visitado/por homens da melhor roda,/por esta cidade toda/tenho sido procurado”431. A resiliência de Simão também tinha lá seus percalços, como o susto que tomou quando foi a uma festa no Poço: “nunca vi cousa tamanha,/a gente ali corre risco”, mas o que importava, afinal, era que ele havia se beneficiado a ponto de conquistar o posto de ministro da agricultura e até procurava um bom lugar para Zé Mariano no novo estado de coisas432.

Agora, pensava o pessoal do Partido Republicano na Gazeta e no Diário, o momento era outro, os Simões davam lugar a Albino Meira e Chico Torrão entenderia que Mariano não estava mais no trono, pois já havia morrido desde 15 de novembro: “tu podes, ó Torrão! Nos trens e principalmente nos palacetes da Florentina e da Roda, tua residência habitual, caluniar a República e os republicanos; tu podes mesmo dizer que tens 500 homens para abater a República”. Da Roda e das Florentinas eram ruas

429 Carta – Do compadre Simão ao compadre Lili (2ª época). Gazeta da Tarde, 30/01/1890.

430 Se bem que Ambrósio não era apresentado como um adesista pelos republicanos, e sim como uma das

figuras de destaque do partido. Martins Júnior o chamava de amigo e ele foi elogiado por Silva Jardim, embora de uma maneira um tanto dúbia, como um “tipo do velho caráter pernambucano”. Para a afirmação de Martins Júnior: Ao partido republicano e aos meus concidadãos em geral. Jornal do Recife, 14/08/1890. Ver também: JARDIM, Antônio da Silva. Op. cit., p.333.

431 Carta – Do compadre Simão ao compadre Lili (2ª época) II. Gazeta da Tarde, 06/02/1890. Grifos do

original.

conhecidas ao longo de anos por suas mulheres mal reputadas. Será nesta última que num início de noite de 1906, Maria da Hora Tavares, uma “mulhersinha capoeira” que vinha “fazendo gestos de capoeiragem em frente a uma música particular que passava”, foi presa pelo major Manoel Batista, sobre o qual ainda voltarei a tratar433.

Porém, em 1890, para o autor do artigo, Chico Torrão precisaria aceitar o “decreto” que garantia o pudor das mulheres, abolia loterias que roubavam o público, proibia de matar Ricardos em plena Rua do Imperador e determinava que seriam deportados para Fernando de Noronha todos os jornalistas que acoitassem assassinos, ficando “revogados o reinado do Cabeleira e todas as bicudas em contrário”434. Desse modo, conclui, o único tipo de república que ele poderia abater com aqueles homens seriam as habitações coletivas de estudantes.

Era um momento de euforia. A cada novo anúncio de conflito de rua entre valentões, a imprensa republicana exigia “Fernando com eles!”435 e a prisão de João Grande, “capoeira e turbulento de primeira força” até lembrou as medidas de Sampaio Ferraz no Rio. Em uma sexta-feira à noite, o comandante da 4ª estação da Guarda Cívica soube que ele se achava escondido na casa de sua mãe, em uma parte do bairro da Boa Vista conhecida como Giriquiti, e lá efetuou sua prisão436.

Com o Partido Republicano no governo, o tema da prisão e deportação dos capoeiras passou a fazer-se presente em todos os tipos de notícias do dia-a-dia. Até em simples alertas aos guardas fiscais, os animais soltos nas ruas se tornavam cães ou mesmo carneiros capoeiras:

Pedem-nos para chamarmos a atenção do Sr. Fiscal do 2º distrito da Graça para animais soltos que passeiam naquela localidade. Há perto do Hipódromo um carneiro que dá valentes testadas. Ainda hoje meteu a cabeça numa criança que ficou bastante magoada. Está se acabando com os capoeiras gente, e se toma-se essa medida com entes racionais, porque o Sr. Fiscal não a põe em execução com os irracionais?437

Agora as deportações de capoeiras e vagabundos do Rio de Janeiro para Fernando de Noronha poderiam ser efetivamente seguidas pelas autoridades de

433

Mulher capoeira. Correio do Recife, 09/04/1906.

434 A expressão “matar Ricardos” é uma referência ao assassinato de Ricardo Guimarães. A esse respeito,

ver, acima páginas 91-92.

435 Agressão. Gazeta da Tarde, 14/06/1890.

436 Capoeira. Gazeta da Tarde, 12/05/1890. Sobre a estratégia empreendida por Sampaio Ferraz de efetuar

as prisões “na porta de casa, literalmente falando”, ver: SOARES, Carlos Eugênio. Op. cit., p.331-332.

