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6.2 Análise dos questionários

6.2.2 Mestiçagem

2015.

CRENÇA DOS ALUNOS ESCOLA CATÓLICOS TRADI- CIONAIS CATÓLI- COS CARISMÁ- TICOS EVANGÉLICOS MATRIZ

AFRICANA RELIGIÃO SEM TOTAL

1 29 5 38 23 95 2 44 19 88 44 195 3 8 2 24 2 5 41 4 24 4 46 20 94 5 37 12 49 21 119 TOTAL 142 42 245 2 113 544

Fonte: Elaborado pelo pesquisador (2015)

Podemos observar no quadro, a maioria dos alunos se diz de alguma igreja cristã, com 45% deles sendo de alguma denominação evangélica, 27% católicos tradicionais e 7.7% são carismáticos.

Outro dado curioso são aqueles que se dizem sem religião, que representam 20% do universo pesquisado. Nos questionários, eles agiam livremente e escreviam frases como “sou apenas do Senhor”, “só acredito em Deus”, “não tenho igreja”, “ minha religião é Jesus”έ Apesar se dizerem sem religião, em todos os casos existe a crença em um Ser superior.

Apesar das apresentações que tivemos nos capítulos anteriores, sobre o Grande Bom Jardim ser um dos bairros com maiores locais de celebração de Umbanda e Candomblé, apenas 0,3% se reconheceram dentro destas formas de religiões africanas.

6.2.2 Mestiçagem

Nesta categoria, nos interessamos em saber como estava o entendimento dos alunos sobre questões raciais, envolvendo a cor da pele considerada por eles. Intencionalmente, fizemos a pergunta duas vezes, uma no início do questionário, na pergunta 02 “Qual a sua cor de peleς”, e do mesmo modo, com a mesma escrita, no final do questionário, na pergunta 20. A diferença é que no início colocamos a pergunta com resposta aberta e no final colocamos algumas referências usadas pelo último Censo do IBGE (2011) – Branca, Preta, Amarela, Parda e Indígena.

Procuramos observar se inicialmente os alunos se identificariam com uma cor, e depois da discussão sobre a cultura afro-brasileira proposta pelo questionário, esta cor mudaria na resposta final.

Destacamos o estranhamento da maioria dos alunos, em todas as escolas, quando visualizam a primeira pergunta sobre a cor da pele. Em todas as escolas, 90% deles não sabiam a resposta sozinho e perguntavam uns aos outros, e até ao professore que estava na sala, o que era contrário aos nossos esclarecimentos individuais quando falamos sobre a individualidade das respostas. Acontecia então um burburinho na sala e seguiam-se cenas curiosas, como os alunos esticando seus braços e se auto-observando, comparando sua mão com a do colega ao lado e eclodindo na sala as afirmações variadas sobre ser moreno, moreninho, moreno claro, quase branco, etc. O alvoroço para marcar a resposta só se acalmava quando havia intervenção do pesquisador, com a ajuda do gestor disponível, e até mesmo do professor da sala naquela aula. Explicávamos que as respostas deveriam ser pessoais, ninguém deveria perguntar ao vizinho, e o mais importante: não havia resposta certa ou errada naquele questionamento, e sim respostas pessoais, sendo isso que interessava e essas seriam as respostas que se buscava, as pessoais, de percepção de si e do mundo sobre aquele assunto.

Como em outro ponto deste texto, juntando pardos aos negros, era visível que em todas as turmas pesquisadas, 70 a 80% dos alunos eram negros, porém não se reconheciam como tal, nem mesmo quando, na hora do burburinho, um aluno dizia ao vizinho do lado que ele era negro havia uma ponta de reflexãoέ Pelo contrário, a resposta era rápido e feroz: “-

Deus me livre ser negro!”έ

Estamos falando sobre jovens numa faixa etária entre 13 e 15 anos. Vendo o modo como eles reagiam, ficava a dúvida sobre o que o ensino público tem contribuído para desfazer laços estigmatizados pela sociedade sobre negritude, racismo e preconceito. O que aqueles alunos tinham estudado até o ano anterior sobre estes assuntos? O que os professores tem recebido e sentido como formação para temáticas em torno da lei 10.639/03? Aquela estranheza dos alunos demonstrava a fragilidade do debate nas turmas do 8º. Ano. Uma opção para isto seria o apontamento da professora Nilma Lino Gomes (2005) sobre formas de abordagem em formações discente.

Julgo que seria interessante se pudéssemos construir experiências de formação em que professores pudessem vivenciar, analisar e propor estratégias de intervenção que tenham valorização da cultura negra e a eliminação de práticas racistas como foco principal.(GOMES, 2005, p.149).

Alguns gestores que me acompanhavam às vezes até ficavam sem jeito diante das reações tão espontâneas e alarmantes sobre a cor da pele de cada um e as rejeições pela cor preta, que gritadas dentro da sala. Era possível fazer alusão a uma mãe que passa vexame em público com alguma estripulia de um filho irreverente. E as atividades de problematização sobre cultura africana que fora visto em sala e nos eventos da Semana da Consciência Negra ditos nas entrevistas? É certo que não foram relatadas mudanças radicais de comportamento, mas o estranhamento sobre a cor da pele era primário em debates envolvendo estes temas.

Relacionando a rejeição sobre a cor de pele preta, foi possível observar nos ambientas das escolas pesquisadas, que o uso do cabelo era algo que trazia os mesmos traços em todos os locais da pesquisa. Nas meninas negras/ pardas, muitos alisamentos ou cabelos presos, com pouquíssimas alunas de cabelo crespo ou encaracolados ao vento. Nos meninos negros/pardos, cabeças raspadas na grande maioria e em outros a presença de alisamentos e tinturas de cor loira, seguidos de bonés na cabeça. Um exemplar de cabelo negro com seus “caracóis”, livre, era algo raroέ E isto foi observado não apenas nas turmas pesquisadas, mas, nos momentos de intervalo e nas demais turmas e idades. Era perceptível serem estes os padrões adotados, como num código de comportamento não escrito, absorvendo as representações midiáticas, sendo que “a mídia funciona, no nível macro, como um gênero discursivo capaz de catalisar expressões políticas e institucionais sobre as relações inter- raciais, (έέέ) que, de uma maneira ou de outra, legitima a desigualdade social pela cor da peleέ” (SODRÉ, 1999, p.243).

Os questionários mostraram que entre os alunos carismáticos, 20% se reconhecem brancos, 79% pardos e somente 1% preto. Esta informação se faz importante para que possamos perceber a possibilidade de rejeição à identificação negra e consequentemente sua cultura, já que a grande maioria tendo a pele escura, não se reconhecem como pretos e sim na criação mestiça de pardos.