437 Carneiro capoeira. Gazeta da Tarde, 07/05/1890. Embora aí haja uma associação direta a um golpe

atribuído aos capoeiras, a cabeçada, no caso dos “cães capoeiras” a referência parece resultar apenas da recorrência do tema da repressão à capoeiragem naqueles dias: Cães capoeiras. Gazeta da Tarde, 16/06/1890.

Pernambuco438. Logo após o início do seu governo, Albino Meira enviou ofícios ao inspetor do Arsenal de Marinha e ao comandante do cruzador Liberdade recomendando que diante da necessidade de livrar Pernambuco “e principalmente esta cidade do Recife, dos desordeiros e anarquistas de todo gênero que a infestam e perturbam; e sendo, para isso, provavelmente necessário fazê-los transportar para o presídio de Fernando de Noronha”, aquela embarcação fosse posta de prontidão para viagem439

. Em júbilo, a Gazeta da Tarde publica:

Pobres capoeiras! Em parte alguma os míseros acham proteção! Os da nossa pobre terra estão ameaçados de ir dar um passeio à “Liberdade” e pegar uns caranguejos em Fernando (...) É exato: está a corveta ou cruzador, de fogo aceso, prontinho para levar a ilha que o Sr. Fernão de Noronha descobriu uma meia dúzia dos pardavascos... e serão só eles?...440

Alguns dias depois, o diretor do presídio de Fernando de Noronha responde a ofício de Albino Meira informando que, além de alguns sentenciados e detentos doentes, haviam sido recolhidos por ele “vinte e três indivíduos”, que pelo visto se tratavam de deportados, dentre os quais não estavam Martiniano José de Santana e Luiz Mateus de Araújo, cujos nomes constavam no ofício do governador441. Quem sabe esses dois escaparam de última hora com a ajuda de algum conhecido, afinal, as motivações pessoais pareciam ser um fator importante nesse processo, como indica a deportação de um certo João, presumivelmente motivada por uma rixa entre ele e o Sr. Santos, professor da escola da localidade do Monteiro, no Poço da Panela442.

Aparentemente a combinação entre conflitos pessoais e algumas características ou antecedentes do indivíduo era mais decisiva para a sua deportação do que o crime

438 Capoeiras. Gazeta da Tarde, 06/05/1890. O jornal tentava fomentar as ações publicando ofícios do

chefe de polícia Antônio Antunes Ribas a Albino Meira, nos quais solicitava reforço e material para a polícia: Excelentes medidas. Gazeta da Tarde, 02/05/1890.

439

Desordeiros e anarquistas. Diário de Pernambuco, 03/05/1890. Três meses depois, em sua resposta à Província, ele negará que pediu a deportação de Mariano dizendo: “É uma falsidade, repito: eu nunca pedi a deportação de ninguém”. “A Província”. Jornal do Recife, 19/08/1890.

440

Meadas. Gazeta da Tarde, 05/05/1890. Se forem tomadas por base as acepções de “padavasco” como “mulato disfarçado” ou “metido a pardo” atribuídas por Pereira da Costa, o emprego dela aí pode ser mais uma indicação da racialização do combate à capoeiragem, já tão presente nas publicações contra o “povo da guarda negra” que acompanhava José Mariano. COSTA, Francisco Augusto Pereira da Costa. Vocabulário pernambucano. Revista do instituto arqueológico, histórico e geográfico pernambucano, Recife: vol. XXXIV, nº 159-162, 1936, p.545-546. Esse volume da revista do Instituto é ocupado por inteiro pelo amplo vocabulário preparado pelo autor, que morrera em 1923, com base em documentos de praticamente todo o período ao qual se dedica esta dissertação.

441 Diretoria do Presídio de Fernando de Noronha, 20 de maio de 1890. Nº 170. Fundo Fernando de

Noronha, Apeje.

442 Injustiça. Gazeta da Tarde, 06/06/1890. A Gazeta considerava uma injustiça os outros envolvidos na

ocorrência não terem sido também deportados. Em um sentido diferente, a preocupação sobre quem sofreria com o cumprimento de determinações do governo para que fossem perseguidos capoeiras e vagabundos ocupou particularmente a Província desde cedo, conforme, acima, a nota 412.

que o levou à prisão. No caso acima, por exemplo, João e seus companheiros foram flagrados tirando laranjas de um sítio, enquanto um vagabundo morador do Catucá, local onde Bentinho agredira Maria Gregória, foi enviado ao vapor Liberdade após dar uma chicotada no condutor da Companhia Ferro Carril, em cujos bondes tinha o costume de tentar viajar sem pagar443.

Por questões políticas, o Poço da Panela não era o melhor lugar para se morar naqueles dias, já que os atestados de boa conduta dos quais precisaria alguém ameaçado de deportação dificilmente seriam lá emitidos por pessoas bem quistas pelo governo. Ao elaborar sua argumentação no pedido de habeas corpus em favor de Malaquias Fernandes de Amorim, antigo maquinista da Estrada de Ferro Recife-Caxangá e muito possivelmente o mesmo Malaquias acusado de pertencer à Guarda Negra444, o advogado Arthur de Albuquerque Melo afirmou: “desordeiro ele não o é”, pois “residindo no Poço de Panela há tempos e onde é qualificado eleitor, Malaquias encontraria inúmeros atestados de boa conduta e decência. Mas é que, extremados como estão agora os negócios políticos da terra, ele bem pode ser uma vítima, e de certo o é, de ódios infundados”445

.

No momento, aquela não era a melhor forma de se proteger um acusado. Dois dias depois da petição, quando esperava que Malaquias lhe fosse apresentado, o juiz Antônio Domingos Pinto foi comunicado pelo administrador da Casa de Detenção que isso não seria possível, pois o preso havia “embarcado com destino ao presídio de Fernando por ordem do governador do Estado”446. Em virtude de casos como esse, se os pesquisadores que se dedicaram à complicada tarefa de adaptar a gestão do chefe de polícia Manoel dos Santos Moreira (1904-1908) ao modelo “Sampaio Ferraz” de repressão republicana à capoeira houvessem pesquisado os primeiros anos do regime, teriam enfrentado muito menos dificuldades em transformar Francisco Xavier Guedes

443

Ação louvável. Gazeta da Tarde, 04/06/1890. Ver também o pedido de deportação para um preto conhecido por charuto, sob acusação de furtar doces de uma criança que os vendia e de tentar, sem sucesso, realizar outro furto: Que charuto! Gazeta da Tarde, 14/06/1890.

444 Ver: O major Afonso Leal ao público. Diário de Pernambuco, 17/12/1889. 445

Petição de Habeas Corpus. Malaquias Fernandes de Amorim. 1890. Memorial da Justiça de Pernambuco. Crime – Comarca do Recife. Caixa1207 (1890-1892), p.3.

446 Aparentando perplexidade, o juiz, ligado a antigos conservadores, publicou essas palavras na coluna “a

pedidos” do Diário no momento em que caíam os republicanos: À Magistratura. Diário de Pernambuco, 24/07/1890. Também é mencionado o caso idêntico de Miguel Arcanjo de Freitas. Pouco depois, no governo do barão de Lucena, Malaquias seria posto em liberdade. Petição de Habeas Corpus. Malaquias Fernandes de Amorim... p.16. Sobre a relação do juiz Antônio Domingos Pinto com lideranças conservadoras, ver: HENDRICKS, Howard. Education and Maintenance of The Social Structure: The Faculdade de Direito do Recife and the Brazilian Northeast, 1870-1930. 1977. 235f. Tese (Ph.D.) – Departament of History, Indiana University, USA. P.198-199.

Pereira – que na gestão de Albino Meira substituiu Antônio Antunes Ribas na chefia da polícia – no Sampaio Ferraz do Recife447.

Porém, apesar de cômodo, isso exigiria que fosse ignorado tudo aquilo que enfraquece esse argumento em aspectos que vão desde o resultado das prisões e o alcance das deportações, até a capacidade dos republicanos de se manterem no governo imbuídos de um discurso de ruptura com as práticas de alguns importantes políticos dos tempos da Monarquia. Após conseguir aquiescência do Barão de Lucena para a substituição de Simeão por Albino Meira, Martins Júnior e o novo governador quiseram implantar o seu projeto de República controlando todas as nomeações e substituindo aliados de proeminentes políticos imperiais por jovens bacharéis republicanos em cargos jurídicos e outras posições448.

Confiando no governo central e talvez no Progresso, eles esperavam suplantar a intrincada teia de relações estabelecida por políticos experientes como José Mariano e Lucena, que ia desde um cabo eleitoral empregado em uma ferrovia, até o presidente da República. Disso é uma indicação a forma como Maximiniano Félix Bahia resolveu defender-se das acusações de roubo que recaíam sobre ele, as quais comprometeram seu emprego de despachante da estrada de ferro Recife-Caruaru, ao qual teria sido indicado por um republicano “distintíssimo”449

.

Em seus artigos na imprensa, Bahia se apresentou como um autêntico republicano, eleitor de Martins Júnior e aspirante a membro do Clube 22 de Julho450. Ele se defendeu afirmando que estava sendo perseguido pelo “Sr. Gondim, inspetor dos trens e dos armazéns da mesma estrada, que na qualidade de defensor perpétuo do Sr. Dr. José Mariano, entendeu intrigar-se comigo” por não ser favorável à “exaltada propaganda” marianista feita na repartição.

Apelando para o governador Albino Meira, Félix Bahia diz que depois de ter publicado seus protestos foi demitido pelo Dr. Saraiva Junior, chefe do trafego interino da estrada. Enquanto isso, Gondim, que compunha a Guarda Negra e vivia de fazer críticas à República, permanecia em seu cargo. Este, por sinal, não existia em estrada alguma e “só foi criado na de Caruaru para bem se colocar um cabo eleitoral; que pelas

447 Dr. Antônio Antunes Ribas. Gazeta da Tarde, 20/05/1890. Se a historiografia não o fez, a imprensa

martinista tentaria fazê-lo. Por exemplo, o Jornal do Recife dois anos mais tarde diria que ainda como delegado do 2º distrito – portanto antes de assumir a chefia da polícia – Guedes Pereira eliminou “inteiramente a horda de desordeiros e capangas que infestavam a cidade”. Jornal do Recife, 24/05/1892. Citado por ZACARIAS, Audenice. Op. cit., p.116.

448 HOFFNAGEL, Marc. Op. cit., 1975. p.217. 449

Ao público. Diário de Pernambuco, 02/05/1890.

suas cabalas é por demais conhecido nos anais de eleições”451. Os apelos de Bahia dão a entender que ele se sentia alvo de uma conspiração dos aliados de Mariano só por ser eleitor do Partido Republicano, embora este estivesse no governo:

Quase toda pessoa empregada na estrada de Caruaru foi colocada pela influência dominante do Sr. Dr. José Mariano; e que tendo como principal cabeça o Gondim, é provável que na primeira voz do dito Gondim todos se movam. Foi, com efeito, o que se deu. Apresentou-se a Guarda Negra contra mim, e houve alguns deles que tiveram a coragem de dizer: que eu era um empregado mal comportado, que vivia constantemente embriagado insultando as partes; entretanto se me chamarem para esse terreno, eu demonstrarei quem são os malcomportados, quem vive embriagado e aqueles que ofendem as partes452.

Confiando que os republicanos entrariam na briga ao seu lado, Félix Bahia adverte: “O célebre Gondim projeta mandar-me para Fernando de Noronha, porém, eu rio-me dele, dizendo-lhe: quem matou Ricardo Guimarães é quem vai para Fernando”453. Apesar disso, ele acabou preso e processado entre o final de julho e início de agosto de 1890454. Uma vez que isso coincide com a queda de Albino Meira, a primeira impressão é a de que Bahia estava mesmo sofrendo perseguição política e sua situação piorou com a queda dos seus correligionários. No entanto, para alguns republicanos ele não passava de um ladrão irrisório e foram eles próprios que pediram a sua deportação455. Isso, porém, não os impediu de aceitar as informações do rejeitado e passar a incluir “Gondim da estrada de Caruaru” na claque do pessoal da Província456

. Tenha Bahia sido abandonado por seus correligionários ou apenas tentado com argúcia aproveitar-se das disputas políticas do momento para livrar-se de uma acusação, a sua história indica o peso da base de José Mariano mesmo naquele momento, dispondo de integrantes ativos e que desde os tempos do Império não se furtavam a manifestar-lhe apoio457. Em alguns casos, como o do delegado Barros Rego, as pessoas

451 Ao Exmo. Sr. Dr. Governador do estado e ao público em geral. Diário de Pernambuco, 04/05/1890. 452 Idem.

453

Ao Exmo. Sr. Dr. Governador do estado e ao público em geral. Diário de Pernambuco, 13/05/1890.

454 Crônica Judiciária. Diário de Pernambuco, 02/08/1890. 455 Bahia preso. Gazeta da Tarde, 31/07/1890.

456 O menino Arthur D’ “a província”. Diário de Pernambuco, 02/07/1890. 457

Ao rebater no Diário uma publicação da edição anterior do próprio jornal que o acusava de exercer a função de escrivão de paz da freguesia da Graça sem ser nomeado, Manoel Nivardo Ferreira Gomes declarava que havia sim recebido a nomeação: “mas, como eu propalo aos quatro ventos, que somente a

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